O Partido dos Trabalhadores cresceu à luz de
setores organizados da sociedade civil como sindicatos, alas progressistas da
igreja católica, grupos organizados das universidades públicas, parte da
sociedade que se apresentava através de associações de bairro, movimento negro,
blocos afros, entre outros que foram saindo da ditadura cruel – que Zezé de "Amargo" afirma em sua tolice oportunista ter sido um "militarismo vigiado" – e começaram a esboçar um poder que estava
silenciado no fundo dos calabouços onde as torturas transformavam esperança de
igualdade social e dignidade humana em gritos de desespero e de dor. Zezé de "Amargo", em sua "sapiência" de ocasião, deve confundir pau de selfie com pau de
arara. Ele não teve unhas arrancadas lentamente, não foi estuprado por milicos
psicopatas, nem tomou choques elétricos na genitália. O cantor não deve ter
tido parentes que desapareceram para sempre, sem que a família tivesse ao menos o corpo para se despedir. Deve pensar que as pessoas que foram assassinadas
pelo regime militar devem ter sido marginais que mereceram ser torturadas, pois
“bandido bom é bandido morto”, não é filho de Francisco? Na verdade, os filhos
e as filhas das famílias que apoiavam o regime militar são esses/as que usam o
patrimônio público como se fora privado, propriedade particular de sua família
e de seus/suas amigos/as e apoiadores/as. Desse ponto de vista, foi o “militarismo
vigiado” do Senhor José de Amargo que preservou a corrupção, matando as pessoas
que queriam um país melhor e protegendo as pessoas que aí estão nos roubando o
presente e o futuro, além do passado, em propostas como escola-sem-partido. Os/as paneleiros não estão interessados em combater corrupção alguma. O que eles queriam é que a empregada voltasse a ser escrava, que o encanador voltasse a andar de ônibus, que o pedreiro voltasse a pedir um salário de fome e todos/as voltassem a pedir de joelhos a concessão da classe média e das elites à sua existência precária.
Mas, voltando ao Partido dos Trabalhadores
(PT), penso que, muito embora tenha sido, para a maioria do povo brasileiro, a
melhor experiência de governo até agora em nossa história, o partido foi
envelhecendo e não procurou formas de renovação fora dos seus quadros de poder,
no qual medalhões começaram a luta pela disputa da eleição nas majoritárias,
não permitindo a renovação necessária para oxigenação do partido e de sua
inserção maior na sociedade, conforme governava o país. Os mesmos de sempre
lançavam suas candidaturas, pleito após pleito eleitoral, e, de certa forma,
principalmente aqui na Bahia, foram se fortalecendo com a decadência do PFL –
hoje DEM (ônio) – com a morte do Capo di
tutti capi Antônio Carlos Magalhães (ACM) e a desarticulação do carlismo. A
juventude do partido não apareceu, nem deu as caras, como se as correntes do
partido tivessem os seus donos que não abriam mão de suas posições conquistadas
àquela altura e, dessas posições, buscavam melhores lugares ao sol nos quadros
da hierarquia da instituição partidária.
Por outro lado, ao chegar ao poder do estado,
o PT não conseguiu sair do ciclo da corrupção alimentado pela cultura política
arraigada em nosso sistema de poder. Fomos admitindo que, para governar, é
preciso corromper. É preciso fazer pagamentos extras a deputados, senadores,
prefeitos, e governadores. Admitimos que, para governar, é preciso oferecer ministérios
a partidos para serem usados como formas de roubar os cidadãos e as cidadãs
brasileiros/as. Então alguns dizem que o PT não é culpado. Pois sem corrupção
não há solução. De fato, não foi o PT que inventou a corrupção, nem o partido
que mais roubou, a ARENA/PFL/DEM está aí como prova. O PMDB, o PODEMOS, o AVANTE,
o PSDB estão aí nos oferecendo elementos suficientes para vermos que esses
partidos utilizam o estado como extensão de suas casas. Mas o PT não conseguiu
romper essa cultura secular que nos mantém aos pés do processo civilizatório
nacional. Muito pelo contrário, se aproveitou dela e aliou-se politicamente ao que é mais antigo nesse país. Povo que consome mas que não pensa, não é povo. É massa eleitoral! E o que aconteceu?
A igreja católica desarticulou as Comunidades
Eclesiais de Base (CEB’s) e os movimentos de esquerda em seu interior, tais
como a Pastoral da Juventude do Meio Popular (PJMP) e outras pastorais que
formavam uma boa base de pensamento crítico para as populações mais pobres do
país – por isso saí da igreja. Aqueles encontros de jovens da periferia,
assessorados por pessoas do calibre de Wiliam e de ValdirMarina, foram sendo
extintos. O próprio PT, quando começou a ser questionado pelos sindicatos e
movimentos sociais, cooptou boa parte das lideranças políticas e as colocou em
cargos no estado, onde suas ações foram se tornando inócuas. De todo modo o
partido também se deu conta da insuficiência de quadros preparados para assumir
o estado e teve de deixar antigo quadro de pessoal que preservava uma velha
forma de exercer o poder. Os movimentos sociais foram enfraquecendo e o
movimento negro desapareceu da cena pública, pelo menos como era quando o Ylê Ayê, o Olodum, entre outros blocos e afoxés traziam esperança com a negritude de Salvador que reclamava por “força
e pudor”. E lá ia eu, ela, ele, todos nós naquele “arrastão” nordestino pelas
ruas da cidade onde todo mundo é d’Óxun, mas nem todos/as são assim tratados/as.
E o PT foi perdendo fôlego. Para usar uma
expressão de Game of Thrones, não
conseguiu “quebrar a roda” que alimenta esse falido e corrupto sistema político
e foi se parecendo, cada vez mais, com os partidos contra os quais antes tensionava
sua existência. Foi perdendo membros importantes, que foram formando outros
partidos, pois nele não mais encontravam canais de expressão ideológica, e, com a ascensão
do neoconservadorismo brasileiro – na forma de Bolsonaro, Alexandre Frota, Zezé
de Camargo, entre outros/as – o partido se viu enfraquecido, pois não tem mais
discurso, nem para um lado, nem para o outro. Não tensiona mais, não representa
o sujeito trabalhador fortalecido nas centrais sindicais, que estão sucateadas
diante dos rumos que nossa história toma. Não tem mais trabalhador para
representar. Aquele sujeito político surgido no fim da ditadura no ABC paulista,
não existe mais. O capitalismo achou uma forma de enfraquecê-lo. E sem os
jovens das periferias organizados em torno das pastorais de juventude do meio
popular; e sem a negritude de Salvador; e sem as classes populares reunidas em
movimentos, grupos e instituições que alimentam a esperança de um Brasil melhor
para todos/as; aonde o PT vai encontrar força para eleger seus candidatos em
2018?
No discurso da eficiência capitalista na
gestão do estado. Pelo menos é este discurso no qual Rui Costa (Rui Correria)
está se apegando, não para se contrapor a ACM, o Neto (como bem lembrava Hilton
50), mas para sobrepujá-lo perante os olhos da massa disforme que é a população
baiana em sua abordagem mais ampla. E, de fato, Rui é correria mesmo! Foi com
ele que o metrô andou a passos largos, mesmo com toda suposta crise econômica
vivida neste momento. É com ele que a agricultura familiar é tratada com
respeito e dignidade, contrapondo-se ao famigerado agronegócio, entre outras. E
tomara que seja suficiente, para não cairmos nas garras dos Magalhães. Votarei
em Rui Costa, sim. Contudo, é preciso mais que isso. O posicionamento
ideológico das esquerdas não pode ser devorado pela fome insaciável da ideologia
instrumental do capitalismo de estado, que reduz a subjetividade ao desejo de poder ter seu trabalho explorado por um patrão empreendedor. E por isso votarei no PSOL para
deputados e senadores. É preciso repensar a relação do partido com os
homossexuais, com a negritude, com as mulheres, com a juventude, com a população que ficou órfã
de espaços para discutir e fortalecer os movimentos políticos, sociais e
culturais que fazem surgir e fortalecem novos sujeitos que tensionam com
esse bolsonarismo ultraconservador e esse doreanismo de resultados que São Paulo
quer que o Brasil inteiro engula, como remédio amargo somente para a pobreza que
ascendeu economicamente e socialmente nos últimos anos. As esquerdas precisam ressurgir!
Joselito Manoel de Jesus, Professor
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