terça-feira, 9 de outubro de 2018

NORDESTINO NÃO É GENTE

Por que os nordestinos não se curvam?
Por que? 
Por que os nordestinos não obedecem à nossa ordem
militar, agressiva, autoritária?
Por que os nordestinos não têm medo de nossa força,
nossa arma, nosso porte imperativo?
Por que essas mulheres e esses homens nunca se curvam
aos nossos ditames, aos nossos costumes, ao nosso sotaque?
Por que eles rejeitam os nossos líderes
os nossos machos, os nossos “achos”, nossos viris?
Por que esses nordestinos, esses “baianos” e “paraíbas”,
 - todos d’uma figa! - 
não reconhecem a sua inferioridade regional?

Por que eles se apegam às antigas memórias
como Conselheiro e Lampião?
Por que celebram uma tal Dandara, Maria Bonita e Mãe Menininha do Gantois?
Por que esses nordestinos não esquecem de suas raízes
e se submetem às nossas memórias?

Por que o Nordeste os acompanha em nossas terras?
Por que, apesar de nossas novelas, de nossas mídias e nossas telas
Eles não votam em nossos candidatos/as?
Por que? Por que esse Nordeste ainda insiste?
Por que essa região ainda resiste
à nossa brancura, ao nosso charme irresistível e à nossa alvura celestial?

Por que eles desconfiam de nossa competência inquestionável?
Por que não aprendem a ser gente como a gente assim o é:
superior, inteli-gente, gen-til, ele-gante, bem fal-ante
atu-ante, compe-tente, empren-dedor, po-tente.
Por que eles insistem nesse péssimo destino
de continuarem sendo eles mesmos?
Desconfiamos: esses nordestinos não são gente, 
tai nosso pesadelo!

Joselito Manoel de Jesus, Nordestino