quarta-feira, 22 de abril de 2015

A Mocinha Uneb, o governo Ruim e sua passagem para uma nova mulher

Enquanto Rosseau reclamava por uma democracia direta, uma corrente do pensamento liberal, ao contrário, os Pluralistas, afirmavam que é pela racionalidade das elites que o Estado deve ser dirigido, ou seja, as decisões políticas devem ser tomadas por pessoas mais bem preparadas intelectualmente que compõem a elite de nosso povo. Neste caso, a escola é a agência que tem a função de preparar essas elites para o exercício do domínio político. O povo tem o papel de eleger esses políticos que, defendendo seus programas, vai representá-los no Estado. Assim, segundo os pluralistas, se dá um equilíbrio entre as demandas sociais e as políticas públicas implementadas pelo Estado. Romântico e perverso. É o que acontece com este Conselho, a novidade que nos convida à reflexão crítica e a ações decorrentes dessa reflexão.

A Mocinha, Papai Rui e os (as) Professores (as)

"Romântico" porque ideologicamente falso. Esta forma de representação consiste em concentrar aqueles e aquelas que concordam com os princípios gerais, com raras exceções, a dirigir as políticas públicas de modo que o consenso seja obtido retirando do processo o conflito, a contradição, resultando num consenso fácil e, por ser fácil, perverso e excludente. A plenária atrapalharia o desenlace trágico-romântico entre o (a) professor (a) que deseja a universidade funcionando a todo vapor, para amá-la e respeitá-la, principalmente na penúria, e o governo que a deseja extinguir, em parte ou integralmente, afinal, como afirmou a senadora Lídice da Mata, "ela é um peso para o estado". O estado quer se livrar de sua filha, que ficou jovem, exigindo maior consumo de calorias, entregando-a à União ou à iniciativa privada, deixando seus/suas professores (as) morrendo de amores. A tecnocracia dos pluralistas seria a saída criada para aumentar a musculatura do seu amor e reduzir o seu tamanho, sinalizando para o sizudo "papai Rui" o quanto a universidade ainda é uma moça produtiva, que vai passar no vestibular e lhe dará netinhos (as), que serão nutridos com a pesquisa crescente na instituição. A Mocinha institucional tem de criar e fortalecer programas de pós-graduação stricto sensu mas encontra dificuldades por todos os lados, inclusive na graduação e na relação entre ambas.

Contudo, o que a tecnocracia não questiona são as atitudes de "papai Rui", que quer expulsar sua filha de casa, jogando-a, já que estou numa veia novelística, "ao vento", através da asfixia financeira que impõe. Então, a tecnocracia surge como um sintoma desse mal-estar, jogando ao vento seus professores, por critérios de eficiência, localização geográfica e deslocamento. Outro sintoma da Uneb, essa moça rebelde que se debate com pouco dinheiro - nem pode mais sair para apresentar seus trabalhos - e muitas exigências, é a concentração de poder, como forma de legitimar pela via legal, suas decisões.

A Mocinha, muito sabida que é, além de legitimar sua política de exclusão pela via legal também atua na via ideológica, e aí entra a perversidade. Perversidade porque a exclusão se torna o desdobramento principal de um eixo tecnocrático, atropelando a história desta instituição e apontando para a promoção de desigualdades no acesso à informação - e aqui começa a grande separação e exclusão -, às instâncias de poder - quem pode me representar agora? Quem vai definir e encaminhar a pauta? -, aos escassos recursos disponíveis. Perversidade porque se nega a própria história da instituição e se desconhece o que foi feito até então, que está registrada nas atas de reuniões dos colegiados e das plenárias departamentais, ameaçadas de extinção, e na memória de cada um (a). E aí o sentido de competência esconde a noção de exclusão. Nos não ditos - por isso que sou apaixonado pela Análise do Discurso e pelas contribuições de Foucault na Ordem do Discurso - há ditos que podem ser mapeados por fragmentos que falam na incompletude da linguagem:
·  Há um grupo na Uneb que se destaca pela competência e que pretende implantar um novo modelo de universidade, contrapondo-se a "práticas viciadas" que nos afastam da produção acadêmica;
·  Esse grupo está sendo atrapalhado por aqueles (as) que pretendem preservar seus privilégios e, com isso promovem o "atraso"; [está no discurso de alguns (mas) alunos (as) no facebook]. Sabemos que o discurso não surge do nada. Há um contexto de produção do discurso, e sujeitos discursivos que o engendram e atualizam em sentidos que produzem efeitos de verdade;
·  há caminhos no Regimento Interno da Instituição que pode favorecer a competência em detrimento do "atraso";
·  parcela significativa dos (as) professores (as) que promovem o "atraso" mora fora das cidades onde os Departamentos existem e, por isso, o corte das passagens será o impulso que faltava para fixar o (a) professor (a) nos campi, reduzir os custos e aumentar a eficiência.

E a Mocinha sabe que, se este discurso pegar, a verdade está dita. E, retomando Jürgen Habermas, a lógica prevalecerá perante a negociação e a construção do consenso em outras bases, com a plenária presente, ficará no passado de nossa instituição. E aqui recupero o conceito de práxis, tão necessário a esta hora alta da Uneb. Nossas reuniões vão exigir um envolvimento maior de todos (as). Reflexões sobre nosso direito de também criar essa Mocinha, por ações dirigidas por avaliações sistemáticas, visando a transformação dessa Mocinha numa nova mulher, lutando pelos sentidos da competência, da eficiência, da eficácia, da produção intelectual no seio farto e belo dessa Mocinha que desperta o nosso interesse, seja pra decifrá-la, seja para devorá-la.

Aquelas funções psicológicas superiores, que só os seres humanos têm, tais como: atenção voluntária, memória, percepção, linguagem, têm de estar em alerta. Atenção aos movimentos dados em direção à Mocinha, Memória de atos, discursos, leis, acontecimentos associados e decisões anteriores que podem nos auxiliar – o que nosso colega Abrão faz tão bem nas reuniões do sindicato – percepção dos fatos, temas e problemas que nos interessam na criação da Mocinha e elaboração de discursos que recuperem sentidos que fortaleçam a Mocinha e seus atores, para nos confrontarmos com seus interlocutores.

Assim, cantarei, como Simone, a universidade feminina que brota em flor, com seus espinhos.

Que venha essa nova mulher de dentro de mim
Com olhos felinos e mão de cetim
E venha sem medo das sombras, que rondavam o meu coração
E ponha nos sonhos dos homens
A sede voraz, da paixão

Que venha de dentro  de mim, ou de onde vier
Com toda malícia e segredos que eu não souber
Que tenha o cio das corsas e lute com todas as forças.
Conquista o direito de ser uma nova mulher


Livre, livre para o amor... Quero ser assim, quero ser assim.



Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel