sexta-feira, 23 de agosto de 2013

AMOR E FÚRIA



Veja que eu te amo
Cuida!
Sinta que eu te quero
Cuida!
Perceba o meu carinho
e o quanto o meu caminho
busca a sua direção.

Veja bem o sentimento
que eu cultivo.
É coisa fina,
como uma teia de aranha
tecida na vontade de estar contigo
todos os dias da minha vida.

Mas não vacile.
Meu amor é crítico e avalia.
Ele precisa do seu gesto
do seu sinal
pra ir em frente
pra ser bem quente
ou esfriar.

Meu amor é infernal!
Chama ardente, abrasador.
Mas não queima,
nem faz mal.

Meu amor é sensível...
Mas animal.
Meu amor é forte:
penetra a vida,
não tem medo
encara a morte.

Meu amor busca o gozo
E realiza o desejo
em companhia.
Mas meu amor
é junto,
é colado,
é suado,
é a mais pura energia,
ziriguidum compartilhado.

Joselito que ama com fúria

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

BRAZIL: PAÍS DE FINGIMENTO




Era uma vez uma país que estava morrendo. O nome dele era Brazil. Sua doença era “viroses”. Viroses de todos os tipos. Desde sua “fundação”, ele começou a ser afundado. É que seus pretensiosos “fundadores” eram, na verdade, “afundadores”, pois queriam a colônia apenas para explorar, para retirar suas riquezas e enviá-las para o exterior. Nesse momento, implantaram um vírus mortal nesse “novo mundo” na paisagem, mas bem velho nas ideias. Trouxeram, entre outros, o vírus do patrimonialismo, que Muniz Sodré, em seu livro Claros e Escuros, além de Bernardo Sörj, denunciam.

O tempo foi passando e o vírus do patrimonialismo só foi multiplicando no corpo social, político e cultural desse pobre país, gigante apenas por natureza, mas pequenino em relação às ideias que fomenta em seu seio. Infeccionado, sempre teve ideias esdrúxulas sobre desenvolvimento, sobre justiça, sobre qualidade de vida – que envolve nocivamente ideias associadas sobre acesso do seu povo à educação, saúde, segurança, habitação, transporte, cultura, esporte e lazer -. Isso tudo fez com que seu povo, na maioria do trajeto da história, sempre fosse um povo frágil, com sonhos mesquinhos, admiradores de um status quo falido, degradado, improdutivo. Isto afetou a principal instituição educativa da sociedade brasileira, reproduzindo esse modo de pensar e fazer. Segundo Romanelli (1991, p. 23):

As instituições educativas nascidas da necessidade de as gerações mais velhas transmitirem às mais novas os resultados de sua experiência e, também, com o objetivo de preservar e recriar esses produtos, sofrem todavia, na cultura transplantada, uma minimização de suas funções. E que o que se tem em vista, na cultura transplantada, é a imposição e a preservação de modelos culturais importados, sendo pois, diminuta a possibilidade de criação e inovações culturais. A escola, nesse caso, é utilizada muito mais para fazer comunicados do que para fazer comunicação e este papel é desempenhado tanto mais eficazmente, quanto mais o que se pretende com a ação escolar é formar o espírito ilustrado, não o espírito criador.

Vivemos, até hoje, desse fantasma “ilustrado”, melhor, para não sair do tema, desse “vírus ilustrado” que nos mata a cada dia. Exemplo claro disso foi o dinheiro que o governador tomou de empréstimo a uma agência financeira internacional para equilibrar as contas do estado, mas terminou utilizando boa parte na “Arena Fonte Nova”. Mais uma vez a contaminação exibe seus efeitos nocivos. A nossa racionalidade prefere um estádio de futebol “moderno”, cópia mal feita de outras realidades, de outras arenas exibidas nos clássicos europeus pelas imagens sedutoras da tv, do que um investimento em nossa infraestrutura em frangalhos, do que em nossa cultura abandonada e em degradação, cercada de mau gosto por todos os lados. É como afirma José de Souza Martins:

A modernidade nos chega, pois, pelo seu contrário e estrangeira, como expressão do ver e não como expressão do ser, do viver e do acontecer. Chega-nos como uma modernidade epidérmica e desconfortável sob a forma do fardo nas costas do escravo negro, ele mesmo negação do capital e do capitalismo, embora agente humano e desumano do lucro naquele momento histórico. (MARTINS, 2010, p.24)

O resultado é que nos tornamos um país de fingimento. A polícia finge que prende, a justiça finge que julga, o sistema penitenciário finge que recupera o delinquente. Aliás nem finge mais. O legislador finge que elabora leis que assegurem o rigor da lei, a justiça. Nossa educação é de fingimento, nosso sistema de saúde é de fingimento, a festa da formatura, muitas vezes, é de fingimento, e o diploma, representa o “espírito ilustrado”, poucas vezes, o “criativo”. É só trabalhar na correção de provas do ENEM que a gente constata o fingimento da educação brasileira.

Vivemos admirando o além–mar, como os índios de 1500. Ainda não saímos da beira daquela praia em Porto Seguro. Estamos inseguros nessa “afundação” desse país que deveria ser “redescoberto”, refundado. O crime tomou conta, definitivamente, de nosso país. O nosso Congresso, para começar, é um antro de marginais, de facínoras, canalhas, medíocres, hipócritas! Eles são o exemplo em que se espelham os demais malandros brasileiros, que atiram para matar numa senhora somente para roubar um carro, ou outro miserável em Jacobina que utiliza de um ato terrorista na tentativa de matar a namorada e fere gravemente até mesmo uma criança. É. Até isso estamos copiando: o ato terrorista! Aqui uma tal de “polícia pacificadora”, ao invés de buscar o apoio da comunidade, pratica os mesmos atos de execução e intimidação que os traficantes que antes imperavam nesses territórios dos morros cariocas. “Pacificadora”, de fingimento. Amarildo que o diga. Agora mesmo o jornal noticia outro desaparecimento sob responsabilidade da "polícia pacificadora", de um jovem chamado Laércio.

Maluf mandou boa parte de nossas riquezas, surrupiadas de uma obra de um viaduto em São Paulo, para um "paraíso fiscal", fora do país, tal como os portugueses faziam quando mandavam nosso ouro para Portugal, repetindo o mesmo gesto de séculos atrás. Ó como somos antigos! Foi preciso que a justiça de Jersey, dos Estados Unidos, mandasse devolver em torno de U$ 4 milhões para os cofres públicos da prefeitura de São Paulo, pois nossa “justiça” fingida não tem condições para fazê-lo. Eu sou brasileiro, não nego. Mas as vezes gostaria de negar. Negar um país que me nega, que me abandona, me maltrata, me recusa. Um país que fica admirando qualquer um que "fale embolado" e seja branco de além-mar. Não sou contra a vinda e a recepção agradável aos estrangeiros, nossos irmãos. Sou contra a atitude boba de querer copiar o que não é nosso, o que não é engendrado em nossa cultura, nossa ternura, nossa amargura e, sobretudo e cada vez mais, nossa esperança numa redescoberta e numa refundação desse país que ainda não existe para seu povo. De um país que não existe, não existe seleção brasileira. Existe um monte de jogadores cuja maioria reside em outras nações e vestem a camisa da seleção enquanto ela representar algum status para eles. Chegará o dia em que eles serão convocados como nós somos convocados para as eleições dos nossos representantes de fingimento, através da obrigatoriedade.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel. Com o auxílio de...

MARTINS, José de Souza. A sociabilidade do homem simples: cotidiano e história na modernidade anômala. 2.ed. rev. e ampliada; São Paulo: Contexto, 2010.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 1991.
SODRÉ, M. Claros e Escuros: identidade, povo e mídia no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1999.
SÖRJ, Bernardo. A democracia inesperada: cidadania, direitos humanos e desigualdade social. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.