sábado, 19 de agosto de 2017

TRANSBORDAMENTO

Hoje, enquanto enchia a vasilha de água com limão me descuidei e a água terminou transbordando e caindo armário adentro (Ana vai retar – mas já enxuguei). Ai já estava preparado para dar o meu sonoro e repetitivo palavrão, aprendido durante anos de escuta. Mas eis que outro sentimento me atravessou naquele instante. Veio uma memória de longe que muito me marcou (eu ainda era uma criança). Um discípulo estava com seu mestre, um monge tibetano, e os dois estavam ali em silêncio, sobre aquelas majestosas montanhas. O mestre se ofereceu para servir o discípulo (que lindo) e começou a despejar chá na xícara deste último. Mas o mestre foi despejando chá, enquanto a xícara encheu e transbordou, e seu líquido foi se derramando pela mesa até cair e escorrer pelo chão.

O discípulo, percebendo o acontecimento, alertou constrangido ao mestre sobre sua desatenção. Mas o monge, com aquela serenidade intocável, barrou aquela energia precipitada do discípulo. Com seu olhar calmo, descansou o bule sobre a mesa e disse-lhe algo como para que não se desesperasse com o transbordamento do chá na xícara. Que a aparente distração dele significaria a abundância que ocorre em nossa vida.

Eu nunca esqueci esta cena! E, novamente, ela veio de volta num momento em que estava pronto para soltar mais uma imprecação por uma bobagem, que pode significar o transbordamento da vida. Não da minha, pois a minha vida já transborda. Mas também a vida de todos e de todas! E então, pensei num poema humilde para expressar isso. Expressar. Expressar. Eu preciso expressar!

Que a minha vida transborde
Que da minha existência escorra a seiva da vida,
Para que do meu amor haja mais amor
Para que da minha esperança haja muito mais esperança
Para que da minha compaixão, haja muito mais compaixão
Para que da minha tolice haja mais sabedoria
Para que da minha inteligência haja mais inteligência
Para que da minha sensibilidade haja mais sensibilidade
Para que da minha dor haja mais alegria
Para que da minha escrita haja no mundo mais poesia.

E nada mais de palavrão por bobagem.


Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, da Ana Lúcia, de Tantas Gentes, do Monge Tibetano e de Jesus, O Emanuel (O Conosco que fala todas as línguas, inclusive a cinematográfica). 

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O VOTO: VÍRUS OU VACINA?

Próximo ano haverá novas eleições no Brasil para senador, deputado federal, deputado estadual, governador e presidente da república. Será um ano de importante escolha, mais importante e crucial que as eleições passadas, pois será uma “eleição divisora de águas”, na qual veremos se nosso povo quer a continuidade deste cenário ou o início da longa ruptura com ele. Saberemos se queremos a continuidade da corrupção, dos conchavos, das compras de deputados/as e senadores, da entrega do nosso patrimônio nacional ao capital financeiro, do cinismo e da destruição das proteções trabalhistas que afetam a maioria da população brasileira. O voto terá uma valor inestimável neste cenário, funcionando como um vírus que se espalha facilmente ou como uma vacina, que combate a expansão doentia, como uma pandemia.

O que grande número de pessoas não sabe é que o voto é a expressão de poder mais legítima contra verdadeiros atos de terrorismo praticados pelo estado contra o trabalhador brasileiro, a mando do capital privado do nosso país, que se organiza a partir da FIESP na Avenida Paulista. Votar em Antônio Imbassahy, em Lúcio e Geddel Vieira Lima, em João Gualberto, em José Carlos Aleluia e seu filho, em ACM Neto, em Jutahy Magalhães Júnior, em João Leão, em João Gualberto, em Tia Eron, em Irmão Lázaro, em Bispo Marinho, em Mário Negromonte Filho, em Cacá Leão, nos “Lomantos”, no Arthur Maia, Roberto Brito, Benito Gama, João Carlos Bacelar, Paulo Azi, Guilherme Belintani, Bruno Reis, Luiz Argolo, Sérgio Passos, entre outros, é votar:
  • ·        pela manutenção do latifúndio contra a pequena propriedade agrícola
  • ·        pelo domínio do agronegócio em detrimento da agricultura familiar;
  • ·       pelo encarecimento dos juros para empréstimos pessoais nos bancos públicos (Caixa, Banco do Brasil) para sermos obrigados a tomar empréstimos e financiamentos mais caros nos bancos privados (Bradesco, Itaú, etc.)
  •   por benefícios imensos e injustos de empréstimos a juros baixíssimos para grandes empresários do país através do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)
  • · pela perda de direitos trabalhistas fundamentais ao equilíbrio na relação patrão-empregado, tais como férias, seguro-desemprego, aposentadoria, pagamento de insalubridade, direito a afastamento paternidade e maternidade, etc;
  • ·contra o direito do trabalhador se organizar em sindicatos e associações de sua categoria para defender-se dos ataques patronais;
  • ·pelo domínio dos brancos ricos de São Paulo e do eixo Sul-Sudeste, aliados aos filhos dos antigos coronéis nordestinos e nortistas, sobre os pobres mestiços, negros e indígenas nortistas e nordestinos;
  • ·por hospitais lotados, por falta de enfermeiros/as, médicos/as, auxiliares de enfermagem nas instituições públicas de saúde, forçando você a retirar parte importante do seu orçamento para pagar assistências médicas duvidosas, ou, pior; esperar a morte de seu parente, ou a sua, na entrada dos hospitais, centros e postos de saúde;
  • ·  numa postura policial dúbia, que invade a casa dos pobres a pontapés, agindo com violência desproporcional à situação, matando milhares de jovens negros pelo país afora;
  • pela reprodução de velhas elites regionais, como um gene que se reproduz de pai para filho, pois quando você vota em Cacá Leão, em ACM, o Neto, em Mário Negromonte Filho, em Luiz Argôlo, nos “juninhos” e “filhinhos” de “doutores” "fulanóides” e "doutoras" “sicranóides”, você está ajudando o vírus a se reproduzir com mais força, espalhando a doença que mata a democracia e o povo desse país;
  • · é votar a favor da violência contra as mulheres, contra os homossexuais, contra o respeito às diferenças;
  • ·    contra a educação básica de qualidade para as filhas e os filhos dos/as pobres dos nosso país, que somos nós, que somos a maioria,
  • ·        contra a criação de espaços públicos de debate sobre as diferenças, a diversidade, os grandes temas e problemas de nosso país e de nosso mundo;
  • ·        é votar a favor da privatização de tudo, inclusive da água que você tanto precisa para viver;
  • ·        contra a universidade pública para você e seu/sua filho/a entrar algum dia;
  • ·        contra o avanço do know how científico que poderia dar ao nosso Brasil possibilidade de ser menos dependente da compra e importação de tecnologias produzidas além-mar, enfim, é votar;
  • ·        a favor dos privilégios absurdos dessa corja que infesta atualmente o Congresso Nacional com suas enfermidades morais e éticas;
  • · contra a negritude, as mulheres, os indígenas, os pobres, os nordestinos, os trabalhadores, os/as homossexuais, os idosos, entre outros excluídos, enfim, é votar a favor do seu/nosso sofrimento.     

Desse modo, o voto é esse poder que você tem para decidir o que você quer para você. Se você é masoquista, crie outra forma de se automutilar, de se punir sozinho. E, de certa forma, o voto também é uma questão de identidade política, moral, social, cultural e econômica, pois nele, você escolhe em quem vota em função de quem você pensa que é. Se você é economicamente pobre; se você é nordestino; se você é negro/a, indígena ou mestiço/a como eu; se você é trabalhador/a e vai votar nesses/as candidatos/as acima, perdoe-me, mas você está assumindo uma identidade que só vai comprometer seu futuro e levá-lo à morte prematura e infeliz, porque ficará mais pobre ainda; porque será ainda mais desrespeitado em sua condição humana; porque terá grande probabilidade de morrer antes do primeiro atendimento médico; porque será ainda mais ignorante do que é; porque será empurrado para margens desertas e poluídas, nas quais as doenças afetarão a você e sua família, enfraquecendo ainda mais sua esperança vã.

Cacá Leão, ACM Neto, Luiz Argôlo, e todos os juninhos e filhinhos candidatos a seguirem seus pais são vírus mortais que o voto pode matar (politicamente) como uma vacina. Você decidirá, se quer aplicar a vacina na urna eletrônica, ou se quer reproduzir o vírus que lhe sorri até ser digitado na urna fúnebre. Depois não venha reclamar nem me estender a mão nas esquinas das cidades brasileiras, nem me fazer pedido de doação para o “Criança-Esperança”. Estenda a mão agora, para si mesmo, para os que pertencem à sua identidade marcada pelas condições em que se encontram e abrace a causa de sua raça, de sua classe, de seu gênero, de sua região, de sua esperança compartilhada em ideais comuns. 


Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes, do Nordeste e do Norte do meu país. Com Jesus, O Emanuel, que é um Deus Conosco.    

domingo, 13 de agosto de 2017

VELHOS/AS E NOVOS/AS AMIGOS/AS RUMO NA DIREÇÃO DE DEUS

Tenho amigos/as velhos/as. E não me arrependo dos/as amigos/as que foram ficando comigo durante tanto tempo. Haja paciência! Elas e eles aguentaram todas as bobagens do tempo de bobagens que eu fui sendo desse jeito. E o pior: esse tempo de vez em quando atravessa esse tempo de agora. Mas, de qualquer forma, eu pressinto que elas e eles gostam, em parte, das “aliotrias” do Litinho. Não citarei nomes, porque senão posso estar cometendo uma injustiça enorme. Gosto de todas e de todos. Até algumas pessoas que não gostam de mim, devem ter suas razões, também gosto delas, mas claro, não todas. Percebo cada um/a em sua singularidade insubstituível e, também, identifico suas tolices ingênuas em momentos em que elas e eles se desarmam frente a mim, porque sabem que podem, porque sabem que serão acolhidos/as em meu ser. A idade nos ensina que julgar os/as outros/as não pertence a nós, iguais nas fraquezas que nos dominam.
Somos tão frágeis! E eu me rio quando vejo alguém se achar superior aos demais. É triste e, ao mesmo tempo, engraçado. Algumas vezes é doloroso. Aquele “sentimento oceânico”, do qual nos falava Freud, pode ser tão enganoso. Alguns/mas não aceitam Deus e se sentem deuses/as num “Olimpo” reservado para a glória peculiar que os caracteriza. E, nessa percepção de loucura hitleriana, pensam poder julgar os/as demais como inferiores, como frágeis, como insensatos, como “raças inferiores”. E o pior: não se reconhecem como tais. Acreditam que os/as outros/as são culpados e responsáveis do mundo estar assim, degradado. E outro pior: não conseguem ver a degradação em si mesmos/as; não conseguem ver na degradação a esperança que o mundo sanciona em ações que a mídia teima em não publicar. Há muita coisa boa no mundo. Existem muitas ações de bondade e fraternidade no planeta. Assim como há muitas mortes, traições, frouxidões e enganos, há também muita solidariedade, atos de coragem, exercício da força a serviço dos/as fracos/as. Há muitas ações emocionantes de amor em nossa existência, e é preciso apresentá-las ao mundo como um ato de rebeldia angelical contra a arte demoníaca de enganar os/as viajantes do nosso tempo histórico. Deus existe! E Deus está Vivo!
Eu sou um cara difícil. E não aceito amigos/as novos/as assim tão fácil, embora eu seja fácil no início de toda relação. E, nessa minha facilidade, eu observo quem se aproxima. Observo e anoto em minha memória olhares, bocejos, inclinações que a boca faz, distrações que a palavra faz, rumo à distância – ou à proximidade – entre nós. E eu vejo tudo. Tudo o que eu preciso ver. Já rejeitei algumas pessoas que ficavam próximas à mim como uma doença. Como um câncer, querendo tomar conta de meu ser. Comecei a perceber que a proximidade delas me fazia mal. Comecei a identificar mais profundamente a avaliação que faziam de mim, sempre tendendo à rejeição, ao pré-julgamento sem piedade, sem levar em conta minhas potencialidades e minhas virtudes. E fui observando-as. Fui percebendo a direção que elas tomavam, como se eu precisasse delas. Recebi em minha casa com alegria essas pessoas, embora percebesse um mal-estar, como se a casa não fosse minha, ou pior, como se a casa não devesse ser minha. E entraram com seu mal-estar, causando-me um mal-ficar. Um mal que não dá para medir, um mal que não dá para mostrar, mas um mal que dá para sentir. Então decidi afastar esse mal da minha casa, da minha vida. E decidi ser ignorante. E espero nunca mais cruzar com um mal assim. Talvez muita gente não me entenda. Mas não é preciso. Quem percebe o mal presente, sabe a que estou me referindo. As vezes o mal ri pra você, pra poder se aproximar. Só que o mal não entende o nosso poder de reação.
E aí os/as amigos/as novos/as chegam em nosso destino. Será que mudarão o meu rumo? O Quanto? Para onde? Para quem? Quando? Não saber também é sabedoria. E os/as novos/as poderão ser boas novas. Sim. A idade vai passando e a gente vai ficando mais paciente, mais observador, mais tranquilo, menos ansioso. A gente começa a nadar a favor da corrente. A gente antes disso, começa a identificar o sentido da corrente da vida. E vamos nos deixando ir na mesma direção. Não é fácil saber isso. Não. É preciso um caminho longo, “se eu quiser falar com Deus” (Gilberto Gil). “Se eu quiser falar com Deus” tenho de seguir a corrente da Vida. E, nessa, os/as amigos/as novos/as vão nadando conosco, com alegria e gosto. As vezes erramos a direção, mas reconhecemos isso, e retomamos o caminho do Rio da Vida. E, nesse, os/as amigos/as velhos/as já estão a braços abertos sorrindo a felicidade de estar nessa corrente coerente com a vida em abundância. Todos/as dando braçadas animadas na direção de Deus. E eu, em meio a eles/as, vou nadando abraçado com aquela energia potente que as amigas e os amigos vão gerando comigo, com todos, com o mundo.
Amigos/as que vão se dando através dos olhares, das palavras, dos abraços que vão se demorando de vez em quando quando, vez e outra, há indícios de verdadeiro afeto que se afeta comumente. E esses/as amigos/as vão se juntando nesse rio-mundo que, rumo ao oceano, vamos contentes compartilhando as margens que se oferecem às nossas preces, a Deus que nos oferece a sua justiça e o seu amor; a Deus que nos aparece na Vida em plenitude e abundância que nos reexiste alegremente na comunhão que a amizade nos possibilita. À Deus, a minha vida com os/as amigos/as.

Joselito da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, do Rafael de Tantas Gentes Amigas e de Jesus, O Emanuel 

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

OS/AS VELHOS/AS EXPRESSAM SUAS VELHICES NA VELHA POLÍTICA

Na próxima eleição irei votar. Não atenderei ao apelo para votarmos nulo. Até entendo a racionalidade que essa revolta nos apresenta. E é esta racionalidade que fundamenta este texto. Votar nas mesmas caras, nesses/as homens e mulheres velho/as que se denominam "candidatos" e, em nome de alguma mentira elaborada pelo marketing político eleitoral, se lançam no mercado eleitoral a fim de serem "eleitos/as".  O grande problema é que esses/as candidatos/as são bem velhos/as. Muito embora a velhice tenha sua sabedoria, para compensar as dores e as reduções de nossas potências físicas e biológicas, essa velhice política termina funcionando como uma barreira à renovação que o campo político no Brasil exige, neste momento de desregulamentação do mercado e retrocesso político nas conquistas dos/as trabalhadores/as e das classes populares.

Parece que a direita política se renova mais depressa que a esquerda. No DEMônio estão aparecendo um tal de Bruno Reis, Guilherme Bellintani, entre outros jovens, liderados por ACM o Neto, que vão atuar na defesa dos princípios neoliberais que a direita baiana prega e luta para assegurar. Mas a oxigenação da esquerda parece muito mais complicada. Desde que sou bem jovenzinho Nelson Pelegrino, Walter Pinheiro, Jacques Wagner, Lídice da Mata, Alice Portugal, Daniel Almeida, Olívia Santana, entre outros e outras, que, de 4 em 4 anos,  lançam suas candidaturas, continuam lançando suas candidaturas eternidade afora. Será que não surgiu nenhum/a jovem promissor/a nessas 3 décadas? Será que os/as jovens desses partidos são pouco inteligentes? Será que esses/as jovens querem apenas exercer a função de distribuir santinho, segurar bandeiras e atuar na organização e execução das campanhas desses/as velhos/as e renitentes guerreiros/as? Faz tempo que não ouço uma voz jovial nesse meio. Quem sobe no trio, passa por uma "triagem". A voz que vem de lá e é distribuída tem de ser a voz de Pelegrino, de Pinheiro, de "da" Mata, de Almeida, de Portugal, de Santana, de Wagner, como se esses partidos, de fato, tivessem seus donos, distribuindo o poder de acordo com o status quo do representante cuja palavra já está resguardada, desde três ou quatro décadas, para ser sempre falada. Mas particularmente, não me convencem mais. Parece que ouço o passado requentado; parece que ouço o futuro represado por malhas de seleção que as operações de poder dentro desses partidos instituem, como se fossem "naturais". 

Muito embora reconheça o papel que os/as mais velhos/as têm, por isso mesmo apreciaria um/a candidato/a desses/as apresentar um/a novo/a candidato/a para nós, como um tutor temporário. Mas o que vejo é que não surgem jovens pronunciando suas revoluções. Como se eles e elas fossem barrados pelas tramas partidárias em seus filtros selecionadores, pela autoridade do momento, que se lança, durante três décadas, candidato/a representante de uma multidão que anseia pela retomada das forças políticas locais, regionais e nacionais. Ora, isso me caracteriza um impedimento, como se esses partidos fossem, eles mesmos, capitanias hereditárias oferecidas aos "eleitos", ou melhor, às/aos candidatas/os de sempre às eleições de sempre.  Fico pensando, do mesmo modo, nesse militância política que opera nesses partidos, como se fossem torcedores fiéis de um/a candidato eterno, vestindo, tal qual um torcedor desvairado, "a camisa" do/a seu/sua candidato/a. Uma esquerda que não se renova me parece suspeita. Muito suspeita. Os/As jovens são "assassinados/as" em suas pretensões eleitorais? 

Por isso não votarei nesses candidatos/as citados/as, muito menos em velhos/as outros/as que requerem reeleição. Caso apresentem jovens, eu votarei e, nesse fenômeno, percebo que o PSOL, por exemplo, dá exemplo de renovação, de mudança de cadeiras e apresentam jovens candidatos. Hilton Coelho não foi mais o "eterno" candidato do partido a prefeito. Foi Fábio Nogueira. E assim vão nos dizendo como um partido não pode se tornar personalista, dependente de um/a eterno/a candidato/a para todo o sempre, amém. A esquerda, precisa voltar a ser esquerda, e o PSOL aponta, nesse sentido, um caminho de renovação. Votarei em Rui para governador, por ser, de certa forma, um jovem nessas três décadas dos mesmos nomes, mas isso, é muito pouco. 

Joselito Manoel de Jesus, (Não é filiado a partido algum, critica quem quer e quando quer) Mas sempre voto na esquerda. 

terça-feira, 8 de agosto de 2017

BRASIL DOS BANDIDOS

Não sei mais qual a vantagem de ser brasileiro. Ando cético quanto a isso. Ando cético quanto ao ser humano, de qualquer lugar do mundo, apesar de Gandhi, de Madre Teresa de Calcutá, de John Lennon, entre outros. Na França os refugiados da Síria estão sendo maltratados quase tanto quanto os judeus na Alemanha de Hitler. Nos Estados Unidos, Trump, aquela figura grotesca de ser humano, tenta a todo custo implantar sua demo-cracia, deixando mexicanos e demais latinos nas margens do novo grande muro de Berlim que ele deseja erguer. Na Palestina, os israelitas massacram os palestinos, mesmo levando em conta a raiva histórica que gera conflitos entre os povos. O mundo é da insensibilidade.

No Brasil até a liberação dos corpos pelo IML (Instituto Médico Legal) do Rio de Janeiro, era feita sob o pagamento de propina. No governo a bandidagem continua julgando a si própria, com apoio de um conhecido ministro indecente do STF (Supremo Tribunal Federal) e o PCC (Primeiro Comando da Capital) vai ter campo aberto para financiar campanhas políticas em 2018. O Brasil é dos bandidos! Os bandidos fazem as leis, os bandidos se elegem, os bandidos se protegem, os bandidos se completam. Ser brasileiro está a cada dia mais difícil. Pagamos o preço exorbitante de um estado falido, como um Titanic cujo rombo está aumentando e as classes que se encontram mais abaixo estão morrendo afogadas, enquanto as classes mais acima lutam para fugir nos botes que restam. Mesmo as que conseguem chegar à fila dos pretensos ocupantes desses botes, são impedidos pelo aparato militar desse navio rumo à tragédia. O Rio de Janeiro atolou com a lama que veio da barragem do Ex-governador/Presidiário Sérgio Cabral e outro Sérgio, o Moro, finge querer combater a corrupção de um partido só, o PT, enquanto o STF libera Aécio, a mafiosa irmã dele e o Lores de Temer. 

Haverá uma tragédia, e isso só não vê quem não quer. Em breve aqueles/as que poderão morrer afogados, quando perceberem a água subindo sem trégua, lutarão, inevitavelmente, pelas suas vidas. E, quando o aparato militar se colocar em seu caminho, sem terem lido A Arte da Guerra, de Sun Tzu, perceberão o que o medo faz com uma multidão de seres humanos. E serão trucidados pela fúria humana com uma única direção: sobreviver. E não serão brasileiros nessa hora. E não serão nem humanos nesse momento. Serão seres vivos querendo viver. Porque saberão em suas peles e em suas fomes, em suas dores e em suas lágrimas, em suas injustiças e em suas mortes, que não são brasileiros/as. Que não adianta nascer nesse território, porque nele, são tratados como estranhos, como escravos, como massa de manobra da guerra e da morte.

De que vale a pena ser brasileiro? Vale a pena ser alvo de tantas mentiras? Tanto à esquerda quanto à direita? Vale a pena ser brasileiro? Sendo taxado por tantos impostos, por tantas propinas, por tantas taxas? Falam que na Venezuela têm uma ditadura. E no Brasil tem o que? Uma dita mole? Uma rapadura? A gente pode votar em quem não é financiado por grandes corporações? A gente pode votar em quem não defende o capital privado? A gente pode votar em quem não é financiado pelo crime organizado? A gente pode votar em quem não é apoiado pela Rede Globo ou pela Record? Enfim, a gente pode votar na gente? Nãããããããããããooooooooooo! Aí se reelegem um bando de supostos evangélicos de fachada, com discursos moralistas fáceis [Tia Eron, Irmão Lázaro, Marcos Feliciano, Pastor Isidório, Pastor Fulano, Pastor Sicrano, Bispa Beltrana etc.) que depois votarão contra os verdadeiros evangélicos, cuja fé não se vende por trinta moedas; aí se reelegem candidatos apoiados pelas grandes corporações; aí se reelegem vereadores, deputados e senadores apoiados pelo crime organizado e pela grande máfia que é a governança desse país.  

Tenho vergonha de ir a outros países e responder à perguntar a que lugar do mundo pertenço. Não pela minha gente, não pela negritude, não pela nossa rica cultura, não pela favela, não pelo Calafate. Mas por quem nos governa. Todo o sistema: judiciário, executivo e legislativo. Todo o sistema. Também teria vergonha de ser francês nesse momento. Seria agora muito mais alemão que outra coisa. Gosto do humor inglês, mas não do mal estar deles em relação aos outros. Gosto dos africanos, por causa da minha cidade, Salvador, que me mostrou a solidariedade, a alegria, a força, a fé, a sabedoria e a resistência negra. Gosto dos noruegueses, por causa da força e do destemor dos vikings, coisa que falta ao nosso povo brasileiro. Gosto do nosso planeta e de tantos e tantos povos que nele estão, por ser o único, até agora, deste universo.

Mas, voltando a este país, detesto! Um país frágil! De políticos desonestos e mentirosos, ladrões do suor da população, cujas gravatas foram pagas por nosso trabalho. Raros são dignos de reconhecimento e honra. Raros. Estou cansado disso tudo, desse teatro sem graça com canastrões muito bem pagos pelo nosso ingresso forçado. Um país que não reage, que morre como um sapo na água que vai fervendo a seus pés. Um país cheio de afogados boiando no oceano de nossa história. Um país sem revolta, sem balaiada, sem sabinada, sem marinheiros, porque eles se jogaram na água atrás de salvação, que não existe nas águas gélidas da reforma previdenciária e trabalhista, que não existe na reforma política feita pelos ladrões que vieram de Portugal e aqui fizeram “sua ordem” e “seu progresso”. Nesse sentido, eu não sou brasileiro. Sou estranho nessa terra de “Santa Cruz” que precisa ser redescoberta pelo seu próprio povo.


Joselito Manoel de Jesus, estranho estrangeiro