sábado, 15 de maio de 2021

RIO DOS CLÃS: MARINHOS E BOLSONAROS NO COMANDO

Não se enganem. O mesmo mau gosto, cafonice, cinismo, falta de empatia, violência e malandragem do Bolsonaro e do seu clã, é o mesmo mau gosto da Rede Globo que convivem no mesmo território carioca, além das demais redes de tv aberta no Brasil, com exceção da TV Cultura, TV Educativa (TVE). Os programas da Globo, Record, Band e SBT são programas para bobos assistirem, para idiotizar o povo brasileiro, já desprovido de educação, saúde e segurança. Para isso, por exemplo, a Rede Globo não apresenta perspectivas, soluções, caminhos objetivos. Muito pelo contrário: alimenta ilusões através de novelas que só mudam os rostos, mas as tramas e personagens continuam os mesmos e as mesmas. Faustão, Luciano Huck, Ana Maria Braga, William Bonner, Míriam Leitão entre outras e outros, são porta-vozes dessa rede intricada de más intenções, de mau gosto, de superficialidade argumentativa, de ausência de pesquisa e de reflexão sistemática e coerente e, infelizmente, quando você vai a clínicas, hospitais, concessionárias, rodoviárias, aeroportos etc., parece que é a única rede de tv no Brasil, atingindo milhões de pessoas e influenciando, através de processos manipulatórios, o pensamento da população deste país.

Mesmo sabendo que o “Rio de Janeiro continua lindo”, parece-me, ao examinar os fatos, que este território é laboratório de bandidos, de traficantes, milicianos, governadores e governadora larápios/a, que surrupiam o direito do povo em forma de corrupções diversas entranhadas no aparelho do Estado. Terra de ninguém é o que me parece ser o Rio de Janeiro. Além disso, é o mesmo território aonde a Rede Globo está encastelada, disseminando programas chulos, de gosto duvidoso, com baixíssima possibilidade de levar o telespectador à reflexão, muito pelo contrário: produz manipulações permanentes, todos os dias, incluindo os programas jornalísticos da Globo News, no qual após uma notícia de aumento salarial do trabalhador apresenta em seguida a notícia do “déficit estatal”, produzindo a percepção de que nós é quem somos responsáveis por esse “déficit”. Na verdade, nós, os trabalhadores e as trabalhadoras que produzem a riqueza deste país, é quem sustentamos, através de pesados impostos, os militares de altas patentes que se acham os heróis de uma guerra que nunca travaram, mas quando têm de enfrentar o contraditório, pedem socorro ao STF (Supremo Tribunal Federal) se borrando de medo da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Congresso. Alimentamos os privilégios de uma casta de juízes/juízas e desembargadores/as e dos políticos que ficam mais ricos a cada legislatura, procuradores e agentes especiais do Ministério Público.

O Domingão do Faustão, como a própria rima sugere, é um programa dominical para idiotas. Um cara ganhando uma fortuna para falar um monte de bobagens, uma besteira atrás da outra, com perguntas tolas, superficiais, que mal tocam nos dilemas mais imediatos e reais do povo brasileiro, que, sem se dar conta de sua realidade, ri daquelas palhaçadas mal elaboradas. Os demais programas são de baixa interatividade, tratando a população apenas como uma telespectadora burra que, passiva, acolhe aquele monte de lixo ideológico derramado todos os dias, do Jornal da Manhã, da TV Bahia, passando pelo Bom Dia Brasil até os programas da madrugada.

Quando você muda de canal e começa a assistir a TV Educativa e suas afiliadas, percebe a qualidade de programas como “Café Filosófico”, “Senhor Brasil”, “Opinião”, “Provoca”, “Linhas Cruzadas”, “Jornal da Cultura” – com uma crescente interação com o público – “Mundo Museu”, “Cultura Cidadania”, “Quintal da Cultura”, “Roda Viva”, “Clássico”, “Cabaret Literário”, “Elas” – programa que desvenda histórias e lendas de mulheres do cotidiano que se tornaram referências – “Repórter Eco”, “Matéria de Capa”, além da grade de programação das afiliadas locais, que também são muito interessantes porque trazem o povo como protagonista, exercendo suas autorias e criações inovadoras no campo da arte, da cultura, da política, da organização social e inventividade econômica, nas diferentes produções que são marginalizadas pelo domínio das demais redes de tv aberta como a Globo, Record, SBT e Bandeirantes (Band).

Quando você compara, percebe a riqueza dos programas advindos da Tv Cultura e a baixa qualidade dos programas das demais tv’s abertas, conseguindo identificar as manipulações presentes nos discursos unidirecionais dos/as âncoras e apresentadores/as desses programas. A Rede Globo, por ser a mais assistida, é a mais prejudicial à emancipação intelectual da população brasileira, disseminando sua forma única de ver o mundo e o ser humano nele, mantendo jornalistas sob rédea curtíssima, de modo que suas notícias são parciais, não mostrando as principais dimensões e aspectos envolvidos. O mesmo projeto de Bolsonaro de se manter no poder com utilização de recursos envolvendo a bravata, a manipulação via fake news, o uso da força  e até o genocídio populacional etc., é o mesmo projeto da Rede Globo, da TV Record, da Band, do SBT de se manterem soberanas nos domicílios deste país, com Sílvio Santos, Edir Macedo, o clã Marinho e os acionistas majoritários da Rede Bandeirantes.  

Nos programas dessas emissoras não se discute a questão da mulher. A mulher que aparece nesses programas apenas repete o script para o universo feminino conservador que mantêm a feminilidade no silêncio, em condições inferiores nas relações de gênero, com raras exceções. O preto e a preta não aparecem de modo empoderado, no protagonismo de programas que discutem com profundidade a questão racial no país e mostram pretas doutoras e pretos doutores bem sucedidos/as orientando a sociedade em diferentes ramos do saber e da ciência, como a Tv Cultura faz; as comunidades locais mal aparecem na Record - a não ser de modo caricato em programas comandados pelo pseudo jornalista, pseudo humorista e palhaço mal formado "fulano de tal" -, no SBT, na Band, na Globo e, em nosso caso TV Bahia, a não ser como coadjuvantes de situações de crime, violência, protestos contra mortes violentas de sua juventude. Dificilmente aparecem como produtoras de cultura, criadoras de economias criativas e solidárias como a TV Cultura e a TV Baiana. 

Portanto, você pode escapar da idiotia a que nos remetem essas redes de emburrecimento e de produção da imbecilidade nacional, mudando de canal, mudando para a Tv Cultura, a Tv Educativa, a Tv Baiana, e ocupando as redes digitais, exercendo autorias no ciberespaço e participando coletivamente e solidariamente de produções ciberculturais, a fim de não se trair, nem se dis-trair demais de si mesmo/a, apartando-se de seu contexto social, cultural, econômico e político, rindo de suas próprias desgracenças e tirando sarro dos perrengues de sua própria gente e de si mesmo, como Faustão sabe fazer tão bem contra nós. Embora o Rio de Janeiro continue lindo, a lama produzida nesse rio terminou emporcalhando esse território a tal ponto que o próprio Cristo Redentor fechou os braços e colocou as mãos nas narinas. 


Joselito da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel    

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

LIVE COM O PROFESSOR DOUTOR CARLOS ALBERTO ÁVILA ARAÚJO: CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E PÓS-VERDADE

FAKE NEWS – Informação falsa travestida de notícia jornalística verdadeira.

O fake News reconhece a legitimidade da notícia jornalística. Tende a se aproveitar dos mecanismos legitimados de produção jornalística para disseminar mentiras e confundir a população.

DISCURSO DO ÓDIO – Tem a função de inocular ódio, reação emocional, fazendo as pessoas deixar de basear seu comportamento em reações racionais, colocando-se em “pé-de-guerra”, reagindo “à flor-da-pele”. Isso elimina a capacidade de raciocínio do indivíduo, tornando-o um boneco manipulado a serviço de interesses de indivíduos, instituições e grupos poderosos. Com esse discurso o outro - petista, "esquerdopata" (que o diga o charlatão Silas malafaia), gays, trans, mulher, negros, moradores de rua (Covas que o diga), estrangeiros de países mais pobres, pessoas com deficiência etc. - é sempre o culpado pelas nossas próprias dificuldades. Deixamos de identificar e reconhecer que o problema é gerado pelo acúmulo de riqueza nas mãos de poucos e, portanto, escolhemos nossos alvos de ódio, criando o cenário moralista para perseguição, prisão e morte para essas pessoas. Com o nazismo foi assim. Agora, com a aprovação do "Excludente de Ilicitude", ficará mais fácil por esse projeto de extermínio em prática.   

NEGACIONISMO CIENTÍFICO – Produção intencional com a função de provocar dúvida sobre resultados de pesquisas científicas a fim de defender interesses de grandes conglomerados econômicos, políticos e ideológicos.

ENGENHEIROS DO CAOS – Pessoas que se apresentam como “cidadãos-de-bem”, pessoas que se dizem simples e que algumas vezes escreve e fala errado para justificar que estão fora da "dominação" causada pelas universidades, pela mídia, pelos canais de jornalismo etc., e que, portanto, estão fora da “Matrix”, sendo portadoras da suposta “verdade”. Elas atuam nos “canais subterrâneos de informação” – whatsapp; facebook, twitter etc. – divulgando informações falsas a fim de destruir reputações de indivíduos, grupos e instituições. Agora mesmo vi um dizendo que era só mastigar alho com alguns goles de vinagre que estaria protegido da Covid-19.    

DESINFORMAÇÃO – Produção de mentiras maquiadas de verdades. Objetivo é causar confusão para a tomada de decisões das pessoas sobre saúde, finanças, trabalho, investimento profissional etc.

DISSONÂNCIA COGNITIVA – É o fenômeno psíquico no qual se produz “conforto psicológico”, reforçando certezas e dogmatizando-as. 

Ex.: Se eu acredito em um político, achando que ele é honesto ou que ele é ladrão, usarei minha capacidade cognitiva para reforçar essa crença, independente do contraditório e de todas as provas contrárias àquilo que acredito. Se Bolsonaro, Sarney, Collor, Alckmin, Aécio Neves etc., são honestos para mim, sempre serão honestos, independente das provas contra eles, os filhos e da privatização criminosa de empresas públicas importantes para o povo brasileiro. Se considero que Lula é ladrão sempre será ladrão, mesmo que não haja provas concretas de sua “roubalheira” e que se evidencie a perseguição de um juiz e seus comparsas no poder judiciário brasileiro que deveria ser imparcial. 

PÓS-VERDADE – Uma nova condição por meio da qual uma informação é produzida, utilizada, divulgada. Hoje em dia temos a capacidade de, em alguns segundos, checar se uma informação é verdadeira ou falsa. Mas nós não temos interesse nisso. Compartilhamos assim mesmo, de modo irresponsável, num crescente desdém pela verdade.

 Um dos perigos que corremos hoje é o da “DESINTERMEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO. Retirada das instituições mediadoras – museus, escolas, universidades, agências de notícia, institutos de pesquisa etc. – do processo de tratamento da informação. Assim, vemos crescer o fenômeno dos blogueiros que ocupam o vazio deixado pelas instituições responsáveis por esse papel. Você vê tipos como Alan dos Santos, Olavo de Carvalho e Felipe Neto entre tantos/as outros e outras que formam opinião de muitas pessoas reduzindo seu acesso à informação pelas instituições tradicionais que fazem essa mediação de modo confiável.



Joselito M. de Jesus: professor

sábado, 16 de janeiro de 2021

GENERAIS BOSTÉTICOS, JUIZES CORRUPTOS, CAPITÃES DO MATO, DELEGADOS SEM CACHORRO

Militares, juízes e agentes de polícia foram incentivados pelo contexto a ocuparem o campo político. A era dos capitães parecia promissora para eles. E parecia a princípio que assumiriam cargos decisivos no aparelho de Estado para servirem com denodo, disciplina, honestidade e transparência, governando para o povo, instaurando uma nova política neste país. Qual nada. Eles apenas se juntaram à roubalheira geral da nação e fizeram até pior em plena pandemia!

O caso do ex-juiz Wilson Witzel é um exemplo bem claro e explícito. Chegou cheio de moral, batendo continência para todo lado, como um sinal a disfarçar suas intenções para a turma da geral. Assumiu a governadoria do Rio como se fosse dar um ponto final a toda uma tradição de roubos, assaltos aos bens públicos pertencentes à população. Parecia por fim à “garotinhos”, “pezões”, “cabrais” e afins. Mas ficou claro que não. Ele não somente não rompeu com esta tradicional roubalheira geral como afundou ainda mais o pé na jaca, e bem em meio a uma pandemia! Contornos de perversidade foram acrescidos a tais práticas marginais promovidas pelos próprios poderes públicos. De juízes assim o inferno tá cheio!

Outro caso, a que gerou a "Operação Faroeste" da Polícia Federal na Bahia, a partir do Ministério Público Federal, mostrou o quanto desembargadoras, juízes e advogados, incluindo delegada e o próprio Secretário de Segurança Pública da Bahia, estes como suspeitos, estavam envolvidos em grilagem de terras no oeste da Bahia a serviço de interesses privados. Eu fico imaginando. Pessoas que não precisam de dinheiro para ter uma vida confortável se envolvem nessas tramamóias. Mas quando um pobre coitado se envolve no tráfico de drogas, muitas vezes para sobreviver - pois quem ganha com o tráfico de drogas são brancos bem posicionados nas altas classes sociais - a polícia invade seu terrítório com a autorização para matar. Sou a favor do tráfico de drogas? Não. Sou a favor da justiça. Matem também desembargadores e desembargadoras, juízes/as, advogados/as envolvidas com crimes; invadam condomínios de luxo e coberturas de edifícios de bairros nobres e aí a balança será equilibrada. 

O homicídio culposo é quando o réu não tem intenção de matar. Mas roubar o estado, a prefeitura, a Câmara de Vereadores, em plena pandemia causada pela Covid-19, desviando recursos escassos do sistema de saúde é, sem dúvida, homicídio doloso, pois estes atos causaram muitas mortes desnecessárias na população. Eles sabiam que isto iria acontecer. Eles só queriam roubar, enriquecer mulheres, filhos e filhas, a fim de fortalecer suas “famílias” neste território que mais se parece um faroeste, no qual o mais rápido no assalto e nas articulações entre bandidos, formando quadrilhas no poder, é quem permanece vivo na cena política, sem direito a mocinhos. Um faroeste só de bandidos que usam estrelas no peito, como se fossem xerifes. Um “Faroeste Caboclo” sem direito a “Santo Cristo”.

Dos generais que assumiram o poder neste governo genocida do Bolsonaro, o pouco que tive acesso quando eles falam em público, denota que são homens bem limitados cognitivamente. Nada os diferencia dos velhos políticos que ocupam o poder de Estado a serviço de si próprios. Uns chegam a ser patéticos! Outros demonstram claramente seu racismo, sua subserviência a determinações que conduzem a população brasileira à morte. Por eles, a ideia que tenho é de que a elite da força militar de nosso país não consegue selecionar os melhores. Pobre das Agulhas Negras! Imaginava que um general era alguém que se destacava entre os militares em inteligência, bom senso, capacidade de tomar decisões rápidas e estrategicamente eficientes em contextos de tensão e de ameaça. Mas a tomar Mourão, Augusto Heleno e Pazuello como exemplos, percebo que uma força inimiga não teria muita dificuldade em tomar este país de assalto. Só posso deduzir que tais indivíduos chegaram a ocupar tais postos por práticas de puxa-saquismo, lambendo botas de superiores para obterem simpatia e irem galgando posições nas forças armadas brasileiras, repetindo assim toda uma tradição patrimonialista – o amigo, o parente – que deformou este país desde que os portuga aqui chegaram com suas capitanias hereditárias.  

Esperávamos que os generais fossem generais, honrando a disciplina, a defesa dos interesses nacionais e adotando as estratégias mais eficientes e eficazes para combater a Covid-19 que já ceifou mais de 200.000 vidas em nosso território. Esperávamos que esses homens zelassem pela sua postura, pelos ideais mais amplos que orientam homens e mulheres de farda. Mas não. Nada os diferencia das velhas raposas da política brasileira. O general Pazuello é uma piada de mau gosto! Um boneco vazio de alma, manipulado pelas determinações do Genocida a quem serve. Um idiota útil para serviços sujos. E isso termina contaminando as próprias forças armadas. Excetuando-se o General Santos Cruz, que tem postura de militar comprometido com seu país, entre outros poucos que já foram afastados e se afastaram desse desgoverno criminoso.

Juízes envolvidos em desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia, generais sabotando o combate à covid-19, ministro da economia aumentando impostos sobre os cilindros de oxigênio, são exemplos de como os privilegiados desse país se articulam numa grande rede para eliminar sua população com reformas previdenciárias, práticas incendiárias, perseguições a dissidentes, mentiras e desinformações distribuídas pelos porões das redes sociais, torturando a verdade, e agora a asfixia da população de Manaus pela negligência dos poderes estatais, sob a liderança de Jair Messias Bolsonaro, denota o quanto os militares deste país se tornaram tal qual ou até piores que os políticos tradicionais.

Isso tudo demonstra também como o povo brasileiro, que verdadeiramente carrega esse país nas costas, sustenta uma casta de juízes/a, desembargadores/as, militares, políticos e empresários que posam de competentes, de mais eficientes e trabalhadores/as, mas não passam de uns bostéticos ostentando “autoridade”. São pessoas acostumadas a privilégios, que nunca vão sentir o sol pesando sobre seus ombros em trabalhos duros, pois sempre foram servidas e bajuladas pelos serviçais que os cercam. São pessoas que nunca foram questionadas profundamente sobre o seu papel no desenvolvimento da sociedade brasileira. O racismo entranhado no aparelho de Estado é um dos vetores que sustentam a reprodução dessa gentalha que nunca foi a uma guerra mas tem o peito cheio de estrelas por “bravuras” imaginárias. Eu tenho nojo dessa gentalha e me envergonho profundamente de dizer que sou brasileiro quando o que temos de comparação é essa pseudo elite que nos governa e nos enterra a cada ano com suas reformas assassinas.

 

Joselito Manoel de Jesus, Professor

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

A SAÍDA DA FORD É UM SINAL IMPORTANTE: NÃO É SÓ A ECONOMIA ESTÚPIDO!

A saída da montadora Ford de nosso país gerou uma série de reações de amplos setores nacionais, tanto de representações políticas, quanto de representantes da economia, de sindicatos e do empresariado baiano. Todos concordam que as consequências são desastrosas para a economia brasileira e, de modo particular, a baiana. Mas tem solução.

Segundo o governador Rui Costa – em matéria de Rodrigo Aguiar, jornal A Tarde, quarta-feira, 13/01/2021, p. B3 – o maior prejuízo não será na arrecadação, pois esta vem caindo desde 2018, saindo de R$ 200 milhões para R$ 150 milhões em 2019 e R$ 100 milhões este ano. Costa afirma que o prejuízo maior será na ausência do conjunto dos salários pagos aos seus funcionários pela Ford, que era de R$ 500 milhões, dinheiro que deixa de circular em Camaçari e em toda a Região Metropolitana. Segundo o governador atual da Bahia o “efeito cascata” ainda traz mais prejuízos, pois trabalhadores domésticos, vendedores autônomos, pequeno comércio como mercadinhos, padarias, barbearias, entre outras, sofre os desdobramentos desta saída nada à francesa.

O prefeito de Salvador, Bruno Reis, também na página B3 do jornal A Tarde, espera que os governos mobilizem suas energias para construir alternativas. Ele lamentou a saída da empresa automobilística norte americana e afirmou que a prefeitura faz o que pode para combater o desemprego, embora, com razão, não tenha competência para atuar no nível macroeconômico. Para Núbia Cristina, da editoria da Auto Brasil, também do jornal A Tarde, A Tarde Autos, 13/01/2021, p. 2, o impacto negativo, será da perda de 7.216 empregos e da queda na arrecadação no município de Camaçari de R$ 150 milhões. informa sobre o esforço do governador Rui Costa em procurar alternativas no mercado asiático – China, Japão e Coréia do Sul – para implantar uma nova indústria automotiva, já que temos a maior planta industrial automotiva da América Latina, como pontuou o governador da Bahia.

 Possibilidades Outras

 Segundo Núbia Cristina, “[...] está na hora de apostar em projetos sustentáveis [eletrificação automobilística], e deixar de lado fabricantes tradicionais, ávidos por incentivos fiscais. Ainda segundo ela, o avanço rápido dos veículos elétricos é um sinal para que a Bahia planeje a reocupação da planta industrial recém abandonada pela Ford. Ela propõe que:

A Bahia precisa fazer alianças com empresas focadas na preservação ambiental, na sustentabilidade econômica dos negócios e no desenvolvimento da comunidade onde estão instaladas, comprometidas com o progresso da cidade, do estado e do país. (CRISTINA, 2021, p.2)

De fato, os veículos elétricos é a tendência e não há como parar isso. Não é futuro: é presente e se fará cada vez mais presente nas ruas do mundo inteiro. Mas como o governo baiano está desesperado para mostrar resultados, tendo em vista a eleição para governador que se aproxima, com a forte candidatura de ACM Neto já posta no jogo, talvez a solução seja menos racional e mais política.  

O vice-presidente da Associação Comercial da Bahia (ACB), Paulo Cavalcanti, também se pronunciou e apresentou uma questão que me pareceu também interessante: [...] o porquê de não termos tecnologia nacional para substituir esses espaços. (CAVALCANTI,ACB em Foco, p.B3). Segundo ele:

Temos visto notícias de que os governantes brasileiros estão buscando a indústria automobilística chinesa para substituir a Ford. Onde está a indústria brasileira? Precisamos ter a consciência de que somente com investimentos em tecnologia e educação garantiremos a sustentabilidade para o futuro dos nossos filhos e netos [filhas e netas também, acrescento eu].

Cavalcanti chama a atenção para o desenvolvimento de uma tecnologia com know how brasileiro - o que me lembrou a pioneira Gurgel - aproveitando as necessidades geradas pela saída da Ford. E, para mim, o que ele apresenta de mais interessante é a educação, aliada, evidentemente à tecnologia. É preciso preparar o ser humano brasileiro para os desafios que se apresentam no presente e no futuro. E é somente educadores e educadoras bem preparadas, com salários dignos, com supervisão e avaliação sistemática de suas práticas educativas que poderemos formar esse ser humano, com as capacidades técnicas, políticas e humanas, atualizando suas potencialidades na produção de um parque produtivo diversificado e eficiente, com incorporação de técnicas, métodos, tecnologias e sistemas organizacionais que operem isso tudo numa dinâmica permanente. É mais fácil desenvolver novas tecnologias do que preparar o ser humano que vai operacionalizá-las em um contexto de grupo. Educar demora mais. E por isso mesmo, os/as educadores/as têm de ser educados/as desde já, numa nova proposta que incorpore esses desafios hodiernos, com a reorganização do sistema educacional baiano.

A experiência dos/as trabalhadores/as demitidos/as da Ford na Bahia, a existência da planta do parque industrial e a infraestrutura existente são pontos a favor. Mas é preciso avançar no sentido de desenvolvermos tecnologias próprias, seguirmos o exemplo dos chineses, japoneses e coreanos e não apenas esperarmos, dependentes, a boa vontade de empresas estrangeiras para produzir bens e serviços aqui em nosso país, mas atuarmos para desenvolvermos nossas capacidades produtivas, o que exige uma autoavaliação do governo baiano sobre o tratamento que dá ao seu sistema educacional, sem propostas factíveis de mudanças que correspondam às exigências contemporâneas. Não se trata apenas de economia, se trata de planejamento estratégico, educação, justiça social, respeito aos educadores e às educadoras e proposições claras de desafios honestos para que todos/as nós nos sintamos baianos/as, criando com tudo o que nosso tabuleiro tem e venha a ter.

Joselito Manoel de Jesus, Professor. Da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Com o apoio de:

 AGUIAR, Rodrigo. Governo faz reunião de grupo de trabalho para discutir solução pós-Ford. A Tarde, Salvador, ano 109, n. 37.153, 13/01/2021. Economia & Negócios, p.B3.

CAVALCANTI, Paulo. A Ford e as reformas do estado brasileiro: o que falta para começarmos a nos mobilizar? A Tarde, Salvador, ano 109, n.37.153, 13/01/2021. Coluna ACB em foco, p.B3.

CRISTINA, Núbia. É hora de atrair fabricantes de veículos sustentáveis. A Tarde, Salvador, ano 109, n.37.153, 13/01/2021. A Tarde Autos, Coluna Auto Brasil, p.2.

VALVERDE, Fernando. Bruno lamenta fechamento de fábrica. A Tarde, Salvador, ano 109, n. 37.153, 13/01/2021. Economia & Negócios, p.B3.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

FILOSOFIA ESSENCIALISTA x FILOSOFIA PÓS-CRÍTICA: AMOR, MACHISMO E FEMINICÍDIO

Como você pode controlar os sentimentos de outra pessoa? Como garantir que o amor seja para toda a vida? Como impedir que o amor não se transforme, depois que ele está transformado? Como manter o amor numa forma ideal sem apelar para seu encarceramento? Que possibilidades a Filosofia oferece para orientar nossos comportamentos e atitudes diante das relações amorosas? São questões que se colocam em nossa contemporaneidade, principalmente num contexto no qual o feminicídio se torna ainda mais cruel. 

A filosofia essencialista tem início quando um sujeito chamado Parmênides, da cidade grega de Eléia, afirmou que o que é é, e não pode deixar de ser. Para ele, toda mudança era aparente. Dessa perspectiva, para a filosofia essencialista o que existe é assim mesmo e assim sempre será. A terra, a água, o ar, o fogo... No ser humano gera a “síndrome de Gabriela” que nasceu assim, cresceu assim e será sempre assim. Meu pai incorporou tal noção filosófica em sua crença pessoal. Ele dizia para minha mãe com ares de orgulho: “- Eu nasci assim e vou morrer assim Naia [termo carinhoso de Nair].” Dava para perceber que entre os seus valores ele cultivava a pertinência do macho que não se dobrava às exigências do seu tempo, permanecendo ele mesmo, talvez diante das mudanças, que considerava degradação social.

As relações amorosas abordadas pela filosofia essencialista causam alguns problemas sérios, levando a alimentar a masculinidade tóxica e justificar a violência contra a mulher e, em casos mais extremos, o feminicídio, como os recentes casos no Brasil neste final de 2020.

Nas relações amorosas, se eu acredito numa visão essencialista de amor, desenvolverei uma visão muito romantizada e pouco crítica de uma relação que envolve duas pessoas diferentes. Muitas vezes bem diferentes! Mas, como eu acredito que a pessoa amada é a metade perfeita para a minha metade perfeita, formando uma perfeição ainda mais-que-perfeita, eu me apaixono movido por essa ideia e idealizo a pessoa amada, conservando-a em sua “perfeição” nessa abstração que, ao lado do encanto de imagens projetadas de amor, também cria as possibilidades reais de seu antagonismo: desencanto e terror.

Ao lado do prazer de amar e ser amado, tem o medo terrível de perder seu “objeto de amor”. E esse medo vai gerando desconfiança. No mundo digital o celular é o portal por onde Ricardos, recados, mensagens, imagens se multiplicam, multiplicando as probabilidades de que haja alguém mais interessante, alguém que nunca reconheceremos ter algo a mais porque, simplesmente, esse algo a mais pode nos fazer de menos, levando embora aquela a quem amamos, o nosso “único e verdadeiro” amor . Talvez por isso, atualmente o celular seja como uma chave para abrir a porta das violências que vão se caracterizando como a invasão de privacidade, procurando saber o que ela curtiu, o que ela prestou atenção, com quem ela mais interagiu enfim, procuramos identificar o “ladrão” que penetrou as fronteiras proibidas de nosso “relacionamento perfeito”.

E por aí a desconfiança escancara suas portas virtuais que terminam penetrando em nossas atitudes cotidianas. Quando a mulher percebe que não tem mais jeito e o encanto se tornou opressão, decide sair daquela relação cada vez mais doentia. E, de um extremo de “perfeição” a outro, as ameaças vão surgindo, a violência crescente se torna a forma de expressão macabra que culmina em 16 facadas na frente das próprias filhas, ou em vários tiros na frente da própria família. Muitos finais infelizes, cheios de terror e de dor em muitas relações amorosas por esse Brasil cujo presidente cultiva uma masculinidade tóxica, reforçando ainda mais esse terror que ocorre em muitos lares, agora destruídos completamente.

Uma filosofia essencialista justifica a violência na medida em que conserva a pessoa, impedindo-a de mudar, de melhorar, de crescer, de evoluir e de realizar as potencialidades do seu ser na maior plenitude possível. É uma armadilha terrível: se a mulher muda, ela enganou ao homem e à sua família o tempo todo. Ela é o que é agora. Pensam eles e elas. Fingia ser o que não era para obter vantagens com o casamento. Mas depois que se viu empoderada, deu um belo pontapé na bunda do “pobre marido”, tirando a máscara quando lhe pareceu conveniente. Para sobreviver, algumas mulheres fingem não mudar. Mas carregam um peso enorme de manter uma aparência que não mais corresponde à transformação pela qual passou. É possível? Outras mulheres, as mais velhas, saem dessas armadilhas tardiamente, quando morrem aqueles que cultivavam sua masculinidade com um orgulho superior.

Ao contrário, numa filosofia pós-crítica, o sujeito não pode ser conservado numa redoma do pensamento, porque esse sujeito assume diferentes posições em diferentes momentos, lugares e circunstâncias. Eles e elas não podem ser pré-definidos nem essencializados/as pois jamais permanecem os mesmos e as mesmas, mas constituídos em suas existências de modo permanente que vão assumindo esta ou aquela posição em função das suas filiações, interesses, compromissos sociais, valores, envolvimentos sociais, culturais e econômicos.

Assim, não se pode projetar um relacionamento como algo eterno, nem a mulher como uma boneca de louça a serviço de nossos prazeres e crenças masculinas. A mulher beija, despe ou envergonha com um olhar; abraça com um sorriso; exclama com seu silêncio. Ela as vezes é de Ogum, outras de Oxalá; outrora é de Jesus, as vezes ela é do bar. Ela pode ser uma professora , outras vezes executiva, algumas vezes pode ser santa, outras, muito atrevida. Ela assume posições que eram exclusivas do homem numa sociedade machista, e é preciso muita coragem para enfrentar toda uma prática discursiva que constitui um campo de força a lhe imprensar numa parede criada para fechá-la num espaço carcerário. E é também preciso ser muito homem para aprender a namorar uma mulher que é toda mulher. É preciso ter coragem para abraça-la e com ela apreender o admirável mundo novo, enfrentando seu velho mundo que agoniza em si mesmo. É preciso amar não um objeto, mas outra pessoa, com seus gostos, seus jeitos, suas formas, suas interações e conexões, que requerem diferentes atitudes e gestos, revelando a beleza de sua complexidade feminina.

Como ela não é uma essência, escapa com os sentidos que ela mesma cria com coragem. E isso incomoda muitos homens e até algumas mulheres, que se veem ameaçadas por aquela que se mostra com toda a liberdade possível de seu ser! Como algumas delas resistem à "metamorfose ambulante" [Raul Seixas] ou mesmo não conseguem alcançar aquelas novas mulheres, elas retornam para suas "velhas opiniões formadas sobre tudo". Algumas delas ainda justificam a violência machista que intoxica a família inteira em seus dispositivos de opressão e de subjetivação, vestindo-as e despindo-as num mesmo estupro porta adentro e porta afora.

Portanto, a posição filosófica pós-crítica é muito importante para que novas práticas educativas reconheçam e operem com as possibilidades de ser de todas as pessoas, principalmente as mulheres, senhoras de si, não conservando-as em formas antigas, mas admirando-as no uso de seus instrumentos e recursos com os quais identificam dispositivos de poder nos discursos e ações a fim de questioná-los, colocá-los em xeque, seguindo o movimento fatal da rainha, que não se limita a “quadrados perfeitos” num xadrez construído pela masculinidade tóxica.


Joselito Manoel de Jesus, Da Nair e de todas as mulheres que sofreram e sofrem violências masculinas no silêncio conveniente da “sagrada família”.


terça-feira, 22 de dezembro de 2020

JUSTIÇA BAIANA: FAROESTE NO OESTE

Como confiar no combate ao crime se o dinheiro do crime compra juízes, desembargadores, advogados, policiais e outros mais? Refiro-me aos últimos fatos revelados pelo Ministério Público Federal (MPF) na denominada “Operação Faroeste”. Nesta, uma desembargadora, Maria do Socorro Barreto Santiago – presa desde novembro do ano passado – e a sua filha, Amanda Santiago; o juiz, Sérgio Humberto de Quadros Sampaio, Márcio Duarte Miranda e os advogados Ricardo Augusto Três e Valdete Stresser são acusados de atuar num esquema criminoso para atender interesse de uma imobiliária envolvendo terras no oeste baiano, recebendo um valor mínimo de 1 milhão, 136 mil, 889 reais e 90 centavos como pagamento pelos serviços sujos prestados. 

A desembargadora recebeu R$ 400.000 e o juiz R$ 606.000. Além dela, a desembargadora Lígia Ramos Cunha, que recebeu R$ 950.000 foi transferida para um presídio no Distrito Federal na segunda-feira, 21/12/2020. Além dela, a também desembargadora Ilona Reis também teve prisão preventiva decretada e está presa na Papuda. 

De acordo com o pedido do MPF, que foi enviado na sexta-feira (18), as desembargadoras criaram organizações criminosas especializadas em vendas de decisões e lavagem de dinheiro, com atuação nos conflitos de terras do oeste baiano e outras regiões. As magistradas contavam com a ajuda de advogados. (https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/12/21/desembargadora-presa-na-operacao-faroeste-por-suspeita-venda-de-sentencas-e-transferida-para-df.ghtml) 

Na prática, essas pessoas não precisam de dinheiro, já que ganham mais que o suficiente para terem uma vida confortável ao longo de suas existências profissionais, contando com os auxílios moradia entre outros “auxílios”. Mas elas querem arreganhar. E arreganham! Arreganham a justiça baiana, o Estado da Bahia e a república brasileira inteira com sua ganância desmedida que apelam para o dinheiro sujo que o crime produz. Arreganham, sobretudo, nossa confiança no poder jurídico desse país, cujos “bandidos de toga” agem à margem do controle público. Daí vem a importância dos Ministérios Públicos, também eles com seus comprometimentos, mas, sobretudo, com seus/suas interlocutores/as atuando pelo restabelecimento da justiça. O Tribunal de Justiça da Bahia se encontra em xeque. O Secretário de Segurança Pública foi afastado e uma delegada também. 

Nós, os simples mortais, que alimentamos com nossos impostos todos os privilégios dessa gente, vivemos no limite da sobrevivência, mas observamos um Estado em frangalhos, com um sistema jurídico comprometido, no qual reina o silêncio conivente de muitos/as outros/as que é muito mais revelador do que ocorre nos bastidores da justiça baiana. Que confiança podemos ter nas sentenças que são dadas por desembargadores/as e juízes/as em nosso Estado agora? Quem julga o juiz? Serão aposentados/as recebendo seus salários integrais? O Tribunal de Justiça da Bahia tomará alguma posição? E por que o Secretário de Segurança Pública foi afastado? Tem ligação direta com tais crimes? São perguntas que ficam aí procurando respostas. Enquanto as respostas se escondem nos silêncios das autoridades, fugindo pelas portas laterais das estruturas montadas para servir aos faroestes e "farolestes" criados pela corrupção sem sentido.

Joselito M de Jesus, Professor.


https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/12/21/desembargadora-presa-na-operacao-faroeste-por-suspeita-venda-de-sentencas-e-transferida-para-df.ghtml.
MPF denuncia juiz, desembargadora e mais seis pessoas. Jornal A Tarde, p. A8; Salvador; terça-feira, 22/12/2020. 


domingo, 31 de maio de 2020

OS BANDIDOS DO RACISMO E O RACISMO BANDIDO QUE INOCENTA OS CRIMINOSOS BRANCOS

Os brancos roubam o mundo. Eles são os grandes ladrões. Foram os brancos que roubaram a África, a Ásia, a América. Para roubar, eles ameaçam, prendem, matam centenas, milhares, milhões de seres humanos que habitam os territórios em que vivem. Além de ladrões, também são assassinos e, além disso, os brancos elegem elites que fazem o seu serviço sujo de prender, arrebentar e assassinar todos/as aqueles/as que se colocam contra a dominação colonialista. O que se chama de colonização é o projeto genocida dos brancos. É o grande assalto à humanidade alheia: indígenas, asiáticos/as, ciganos/as, negros/as, judeus, pessoas com deficiência, homossexuais, mulheres, transexuais etc. E, no entanto, os brancos se acham no direito de nos acusar pelo atraso na economia e por tudo de ruim que há no mundo.
Por algum tempo os maiores traficantes do mundo foram os brancos da Inglaterra e da França, o que levou à Guerra do Ópio.
Na verdade, não foi uma guerra, mas duas – ambas travadas no século 19 na China. Nesses conflitos, Grã-Bretanha e França se aliaram para obrigar a China a permitir em seu território a venda de ópio, uma droga anestésica extraída da papoula. Para britânicos e franceses, exportar ópio para a China era uma forma de compensar o prejuízo nas relações comerciais com os chineses, que vendiam aos ocidentais mercadorias muito mais valorizadas, como chá, porcelanas e sedas. Mas o governo de Pequim não via o troca-troca com bons olhos: a partir do século 18, o consumo da droga explodiu no país, causando graves problemas sociais – nem um decreto imperial de 1796 conseguiu deter a expansão do problema.

A coisa pegou fogo de vez em 1839, quando o governo chinês destruiu uma quantidade de ópio que estava na mão de mercadores britânicos equivalente ao consumo de um ano. O governo da Grã-Bretanha reagiu enviando ao Oriente navios de guerra e soldados, dando origem à primeira Guerra do Ópio. Mais bem equipada, a tropa britânica venceu os chineses em 1842, obrigando-os a assinar um tratado de abertura dos portos e de indenização

pelo ópio destruído – mas o comércio da droga continuava proibido.
O negócio complicou de novo em 1856, quando autoridades chinesas revistaram um barco britânico à procura de ópio contrabandeado. Era a desculpa que a Grã-Bretanha precisava para declarar a Segunda Guerra do Ópio, vencida novamente pelos ocidentais em 1857. Como preço pela derrota, a China teve de engolir a legalização da importação de ópio para o país por muito tempo: o uso e o comércio da droga em território chinês só foram banidos de vez após a tomada do poder pelos comunistas, em 1949.
Então, para você que tem nojo do tráfico de drogas, mas que personifica o traficante no jovem negro segurando um metralhadora portátil, saiba que dois Estados europeus lucraram fortunas com o tráfico de drogas na China, levando a duas guerras. E digo ainda mais: o narcotráfico sustenta e é sustentado por interesses que se cruzam entre altos dirigentes dos Estados e grandes narcotraficantes, todos brancos. Todos eles morando em mansões, bairros de alto luxo, considerados “nobres”.  
Os brancos roubam milhões, bilhões. Na casa de Geddel, num "bairro nobre", mais um político branco, tinham milhões recheando malas de corrupção. Quanto se juntam a esses nomes tantos outros brancos que ocupam, ocuparam e ocuparão lugares de destaque no aparelho do Estado, reservados especialmente para eles e elas através do racismo estrutural: desembargadores/as, juízes/as, procuradores/as, empresários, coronéis, capitães, tenentes, deputados/as, prefeitos/as, vereadores/as, pastores/as, bispos/as, etc., percebemos que os maiores bandidos do Brasil e do mundo são brancos.
Um exemplo, entre tantos outros, é o da compra, no Rio de Janeiro, de equipamentos hospitalares. Houve superfaturamento, as empresas que ganharam a licitação pública não tinham condições alguma sequer para participar da licitação. O resultado foram equipamentos que não prestavam, devolução, atraso na inauguração dos hospitais de campanha e, por conta disto, dezenas e centenas de mortes que não serão associadas pela maioria da população a tal crime hediondo praticado por homens brancos.  
Mas a sociedade insiste em matar o negro que rouba um ou outro e que vende
droga para um ou para outro branco.
Os milicianos que dominam as favelas cariocas são brancos. Foram brancos que se beneficiaram da morte de Marielle Franco. São os brancos que destroem a natureza. São os brancos que, através de suas empresas, criam porcarias para nos vender como se fossem necessárias e saudáveis. São eles que têm os dinheiros para pagar milicianos, pistoleiros que matam freiras, lideranças indígenas, Chicos Mendes, Chicos Bentos, Chicas da Silva. São os brancos os donos dos bancos, os que decidem os financiamentos da destruição da Mata Atlântica, da Amazônia. São os brancos que poluem os rios, que bebem todo o líquido precioso do planeta, que mastigam os animais e cospem fora seus ossos. São os brancos que desmatam as cidades para construir edifícios e rodovias.   
E agora mesmo um branco vocifera ditaduras, opressões e anuncia torturas. Foi um branco ex-juiz que elaborou um plano que continha uma lei para livrar policiais de assassinarem as pessoas, sob a denominação de “excludente de ilicitude”. Agora mesmo brancos cruéis, reapresentando suas antigas perversidades, desfilam de verde e amarelo pedindo o sangue dos seus oponentes sob o manto da ditadura. E eles e elas nos provocam. E nos incitam e nos convidam para a guerra. Ninguém sabe o que ocorrerá doravante, porque não dá para saber como a organização vai parir este conflito. A entropia é crescente e a energia não vai se dissipar através do controle que os brancos dominantes desejam. Talvez o pior esteja ainda por vir neste semeio dos brancos em nossa contemporânea paisagem política e econômica.
 Vou me permitir utilizar a música de Caetano Veloso (Podres Poderes) para fazer uma pequena, mas significativa mudança: “Enquanto os brancos exercem seus podres poderes...”
Joselito da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

terça-feira, 19 de maio de 2020

"HÁ TEMPOS"


Quem me dera ao menos uma vez
Explicar o que ninguém consegue entender
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente
(Índios, Legião Urbana, 1986)

O tempo histórico, neste Brasil contemporâneo, sofreu um abalo tão forte vindo de um “asteroide” do campo político-ideológico, tomando forma de 2013 para cá, que terminou sendo atravessado por passados distantes, de tempos diferentes, disputando hegemonias para efetivar virtualidades históricas que não foram realizadas em nosso passado, prenunciando um futuro sombrio para o que denominamos de "civilização". Daí que “o que aconteceu ainda está por vir e o futuro não é mais como era antigamente". Há forças tentando intervir na rede histórica da humanidade, provocando oscilações nesta rede e, como numa ficção, deslocando o futuro, em seu passado não realizado, que “[...] não é mais como era antigamente”. 
E o que aconteceu que ainda pode estar por vir? Um fascismo que não chegou a adquirir contornos mais precisos e duradouros na primeira metade do século XX ainda pode se tornar nosso futuro, pois o percebemos readquirir contornos institucionais em nosso horizonte político e ideológico, de forte traço autoritário e ditatorial. Enquanto professores/as, intelectuais, artistas, pesquisadores/as e jornalistas entre outros e outras são perseguidos/as, ofendidos/as, agredidos/as, tendo os salários reduzidos e bolsas de pesquisa cortadas, pela ação do próprio Governo Bolsonaro, militares, paramilitares e milicianos são protegidos e enaltecidos, justificados por um discurso beligerante que enfatiza o ódio e a perseguição àqueles e àquelas que produzem ciência, conhecimento, arte, educação, saúde e informação.
Rejeição à vacinação, com o retorno virulento do sarampo; negação da escravidão no Brasil, inclusive afirmando que ela foi boa para os negros; desejo de submissão da mulher e enaltecimento de uma masculinidade tóxica; discurso armamentista da população; defesa do terraplanismo, entre outros absurdos demonstra o quanto pequena parte da humanidade deseja um futuro de muito, muito antigamente. “Quem me dera, ao menos uma vez, explicar o que ninguém consegue entender.”
E neste momento em que as fake news espalham a mentira por toda a cidade, todo o país, a verdade nunca me pareceu tão imprescindível. Precisamos recuperar a verdade! Precisamos. Para sair dessa política infantil, birrenta e odiosa. Precisamos tanto da verdade para superar esse tempo no qual
“[...] nem os santos têm ao certo
a medida da maldade
E há tempos são os jovens que adoecem
e há tempos o encanto está ausente
e há ferrugem nos sorrisos.
Só o acaso estende os braços
a quem procura abrigo e proteção.”
Quando se faz apologia ao nazismo; quando se compara um homem negro a um animal que pesaria em arrobas; no momento em que um torturador é homenageado em plena Casa da Democracia; no momento em que cristãos simbolizam armas com as mãos, em que se debocha da dor de milhares de pessoas mortas pela COVID 19, carregando um caixão e dançando, "nem os santos têm ao certo a medida da maldade". O encanto vai se perdendo, as utopias vão sendo esmagadas por um tempo presente que não oferece futuro algum, pois somente "o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção". Esse movimento fascista que aflige o nosso país embrulha o tempo como um papel e o atira no lixo, causando enormes perturbações na história e inúmeros prejuízos ao desenvolvimento humano. Assim caminha a nossa desumanidade brasileira.
Silenciar a música, fechar os teatros, impedir a expressão, acabar com a pesquisa e a educação, asfixiando escolas e universidades públicas, atacar a democracia, ameaçar os indignados e as indignadas com armas, milícias, guerra civil, forças armadas, é um ato histórico que deseja nos levar de volta no tempo, nos reduzindo a analfabetos, escravos, servos de uma classe social branca, que nunca saiu da Casa Grande e quer sua senzala de volta. Quer o capitão-do-mato, legitimado numa farda militar, caçando e açoitando aqueles e aquelas que fugiram para as universidades, para os teatros, para os palcos de dança, para as gerências das empresas, para os cargos de comando, para os lugares de rebeldia no quais se tornaram referências. Nas passeatas pró Bolsonaro eu vejo o tronco erguido nas falas, nas vestes, nos automóveis, nas faixas, nas posturas. Já vejo jornalistas apanhando, profissionais da saúde – enfermeiras, médicas e médicos, auxiliares de enfermagem etc. – sendo ameaçados/as, agredido/as. Eu vejo os brancos comerciantes em seus carros de luxo, exigindo a volta ao trabalho dos seus/suas escravos/as atuais, sob pena de se arriscarem a morrer e a matar, transmitindo o vírus letal para seus familiares. E no entanto, somos “herdeiros da virtude que perdemos”.
Mas não perdemos a toa. Perdemos de forma dolorosa e agora entendemos a importância dela. Agora que tudo “é só tristeza”. Mais que nunca
Disciplina é liberdade
compaixão é fortaleza
ter bondade é ter coragem.
Agora podemos gritar para retomar o “tempo perdido” durante todo esse tempo perverso, feito com o sangue dos nossos ancestrais. “Temos o nosso próprio tempo” e com ele faremos esse tempo que nos faz tanta falta para viver com dignidade. O tempo da democracia, da alegria, da ciência, da paciência, da consciência. O tempo da decência, da verdade, do amor e da solidariedade. O tempo da arte, da poesia, da fartura, da natureza conosco numa profunda comunhão. Há tempos! Haverá sempre tempo para o amor, a justiça, a verdade e paz.
Agora, mais do que nunca, que
Dissestes que se tua voz
tivesse força igual
à imensa dor que sentes
Teu grito acordaria
não só a tua casa
mas a vizinhança inteira

podemos gritar com ênfase: FORA BOLSONARO!!!!

Joselito da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, do Legião Urbana, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.