sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Abortos e ressurreições





Tudo começa desinteressadamente, com uma conversa com Saane. Dai..
Falaria não em mortos, mas em abortos. Quantos abortos não residem em meu ventre existencial? Quantos possíveis eu's não deixaram de ser fecundados em minha subjetividade cambiante? Quantas pessoas boas eu não poderia ter sido, quando o deixei? Por isso a maturidade (relativa, claro) nos convida para ressurreições de outros possíveis eu's que sucumbiram. E aí o sofrimento e a dor são, na verdade, momentos que precisamos para sentir as perdas e refletir sobre o que fizemos para causá-las. É Buda quem afirmou: "Nós travamos lutas contra mil exércitos, mas a maior luta que a gente trava é contra nós mesmos. Não é o outro que está forte e nos humilha, nos despreza e nos magoa. Somos nós, na verdade, que estamos frágeis e deixamos o outro nos desprezar, nos magoar, nos humilhar. Por isso estou na fase do espelho, olhando o meu reflexo e tentando enxergar a mim de fora, como um estranho, numa metareflexão que me conduzirá a mim mesmo. Recomendo, como educador que sou, que leia "Sidarta", de Herman Hesse.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Poesia nos encontra no encanto

Depois de um poema mandado por Geisiane...
Que coisa linda!!! 
Quando a poesia nos encontra e
nos fala do milagre mais fecundo, 
a gente se encanta e desperta em outro mundo.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Arqueologia da Salvação


Renasço a cada manhã.
E por isso não morro na noite anterior.
O sabor desse mundo é fundo.
No raso eu colho e mergulho
E é somente profundo
que eu desfruto o sabor.

É somente lá embaixo
que eu provo o sabor
das coisas sublimes e etéreas
o rastro eterno do divino
que ficou sob camadas.

É na arqueologia dos sentidos
que encontro os vestígios de minha salvação.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Corrida e existência

O vício começa assim. Depois toda distância chama, convida gentilmente a ânsia para disparar em busca. Aí a gente não corre mais para disputar com ninguém, mas com a gente mesmo, se é que assim o é. Chegaremos sempre e nunca. Até que a grande corrida se cumpra em cada um de nós, cada qual a seu tempo. O corredor de rua luta consigo todos os treinos. Eu vi isso bem em Lucas, em Michel, em Dina, em Lucília, entre outros e outras, corredores e corredoras de rua. E ainda ficam felizes com todo o esforço em busca de algo que não sabem bem explicar, ou talvez o saibam muito bem, tão bem, que nem precisem falar. Algo dado em suas subjetividades, que acolhem os desafios e procuram traçar suas metas, algumas vezes não muito claras, outras vezes ofuscantes de tão claras. 

Queremos chegar a cada tempo e participar da festa onde todos os diferentes parecem iguais, dirigidos pelo sentido de cada prova que, a cada prova, vai deixando de ser competição e transformando-se em participação. Ninguém corre contra mim, nem contra nós. Correm conosco tentando chegar ao mesmo destino. Correm sentido o frisson inexplicável de correr e alcançar a si mesmo, a si mesma, ou até de ultrapassar-se, num trajeto traçado para sempre, todos os anos, todos os treinos, todas as horas que se seguem antes e depois de todas as corridas, onde o corredor, nesse processo, vai descobrindo boas novas a respeito de si mesmo em comunhão com os demais.

Vou pegando essa experiência do correr e expandindo-a, quem sabe, para o todo o mais viver, pra ir vivendo melhor e lutando comigo a fim de alcançar objetivos outros. Procurando traçar outros destinos para chegar a tempo da comemoração, de completar mais uma etapa no processo da minha existência. Muitas vezes sinto que posso chegar mais cedo e fazer um pouco mais. Enfrentar os meus demônios, os meus cansaços, os meus desânimos e “baixar meu tempo” na prova da vida. As vezes sinto que possuo um potencial ainda maior que fica sabotado pela minha preguiça, e por outros sentimentos mesquinhos que vão corroendo todo o esplendor do meu ser. E paro. Paro, sentindo um cansaço confortável, um cansaço que procura explicar o porquê de não ter chegado, de não cumprido, de ter desistido num trecho do caminho. EU NÃO ACEITO MAIS ISSO! EU QUERO TERMINAR A PROVA! COMPLETAR O PERCURSO TRAÇADO! E sei que POSSO. Sei que posso e vou convicto alcançar o meu prêmio, o meu lugar entre eles e elas, mas sobretudo, o lugar que sempre deixei alguém ocupar, por ser indolente e preguiçoso, permitindo o rebaixamento do nível, ao abrir mão da luta, do suor, do sacrifício sadio e recompensador de cumprir o objetivo traçado.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel