sábado, 26 de janeiro de 2013

BEIJOS


Beijo cura:
cura solidão,
cura amargura.

Beijo sara:
feridas de amor,
cotovelos e dor.

Beijo na face, beijo na testa
beijo na nuca, beijo na orelha
beijo na ceta, beijo na gina
beijo nos lábios, beijo na zona...
Imagina!

Beijo acende e detona
beijo provoca e apaixona
beijo, beijo, beijo mesmo!
beijo com raiva, beijo com medo
beijo com gana, beijo com cio
beijo daqueles que dá arrepio!

Beijo por cima, beijo por baixo,
pela direita e pela esquerda.
Beijo na curva, beijo no ângulo
formado entre as pernas.
Beijo redondo e beijo quadrado
beijo em triângulo
Beijo por todos os lados.
E... quando penso que canso,
ainda beijo dobrado.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Procura


As vezes, aqui em meio ao futuro
- As vezes penso que todo meu futuro
está nesta mesa em que leio –
largo tudo e fico
como se estivesse lembrando de mim
minha vida, meu fim.
Minha vida enfim.

Sinto que estou errante no mundo
e ainda procuro por mim.
Não sei se me alcançarei
a tempo
quando há tempo pra tudo.
Porque estou apenas num túnel
sem luz em seu fim.

Quem sabe de mim?
Quem já me encontrou?
Dê seu palpite, aponte um caminho
uma trilha por onde
eu possa seguir.
prosseguir
conseguir.

Sinto que aproximo
Sinto que distancio
Sinto que sinto,
mesmo na multidão,
o recinto vazio.

Sinto que falta,
Falta alguém que ainda não veio
Falta eu e por isso não é festa
nessa festa fajuta
cheia de filhas do puto
e filhos da puta
sacanas, canalhas, corruptos.

E sigo sem mim nessa rodovia
pagando pedágio a pé.
Sigo sem chão
só me resta o céu, a fé.
Há em mim essa procura
que dura um tempo sem fim.
Quem sabe eu não ache
meu ser em você e
quem sabe,
não encontre em nós,
neles e em vós
um tanto de mim?

Joselito à procura de si.

domingo, 20 de janeiro de 2013

BONFIM: QUEM TE VIU?

No final da ladeira que fica ao lado da Igreja da conceição da Praia um transeunte fez uma afirmação que me acordou para uma realidade que estava passando despercebida diante dos meus olhos. A Lavagem do Bonfim está em decadência. Ele falou: - Quem te viu Bonfim!!! E eu comecei a rever o trajeto que havia feito até ali e a comparar de quando eu era menino e mais jovem. É. Terminei concordando: Quem te viu, Bonfim! Parafraseando o velho e bom Chico Buarque...

“Quem te viu. Quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer.”

Hoje, domingo, 20 de janeiro de 2013, no jornal A Tarde, página B1, Samuel Celestino constata:

A decadência do ciclo de festas populares da Bahia, como pode ser observada ano após ano, pode ter como marco a Lavagem do Bonfim. Trata-se de um nítido reflexo do desleixo dos governos, estadual e municipal, em relação à política cultural que, praticamente, inexiste, em especial na capital.
Do ciclo de festas resistem a Lavagem do Bonfim e o 2 de fevereiro, em homenagem à Iemanjá, no Rio Vermelho. As demais quase não são lembradas.

Eu constatei isso também. Depois da Corrida Sagrada 2013, a turma do Clube de Corrida Equilibrium veio voltando o trajeto, celebrando mais um ano e “abrindo os trabalhos” deste 2013 que traz excelentes expectativas e futuras realizações pessoais. Esperava ver aquelas velhas manifestações culturais, as charangas, as bandinhas, as carroças ornamentadas, os personagens peculiares adornados de alegria espontânea que se expressam de forma desautorizada pelo discurso dominante. Vi. Mas raros. E fui ficando triste, porque mais ouvia Silvano Sales e aquele "pagode véio", do que o samba que pede a roda, o requebrado e as palmas dos que param para comungar daquela hora ensolarada que estava parando seus ponteiros naquele asfalto, fechado para os automóveis e aberto para a comunidade de homens e mulheres de fé. O trânsito deveria ser outro. Nada contra Silvano Sales, o cantor e seu sucesso. Nada contra a manifestação espontânea de quem queira ouvir sua canção qualquer que seja. Mas não era da Lavagem do Bonfim. Não era samba. E havia uma morte cultural anunciando seu trajeto de fim melancólico.

O Bonfim não estava bom. Estava fim. Muita cerveja e propagandas de cerveja, como sempre, muito tapume, poucos sanitários, muito mijo nos pedindo muros e lançando seu mal cheiro na redondeza. Esse ano vi poucas baianas com suas roupas alvíssimas e suas flores vermelhas trazidas em jarros de magia de onde emana o cheiro da Bahia, anunciando que o povo de santo traz mensagem de paz, de harmonia e de beleza. Segundo Samuel Celestino 


A festa da Lavagem do Bonfim se transformou num mero acontecimento de exibição dos políticos, de tal modo que são eles que agora marcam o horário do início do cortejo, quando, antes, ficava por conta das baianas, com roupas belíssimas, carregando potes com água de cheiro para a lavagem do adro da igreja. (CELESTINO, A Tarde, domingo, 20 de janeiro de 2013, página B1)

As manifestações culturais estavam raras. Os políticos vieram passando com suas roupas brancas e alvas, cercados de puxa sacos e seguranças disfarçados de povo. Passaram em branco, acho. Vão à festa do Bonfim com outros objetivos. Alcançar outros votos. E os militantes, cada vez mais raros, ainda carregam bandeiras vermelhas de um tempo pretérito, onde havia políticos decentes de um lado e de outro, tecendo discursos pela hegemonia de um novo mundo a partir de cada perspectiva. Havia esperança no futuro.

Mas parece-me que o futuro está acabando. Ou melhor, estamos acabando com o futuro. Lembro-me sempre de Renato Russo: “O futuro não é mais como era antigamente”. Precisamos reinventar o futuro. Mas, como reinventar um tempo que está sendo abortado nesse presente sem graça e repetitivo em que existimos? Será que nossa geração ainda consegue? Ou somos uma geração perdida? Encheram-nos de drogas e estamos meio zonzos, com o pensamento medíocre, com a invenção desbotada, com a criatividade moribunda e com ideias tolas. Encheram-nos de drogas nos rádios, nas emissoras de tv e até nos jornais tem drogas. E vamos consumindo-as, rindo das tolices que tocam e que filmam. Poucos jovens hoje discutem política, cultura e lazer. Nem discutem e, portanto, não fazem acontecer. E a Lavagem do Bonfim reflete essa realidade.

Uma amiga minha e de Ana, Ivana, no aniversário dos cinquenta anos de Amélia, contou-nos como ficou surpresa quando, num “aniversário de boneca” de uma garotinha lá em Recife, esta garotinha dançou frevo, maracatu e samba, tudo aprendido numa escola pública de lá. Ivana ficou alegre com a menina e com o povo de Pernambuco, e triste, ao lembrar da Bahia em decadência cultural. O povo pernambucano preserva suas raízes culturais e produz a renovação a partir dessas matrizes. Mas aqui na Bahia não temos esta mesma disposição. As nossas matrizes vão sendo abandonadas, simplesmente. Um “axé” paupérrimo, erotizado, vazio de sentido, hegemoniza as emissoras de rádios mais populares, sendo imposto por DJ’s anônimos com seus automóveis trios elétricos em cada esquina de nossa cidade.

“Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais a esquece não pode reconhecer.”

De fato, quem não a conhece deve ficar espantando com a Bahia e suas festas de largo de que se fala mundo afora. Não podem mais ver para crer, mesmo que a gente conte, eles e elas devem ficar imaginando que somos um bando de mentirosos (as). Quem jamais esquece, fica triste. Vai morrendo no trajeto a dor da falta daquilo que esperavam como exuberante beleza e singular manifestação cultural da nossa gente e, infelizmente, que não mais existe. 

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, da Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

EU QUERO O FIM...


Hoje eu acordei assim: linda, bela, bonita,
Uma beleza de menina.
Uma menina tão mulher,
Uma mulher mais menina.

É, hoje eu acordei assim.
Com uma vontade de sair...
De sair daqui,
Sair para fora de mim.

Eu quero fugir!
Fugir um pouco disso daqui.
Eu quero sair!
Passar um tempo fora de mim.

Fugir, daqui, de mim?
...
É, acho mesmo que vou fugir....
Fugir daqui, desse vazio, de mim...
...

Mas é que o vazio está tão cheio de mim,
Será que devo fugir?
...
Não sei. Mas, já é hora de partir.
De partir de mim, desse vazio sem fim.
Ah! Indecisão! Não sei se quero esvaziar-me neste fim...
O fim é muito pouco. É, ainda estou aqui, dentro de mim.
O fim também é muito longe, acho que vou mais pra perto, dentro de mim.

Mas... Perto do fim?
Não é muito longe?
Não, não. O longe é que está perto...
O perto é que tem fim.
...

Estive tão perto de ti, que acabei ficando longe de mim.
É por isso que eu te quero longe, pra ir te buscar no fim...
No fim que está perto, no fim de mim.
Trazer-te pra bem perto, perto do que quero como fim.
...
Desse vazio cheio de medos.
Medos vazios, tão cheios de segredos...
Dos segredos que me colocam pra dormir, gritando pra eu acordar.
Acordar sonhando... Sonhar sonhando, tanto faz, dormindo... acordada...
...Sempre que acordo eu fujo.
Fujo daqui, desse sonho...
Eu sonho, eu fujo.
Com você, pra você.

Eu vivo uma fuga sem fim...
Tão perto de chegar,
Tão longe pra voltar.
Vou voltar a dormir, assim: linda, bela, bonita.
Tentar sonhar com outro fim...
Com um fim que esteja perto, bem perto de mim.
Com um fim que me faça ir te buscar todos os dias bem longe...
...
Mas eu só vou se o longe não tiver fim...
O fim pode querer tomar você de mim.
E, de mim, o longe até pode ir até o fim, sim.
Até o fim de semana... Que você chega, que fica perto, e, manda o longe ter fim.

...
(Malu Militão)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A COR DO CÉU



Acabei de descobrir o significado da cor azul. Azul significa céu, o azul representa os céus.

Céu de Noites
Céu de Dias
Céu de Luas
Céu de Magias

Céu de Astros
Céu de Acasos
Céu de Estrelas
Céu de Surpresas

Céu de Ventos
Céu de Sentimentos
Céu de Rumos
Céu de Caminhos

Céu de Cantos
Céu de Encantos
Céu de Encontros
Céu de Desencontros

Céu de Partida
Céu de Chegada
Céu de Serenatas
Céu de Lua Prateada

Céu de todos e tantos encantos...
Céu de encontros: de eu e você, encontro de nós.
Céu de frio, de beijos e carinhos...
Céu de laços e de abraços apertados.

Céu, chão de brilho, Teto de luz,
Céu de um uma luz que me ilumina e conduz...
Luz de uma Lua que me fascina e seduz.

Lua Doce, Lua de Mel
Lua de Prata, Retrato do Céu.

Malu Militão
Escrito em: 01/01/2013

BONECOS INFLÁVEIS


A juventude está sumindo.
Há muitos corpos
(se) consumindo.

Há muitos corpos
que a propaganda espalha
e muitas almas se apagam.

Quem está pensando a esta hora?
Quem reflete o destino e a história?
Quem? Quem? Quem?

Jovem é corpo,
Que se explora, lucra
bebe, come, desfruta.

O corpo paga
e apaga o humano
paga e apaga: consome.

Ter apenas um corpo
e nada mais pra viver
e nada mais pra dizer.

Apenas um corpo para o pleno gozo,
o gozo qualquer.
É muito pouco. Não dá nem um pé.

Bonecos infláveis!
Desumanos infames!
Desalmados insaciáveis!

Apenas um espaço de tempo
um corpo desatento
uma estátua esquecida.

A existência declina.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

domingo, 13 de janeiro de 2013

Formiga e Fé



 Lá embaixo, bem embaixo
e bem pequena
uma formiga tece a vida.

Aqui em cima, bem encima
e bem míope
o meu olhar procura a vida
que a formiga elabora
em sua lida.

A vida é sempre grandiosa
mesmo sendo bem pequena
ela é vida, vida plena.

Vida que morre
Vida e morte
para viver e renovar.

Vida que sofre
e vida que goza.
O amor é tudo.

Não me importo com tamanho
vivo procurando vestígios
de vida

E me encontro
com a pequena formiga
que mexe sua vida.

E minha prece revela
naquela vida que reza na terra
em seu trajeto acendo minha vela.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Tempo de Sol, Face de Lua


Ainda há tempo,
mesmo agora,
Tempo solar que aflora.

O tempo se renova
trazendo esperanças.
Abra a janela!
Deixe o sol entrar
para brincar de luz.
Deixe o sol entrar,
Não deixe o seu facho
tão distante
atravessar a Via Láctea
em vão.

Abra a janela e deixe a pele
ser tocada pela estrela.
Deixe o vento soprar
sob a superfície dourada
e faça uma aliança com o cosmos.

Abra sua porta para o sol!
Ainda há tempo
de sair,
de olhar o mundo
à luz do dia.
Desligue a tv, levante daí.
E o sol vai te guiar
nesse ano que adentra
a existência de quem vive,
reviverá!

Ainda há tempo!
Seja uma lua
para aparecer sob a benção
do sol:
prateada, cheia
com sua face clara
e risonha.
Lua nua e vasta
que do alto me seduz
e à noite me guia
com o sol e sua luz.


Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, da Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel