quinta-feira, 28 de abril de 2011

Governo pesadelo

Governador do meu pesadelo
você quer mais dinheiro
pra copa do mundo;
pra Fonte privada
mas não nos prive de tudo,
não nos deixe com nada.

Esqueça de nós,
professores do Estado
e cobre aos bancos privados:
o dinheiro está lá!
Vá buscar com impostos e taxas
com multas e empréstimos.
Dinheiro sempre tem,
dinheiro sempre haverá
pra pagar sua ganância política
pra deixar sua herança maldita
pro petista da hora.

Dinheiro sempre há
pra apagar seu passado.
Dinheiro sempre tem
para a sua propaganda política
tem dólar, tem euro, tem libras
mas não nos tire o vintém.

Deixe eu pagar meu jornal,
o meu pão, meu canal.
Deixe eu pagar a escola do meu filho
e a saúde da minha mãe.
Deixe-me honrar os meus compromissos.

Governador: deixe!
Deixe-me ficar com o mensal
Deixe o aumento anual
que mal corrige a inflação.
Não me deixe no pé, nem na mão.
Dinheiro sempre tem
Dinheiro sempre haverá
de onde vem, de onde virá
não importa.

Taxe o wysky
Taxe a coca
a corrupção.
Mas não taxe o professor
Universitário
por fazer seu trabalho.
Deixe-nos em paz
e vá pra direita
Com Iscariostes e Barrabás.

Joselito M. de Jesus, Professor universitário

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Religioso sem religião

Eu sou religioso, pois gosto de religar algumas coisas que estão ao meu alcance. Não tenho, porém, religião, pois eu sei o quanto ela atrapalha a religação entre as coisas que ela classifica como bem e mal, como certo e errado, como pecado e virtude. Há um Jesus que a Bíblia nos apresenta e que não é o mesmo Jesus que as instituições eclesiais nos impõem goela abaixo. O Jesus da Bíblia dialoga com todas as pessoas, ouvindo atentamente a sua lógica tecida culturalmente no seio da sociedade. É um Jesus que anda no meio do povo e toma partido pelo injustiçado; um Jesus que procura compreender profundamente o contexto em que está inserido. Por isso vai curioso ouvindo histórias, olhando a paisagem, interagindo com as culturas locais, percebendo seus vetores de poder, de saber, de esperança. Garimpa os achados e elabora sua mensagem com metáforas, alegorias, parábolas, produzindo mediações religadoras entre as coisas do céu e da terra.

Leonardo Boff, em seu livro O Pai Nosso, nos explica essa oração fundante do cristianismo de modo elucidativo. Ele nos ensina que tal oração consta de duas partes: A primeira parte lembra ao ser humano sua obrigação sagrada com o Senhor Supremo do Céu: O Pai, a santificação do seu Nome, a vinda do Seu Reino, a satisfação de Sua Vontade, vontade de amor, de alegria, de compartilhamento festivo de toda a criação e a criatividade Dele, além de nossa ação transformadora e cuidadosa com sua criação. Assisti ao filme "Avatar". Foi o filme mais místico e religioso que assisti nos últimos anos. Toda a criação compõe uma simbiose onde todas as coisas estão ligadas no curso da vida. E mesmo quando a morte vem é traduzida como uma continuidade, uma devolução ao cosmos, à senhora Vida, do que nos foi dado, seguindo a lógica do “(...) e ao pó tu voltarás”. “A Paixão de Cristo” eu já assisti “n” vezes. Sempre no período da Quaresma. Tornou-se obrigação oficial e, por isso mesmo, perdeu sua força fundadora, revolucionária, que falava que aquele acontecimento representava a verdadeira e radical transformação do mundo a favor dos pobres, humildes, encarcerados, marginalizados. Ao contrário: ganhou status de mercadoria, onde atores globais encenam o personagem “divino”. Coloco aspas em “divino” para sinalizar a contrariedade de um personagem que torna-se mercadoria, cujo valor agregado vem, não de Jesus, mas do ator global que encarna, a um cachê nada desprezível, seu personagem magnífico. E vão todos os clientes, digo, os fiéis, curtirem Nova Jerusalém, ver o “grande” ator desempenhar seu papel fora das novelas, digo, renovarem sua fé Naquele que nos libertou das garras do Satanás.

Na segunda parte da Oração do Pai Nosso as necessidades humanas são lembradas. O pão, representando o cuidado com as coisas temporais, a luta histórica pela sobrevivência. Somos seres biológicos e, como tais, precisamos, antes de tudo, nos alimentar para, como diria Marx, fazer história. O perdão necessário que representa o cuidado com a saúde do espírito. Depois vem o pedido de proteção contra as tentações e contra o mal ameaçador da dignidade humana, de seu aconchego com Deus. As tentações estão sempre presentes e precisamos orar e vigiar para não cairmos em tentação. O Pai Nosso religa, media a relação do ser humano com Deus. Esta oração é um documento que demonstra, pela fé, que Deus nos quer perto Dele, e faz sacrifícios supremos para conseguir isso, nos acompanhando como um Grande Pai por toda a nossa história. Deus nos espera de braços abertos. Com esses "braços abertos" não o imagino sofrido numa cruz, ensanguentado, abandonado por nós. O imagino sorridente, de braços abertos esperando o abraço feliz de quem, compreendendo o seu incrível sacrífico, o ama. Deus está aqui e eu quero abraçá-lo. Ele me espera num lugar bonito, arejado com brisas amenas, com um céu azulado e uma paisagem verdejante. Esse lugar é encantado e existe antes de mim. Mas para que eu possa entrar nele, é preciso que ele entre em mim antes, como um sonho de um mundo ecologicamente cuidado, preservado pelas mãos de pessoas sensíveis, que desejam viver num lugar assim, cultivado em seu seio. Um lugar dentro de nós, para existir fora de nós.

Eu quero fazer parte desse lugar, e por isso devo cultivá-lo dentro de mim. Deus está em todo lugar. Se assim o é, todo lugar é um templo vivo de adoração, pois ali está Aquele que tudo criou. Quando eu jogo lixo no chão estou me lixando para isso, ainda que minha ignorância me perdoe dessa ofensa. E o diabo fica rindo de cada esgoto, de cada lixão, de cada sujeira, no ar, na água, no chão. Voltando ao filme “Avatar”, lembrei-me da cena da caça. A linda nativa faz uma oração para a vida que interrompe a fim de alimentar sua comunidade. Que coisa mais linda! Há um reconhecimento da consciência de que interrompeu uma vida e por isso ora, pedindo autorização à Vida pela vida que tira. Eu não fui nesta quaresma à igreja alguma rezar. Não preciso. Deus me fala em todo lugar. Claro que sinto falta da comunidade que, com todos os seus defeitos, rezava uma oração bem maior que a minha, que a minha oração rezava junto. Alguns até podem alegar, com certa razão, que entrei num individualismo religioso que me afasta do próprio Deus, que se revela, predominantemente, na comunidade. Mas eu pergunto: Que comunidade? Que comunidade existe depois que as Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s) foram desarticuladas pelos poderes conservadores da igreja católica? Depois que entramos no cristianismo de resultados, onde muitas pessoas buscam o santo não pelo exemplo, mas pelo milagre, o sentido de comunidade que partilha o pão e faz história perdeu sua vitalidade escatológica.

Só me resta a tentativa de religar coisas, do “desejo ao impossível”, de juntar o que está partido, o que separa, pois o sentido do sagrado é isso. O que é atirado converge, vai junto; enquanto que o diabólico é divergente, separador, que dispersa forças nas construção coletiva e comunitária de um mundo melhor para todos, do lugar que deve existir antes dentro, para ser construído fora. Eu tenho minha espiritualidade, minha sensibilidade que percebe nos detalhes de cada dia o Deus Vivo que me fala de um outro mundo possível, de um Reino diferente, onde rei e presidente vivam contentes no meio do povo, partilhando palavras, alimentos, vivências solidárias de amor e compaixão. Sou religioso sem religião.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ecinho, de Itajacira, de José Jorge, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Tome a Bahia em sua cara

Tome a Bahia pela cara seu nativo!
Tome lá, digamos,
no umbigo.

Seu atrevido...
Quer conforto?
Quer abrigo?
Quer retiro?

Tome o PT “pelos peito”
e receba a sua esperança
esperança incandescente
na indecência nuclear

Fique com o seu Luís Eduardo
o herói Magalhães
para sempre.
Fique com seu metrinho
de metrô
que liga superfaturamento
a financiamento eleitoral.
Vá de Ivete, o seu ferry
na baia de todos os problemas,
à deriva de gestão oficial.

Receba o seu corte de gastos
no caixa
do supermercado.
Corte o cine,
e a navalha em sua carne.
Corte o álcool,
corte o leite
e vá se drogar.

Vá se drogar!!!
seu baiano.
Passa a fome
você não come
e nem aciona a descarga.
O governo agradece a economia,
e você esmorece dia a dia.
Depois, vem sua polícia
e te mata.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ecinho, de Cira, de Jorge, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Endereços do gozo

O gozo reside na voz,

no toque,

no olhar

no decote

no perfume

que acontece em nós.


A mulher me ilude

e me prende

me ata, me gasta

me entende

e, por isso,

controla, denota,

detona, eleva,

expande aonde sem fim

e, por fim

entrelaça, abraça

não deixa partir.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Ecinho, de Cira, de Jorge, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Democracia à brasileira


Vivemos uma democracia fajuta, astuta, cínica e puta.
Não é essa, nem é isso.
Ela não presta, ela se vende em seu rito esquisito.
Não é essa, nem é isso.
Esses não ditos e esses opacos
falam num grito pra dentro que implodem o meu fígado
que incham pulmões e atacam o cardíaco

Êta democracia sem cidadania!
Sem ética e sem justiça
Democracia sem amor à pátria
Como é que pode?
Como é que vota?
Como é que prende?
Como é que solta?

Êta democracia safada
Um vale tudo
Que não vale o nada.
Tão descarada que muda tudo
pra mudar o absolutamente nada.

Tem seu discurso oficial
tem seu caráter duvidoso
tem sua eleição mascarada
de povo liberto
emancipado, aberto
ao processo de escolha
de optar por alguém que enfrente
na frente de todos
das câmeras e dos microfones.

Essa democracia microeletrônica:
Fones, povos, cidadãos,
Justiça, saúde, segurança
Limpeza, lazer, educação.

Democracia pequena, apertada
ajustada aos esquemas oficiais
do governo, o de sempre
o de mesmo
o que afirma ser outro
o novo, a esperança,
a mudança, o diferente
o de sempre mesmo,
o mesmo de sempre.

Democracia puta
na compra e venda de votos
Democracia marcada pelo governo
de todos os alguns poucos

que apoiam os nós (projetos),
os dejetos oficiais.
Democracia mensaleira,
historicamente brasileira
que prende o povo na ignorância
e na bolsa canguru.

Não é essa, não é isso
Não, não não!!!
Eu prefiro o Irã, a Líbia
o Egito.

Joselito da Nair, do Zé, de Ecinho, de Cira, de Jorge, de Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Lentidão e velocidade no tempo de nossa nação

O mundo: lento e veloz
Mundo cão, mundo algoz
Mundo algum para ti,
Para mim, para nós.

Mundo mudo
Sem reação e sem voz.
Bahia, cheia de nós
Brasil cheio de atados
cheio de seus atrasos.

Brasil lento na maca
do hospital público
na fila do banco privado
no pátio de embarque
e desembarque do ar.
Brasil lento no porto,
no mar
no rio e no asfalto.

Brasil lento no ensino
e na aprendizagem
sono-lento na justiça
bocejante na legislatura
das coisas fundamentais.

Lento em patentes
no cuidado com a terra
com a guerra ao tráfico
e com a batalha contra a corrupção.

Brasil baiano, paulista, carioca
me choca, elétrico.
Bahia veloz
Entrega a pizza, a BR
sem atraso.
Mata o moto boy,
na velocidade da luz
acima do permitido pela via.

Brasil que lucra milhões no toque
de uma tecla
que fabrica aviões no tempo fugaz
do pedido chinês.
Brasil que mata o tempo
do atraso veloz
que marca o gol na velocidade da voz.

Paradoxo com isso!
Hetero e homo doxo com aquilo
Sede veloz na solidariedade
como és quando tens a dor alheia
na tragédia alhures.
 
Sede veloz com a dignidade,
no serviço privado e público
na cidadania e na cidade.
Sede veloz no combate ao crime
na punição dos corruptos,
no socorro aos desvalidos
no saque do calibre
pro tiro na inflação.

Sede lento no aumento de impostos
no salário dos legisladores
das tarifas, dos tributos
no roubo aos cofres públicos
na velocidade aos cargos.

Sede lento e veloz
no que for preciso
pra alegria do povo
O tempo de uma nação é esse:
o tempo dos seus
pra viver seu país a cada segundo
pra fazer de seu país
um exemplo pro mundo
um tempo certo pras coisas certas
e erradas.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Cira, de Jorge e de Ecinho, Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

quinta-feira, 21 de abril de 2011

SE EU PUDESSE VIVER NOVAMENTE A MINHA VIDA

1. Enfrentaria os meus medos, amaria mais e trabalharia menos. Faria (fazeria) coisas simples e prazerosas (prazeirosas), reinventaria a arte de viver e faria da minha vida um mundo de infinitos sonhos.
2. Amaria um pouco mais, passaria mais tempo com minha família, me dedicaria com mais intensidade aos meus objetivos. Pra falar a verdade, viveria tudo outra vez, buscando compreender minhas falhas, como tentativa de superá-las com maior amadurecimento.
3. Mudaria um pouco a minha personalidade. Deixaria de ser tão pessimista, confiava mais em mim, acreditaria mais nas pessoas e principalmente no amor. Perderia alguns medos, deixaria de ser tão ansiosa (deixaria a vida me levar). Usaria óculos escuros, pois assim, talvez não estaria com astigmatismo hoje. Seria mais solidária, mais vida. É isso.
4. Eu teria mais cautela em algumas coisas e mudaria algumas delas, inclusive em relação aos estudos. Teria aproveitado mais as oportunidades que deixei passar, mas, por fim, não arrependo-me de muitas coisas que fiz e deixei de fazer.
5. Teria estudado mais e trabalhado menos.
6. Faria o possível para melhorar meus conhecimentos acerca de alguns assuntos relacionados à área física, sobretudo matemática.
7. Viveria de maneira mais intensa; valorizaria as coisas mais simples da vida, tais como: o amor, a reciprocidade, cumplicidade, amizade...
8. Daria mais valor aos estudos; sorriria mais, me estressaria menos e daria valor às boas coisas da vida.
9. Seria mais prudente nas minhas escolhas.
10. Faria as coisas bem melhor, pois estou mais experiente.
11. Tentaria ter menos medo de viver, pensaria muito antes de agir para não cometer os mesmos erros.
12. Viveria alguns momentos com mais intensidade.
13. Estudaria mais matemática e português. (BASTA LER MAIS E FAZER MAIS EXERCÍCIOS)
14. Corrigiria meus erros, não teria medo de arriscar, me entregaria mais à vida.
15. Eu diria palavras que não disse a quem merecia. (Reconciliação ou rancor?)
16. Teria mais consciência dos meus atos, pensaria mais antes de agir. Talvez (talves) mudaria algumas atitudes.
17. Dedicaria mais tempo aos estudos.
18. Talvez não faria (fizesse) licenciatura.
19. Eu já teria me formado, estaria trabalhando, exercendo a profissão e ajudando as pessoas que precisam.
20. Daria valor às coisas mais simples e menos importância ao que os outros pensam de mim.
21. Mudaria pequenos detalhes, evitando alguns erros.
22. Dedicaria mais atenção para tentar acertar onde deixei a desejar.
23. Eu faria tudo exatamente igual.
24. Não mudaria nada.
25. Faria tudo outra vez.
26. Faria tudo outra vez.
27. Faria tudo outra vez.
28. Faria tudo quase igual.
29. Erraria tudo exatamente igual.
30. Faria tudo diferente.
31. Faria tudo diferente.
32. Deixaria de ter feito muita coisa e feito escolhas totalmente diferentes.
33. Eu não viveria da mesma maneira.
34. Faria escolhas diferentes e mudaria muitas coisas.
35. Seria diferente.
36. Cultivaria a ignorância em todos os níveis cabíveis, pois a ignorância é uma dádiva.

Vamos organizar os dados agora para podermos trabalhá-los reflexivamente.

UNIVERSO 36 ALUNOS
MUDAVA TUDO          FARIA TUDO NOVAMENTE    REPENSARIA ALGUMAS COISAS A FIM DE MUDÁ-LAS


07 ALUNOS(19,44%)        07 ALUNOS (19,44%)                                         22 ALUNOS (61,11%)

Como vocês podem perceber a vida é complexa e nos desafia constantemente a agir diante dela. A vida que se dá no mundo. Todos e todas estão certíssimos em suas afirmações, reafirmando a singularidade de cada um e as reações diferentes diante do mundo que cada um expressa. As pessoas não estão erradas por se pronunciarem, por colocarem-se frente aos desafios do mundo que exige novos pronunciamentos que, na maioria dos casos, são sempre originais, mesmo quando ditos com as mesmas palavras, com os mesmo signos, o sentido é sempre dado pelo contexto em que a pronúncia é feita e ao interlocutor a quem se endereça a pronúncia.

Algum de vocês precisaria mudar tudo. É importante. Algumas pessoas desejam uma renovação completa de si e as vezes não compreendem porque são como são, embora desejassem serem outras, sendo elas mesmas. Eu também passo por isso e percebo que algumas pessoas pensam que sou um idiota, porque sou como sou. Um aluna de Educação Física perguntou-me, por exemplo, por que eu era tão diferente no Campus daquele que escrevia em meu blog? Pois é, há uma face em mim que também rejeito mas que pareço não ter controle sobre ela. Percebo que alguns alunos e algumas alunas desejariam que eu fosse diferente e compartilho esse dilema desde que sou criança.

Algumas pessoas as vezes não entendem que os estudos não são prioritariamente para passarem em concursos, serem reconhecidas, etc. mas como um modo de autoconhecimento, como uma metacognição que procura entender o nosso entendimento, o que fica claro em algumas afirmações de vocês. Afirmações como:

Viveria de maneira mais intensa; valorizaria as coisas mais simples da vida, tais como: o amor, a reciprocidade, cumplicidade, amizade...; Enfrentaria os meus medos, amaria mais e trabalharia menos. Faria coisas simples e prazerosas, reinventaria a arte de viver e faria da minha vida um mundo de infinitos sonhos.

Amaria um pouco mais, passaria mais tempo com minha família, me dedicaria com mais intensidade aos meus objetivos. Pra falar a verdade, viveria tudo outra vez, buscando compreender minhas falhas, como tentativa de superá-las com maior amadurecimento.

Mudaria um pouco a minha personalidade. Deixaria de ser tão pessimista, confiava mais em mim, acreditaria mais nas pessoas e principalmente no amor. Perderia alguns medos, deixaria de ser tão ansiosa (deixaria a vida me levar). Usaria óculos escuros, pois assim, talvez não estaria com astigmatismo hoje. Seria mais solidária, mais vida. É isso.

Eu teria mais cautela em algumas coisas e mudaria algumas delas, inclusive em relação aos estudos. Teria aproveitado mais as oportunidades que deixei passar, mas, por fim, não arrependo-me de muitas coisas que fiz e deixei de fazer.

Erraria tudo exatamente igual; Daria valor às coisas mais simples e menos importância ao que os outros pensam de mim; não teria medo de arriscar, me entregaria mais à vida.

Tais afirmações revelam que o conhecimento não pode ser simplesmente um instrumento pragmático para ter “sucesso” na profissão. O “sucesso” da vida pode ser, simplesmente, a reinvenção da arte de viver e de fazer da vida um mundo de infinitos sonhos. Pode ser também: passar mais tempo com a família; Deixar de ser tão pessimista, confiar mais em si, acreditar mais nas pessoas e principalmente no amor. Perder alguns medos, deixar de ser tão ansiosa (o) (deixar a vida te levar). Dar valor às coisas mais simples, reconhecer o valor dos erros como momentos importantes para nosso aperfeiçoamento humano. E, por fim, a arte de se entregar à vida, como um conhecimento vivo que pulsa, que até na hora da morte, ora para continuar vivo de outra forma, em outro tempo e espaço, pois a vida é uma preciosidade que a imprudência e a loucura do mundo insiste em ameaçar.

Qual a relação que podemos estabelecer com a educação inclusiva a partir desses dados iniciais e singulares de vocês? Bem, vocês observam que, dentro de cada um existe algo a ser corrigido, mesmo aqueles e aquelas que fariam tudo exatamente igual. Somos imperfeitos por natureza, sempre temos uma "deficiência" e sempre há algo em nós que escapa, que foge à normalidade padrão e que ocultamos, pois, não sendo tolos, não podemos expor nossas fraquezas ao inimigos de plantão que estão à espera de uma oportunidade para nos atingir onde somos mais frágeis. Mas todos querem ser incluídos, justamente por percebermos que o mundo tem uma máquina incansável de exclusão, presente em todas as culturas. Tem o excluído porque é baixinho, outra porque tem um narigão, outra porque é negra, outro porque tem dificuldades para falar em público, outro porque mora na zona rural “de acolá”, outro porque é do candomblé, outro porque não consegue arrumar namorada, outro porque é isso e aquilo outro. É assim nosso mundo, onde forças de exclusão e forças de inclusão se debatem permanentemente em busca de hegemonia. Essas forças estão dentro de nós, nos esconderijos do inconsciente há um sabotador de nós mesmos, que não entendemos bem como ele foi parar lá, mas que insiste em atrapalhar nosso ser de ser mais. Por isso eu digo em sala de aula que somos sapiens e demens, numa luta interminável que exige constante reflexão para dentro de nós mesmos. Precisamos ir para o Divã e nos perguntar:

Por que eu resisti a estudar quando mais devia? Por que eu fugi de estar com minha família em momentos que poderia estar com ela? Por que eu esqueci das coisas simples da vida e fui sofrer a batalha da conquista de coisas que, depois, se mostraram irrelevantes? Porque os medos me paralisaram, que são medos que poderiam ser enfrentados em nome de objetivos maiores? Por que a coragem que tanto valorizo no outro não encontro em mim mesmo (a)? Por que eu não aceito os desafios do mundo e me escondo numa certa mediocridade coletiva? Por que eu não encaro meu tempo na universidade como um tempo de transformação qualitativa de meu ser profissional e pessoal?

E, diante disso tudo, fico muito contente com o amadurecimento de vocês. Essa turma cresceu e se faz perguntas muito interessantes e profícuas que revelam tal amadurecimento e, inevitavelmente, vão conduzí-los a patamares elevados de compressão de si mesmos, do outro e do mundo.

Um abraço afetuoso: Joselito M. de Jesus.

terça-feira, 19 de abril de 2011

DECRETO Nº 12.583 DE 09 DE FEVEREIRO DE 2011

CAPÍTULO V
DAS DESPESAS COM PESSOAL

Art. 9º - Os órgãos e entidades do Poder Executivo Estadual deverão observar e cumprir, fielmente, as ações a seguir estabelecidas para a gestão da despesa e controle do gasto de pessoal, até 31 de dezembro de 2011:

I - suspender o remanejamento das dotações orçamentárias para contratações pelo Regime Especial de Direito Administrativo - REDA;

II - reduzir as despesas com contratação REDA no corrente exercício, segundo metas a serem aprovadas pelo Conselho de Política de Recursos Humanos – COPE;

III - suspender o aumento na cota das Gratificações por Condições Especiais de Trabalho – CET e Regime de Tempo Integral e Dedicação Exclusiva – RTI, concedido aos órgãos e entidades para cargos em comissão, a exceção de criação de novos cargos em comissão, decorrentes de reestruturação organizacional;

IV - suspender a concessão ou ampliação de percentuais da Gratificação por Condições Especiais de Trabalho – CET e Regime de Tempo Integral e Dedicação Exclusiva – RTI para cargos efetivos e de carreira do Poder Executivo Estadual, exceto os percentuais já acordados no Sistema Estadual de Negociação Permanente – SENP;

V - vetar a reestruturação ou qualquer revisão de planos de cargos e salários das empresas públicas e sociedades de economia mista, pertencentes ao orçamento fiscal e de seguridade social, que impliquem em aumento da despesa de pessoal;


VI - suspender a concessão de afastamentos de servidores públicos para realização de cursos de aperfeiçoamento ou outros que demandem substituição (Ou seja, quem quiser sair não terá substituto).


Parágrafo único - As situações excepcionais de que trata este artigo serão decididas pelo Governador do Estado, ouvido, previamente, o Conselho de Política de Recursos Humanos – COPE, que analisará a pertinência e a conveniência da medida proposta.

Art. 10 - Os órgãos e entidades da Administração Pública do Poder Executivo Estadual deverão proceder estudos visando à substituição dos contratos REDA das suas respectivas Pastas por outras formas de provimento de pessoal, sendo, preferencialmente, adotados aqueles programas voltados para a inserção do jovem no ambiente de trabalho, a exemplo do Programa Estadual de Aprendizagem – Mais Futuro.


Art. 11 - Os órgãos e entidades deverão fornecer, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contados a partir do recebimento da respectiva solicitação encaminhada pela Secretaria da Administração, toda a documentação necessária para fins de formação dos requerimentos de compensação previdenciária.

Parágrafo único - O prazo de que trata o caput deste artigo poderá ser prorrogado por igual período, mediante justificativa prévia e autorizado pela SAEB.

Fico feliz em podermos estar entrando no campo da formação da vontade discursiva, a fim de decidirmos quais os caminhos mais promissores para nossa luta política. Mas ao mesmo tempo fico triste, pois são sempre os mesmos (as) professores e professoras que manifestam sua vontade. Parece que nós somos os "encrenqueiros", os "oposicionistas de plantão" que estão fazendo oposição sistemática ao "melhor governador de todos os tempos" como nunca antes na história desse estado baiano de coisas. Os demais são homens e mulheres invisíveis, que parecem ter uma cidadania de papel, omitindo-se em silêncios inapreensíveis, que fogem ao bom combate. Caso ACM tivesse vivo e privatizasse a BR 324, com certeza o PT e todo o seu aparato militante, talvez incluindo-me, estaríamos fechando a citada via para manifestarmos contra sua entrega aos "donos do capital" em mais uma arrogante e arbitrária decisão da "direita conservadora". Caso fosse Paulo Souto, que também não é flor que se cheire, que tivesse aplicado este Decreto funesto para a universidade baiana, ah, seria uma reação muito mais potente que esta pasmaceira que compartilhamos nesse cotidiano político onde somos atores de segunda, ou talvez nem isso, somos ovelhas indo para o matadouro. O PT se uniu, em nome de uma abstrata "governança", ao que a gente mais repudiou em nossa história política nesta Bahia. Deve, por coerência, mudar de denominação e passar a chamar-se PARTIDO DOS PATRÕES, e não dos trabalhadores. A cabeça só mudou de nome, mas continua branca.

Creio que nós, professores, educadores, precisamos mostrar para as outras pessoas que somos educados, que educação faz a gente ser melhor, em todas as dimensões da vida, incluindo a política. Mas observo que demonstramos que educação e política tem pouco a ver. Precisamos demonstrar para as pessoas que nossa função intelectual na sociedade dá uma contribuição inestimável para a formação humana, tanto do ponto de vista técnico, quanto humano e também político. Li em algum lugar que não foram garras e músculos que nos deram a hegemonia na natureza, mas a inteligência abstrata. Embora sejamos sapiens e demens, e vivamos nossas contradições do dia em que nascemos ao dia em que morremos é preciso ter fé e construir esperanças nesse mesmo dia a dia que insiste em nos liquidar, em nos liquidificar em meio ao lamaçal que envolve o nosso tempo contemporâneo. Precisamos dar mais um exemplo vivo que de que não somos cidadãos de papel, como diria Dimenstein, e dialogar criticamente com esse governo estranho, sem projetos claros para a sociedade, sem um planejamento adequado que se alia a deus e ao diabo para manter a "hegemonia partidária". Se o novo cabeça branca da Bahia quer economizar comece por demitir os indicados pelos deputados da base de apoio, conquistada com cargos e indicações. Muitos desses "indicados", verdadeiros incompetentes a serviço de si mesmos e de seus "indicadores oficiais da assembléia legislativa". Corte os auxílios demasiados que tornam a assembléia legislativa um poço sem fundo de gastos. A democracia precisa mais de participação popular que de deputados indolentes.

Ora bolas, Se somos educados, se compreendemos que estamos sendo usurpados dos nossos direitos pelo Governo de todos os nós, então porque não reagimos de alguma forma? Seja através de greve, seja através de outras formas de mobilização precisamos mostrar para esse governo que também temos PODER, e podemos exercê-lo tanto no campo ideológico, quanto no campo político propriamente dito. Sei da importância do nosso trabalho e do trabalho que ele dá para ser bem feito. E por isso e por outras, tenho CONVICÇÃO em nossa organização e em nossa luta política.

Vamos rasgar a cidadania de papel e fazer renascer a cidadania ativa e plena de uma categoria que precisa ser respeitada!!!

Joselito M. de Jesus, um professor que quer deixar de ser um cidadão de papel frente ao "governo de todos os lá eles".

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A PALAVRA COMO DESTINO OU O DESTINO DA PALAVRA?

Quanto mais eu estudo a Análise do Discurso mais eu me apaixono pela palavra, pelo signo carregado de sentidos ideologicamente marcados, historicamente direcionados. A palavra é o transporte do sentido, o veículo que possibilita o significado entre interlocutores em dialogia. Bakhtin nos ensina que  “A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. Se ela se apóia sobre mim numa extremidade, na outra apóia-se sobre o meu interlocutor” (BAKHTIN, 2002, p. 113). Ponte. Ponte é uma necessidade concreta de ligar dois pontos, duas extremidades que precisam comunicar-se. A ponte é uma solução para um problema de passagem de um lado a outro. Os dois lados, para comunicar-se, concordam com a ponte, numa passagem de via dupla. O que vai de um lado e o que vem do outro, encontram-se dialogicamente construindo sentidos que vão, por sua vez, afetar nossas práticas sociais. Por isso que a televisão, o rádio e o jornal são pontes mal feitas, preferencialmente de mão única. Transportam significados sem diálogo, nem recebem a palavra de volta da interação em que é engendrada. O destino dessas pontes é o deserto que a palavra sem diálogo transforma o outro lado da extremidade. Essas palavras não criam um Povo, ao contrário, frankensteinizam seres humanos em zumbis de mercado, de desvalores sustentados por desejos tacanhos e mesquinhos e de fantasmas monstruosos de “cidadania”.

Entre todas as pontes de palavras, o discurso dos políticos brasileiros é o mais carregado de uma ideologia cínica e perversa, oportunista e chantagista, que trata o povo como mendigo, como um ator social desqualificado sempre a estender a mão para as migalhas que o Estado oferece como se fora bondade de uma pessoa virtuosa, preocupada com os mais pobres, que ocupa o poder. O Príncipe benevolente então, nunca deveria deixar o poder, ou se tiver de deixá-lo, pela Morte ou pela Constituição, deve deixá-lo com alguém de sua extrema confiança para substituí-lo, garantindo, assim, a continuidade de seu governo e de seu legado: a migalha oficial do Palácio. Inúmeros homens e mulheres de todas as idades com suas potencialidades e suas dignidades humanas, adquirem o sentido de “povo”. Talvez pensando nisso eu tenha feito uns versos sobre tal fenômeno, num momento histórico em que éramos denominados de "o país dos banguelas".

O povo? O povo é uma massa disforme

uma barriga enorme,

uma gargalhada estridente,

sustentada em chapas

disfarçadas de dentes.

Nesse caso, o destino da palavra, que seria uma ponte, termina convertendo-se numa catapulta que invade o espaço alheio para conquistá-lo com sangue e lágrimas. Essa palavra maldita penetra as pessoas como uma lâmina afiadíssima, cortando-lhe a palavra, delimitando-lhe o sentido e silenciando sua identidade, sua necessidade, sua esperança e seu milagre. A palavra dos seres humanos identificados em suas elaborações culturais e políticas é reduzida à palavra do “povo”, esse amontoado de gente que precisa ser dirigida, que precisa ser encaminhada, seja por um berrante, seja por um berro. O discurso político é oco, uma ponte que flutua no nada, pois não considera seu interlocutor como agente da palavra e do sentido que deve retornar ao palácio, ao congresso, à assembleia, à câmara e aos tribunais. Não, ela nem é ouvida nem respeitada, principalmente no Brasil. Os políticos fichas-sujas foram assegurados em seus mandatos pelo “Supremo”; não há nada que impeça os aumentos escandalosos dos deputados, vereadores e senadores; não há nada que se investigue dos desvios dos milhões do metrô de Salvador; nem o TCM pode rejeitar as contas da Prefeitura de Salvador; o mensalão nem existiu; e enquanto nossas rodovias são entregues ao capital privado, as universidades públicas da Bahia agonizam pelo asfixiamento imposto pelo Governador Jacques Wagner. São palavras que geram desertos de mulheres e homens com capacidade política e intelectual para intervir em sua realidade num sistema democrático.

Rubem Alves nos fala que “o político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.” (ALVES, 2002, p.10). Mas o discurso e a ação política transformam jardins populares em desertos artificiais de cultura, de arte, de política, de amor e sentimento genuíno de pessoas que desejam jardins para desfrutar a breve vida de cada um e de todos. Essa palavra maldita procura como destino o silenciamento, não a dialogia criativa e justa no espaço democrático das decisões. Procura a aceitação forçada e reforçada pelas migalhas municipais, estaduais e federais que destituem um Povo de sua dignidade e engendram um “povo” em sua subserviência, seu declínio, sua passagem de humano a fantasma político e cultural. Esse “povo” é o destino da palavra, não o Povo que tem a palavra como destino.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafel, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel, com o auxílio de:

ALVES, Rubem. Conversas sobre política. Campinas, SP: Verus, 2002.
BAKHTIN, Mikhail (Volochínov). Marxismo e Filosofia da Linguagem. 10. ed. São Paulo: Hucitec/Annablume, 2002.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Impactos, hipocrisias e educadores

"Piso nacional de professores terá impacto de R$ 1,8 bi"

Tem duas coisas na informação acima que desejo comentar:

Uma é o "impacto" do piso salarial do professores nas contas das prefeituras e do Estado. Fico refletindo sobre a palavra utilizada: "impacto". A utilização das palavras não  é inocente, elas estão eivadas de ideologia. É quase um pedido para nós, professores, desistirmos do direito garantido por lei. Quem vive honestamente não deseja causar impacto negativo à sociedade e ao Estado. Por isso trabalha duro. E por isso mesmo merece um piso salarial decente. O superaumento dos gordos salários dos nossos "dignos" representantes políticos não causa "impacto". Os milionários desvios dos dinheiros do metrô de Salvador, que até hoje não teve nenhum suspeito, nem terá, não causaram impacto à prefeitura e ao Estado. Os bilhões para se fazer Estádios de futebol para o mundo ver, não causa "impacto". A farsa que é a educação básica, inclusive de escolas privadas, no Estado da Bahia, com semianalfabetos chegando à universidade, não causa "impacto". Uma geração inteira desprovida das ferramentas intelectuais imprescindíveis para sua emancipação social e política, sua capacidade de intervenção técnica e científica na realidade natural e social, não causa "impacto". Ora gente, precisamos repensar nossos valores! O que causa "impacto" nas contas públicas não pode ser um salário decente para professores, mas a indecência de abandonar toda uma geração à própria sorte, pois quem não tem educação de qualidade depende da sorte, ou pior, da má sorte. Aceitamos essa precária condição social e cultural dessas crianças e jovens abandonadas pelo Estado, pelos municípios e pelos atores do sistema educacional baiano e brasileiro. Secretários de Educação incompetentes, escolhidos a dedo por prefeitos descomprometidos com a educação e com as demais necessidades da população. Essa escolha se dá não por sua capacidade de gestão, mas por sua habilidade de puxar o saco do alcaide e de defender interesses escusos do grupo político ao qual pertence.

Os municípios não têm bril. Têm um orgulho fajuto e ilusório de uma história amparada num passado mal traçado pelas elites locais (se é que se pode assim denominá-las). Um município deveria ter orgulho da capacidade intelectual e da criatividade de seus cidadãos; um município deveria ter orgulho de seus poetas e artistas, de seus educadores comprometidos com um ensino de qualidade eficaz para seus educandos; um município deveria ter orgulho do domínio técnico apresentado por seus membros em áreas de interesse econômico e social. É sobre esses atores que as luzes devem ser lançadas!!! Não para canalhas que têm discursos vazios na ponta da língua, e colocam suas gravatas e paletós para parecerem mais do verdadeiramente são: canalhas!!! Aí eu apelo para Jesus, quando denuncia o bando de hipócritas do seu tempo. Túmulos caiados por dentro, podres, mal cheirosos, asquerosos. Isso me causa IMPACTO! Dinheiro sempre tem, e sempre terá, de onde vem, de onde virá, se do Estado, se da União, não importa. O que importa é valorizar o professor, o educador, supervisionando rigorosamente o seu trabalho, trazendo a sensação e o sentimento de seriedade que precisamos para acreditar que isso pode mudar.

O segundo comentário que desejo fazer é o seguinte: assim como o Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Beltrame, está limpando a polícia do Estado, melhorando assim a eficácia policial, também é imprescindível fazer uma faxina no sistema educacional baiano e brasileiro, da educação básica ao ensino superior, afastando vagabundos que fingem que dão aulas e canalhas indicados, assumindo responsabilidades para as quais não têm competência alguma. Minha experiência demonstra que a maioria dos professores com os quais estabeleço interações, mal sabe elaborar um plano de aula. QUEM FORMOU ESSE PESSOAL?!!! Ou melhor: quem DEFORMOU? Porque esse pessoal que não aprendeu recebeu o mérito do diploma e os aplausos de uma conquista vazia e fajuta? Os rituais e as comemorações deveriam remeter a uma conquista suada, ao árduo e valoroso labor, mas não, representam conquistas ilusórias, aprendizados simplistas que não fazem com que o portador do diploma tenha condições técnicas para agir conforme o saber que o diploma aponta. Ora, eu estou de saco cheio de quem escolhe a profissão intelectual, mas não gosta de ler, nem de escrever, nem de pensar. Vá trabalhar na cochichina!!! Mas deixe o sistema de educação, repito, de educação, em paz. Vá vender seu peixe em outro lugar, pois seu peixe tá fedido, tá passado, ultra-passado. Não sei se adianta estabelecer 1/3 da carga horária para o professor se este a utiliza para "ir ao médico", ou sempre sua "dor de cabeça" sistemática acontece naquele horário programado do planejamento e da avaliação diagnóstica de suas aulas na semana. Vá embora e deixe os educadores de verdade fazerem o seu trabalho. Ora, precisamos deixar de ser maniqueístas e ficar culpando apenas o Estado pelos problemas do sistema educacional. Todos somos culpados e é chegada e é passada a hora de olharmos no espelho de nossas ações e mudarmos de atitude, do ponto de vista coletivo.

E para os educadores que fazem o seu trabalho direito, mais salários, mais respeito, mais dignidade na profissão, melhores condições de trabalho e carreira. Ah, quase ia esquecendo: para os canalhas corruptos, indolentes e hipócritas: CADEIA!!!

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Participação e autonomia: para além do diploma e da nota

Sobre o tema refletido no grupo 3, que se intitula “Avaliação em EAD – considerações do sujeito aprendente: autonomia e participação”, gostaria de fazer algumas ressalvas ao mesmo que, creio não foram abordadas neste grupo, deixando uma lacuna onde insiro-me como mais um sujeito de saberes, lançando meu olhar único sobre o objeto a que fomos convidados a refletir. Para fazer considerações de modo menos impreciso vou precisar do auxílio de outros intelectuais de maior envergadura sobre o tema da participação e da autonomia, a fim de enriquecer aliar às minhas reflexões e tentar garantir um mínimo de coerência e coesão ao meu discurso. Sobre a participação vou invocar Gustavo Luis Gutierrez e Afrânio Mendes Catani, que dão boas contribuições ao pensar sobre participação e; sobre autonomia invocarei João Barroso e Paulo Freire contando que terei capacidade de articular com esses autores o meu pensamento de forma que, no discurso aqui construído, nem eu deva esconder-me atrás dos autores renomados, nem deva, de modo a ferir a ética, utilizar das suas reflexões de modo a furtar suas ideias sem a devida autorização, como se fossem por mim construídas.

A participação é uma condição requerida em todo o processo social. É muito difícil encontrar alguém que, deliberadamente, possa colocar-se contra a participação, afinal, no mundo empresarial, o modelo de gestão requer a participação ativa do funcionário, “vestindo a camisa da empresa” a fim de reduzir custos e aumentar a competitividade e o lucro, visto que, em última instância, quem faz a diferença não são as novas tecnologias, mas empregados criativos, participativos e dinâmicos. Mas o que é mesmo participar? Segundo Habermas (1975, p.159), “significa que todos podem contribuir, com igualdade de oportunidades, nos processos de formação discursiva da vontade.” Interpretando-a Catani e Gutierrez nos diz que “participar consiste em ajudar a construir comunicativamente o consenso quanto a um plano de ação coletivo.” (2000, p.62). Nesse sentido a participação requer, a meu ver, o envolvimento de diferentes atores sociais num ambiente democrático e dialógico, para que a formação discursiva da vontade não caia no erro da imposição da vontade, tornando-a artificial, uma espécie de contravontade. Em função disso esse ambiente é criado, não por artificialidades burocráticas e demagógicas, mas por uma necessidade coletiva detectada pragmaticamente pelo coletivo de pessoas que partilham de uma experiência semelhante sobre o mundo em que estão inseridos.

Acredito que a participação vem primordialmente da necessidade, embora reconheça que o desejo tem fontes inescrutáveis e o inconsciente irrompe em forma de desejo que oculta a falta, o vazio deixado pelas transformações pessoais que o sujeito sofre na cultura e na sociedade onde, forçosamente, é obrigado a inserir-se. Catani e Gutierrez chamam a atenção dos quantificadores de participação quando afirmam que:
O grande problema da necessidade aliada à motivação é o tipo predominante de necessidade que aciona o desejo e motiva a participação. A “consciência individual do ator” chamado à participação pode estar completamente equivocada sobre o objetivo geral que guia a convergência das ações desencadeadas num processo participativo. Um fenômeno que venho detectando em minha experiência docente é a que lida com o fenômeno da avaliação e da nota no processo de formação de professores de Geografia, História e Educação Física. Posso afirmar, com ressalvas e certa necessidade de aprofundamento, que o que motiva primordialmente e prioritariamente a participação do licenciando em seu processo de formação é a nota. Ora, se isto for uma realidade, a participação dos licenciandos em seu processo de formação dificilmente o conduzirá à autonomia política e intelectual tão decantada nas diferentes abordagens pedagógicas da contemporaneidade, posto que o resultado da formação se traduz em profissionais que esperam a recompensa de suas ações e não agem proativamente em direção a “(...) ajudar a construir comunicativamente o consenso quanto a um plano de ação coletivo.”
A vontade de poder quantificar os graus de participação, aliada à inexistência de um critério consensual que a defina, leva o pesquisador a ter que lidar com duas questões que dificultam qualquer análise. Em primeiro lugar é muito complexo dar conta da consciência individual do ator chamado a participar, sua verdadeira e íntima vocação, compreendida aqui como a disposição pessoal para engajar-se no processo. Outro problema é que esta situação permite associar o grau de participação ao número de pessoas consultadas; ou seja, induz a acreditar que muitos indivíduos, interferindo fortemente em muitas decisões, constitui um sistema bastante participativo. (CATANI e GUTIERREZ, 2000, p.61)

A necessidade, portanto, geradora da participação, pode não ser uma necessidade concreta, ideologicamente dirigida pelas impressões indignadas que o sujeito tem da sociedade onde está inserido, mas uma necessidade artificialmente criada por instituições educativas que mais escravizam que emancipam os sujeitos que por elas passam em busca de determinada inserção social.

Nessa adversidade, a questão é saber como a história irrompe na vida de todo dia. Como no tempo miúdo da vida cotidiana, travamos o embate, sem certeza nem clareza, pelas conquistas fundamentais do homem das múltiplas misérias que o fazem pobre de tudo: de condições adequadas de vida, de tempo para si e para o seus, de liberdade, de imaginação, de prazer no trabalho, de criatividade, de alegria e de festa, de compreensão ativa de seu lugar na construção social da realidade. Uma vida em que, além do mais, tudo parece falso e falsificado, até mesmo a esperança, porque só o fastio e o medo parecem autênticos. Na abundância aparente, não estamos realizados – estamos apenas saturados e cansados em face dos poderes que parecem nos privar de uma inteligência histórica do nosso agir cotidiano. (MARTINS, 2010, p.10)
Portanto, devemos pensar se, como educadores e mediadores, em qualquer campo de ação, seja no presencial, seja na EaD, não estamos acionando contraditoriamente e sistematicamente a manutenção da ordem vigente conservadora na medida em que “ domamos” com um autoritarismo dócil e perverso, a politicidade crítica da participação a meros anseios de colocação profissional dos nossos educandos cuja representação máxima é a nota. “Na abundância aparente” de diplomas e certificações, de discursos e de palmas, a participação pode ser privada de sua inteligência histórica, dirigida erroneamente para a realização de necessidades artificiais, mercadorias do nosso tempo e do nosso campo profissional docente.

Ora, a participação então deixa de ser um ponto pacífico para tornar-se um ponto problemático, o que vai exigir um aprofundamento e certa sensatez em sua abordagem, ao invés da panaceia com que é tratada nos discursos que circulam no interior das instituições. A vontade é docemente coagida, tanto pela instituição formativa quanto pela sociedade em seu funcionamento, a assumir-se restritivamente nos quadros de um desejo mesquinho que busca a formatura como ascensão social e cultural.

Do ponto de vista da autonomia, Freire (2002) no ensina que o ato educativo deve se dar em dois movimentos convergentes: o movimento político da passagem da heteronomia dependente para a autonomia responsável e, o movimento epistemológico da passagem da curiosidade espontânea para a curiosidade epistemológica. Ora, creio que esta passagem não se dá se a nota impera nos processos de formação de professores. Ao invés de autonomia responsável temos o aprofundamento da heteronomia dependente, onde o educando torna-se refém da nota e do professor e este último também. A aprendizagem, o domínio de conhecimentos, técnicas, habilidades, atitudes e comportamentos ficam relegados a meios para atingir o fim: a nota. Esta impera e contamina a vontade, o desejo e adoece o processo de construção coletiva da autonomia dos sujeitos, que abrem mão de sua decisão e sucumbem como zumbis à procura da nota que os qualifica para o mercado. A autonomia aí, como afirma Barroso (2000) é decretada burocraticamente, não construída.

Barroso (2000) nos fala que “a autonomia é um conceito relacional (somos sempre autônomos de alguém ou de alguma coisa) pelo que a sua ação se exerce sempre num contexto de interdependências e num sistema de relações.” (p.16). O sujeito aprendente necessita exercitar sua autonomia como necessidade subjetiva de construção de si mesmo e do próprio sistema de relações sociais e culturais específico onde está inserido e precisa se inserir com dignidade. Não basta “decretar” discursivamente a vontade de autonomia para o outro, mas permitir, motivar, subsidiar essa busca permanente através de mecanismos institucionais concretamente democráticos, reduzindo a armadilha sedutora do diploma e do caminho simbólico até ele, a nota, ou melhor, um conjunto de notas que se somam, como se representassem o conhecimento adquirido pelo educando num processo democrático onde sua autonomia, sua vontade e seu desejo participaram de seus atos formativos.

A EaD oferece possibilidades concretas de rupturas com os artificialismos autoritários que mais escamoteiam que transparecem seus mecanismos de sujeição da vontade e controle da participação, relegando a autonomia ao imperativo do “você fazendo o que eu quero, terá a nota merecida”. Mesmo os wiki’s, os fóruns, os chat´s, os AVA’s, as enquetes, os link’s e todos os demais recursos disponibilizados pela EaD podem acionar processos avaliativos em que o sujeito aprendente tenha uma autonomia reduzida a parâmetros restritos estabelecidos nas práticas educativas acionadas no processo e uma participação dirigida para propósitos que não lhe diz respeito, reduzindo seu ímpeto curioso, seu espanto filosófico e sua vontade de aprender e continuar aprendendo para além da nota e do diploma.

Joselito Manoel

REFERÊNCIAS
BARROSO, João. O reforço da autonomia das escolas e a flexibilização da gestão escolar em Portugal. In Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. Naura Carapeto Ferreira (org.) 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24. ed. São Paulo/SP: Paz e Terra, 2002.
GUTIERREZ, Gustavo Luis; CATANI, Afrânio Mendes. Participação e gestão escolar: conceitos e potencialidades. In Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. Naura Carapeto Ferreira (org.) 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2000.

MARTINS, José de Souza. A sociabilidade do homem simples: cotidiano e história na modernidade anômala. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2010.