sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A MINHA inveja também ME MATA!!! Por Mãe Stella

Sobre a questão de ficar me olhando no espelho, descobri que Mãe Stella, em sua sabedoria, me auxilia nessa mirada. Assim diz ela...


A minha função espiritual faz de mim uma intermediária entre o humano e o sagrado e para exercê-la da melhor maneira possível tenho como instrumento o Jogo de Búzios. Pessoas de diferentes idades, raças e até mesmo credos, buscam a ajuda desse oráculo. Surpreende-me o fato de que uma grande parte dos que me procuram sente-se vítimas de inveja.

Engraçado é que nunca, nem um só dia sequer, alguém chegou pedindo-me ajuda para se libertar da inveja que sentia dos outros. Será que só existem invejados? Onde estarão os invejosos? E o pior é quando consulto o oráculo e ele me diz que os problemas apresentados não são decorrentes de inveja, a pessoa fica enfurecida.

Percebo logo que existe ali uma profunda insegurança, que gera uma necessidade de autovalorização. Se isso ocorresse apenas algumas vezes, menos mal, o problema é que esse comportamento é uma constante. Isso me leva a pensar que cada pessoa precisa olhar dentro de si, tentar perceber em que grau a inveja existe dentro dela, para assim buscar controlar e emanar este sentimento, de modo que ela não venha a atuar de maneira prejudicial ao outro, mas principalmente a si, pois qualquer energia que emitimos, reflete primeiro em nós mesmos.

Uma fábula sobre a inveja serve para nossa reflexão: Uma cobra deu para perseguir um vagalume, cuja única atividade era brilhar. Muito trabalho deu o animalzinho brilhante à insistente cobra, que não desistia de seu intento. Já exausto de tanto fugir e sem possuir mais forças o vagalume parou e disse à cobra: – Posso fazer três perguntas? Relutante a cobra respondeu: – Não costumo conversar com quem vou destruir, mas vou abrir um precedente. O vagalume então perguntou: -Pertenço à sua cadeia alimentar?- Não, respondeu a cobra. – Fiz algum mal a você-?- Não, continuou respondendo a cobra.- Então por que me persegue?- perplexo, perguntou o brilhante inseto. A cobra respondeu: – Porque não suporto ver você brilhar, seu brilho me incomoda.

Ingênuas as pessoas que pensam que o brilho do outro tem o poder de ofuscar o seu. Cada um possui seu brilho próprio, que deve estar de acordo com sua função. Existem até pessoas cujas funções requerem simplicidade, onde o brilho natural só é percebido através do reflexo do olhar do outro.

Lembro-me de uma garotinha de apenas 10 anos de idade que a mãe me procurou para ajudá-la, pois ela ficava furiosa quando não tirava nota dez na escola. Comportamento que fazia com que seus coleguinhas se afastassem dela. Algumas tardes eu passei conversando com a garota. Um dia ela chegou me dizendo que não apresentava mais o referido problema, que até tirou nota dois e não se incomodou.

Fiquei muito feliz, cheguei mesmo a ficar vaidosa, pois acreditei que aquela nova atitude era resultado de nossas conversas. Foi quando ela me disse:- Sabe por que não me incomodei de tirar nota dois, Mãe Stella? Ansiosa, perguntei:- Por quê? Ao que ela me respondeu: – Porque o resto da turma tirou nota um. Rimos juntas da minha pretensa sabedoria de conselheira e do natural instinto de vaidade que ela possuía e que muito trabalho teria para domá-lo. O desejo que a garota possuía de brilhar mais do que os outros, com certeza atrairia para ela muitos problemas. Afinal, ela não queria ser sábia, ela queria ser vista.

O caso contado anteriormente fez lembrar-me de outro que eu presenciei, onde uma senhora repleta de ouro insistia em me dizer que as pessoas estavam olhando para ela com inveja. Cansada daquele queixume, disse-lhe que quem não quer ser visto, não se mostra.

A inveja é popularmente conhecida com olho gordo. Se não queremos ser atingidos pelo olho gordo do outro, devemos cuidar para que nossos olhos emagreçam, não deixando que eles cresçam com o desejo de possuir o alheio. Já que fazemos dieta para nossos corpos serem saudáveis, devemos também fazer dieta para nossos olhos, pois eles refletem a beleza da alma. A tendência agora é, portanto, olhos magrinhos, mas não anoréxicos, pois alguns desejos eles precisam ter, de preferência desejos saudáveis.

Maria Stella de Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

DEFENDA ELIANA CALMON!!!


Resista Ministra Corregedora do CNJ, Eliana Calmon!!! Resista a esses homens e instituições comprometidas com a indecência, que estão  a ti trucidar!!! Nós, que ainda acreditamos na decência e na justiça, precisamos de sua força, de sua seriedade no trato com a coisa pública e com a sua missão. Muito mais importante que todos os discursos vazios de padres e bispos, dos políticos e salafrários de nosso país é a sua ação no combate à corrupção no judiciário. A primeira Dama do país que queremos não é Dilma. É a senhora, Ministra Guerreira, mulher que resguarda a decência no campo jurídico. Vossa Excelência é bela e forte. Às suas ações me curvo e coloco-me ao lado de seu discurso calcado na ação verdadeira e justa. Precisamos desse país que a senhora aponta. Fora os bandidos de toga!!!
SALVE ELIANA CALMON, MULHER BAIANA, NOSSA MARIA MAIS QUE BONITA, MARIA SUPERLATIVA QUE ME ENCHE DE ORGULHO!!!

Eliana Calmon mais que bela, 
Ministra decente e séria
precisamos de sua firmeza
de suas ações a favor da justiça.
O judiciário precisa de ti
e de gente assim.
pra fazer uma revolução ética
uma verdadeira faxina 
no cinismo e na corrupção. 

Eliana, Eliana,
Que bom este presente para o nosso país!
que bom vossa Excelência presente
com a vossa decência
com a vossa aparência
com sua força de encanto.
Obrigado por este Natal, 
pelo seu sacrifício em nome do que é correto.

Obrigado Ministra Corregedora!
Nâo desista, insista e vença!!!

Joselto da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel!

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Renasce Salvador! É Natal!!!

Esse meu Natal está pedindo silêncio e serenidade;
Está um Natal querendo vagar
Esse Natal está precisando de um renova cidade.
Natal, Natal de verdade,
Dê para nós de presente um novo momento,
um silêncio cheio de luzes
para a gente contemplar sua noite.
Para a gente fazer outros movimentos
Para renovar a esperança decadente
pra seguir a estrela cadente
para a fonte onde tudo renasce
onde tudo encontra sentido
É Natal!!! É Natal!!!
De vida suprema que supera
toda e qualquer morte que se avizinha
de nós, de nossa cidade: Salvador.
Vamos fazer Salvador renascer!!!
É Natal, não é?

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Patópolis

Há um lugar azul, verde e amarelo
cheio de patos, gatos e bafos.
Mandas-chuva e paus mandados,
Irmãos Metralha e metralhados (as)
Bafos de Onça e AMBEV
nesse país de patos:
cidadãos de Patópolis,
vivem melhor quando bebem

Milhões de patos,
Com direito a voto
e a voz: quá! quá! quá!
e au! au ! au!
Filhos de uma mãe desnaturada,
nada, nada e nada gentil.
Na falta de uma praia
morrem mesmo na beira do lago

Paranoá.

Depenados patos de Eva e...
Cabral.
Eva: Ave César!
Ave Maria! Salve-nos Rainha!
deste vale de lágrimas.
Cabral: cabras, berros
votos, cabrestos.

Caim! Caim! Caim!
Clamam os patos suas dores nacionais.
Caim! Caim! Caim!
com as penas entre os rabos
quá! quá! quá!

O Tio mete as Patinhas
e nada, nada, nada
nos bilhões arregaçados em impostos
dos patinhos feios e rejeitados pelo Estado

Não tenho pena dos Abéis
que são mortos, metralhados
que são votos, feitos patos
e repetem a cada ato,
sua história, seu retrato.
Caim! caim! caim!
Quá! quá! quá!
Povo cão, povo pato.


Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A MÃO DO MACACO

Há muito tempo eu li uma revista do Batman. Sempre gostei dos heróis, principalmente quando começaram a revelar seus problemas existenciais. E, nesse sentido, Batman, a meu ver, foi um dos maiores deles. Nesta história, Batman, salvo engano – pois lá se vão mais de 20 anos em que li a revista – conversa com um militar japonês sobre algo ligado à trama. Mas o que marcou a minha memória foi o que o militar japonês disse para Batman sobre a sua fixação em combater o crime. Ele utilizou a metáfora da mão do macaco. Segundo o japonês, quando caçadores querem beber água num lugar árido, mas não sabem onde encontrá-la, fazem uma armadilha para prender um macaco. Fazem um furo num côco, e colocam amendoim lá dentro. A abertura feita no côco permite que o macaco enfie a mão aberta, mas não possa retirá-la com a mão fechada. O côco é preso em algum referencial fixo e forte o suficiente para evitar a fuga do animal. E está preparada a armadilha! que conta com a característica psicológica que o comportamento do macaco apresenta.

Bem, funciona assim: o macaco enfia a mão no côco para pegar o amendoim. Quando fecha a mão não consegue passá-la pela abertura estrategicamente feita. O animal poderia abrir a mão e fugir, diante da aproximação perigosa do caçador. Mas ele não abre. Está preso. O caçador então enche a boca do primata de sal, provocando-lhe rapidamente a sede e aguarda pacientemente que o animal dirija-se à sua fonte de água, seguindo-o e saciando também a sua sede. O símio é utilizado como instrumento de procura pela água. É transformado num parceiro de sede. Inteligente a ação humana, idiota a ação do macaco. Poderíamos pensar apressadamente diante do relato. - Era só abrir a mão e fugir! E nem isso o macaco é capaz de fazer. Fica preso pelo amendoim numa armadilha rudimentar. Quem foi que disse que o ser humano veio do macaco? Hum. Ledo engano. É como Marx e Engels afirmam:

Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos seus favos de suas colmeias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto, idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade. E essa subordinação não é um ato isolado. (MARX e ENGELS, 1988b, v.1, t. 1, p. 142,143 apud LAZARINI, 2010, p. 442-443)
 
E é essa a diferença básica: o animal adapta-se à natureza, o ser humano, por sua vez, adapta a natureza às suas necessidades, transformando-a através do trabalho e produzindo instrumentos e signos que o tornam a espécie dominante na natureza.

Entretanto, fico pensando: será que nós, os humanos, também não somos como o macaco da mão fechada? Batman não conseguia abrir a mão e libertar-se da condição de justiceiro da noite. Quantas vezes não enfiamos a nossa mão em cumbucas e a fechamos lá dentro, ficando aprisionados, vendo o perigo se aproximar e sem ter capacidade psicológica de abri-la e libertar-nos da situação? Quantas vezes não funcionamos como marionetes, deixando que nos provoquem a sede e transformando-nos em instrumentos a serviço de interesses contrários aos nossos? A seca no Nordeste é assim: ela é criada e alimentada politicamente, provocando a sede no nordestino. Presos na armadilha da seca, os nordestinos produzem a fé e a esperança naquela prisão de sol a sol. É com essa fé e essa esperança acrítica que os políticos contam para obterem seus votos todo período eleitoral. Seus inflamados e mentirosos discursos incendeiam a esperança estorricada do nordestino, semeando ilusões, gotejantes, sobre os lamentos sertanejos. 

O capitalismo também faz isso. Enche a nossa boca de sal – as propagandas nos dizem que o que temos não presta, que está ultrapassado, que devemos comprar o produto mais novo; provoca a sede – o desejo insaciável de comprar, de adquirir o novo, de retirar da vitrine o “encanto” que nos tornará mais alguma coisa que eu não sei bem o que é; criam o deserto em nossas vidas privadas e nos enviam para os oásis comerciais. Então o mercado sacia a sua sede de lucro, efetivada na compra da mercadoria fetichizada. E nós, macacos amestrados, vamos em busca da fonte que sacia nossa sede nas casas comerciais, nas lojas de departamentos, nos shopping’s (novos castelos medievais, como diria o professor Ubiratan de Castro em uma de suas palestras).

Vamos, sem perceber, nos aprisionando em cartões de crédito, em carnês e suas parcelas infinitas que vão nos encarcerando todos os meses, todos os vencimentos que se acumulam em estruturas prisionais quase inescapáveis. Vamos construindo nossas próprias celas à medida que precisamos cada vez mais de coisas que vão se impondo como mais necessárias. Claro, precisamos estar atentos às novidades, dominar as novas tecnologias, avançar, sempre que possível, no passo do mundo para não perder o bonde da história, ou ficar apenas como passageiro passivo diante dos fenômenos sociais, políticos, econômicos e culturais. Mas para isso não é preciso ficar encarcerado. O que precede a tecnologia é a capacidade de pensar, de identificar tendências, de entender as lógicas que presidem as relações humanas na contemporaneidade, de posicionar-se criticamente diante das arapucas que o mercado coloca em nosso caminho, de sentir profundamente as pessoas a fim de examinar o tipo e a qualidade das relações que com elas estabelecemos. Não pensamos o nosso consumo. Estiramos nossa mão subserviente e oferecemos nosso consentimento para que o (a) atendente passe o cartão que nos identifica na grande rede de varejo, colocando as algemas e introduzindo-nos no presídio mais eficiente de todos: o consumo e o consequente endividamento por impulso e pelo pulso.       

De um outro ponto de vista, outros humanos morrem prematuramente em função da cumbuca onde sua mão está aprisionada. Uns colocam a mão em mulheres e homens proibidos (as). Fecham, agarram e ficam presos, vendo a morte aproximar-se inexoravelmente. Alguns põem a mão em dinheiro alheio e não conseguem mais abri-la, até que "a indesejável de todas as gentes" aproxima-se e os abraçam definitivamente. Outros colocam as mãos em volantes e ficam presos à velocidade irresponsável, que os conduzirão à morte violenta e rápida, sendo apenas uma questão de tempo o desfecho trágico. Outros seguram numa garrafa, num cigarro, num charuto, num bagulho, e vão seguros com suas mãos primatas, sem saber bem porque não conseguem abri-las e libertar-se da situação de sal e sede. Paulo Freire nos fala da união entre a mão e o cérebro como fundamental para o salto ontológico do ser humano diante das demais espécies. Compreendo e concordo. Contudo, não deixo de notar em muitas mãos, algumas associadas a cérebros arrogantes, os pelos do macaco. O macaco sabe aonde encontrar a água, mas nós, nós precisamos do macaco como nosso guia para a fonte natural da vida. E você: consegue abrir sua mão cabeluda, libertar-se e fugir do perigo iminente? Estamos no planeta Terra ou no planeta dos macacos falantes? 

Entramos em convidativas prisões construídas pelos nossos desejos imediatos. Precisamos sempre de tudo, estamos sempre com sede. E ocorre um paradoxo: as compras não saciam nossa sede, elas provocam ainda mais sede. A realização dos desejos imediatos também não nos saciam, ao contrário, provocam-nos mais desejos que se projetam ao infinito, projetando também futuros aprisionamentos naquilo que ainda não temos, naquilo que ainda nem existe, mas desejaremos ter, porque necessitaremos ter. Presos nesse ciclo, vamos trabalhando mais, ficando mais doentes, pagando mais impostos, reduzindo nosso tempo de atenção a quem amamos, fazendo horas extras, horas a mais que vão nos deixando, de fato, a menos, na fila daqueles (as) que sucumbem  para alimentar seus insaciáveis desejos que os conduzirão aos cárceres do mercado. Boas compras!!!

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Com o auxílio de Bob Kane, Paulo Freire, LAZARINI http://lepelufal.files.wordpress.com/2011/02/ademir-quintilio-lazarini.pdf, acesso em 16/12/2011
MARX, Karl. Crítica ao Programa de Gotha. In: Marx; Engels: Obras Escolhidas. São Paulo: Alfa Ômega, 1988 b. (v.2).

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Frankenstein, Dilma e Lula

Quando eu era garoto, conheci a incrível e horripilante história de Frankenstein, de autoria da britânica Mary Shelley. Um monstro tecido pela imaginação de um cientista louco, que desejava ardentemente ocupar o lugar de Deus na criação da vida: o mito de Lúcifer. E, para isso, esse “doutor” juntou num mesmo corpo, partes de corpos de cadáveres. O monstro foi criado e o público deu a ele o sobrenome do pai: Frankenstein. Nada mais justo. A história do criador e da criatura termina com a morte de ambos, com a explosão da torre em alguns filmes ou com a certeza da morte da criatura após o seu exílio nas terras gélidas do Norte. A criatura sempre fora rechaçada pelas demais pessoas. Do ponto de vista ontológico ele era humano. Embora seu corpo tenha sido engendrado com os retalhos da morte, sua personalidade fora tecida historicamente com as ideias e os sentimentos humanos do seu contexto social e cultural.

Frankenstein era uma criatura de segunda mão. mas nem por isso menos fulgurante. Criada pela ficção, adquire, até os dias de hoje, personalidade própria. No último filme, por mim conhecido, de vampiros e lobisomens, “Van Helsing”, Frankenstein aparece como uma peça-chave da trama. – Aliás, penso que o título do filme está equivocado. Van Helsing, o personagem que seria o principal, é apenas um coadjuvante. Quem dá substância ao filme são Drácula e Frankestein, com seus problemas existenciais – Frankenstein é perseguido pelos humanos que tentam por um fim à sua “vida”. E ele aparece bem humano. Foge, esconde-se, finge-se de morto em busca da paz que todo ser humano deseja para si. Como no livro e no filme original a criatura tem uma capacidade de aprender surpreendente e filosofa sobre a sua existência. Aliás, quem melhor para filosofar senão aquele cuja própria existência é um espanto? “Frank”, permitam-me a intimidade, não é interpretado no filme “Van Helsing” como o monstro que conheci no filme com Boris Karloff fazendo a criatura horrenda. Foi um filósofo, um pensador atento às armadilhas da existência e das contradições da humanidade, ela própria também monstra, horrenda e impiedosa. Frank sofre com a morte de seu pai, mais ainda: criador. Eu fico imaginando se suportaria a morte de Deus. Piraria. Como é que meu criador pode morrer? Pior: antes de mim. Morrendo o criador morre o desejo supremo que deu vida e existência à criatura. E o sentido de tudo esmorece, esperando apenas a minha morte como solução para a depressão profunda e, finalmente, a loucura infernal da humanidade sem Pai/Mãe.

Alguns céticos podem, com toda razão, contestar: – Mas deus não existe. Ele é criatura e não criador. Deus é uma criação humana e, por isso, como objeto cultural, está destinado a fenecer e desaparecer completamente com o tempo. Bem, tenho minhas dúvidas. Vamos supor que Deus tenha sido criado pela imaginação humana em seu desejo de eternidade e de paz. “O sentimento oceânico”, como supunha Freud. Mesmo assim, valeu o esforço. E eu acredito. Por acreditar comprometo-me inevitavelmente com minha gestação sociocultural e assumo a condição de criatura frágil que necessita do apoio divino, para tecer sua existência nos limites de suas potencialidades e mediocridades, mesmo que o apoio esperado nunca venha. Eu não suportaria a morte de Deus. Entregar-me-ia ao exílio que me conduziria à morte, à paz que resta quando tudo o mais desaba. Dizem que tem um muro na Alemanha onde está escrito: - Deus está morto. Assinado, Nietzsche. E, logo abaixo: - Nietzsche está morto. Assinado, Deus. Questão de fé. Tanto na ciência, quanto em Deus. E as duas são discutíveis.

Agora, vocês podem me perguntar: Joselito, mas o que seu texto tem a ver com o título? Bastante! Respondo sem pestanejar. Afinal alardeou-se em todas as mídias e por todo o Brasil que Dilma era a criatura de Lula e isso me deixou deveras preocupado. Com os altos índices de aprovação popular diziam que Lula elegeria até um poste, o nome do seu candidato ou de sua candidata era irrelevante do ponto de vista eleitoral. Não sou Lula, mas pelo menos posso “especulular”. Fiquei com a sensação de que Luís Inácio estava se sentindo meio que um deus. Um imortal no mundo da política, cujo nome ficará marcado para sempre na história desse país, pois “nunca antes na história desse país...” teve tantos ministérios e mistérios não resolvidos. Elegeu Dilma. Sim. Mas preocupa-me pensar que Dilma se sente criatura, porque Lula não pode morrer por agora. Fiquei contente, tanto do ponto de vista humano quanto do ponto de vista político que seu tumor tenha regredido em 70% após o tratamento com quimioterapia. Dilma deve ter dado seus suspiros de alívio, pois a própria já passou por isso. Fico imaginando Dilma sem seu pai e criador eleitoral, solta em meios às hienas e aos chacais que rondam o Palácio do Planalto. Logo logo seria devorada. Hienas e chacais que o seu criador fez questão de abrigar na grande casa do povo, cuja presidente ocupa e preocupa-se agora. As vezes ela foge para Porto Alegre, pois tal como Frankenstein, sofre dos assédios e dos rechaços de representantes da humanidade brasileira que se encontram e se desencontram no Congresso Nacional. Os uivos e as ameaças de ataque iminente não a deixam descansar. Porto Alegre, nesse sentido, é cada vez mais alegre, especialmente para ela.

Mas assim como Frankenstein, a criatura, Dilma demonstra ter existência própria e estilo diferenciado. Mas está presa às correntes dos sentidos determinados em seu processo de criação. Foi criada num contexto de imaginação eterna no poder. Está presa ao PT e à Lula e não consegue desatar o nó górdio em que se encontra nos rumos contemporâneos tomados pela história política de nosso país. Penso que a mesma deve estar rezando para Lula voltar e salvá-la desse “vale de lágrimas” em que foi obrigada a se penitenciar pelos pecados cometidos na Casa Civil no governo de seu criador. Penso que Dilma deseja o exílio em Porto Alegre, mas sofre da situação que a sua personalidade jamais permitirá: mostrar-se frágil e retornar para o “paraíso perdido”. Tal qual um Frankenstein, Dilma, como governo, está monstruosa. Retalhada em ministérios ocupados por criaturas horrendas, que devoram a gordura nacional de credibilidade que seu governo ainda possui. É preciso e precioso para Dilma que Lula volte na próxima eleição. Não para o povo brasileiro, mas, precisamente, para libertar Dilma de sua condição horrenda de governante de um país ocupado por seres funestos que destroem essa nação impiedosamente. Somente Lula pode governar um país assim, pois, mesmo ele não tendo criado, nutriu e desenvolveu esse modo fragmentado e horripilante de governar e de entregar o futuro dessa nação às hienas e aos chacais. 

Joselito da Nair, do Zé, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.