quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Frankenstein, Dilma e Lula

Quando eu era garoto, conheci a incrível e horripilante história de Frankenstein, de autoria da britânica Mary Shelley. Um monstro tecido pela imaginação de um cientista louco, que desejava ardentemente ocupar o lugar de Deus na criação da vida: o mito de Lúcifer. E, para isso, esse “doutor” juntou num mesmo corpo, partes de corpos de cadáveres. O monstro foi criado e o público deu a ele o sobrenome do pai: Frankenstein. Nada mais justo. A história do criador e da criatura termina com a morte de ambos, com a explosão da torre em alguns filmes ou com a certeza da morte da criatura após o seu exílio nas terras gélidas do Norte. A criatura sempre fora rechaçada pelas demais pessoas. Do ponto de vista ontológico ele era humano. Embora seu corpo tenha sido engendrado com os retalhos da morte, sua personalidade fora tecida historicamente com as ideias e os sentimentos humanos do seu contexto social e cultural.

Frankenstein era uma criatura de segunda mão. mas nem por isso menos fulgurante. Criada pela ficção, adquire, até os dias de hoje, personalidade própria. No último filme, por mim conhecido, de vampiros e lobisomens, “Van Helsing”, Frankenstein aparece como uma peça-chave da trama. – Aliás, penso que o título do filme está equivocado. Van Helsing, o personagem que seria o principal, é apenas um coadjuvante. Quem dá substância ao filme são Drácula e Frankestein, com seus problemas existenciais – Frankenstein é perseguido pelos humanos que tentam por um fim à sua “vida”. E ele aparece bem humano. Foge, esconde-se, finge-se de morto em busca da paz que todo ser humano deseja para si. Como no livro e no filme original a criatura tem uma capacidade de aprender surpreendente e filosofa sobre a sua existência. Aliás, quem melhor para filosofar senão aquele cuja própria existência é um espanto? “Frank”, permitam-me a intimidade, não é interpretado no filme “Van Helsing” como o monstro que conheci no filme com Boris Karloff fazendo a criatura horrenda. Foi um filósofo, um pensador atento às armadilhas da existência e das contradições da humanidade, ela própria também monstra, horrenda e impiedosa. Frank sofre com a morte de seu pai, mais ainda: criador. Eu fico imaginando se suportaria a morte de Deus. Piraria. Como é que meu criador pode morrer? Pior: antes de mim. Morrendo o criador morre o desejo supremo que deu vida e existência à criatura. E o sentido de tudo esmorece, esperando apenas a minha morte como solução para a depressão profunda e, finalmente, a loucura infernal da humanidade sem Pai/Mãe.

Alguns céticos podem, com toda razão, contestar: – Mas deus não existe. Ele é criatura e não criador. Deus é uma criação humana e, por isso, como objeto cultural, está destinado a fenecer e desaparecer completamente com o tempo. Bem, tenho minhas dúvidas. Vamos supor que Deus tenha sido criado pela imaginação humana em seu desejo de eternidade e de paz. “O sentimento oceânico”, como supunha Freud. Mesmo assim, valeu o esforço. E eu acredito. Por acreditar comprometo-me inevitavelmente com minha gestação sociocultural e assumo a condição de criatura frágil que necessita do apoio divino, para tecer sua existência nos limites de suas potencialidades e mediocridades, mesmo que o apoio esperado nunca venha. Eu não suportaria a morte de Deus. Entregar-me-ia ao exílio que me conduziria à morte, à paz que resta quando tudo o mais desaba. Dizem que tem um muro na Alemanha onde está escrito: - Deus está morto. Assinado, Nietzsche. E, logo abaixo: - Nietzsche está morto. Assinado, Deus. Questão de fé. Tanto na ciência, quanto em Deus. E as duas são discutíveis.

Agora, vocês podem me perguntar: Joselito, mas o que seu texto tem a ver com o título? Bastante! Respondo sem pestanejar. Afinal alardeou-se em todas as mídias e por todo o Brasil que Dilma era a criatura de Lula e isso me deixou deveras preocupado. Com os altos índices de aprovação popular diziam que Lula elegeria até um poste, o nome do seu candidato ou de sua candidata era irrelevante do ponto de vista eleitoral. Não sou Lula, mas pelo menos posso “especulular”. Fiquei com a sensação de que Luís Inácio estava se sentindo meio que um deus. Um imortal no mundo da política, cujo nome ficará marcado para sempre na história desse país, pois “nunca antes na história desse país...” teve tantos ministérios e mistérios não resolvidos. Elegeu Dilma. Sim. Mas preocupa-me pensar que Dilma se sente criatura, porque Lula não pode morrer por agora. Fiquei contente, tanto do ponto de vista humano quanto do ponto de vista político que seu tumor tenha regredido em 70% após o tratamento com quimioterapia. Dilma deve ter dado seus suspiros de alívio, pois a própria já passou por isso. Fico imaginando Dilma sem seu pai e criador eleitoral, solta em meios às hienas e aos chacais que rondam o Palácio do Planalto. Logo logo seria devorada. Hienas e chacais que o seu criador fez questão de abrigar na grande casa do povo, cuja presidente ocupa e preocupa-se agora. As vezes ela foge para Porto Alegre, pois tal como Frankenstein, sofre dos assédios e dos rechaços de representantes da humanidade brasileira que se encontram e se desencontram no Congresso Nacional. Os uivos e as ameaças de ataque iminente não a deixam descansar. Porto Alegre, nesse sentido, é cada vez mais alegre, especialmente para ela.

Mas assim como Frankenstein, a criatura, Dilma demonstra ter existência própria e estilo diferenciado. Mas está presa às correntes dos sentidos determinados em seu processo de criação. Foi criada num contexto de imaginação eterna no poder. Está presa ao PT e à Lula e não consegue desatar o nó górdio em que se encontra nos rumos contemporâneos tomados pela história política de nosso país. Penso que a mesma deve estar rezando para Lula voltar e salvá-la desse “vale de lágrimas” em que foi obrigada a se penitenciar pelos pecados cometidos na Casa Civil no governo de seu criador. Penso que Dilma deseja o exílio em Porto Alegre, mas sofre da situação que a sua personalidade jamais permitirá: mostrar-se frágil e retornar para o “paraíso perdido”. Tal qual um Frankenstein, Dilma, como governo, está monstruosa. Retalhada em ministérios ocupados por criaturas horrendas, que devoram a gordura nacional de credibilidade que seu governo ainda possui. É preciso e precioso para Dilma que Lula volte na próxima eleição. Não para o povo brasileiro, mas, precisamente, para libertar Dilma de sua condição horrenda de governante de um país ocupado por seres funestos que destroem essa nação impiedosamente. Somente Lula pode governar um país assim, pois, mesmo ele não tendo criado, nutriu e desenvolveu esse modo fragmentado e horripilante de governar e de entregar o futuro dessa nação às hienas e aos chacais. 

Joselito da Nair, do Zé, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

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