sábado, 16 de janeiro de 2021

GENERAIS BOSTÉTICOS, JUIZES CORRUPTOS, CAPITÃES DO MATO, DELEGADOS SEM CACHORRO

Militares, juízes e agentes de polícia foram incentivados pelo contexto a ocuparem o campo político. A era dos capitães parecia promissora para eles. E parecia a princípio que assumiriam cargos decisivos no aparelho de Estado para servirem com denodo, disciplina, honestidade e transparência, governando para o povo, instaurando uma nova política neste país. Qual nada. Eles apenas se juntaram à roubalheira geral da nação e fizeram até pior em plena pandemia!

O caso do ex-juiz Wilson Witzel é um exemplo bem claro e explícito. Chegou cheio de moral, batendo continência para todo lado, como um sinal a disfarçar suas intenções para a turma da geral. Assumiu a governadoria do Rio como se fosse dar um ponto final a toda uma tradição de roubos, assaltos aos bens públicos pertencentes à população. Parecia por fim à “garotinhos”, “pezões”, “cabrais” e afins. Mas ficou claro que não. Ele não somente não rompeu com esta tradicional roubalheira geral como afundou ainda mais o pé na jaca, e bem em meio a uma pandemia! Contornos de perversidade foram acrescidos a tais práticas marginais promovidas pelos próprios poderes públicos. De juízes assim o inferno tá cheio!

Outro caso, a que gerou a "Operação Faroeste" da Polícia Federal na Bahia, a partir do Ministério Público Federal, mostrou o quanto desembargadoras, juízes e advogados, incluindo delegada e o próprio Secretário de Segurança Pública da Bahia, estes como suspeitos, estavam envolvidos em grilagem de terras no oeste da Bahia a serviço de interesses privados. Eu fico imaginando. Pessoas que não precisam de dinheiro para ter uma vida confortável se envolvem nessas tramamóias. Mas quando um pobre coitado se envolve no tráfico de drogas, muitas vezes para sobreviver - pois quem ganha com o tráfico de drogas são brancos bem posicionados nas altas classes sociais - a polícia invade seu terrítório com a autorização para matar. Sou a favor do tráfico de drogas? Não. Sou a favor da justiça. Matem também desembargadores e desembargadoras, juízes/as, advogados/as envolvidas com crimes; invadam condomínios de luxo e coberturas de edifícios de bairros nobres e aí a balança será equilibrada. 

O homicídio culposo é quando o réu não tem intenção de matar. Mas roubar o estado, a prefeitura, a Câmara de Vereadores, em plena pandemia causada pela Covid-19, desviando recursos escassos do sistema de saúde é, sem dúvida, homicídio doloso, pois estes atos causaram muitas mortes desnecessárias na população. Eles sabiam que isto iria acontecer. Eles só queriam roubar, enriquecer mulheres, filhos e filhas, a fim de fortalecer suas “famílias” neste território que mais se parece um faroeste, no qual o mais rápido no assalto e nas articulações entre bandidos, formando quadrilhas no poder, é quem permanece vivo na cena política, sem direito a mocinhos. Um faroeste só de bandidos que usam estrelas no peito, como se fossem xerifes. Um “Faroeste Caboclo” sem direito a “Santo Cristo”.

Dos generais que assumiram o poder neste governo genocida do Bolsonaro, o pouco que tive acesso quando eles falam em público, denota que são homens bem limitados cognitivamente. Nada os diferencia dos velhos políticos que ocupam o poder de Estado a serviço de si próprios. Uns chegam a ser patéticos! Outros demonstram claramente seu racismo, sua subserviência a determinações que conduzem a população brasileira à morte. Por eles, a ideia que tenho é de que a elite da força militar de nosso país não consegue selecionar os melhores. Pobre das Agulhas Negras! Imaginava que um general era alguém que se destacava entre os militares em inteligência, bom senso, capacidade de tomar decisões rápidas e estrategicamente eficientes em contextos de tensão e de ameaça. Mas a tomar Mourão, Augusto Heleno e Pazuello como exemplos, percebo que uma força inimiga não teria muita dificuldade em tomar este país de assalto. Só posso deduzir que tais indivíduos chegaram a ocupar tais postos por práticas de puxa-saquismo, lambendo botas de superiores para obterem simpatia e irem galgando posições nas forças armadas brasileiras, repetindo assim toda uma tradição patrimonialista – o amigo, o parente – que deformou este país desde que os portuga aqui chegaram com suas capitanias hereditárias.  

Esperávamos que os generais fossem generais, honrando a disciplina, a defesa dos interesses nacionais e adotando as estratégias mais eficientes e eficazes para combater a Covid-19 que já ceifou mais de 200.000 vidas em nosso território. Esperávamos que esses homens zelassem pela sua postura, pelos ideais mais amplos que orientam homens e mulheres de farda. Mas não. Nada os diferencia das velhas raposas da política brasileira. O general Pazuello é uma piada de mau gosto! Um boneco vazio de alma, manipulado pelas determinações do Genocida a quem serve. Um idiota útil para serviços sujos. E isso termina contaminando as próprias forças armadas. Excetuando-se o General Santos Cruz, que tem postura de militar comprometido com seu país, entre outros poucos que já foram afastados e se afastaram desse desgoverno criminoso.

Juízes envolvidos em desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia, generais sabotando o combate à covid-19, ministro da economia aumentando impostos sobre os cilindros de oxigênio, são exemplos de como os privilegiados desse país se articulam numa grande rede para eliminar sua população com reformas previdenciárias, práticas incendiárias, perseguições a dissidentes, mentiras e desinformações distribuídas pelos porões das redes sociais, torturando a verdade, e agora a asfixia da população de Manaus pela negligência dos poderes estatais, sob a liderança de Jair Messias Bolsonaro, denota o quanto os militares deste país se tornaram tal qual ou até piores que os políticos tradicionais.

Isso tudo demonstra também como o povo brasileiro, que verdadeiramente carrega esse país nas costas, sustenta uma casta de juízes/a, desembargadores/as, militares, políticos e empresários que posam de competentes, de mais eficientes e trabalhadores/as, mas não passam de uns bostéticos ostentando “autoridade”. São pessoas acostumadas a privilégios, que nunca vão sentir o sol pesando sobre seus ombros em trabalhos duros, pois sempre foram servidas e bajuladas pelos serviçais que os cercam. São pessoas que nunca foram questionadas profundamente sobre o seu papel no desenvolvimento da sociedade brasileira. O racismo entranhado no aparelho de Estado é um dos vetores que sustentam a reprodução dessa gentalha que nunca foi a uma guerra mas tem o peito cheio de estrelas por “bravuras” imaginárias. Eu tenho nojo dessa gentalha e me envergonho profundamente de dizer que sou brasileiro quando o que temos de comparação é essa pseudo elite que nos governa e nos enterra a cada ano com suas reformas assassinas.

 

Joselito Manoel de Jesus, Professor

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

A SAÍDA DA FORD É UM SINAL IMPORTANTE: NÃO É SÓ A ECONOMIA ESTÚPIDO!

A saída da montadora Ford de nosso país gerou uma série de reações de amplos setores nacionais, tanto de representações políticas, quanto de representantes da economia, de sindicatos e do empresariado baiano. Todos concordam que as consequências são desastrosas para a economia brasileira e, de modo particular, a baiana. Mas tem solução.

Segundo o governador Rui Costa – em matéria de Rodrigo Aguiar, jornal A Tarde, quarta-feira, 13/01/2021, p. B3 – o maior prejuízo não será na arrecadação, pois esta vem caindo desde 2018, saindo de R$ 200 milhões para R$ 150 milhões em 2019 e R$ 100 milhões este ano. Costa afirma que o prejuízo maior será na ausência do conjunto dos salários pagos aos seus funcionários pela Ford, que era de R$ 500 milhões, dinheiro que deixa de circular em Camaçari e em toda a Região Metropolitana. Segundo o governador atual da Bahia o “efeito cascata” ainda traz mais prejuízos, pois trabalhadores domésticos, vendedores autônomos, pequeno comércio como mercadinhos, padarias, barbearias, entre outras, sofre os desdobramentos desta saída nada à francesa.

O prefeito de Salvador, Bruno Reis, também na página B3 do jornal A Tarde, espera que os governos mobilizem suas energias para construir alternativas. Ele lamentou a saída da empresa automobilística norte americana e afirmou que a prefeitura faz o que pode para combater o desemprego, embora, com razão, não tenha competência para atuar no nível macroeconômico. Para Núbia Cristina, da editoria da Auto Brasil, também do jornal A Tarde, A Tarde Autos, 13/01/2021, p. 2, o impacto negativo, será da perda de 7.216 empregos e da queda na arrecadação no município de Camaçari de R$ 150 milhões. informa sobre o esforço do governador Rui Costa em procurar alternativas no mercado asiático – China, Japão e Coréia do Sul – para implantar uma nova indústria automotiva, já que temos a maior planta industrial automotiva da América Latina, como pontuou o governador da Bahia.

 Possibilidades Outras

 Segundo Núbia Cristina, “[...] está na hora de apostar em projetos sustentáveis [eletrificação automobilística], e deixar de lado fabricantes tradicionais, ávidos por incentivos fiscais. Ainda segundo ela, o avanço rápido dos veículos elétricos é um sinal para que a Bahia planeje a reocupação da planta industrial recém abandonada pela Ford. Ela propõe que:

A Bahia precisa fazer alianças com empresas focadas na preservação ambiental, na sustentabilidade econômica dos negócios e no desenvolvimento da comunidade onde estão instaladas, comprometidas com o progresso da cidade, do estado e do país. (CRISTINA, 2021, p.2)

De fato, os veículos elétricos é a tendência e não há como parar isso. Não é futuro: é presente e se fará cada vez mais presente nas ruas do mundo inteiro. Mas como o governo baiano está desesperado para mostrar resultados, tendo em vista a eleição para governador que se aproxima, com a forte candidatura de ACM Neto já posta no jogo, talvez a solução seja menos racional e mais política.  

O vice-presidente da Associação Comercial da Bahia (ACB), Paulo Cavalcanti, também se pronunciou e apresentou uma questão que me pareceu também interessante: [...] o porquê de não termos tecnologia nacional para substituir esses espaços. (CAVALCANTI,ACB em Foco, p.B3). Segundo ele:

Temos visto notícias de que os governantes brasileiros estão buscando a indústria automobilística chinesa para substituir a Ford. Onde está a indústria brasileira? Precisamos ter a consciência de que somente com investimentos em tecnologia e educação garantiremos a sustentabilidade para o futuro dos nossos filhos e netos [filhas e netas também, acrescento eu].

Cavalcanti chama a atenção para o desenvolvimento de uma tecnologia com know how brasileiro - o que me lembrou a pioneira Gurgel - aproveitando as necessidades geradas pela saída da Ford. E, para mim, o que ele apresenta de mais interessante é a educação, aliada, evidentemente à tecnologia. É preciso preparar o ser humano brasileiro para os desafios que se apresentam no presente e no futuro. E é somente educadores e educadoras bem preparadas, com salários dignos, com supervisão e avaliação sistemática de suas práticas educativas que poderemos formar esse ser humano, com as capacidades técnicas, políticas e humanas, atualizando suas potencialidades na produção de um parque produtivo diversificado e eficiente, com incorporação de técnicas, métodos, tecnologias e sistemas organizacionais que operem isso tudo numa dinâmica permanente. É mais fácil desenvolver novas tecnologias do que preparar o ser humano que vai operacionalizá-las em um contexto de grupo. Educar demora mais. E por isso mesmo, os/as educadores/as têm de ser educados/as desde já, numa nova proposta que incorpore esses desafios hodiernos, com a reorganização do sistema educacional baiano.

A experiência dos/as trabalhadores/as demitidos/as da Ford na Bahia, a existência da planta do parque industrial e a infraestrutura existente são pontos a favor. Mas é preciso avançar no sentido de desenvolvermos tecnologias próprias, seguirmos o exemplo dos chineses, japoneses e coreanos e não apenas esperarmos, dependentes, a boa vontade de empresas estrangeiras para produzir bens e serviços aqui em nosso país, mas atuarmos para desenvolvermos nossas capacidades produtivas, o que exige uma autoavaliação do governo baiano sobre o tratamento que dá ao seu sistema educacional, sem propostas factíveis de mudanças que correspondam às exigências contemporâneas. Não se trata apenas de economia, se trata de planejamento estratégico, educação, justiça social, respeito aos educadores e às educadoras e proposições claras de desafios honestos para que todos/as nós nos sintamos baianos/as, criando com tudo o que nosso tabuleiro tem e venha a ter.

Joselito Manoel de Jesus, Professor. Da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Com o apoio de:

 AGUIAR, Rodrigo. Governo faz reunião de grupo de trabalho para discutir solução pós-Ford. A Tarde, Salvador, ano 109, n. 37.153, 13/01/2021. Economia & Negócios, p.B3.

CAVALCANTI, Paulo. A Ford e as reformas do estado brasileiro: o que falta para começarmos a nos mobilizar? A Tarde, Salvador, ano 109, n.37.153, 13/01/2021. Coluna ACB em foco, p.B3.

CRISTINA, Núbia. É hora de atrair fabricantes de veículos sustentáveis. A Tarde, Salvador, ano 109, n.37.153, 13/01/2021. A Tarde Autos, Coluna Auto Brasil, p.2.

VALVERDE, Fernando. Bruno lamenta fechamento de fábrica. A Tarde, Salvador, ano 109, n. 37.153, 13/01/2021. Economia & Negócios, p.B3.