A saída da montadora Ford de nosso país gerou
uma série de reações de amplos setores nacionais, tanto de representações políticas,
quanto de representantes da economia, de sindicatos e do empresariado baiano. Todos
concordam que as consequências são desastrosas para a economia brasileira e, de
modo particular, a baiana. Mas tem solução.
Segundo o governador Rui Costa – em matéria de
Rodrigo Aguiar, jornal A Tarde, quarta-feira, 13/01/2021, p. B3 – o
maior prejuízo não será na arrecadação, pois esta vem caindo desde 2018, saindo
de R$ 200 milhões para R$ 150 milhões em 2019 e R$ 100 milhões este ano. Costa
afirma que o prejuízo maior será na ausência do conjunto dos salários pagos aos seus funcionários pela Ford, que era de
R$ 500 milhões, dinheiro que deixa de circular em Camaçari e em toda a Região
Metropolitana. Segundo o governador atual da Bahia o “efeito cascata” ainda
traz mais prejuízos, pois trabalhadores domésticos, vendedores autônomos,
pequeno comércio como mercadinhos, padarias, barbearias, entre outras, sofre os
desdobramentos desta saída nada à francesa.
O prefeito de Salvador, Bruno Reis, também na
página B3
do
jornal A Tarde, espera que os governos mobilizem
suas energias para construir alternativas. Ele lamentou a saída da empresa
automobilística norte americana e afirmou que a prefeitura faz o que pode para
combater o desemprego, embora, com razão, não tenha competência para atuar no
nível macroeconômico. Para Núbia Cristina, da editoria da Auto Brasil,
também do jornal A Tarde, A Tarde Autos, 13/01/2021, p. 2, o impacto negativo,
será da perda de 7.216 empregos e da queda na arrecadação no município de
Camaçari de R$ 150 milhões. informa sobre o esforço do governador Rui Costa em
procurar alternativas no mercado asiático – China, Japão e Coréia do Sul – para
implantar uma nova indústria automotiva, já que temos a maior planta industrial
automotiva da América Latina, como pontuou o governador da Bahia.
A Bahia precisa fazer alianças com empresas
focadas na preservação ambiental, na sustentabilidade econômica dos negócios e
no desenvolvimento da comunidade onde estão instaladas, comprometidas com o progresso
da cidade, do estado e do país. (CRISTINA, 2021, p.2)
De
fato, os veículos elétricos é a tendência e não há como parar isso. Não é
futuro: é presente e se fará cada vez mais presente nas ruas do mundo inteiro.
Mas como o governo baiano está desesperado para mostrar resultados, tendo em
vista a eleição para governador que se aproxima, com a forte candidatura de
ACM Neto já posta no jogo, talvez a solução seja menos racional e mais
política.
O vice-presidente da Associação Comercial da
Bahia (ACB), Paulo Cavalcanti, também se pronunciou e apresentou uma questão
que me pareceu também interessante: [...] o porquê de não termos tecnologia nacional
para substituir esses espaços. (CAVALCANTI,ACB em Foco, p.B3). Segundo
ele:
Temos visto notícias de que os
governantes brasileiros estão buscando a indústria automobilística chinesa para
substituir a Ford. Onde está a indústria brasileira? Precisamos ter a
consciência de que somente com investimentos em tecnologia e educação
garantiremos a sustentabilidade para o futuro dos nossos filhos e netos [filhas
e netas também, acrescento eu].
Cavalcanti
chama a atenção para o desenvolvimento de uma tecnologia com know how
brasileiro - o que me lembrou a pioneira Gurgel - aproveitando as necessidades geradas pela saída da Ford. E, para
mim, o que ele apresenta de mais interessante é a educação, aliada, evidentemente
à tecnologia. É preciso preparar o ser humano brasileiro para os desafios que
se apresentam no presente e no futuro. E é somente educadores e educadoras bem preparadas,
com salários dignos, com supervisão e avaliação sistemática de suas práticas
educativas que poderemos formar esse ser humano, com as capacidades técnicas,
políticas e humanas, atualizando suas potencialidades na produção de um parque
produtivo diversificado e eficiente, com incorporação de técnicas, métodos,
tecnologias e sistemas organizacionais que operem isso tudo numa dinâmica
permanente. É mais fácil desenvolver novas tecnologias do que preparar o ser
humano que vai operacionalizá-las em um contexto de grupo. Educar demora mais. E por isso mesmo, os/as educadores/as têm de ser educados/as desde já, numa nova proposta que incorpore esses desafios hodiernos, com a reorganização do sistema educacional baiano.
A experiência dos/as trabalhadores/as demitidos/as da Ford na Bahia, a existência da planta do parque industrial e a infraestrutura existente são pontos a favor. Mas é preciso avançar no sentido de desenvolvermos tecnologias próprias, seguirmos o exemplo dos chineses, japoneses e coreanos e não apenas esperarmos, dependentes, a boa vontade de empresas estrangeiras para produzir bens e serviços aqui em nosso país, mas atuarmos para desenvolvermos nossas capacidades produtivas, o que exige uma autoavaliação do governo baiano sobre o tratamento que dá ao seu sistema educacional, sem propostas factíveis de mudanças que correspondam às exigências contemporâneas. Não se trata apenas de economia, se trata de planejamento estratégico, educação, justiça social, respeito aos educadores e às educadoras e proposições claras de desafios honestos para que todos/as nós nos sintamos baianos/as, criando com tudo o que nosso tabuleiro tem e venha a ter.
Joselito Manoel de Jesus, Professor. Da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
Com
o apoio de:
CAVALCANTI,
Paulo. A Ford e as reformas do estado brasileiro: o que falta para começarmos
a nos mobilizar? A Tarde, Salvador, ano 109, n.37.153, 13/01/2021. Coluna ACB
em foco, p.B3.
CRISTINA, Núbia. É hora de atrair fabricantes de veículos sustentáveis. A Tarde, Salvador, ano 109, n.37.153, 13/01/2021. A Tarde Autos, Coluna Auto Brasil, p.2.
VALVERDE,
Fernando. Bruno lamenta fechamento de fábrica. A Tarde, Salvador, ano
109, n. 37.153, 13/01/2021. Economia & Negócios, p.B3.
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