Tenho amigos/as velhos/as. E não me arrependo
dos/as amigos/as que foram ficando comigo durante tanto tempo. Haja paciência!
Elas e eles aguentaram todas as bobagens do tempo de bobagens que eu fui sendo desse
jeito. E o pior: esse tempo de vez em quando atravessa esse tempo de agora.
Mas, de qualquer forma, eu pressinto que elas e eles gostam, em parte, das “aliotrias”
do Litinho. Não citarei nomes, porque senão posso estar cometendo uma injustiça
enorme. Gosto de todas e de todos. Até algumas pessoas que não gostam de mim,
devem ter suas razões, também gosto delas, mas claro, não todas. Percebo cada um/a
em sua singularidade insubstituível e, também, identifico suas tolices ingênuas
em momentos em que elas e eles se desarmam frente a mim, porque sabem que
podem, porque sabem que serão acolhidos/as em meu ser. A idade nos ensina que
julgar os/as outros/as não pertence a nós, iguais nas fraquezas que nos
dominam.
Somos tão frágeis! E eu me rio quando vejo
alguém se achar superior aos demais. É triste e, ao mesmo tempo, engraçado.
Algumas vezes é doloroso. Aquele “sentimento oceânico”, do qual nos falava
Freud, pode ser tão enganoso. Alguns/mas não aceitam Deus e se sentem deuses/as
num “Olimpo” reservado para a glória peculiar que os caracteriza. E, nessa
percepção de loucura hitleriana, pensam poder julgar os/as demais como
inferiores, como frágeis, como insensatos, como “raças inferiores”. E o pior:
não se reconhecem como tais. Acreditam que os/as outros/as são culpados e responsáveis
do mundo estar assim, degradado. E outro pior: não conseguem ver a degradação em si mesmos/as; não conseguem ver na degradação
a esperança que o mundo sanciona em ações que a mídia teima em não publicar. Há
muita coisa boa no mundo. Existem muitas ações de bondade e fraternidade no
planeta. Assim como há muitas mortes, traições, frouxidões e enganos, há também
muita solidariedade, atos de coragem, exercício da força a serviço dos/as
fracos/as. Há muitas ações emocionantes de amor em nossa existência, e é
preciso apresentá-las ao mundo como um ato de rebeldia angelical contra a arte
demoníaca de enganar os/as viajantes do nosso tempo histórico. Deus existe! E
Deus está Vivo!
Eu sou um cara difícil. E não aceito
amigos/as novos/as assim tão fácil, embora eu seja fácil no início de toda
relação. E, nessa minha facilidade, eu observo quem se aproxima. Observo e anoto
em minha memória olhares, bocejos, inclinações que a boca faz, distrações que a
palavra faz, rumo à distância – ou à proximidade – entre nós. E eu vejo tudo. Tudo
o que eu preciso ver. Já rejeitei algumas pessoas que ficavam próximas à mim
como uma doença. Como um câncer, querendo tomar conta de meu ser. Comecei a
perceber que a proximidade delas me fazia mal. Comecei a identificar mais
profundamente a avaliação que faziam de mim, sempre tendendo à rejeição, ao
pré-julgamento sem piedade, sem levar em conta minhas potencialidades e minhas
virtudes. E fui observando-as. Fui percebendo a direção que elas tomavam, como
se eu precisasse delas. Recebi em minha casa com alegria essas pessoas, embora
percebesse um mal-estar, como se a casa não fosse minha, ou pior, como se a
casa não devesse ser minha. E entraram com seu mal-estar, causando-me um mal-ficar.
Um mal que não dá para medir, um mal que não dá para mostrar, mas um mal que dá
para sentir. Então decidi afastar esse mal da minha casa, da minha vida. E
decidi ser ignorante. E espero nunca mais cruzar com um mal assim. Talvez muita
gente não me entenda. Mas não é preciso. Quem percebe o mal presente, sabe a
que estou me referindo. As vezes o mal ri pra você, pra poder se aproximar. Só
que o mal não entende o nosso poder de reação.
E aí os/as amigos/as novos/as chegam em nosso
destino. Será que mudarão o meu rumo? O Quanto? Para onde? Para quem? Quando?
Não saber também é sabedoria. E os/as novos/as poderão ser boas novas. Sim. A idade
vai passando e a gente vai ficando mais paciente, mais observador, mais
tranquilo, menos ansioso. A gente começa a nadar a favor da corrente. A gente
antes disso, começa a identificar o sentido da corrente da vida. E vamos nos
deixando ir na mesma direção. Não é fácil saber isso. Não. É preciso um caminho
longo, “se eu quiser falar com Deus” (Gilberto Gil). “Se eu quiser falar com
Deus” tenho de seguir a corrente da Vida. E, nessa, os/as amigos/as novos/as
vão nadando conosco, com alegria e gosto. As vezes erramos a direção, mas reconhecemos isso, e retomamos o caminho do Rio da Vida. E, nesse, os/as amigos/as velhos/as
já estão a braços abertos sorrindo a felicidade de estar nessa corrente
coerente com a vida em abundância. Todos/as dando braçadas animadas na direção
de Deus. E eu, em meio a eles/as, vou nadando abraçado com aquela energia
potente que as amigas e os amigos vão gerando comigo, com todos, com o mundo.
Amigos/as que vão se dando através dos olhares,
das palavras, dos abraços que vão se demorando de vez em quando quando, vez e
outra, há indícios de verdadeiro afeto que se afeta comumente. E esses/as
amigos/as vão se juntando nesse rio-mundo que, rumo ao oceano, vamos contentes
compartilhando as margens que se oferecem às nossas preces, a Deus que nos oferece
a sua justiça e o seu amor; a Deus que nos aparece na Vida em plenitude e
abundância que nos reexiste alegremente na comunhão que a amizade nos
possibilita. À Deus, a minha vida com os/as amigos/as.
Joselito da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, do
Rafael de Tantas Gentes Amigas e de Jesus, O Emanuel
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