Hoje,
enquanto enchia a vasilha de água com limão me descuidei e a água terminou
transbordando e caindo armário adentro (Ana vai retar – mas já enxuguei). Ai já
estava preparado para dar o meu sonoro e repetitivo palavrão, aprendido durante
anos de escuta. Mas eis que outro sentimento me atravessou naquele instante.
Veio uma memória de longe que muito me marcou (eu ainda era uma criança). Um discípulo estava com seu mestre, um monge tibetano, e os dois estavam ali em
silêncio, sobre aquelas majestosas montanhas. O mestre se ofereceu para servir
o discípulo (que lindo) e começou a despejar chá na xícara deste último. Mas o mestre
foi despejando chá, enquanto a xícara encheu e transbordou, e seu líquido foi se
derramando pela mesa até cair e escorrer pelo chão.
O
discípulo, percebendo o acontecimento, alertou constrangido ao mestre sobre sua
desatenção. Mas o monge, com aquela serenidade intocável, barrou aquela energia
precipitada do discípulo. Com seu olhar calmo, descansou o bule sobre a mesa e
disse-lhe algo como para que não se desesperasse com o transbordamento do chá
na xícara. Que a aparente distração dele significaria a abundância que ocorre
em nossa vida.
Eu
nunca esqueci esta cena! E, novamente, ela veio de volta num momento em que
estava pronto para soltar mais uma imprecação por uma bobagem, que pode
significar o transbordamento da vida. Não da minha, pois a minha vida já
transborda. Mas também a vida de todos e de todas! E então, pensei num poema
humilde para expressar isso. Expressar. Expressar. Eu preciso expressar!
Que
a minha vida transborde
Que da
minha existência escorra a seiva da vida,
Para
que do meu amor haja mais amor
Para
que da minha esperança haja muito mais esperança
Para
que da minha compaixão, haja muito mais compaixão
Para
que da minha tolice haja mais sabedoria
Para
que da minha inteligência haja mais inteligência
Para
que da minha sensibilidade haja mais sensibilidade
Para
que da minha dor haja mais alegria
Para
que da minha escrita haja no mundo mais poesia.
E nada
mais de palavrão por bobagem.
Joselito
da Nair, do Zé, do Rafael, da Ana Lúcia, de Tantas Gentes, do Monge Tibetano e
de Jesus, O Emanuel (O Conosco que fala todas as línguas, inclusive a cinematográfica).
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