Enquanto
Rosseau reclamava por uma democracia direta, uma corrente do pensamento liberal, ao contrário, os Pluralistas, afirmavam que é pela racionalidade das elites que o Estado deve
ser dirigido, ou seja, as decisões políticas devem ser tomadas por pessoas mais
bem preparadas intelectualmente que compõem a elite de nosso povo. Neste caso,
a escola é a agência que tem a função de preparar essas elites para o exercício
do domínio político. O povo tem o papel de eleger esses políticos que,
defendendo seus programas, vai representá-los no Estado. Assim, segundo os
pluralistas, se dá um equilíbrio entre as demandas sociais e as políticas
públicas implementadas pelo Estado. Romântico e perverso. É o que acontece com
este Conselho, a novidade que nos convida à reflexão crítica e a ações
decorrentes dessa reflexão.
A Mocinha, Papai Rui e os (as)
Professores (as)
"Romântico"
porque ideologicamente falso. Esta forma de representação consiste em
concentrar aqueles e aquelas que concordam com os princípios gerais, com raras
exceções, a dirigir as políticas públicas de modo que o consenso seja obtido
retirando do processo o conflito, a contradição, resultando num consenso fácil
e, por ser fácil, perverso e excludente. A plenária atrapalharia o desenlace
trágico-romântico entre o (a) professor (a) que deseja a universidade
funcionando a todo vapor, para amá-la e respeitá-la, principalmente na penúria,
e o governo que a deseja extinguir, em parte ou integralmente, afinal, como
afirmou a senadora Lídice da Mata, "ela é um peso para o estado". O
estado quer se livrar de sua filha, que ficou jovem, exigindo maior consumo de
calorias, entregando-a à União ou à iniciativa privada, deixando seus/suas
professores (as) morrendo de amores. A tecnocracia dos pluralistas seria a
saída criada para aumentar a musculatura do seu amor e reduzir o seu tamanho,
sinalizando para o sizudo "papai Rui" o quanto a universidade ainda é
uma moça produtiva, que vai passar no vestibular e lhe dará netinhos (as), que
serão nutridos com a pesquisa crescente na instituição. A Mocinha institucional
tem de criar e fortalecer programas de pós-graduação stricto sensu mas
encontra dificuldades por todos os lados, inclusive na graduação e na relação
entre ambas.
Contudo,
o que a tecnocracia não questiona são as atitudes de "papai Rui", que
quer expulsar sua filha de casa, jogando-a, já que estou numa veia novelística,
"ao vento", através da asfixia financeira que impõe. Então, a
tecnocracia surge como um sintoma desse mal-estar, jogando ao vento seus
professores, por critérios de eficiência, localização geográfica e
deslocamento. Outro sintoma da Uneb, essa moça rebelde que se debate com pouco
dinheiro - nem pode mais sair para apresentar seus trabalhos - e muitas
exigências, é a concentração de poder, como forma de legitimar pela via legal,
suas decisões.
A
Mocinha, muito sabida que é, além de legitimar sua política de exclusão pela
via legal também atua na via ideológica, e aí entra a perversidade.
Perversidade porque a exclusão se torna o desdobramento principal de um eixo
tecnocrático, atropelando a história desta instituição e apontando para a
promoção de desigualdades no acesso à informação - e aqui começa a grande
separação e exclusão -, às instâncias de poder - quem pode me representar
agora? Quem vai definir e encaminhar a pauta? -, aos escassos recursos
disponíveis. Perversidade porque se nega a própria história da instituição e se
desconhece o que foi feito até então, que está registrada nas atas de reuniões
dos colegiados e das plenárias departamentais, ameaçadas de extinção, e na
memória de cada um (a). E aí o sentido de competência esconde a noção de
exclusão. Nos não ditos - por isso que sou apaixonado pela Análise do Discurso
e pelas contribuições de Foucault na Ordem do Discurso - há ditos que podem ser
mapeados por fragmentos que falam na incompletude da linguagem:
·
Há um
grupo na Uneb que se destaca pela competência e que pretende implantar um novo
modelo de universidade, contrapondo-se a "práticas viciadas" que nos
afastam da produção acadêmica;
·
Esse grupo
está sendo atrapalhado por aqueles (as) que pretendem preservar seus
privilégios e, com isso promovem o "atraso"; [está no discurso de
alguns (mas) alunos (as) no facebook]. Sabemos que o discurso não surge do
nada. Há um contexto de produção do
discurso, e sujeitos discursivos que
o engendram e atualizam em sentidos que produzem efeitos de verdade;
·
há
caminhos no Regimento Interno da Instituição que pode favorecer a competência
em detrimento do "atraso";
·
parcela
significativa dos (as) professores (as) que promovem o "atraso" mora fora das cidades onde os Departamentos existem e, por isso, o corte das
passagens será o impulso que faltava para fixar o (a) professor (a) nos campi,
reduzir os custos e aumentar a eficiência.
E a
Mocinha sabe que, se este discurso pegar, a verdade está dita. E, retomando
Jürgen Habermas, a lógica prevalecerá perante a negociação e a construção do
consenso em outras bases, com a plenária presente, ficará no passado de nossa
instituição. E aqui recupero o conceito de práxis, tão necessário a esta
hora alta da Uneb. Nossas reuniões vão exigir um envolvimento maior de todos
(as). Reflexões sobre nosso direito de também criar essa Mocinha, por ações
dirigidas por avaliações sistemáticas, visando a transformação dessa Mocinha
numa nova mulher, lutando pelos sentidos da competência, da eficiência, da
eficácia, da produção intelectual no seio farto e belo dessa Mocinha que
desperta o nosso interesse, seja pra decifrá-la, seja para devorá-la.
Aquelas
funções psicológicas superiores, que só os seres humanos têm, tais como:
atenção voluntária, memória, percepção, linguagem, têm de estar em alerta. Atenção aos
movimentos dados em direção à Mocinha, Memória de atos, discursos, leis,
acontecimentos associados e decisões anteriores que podem nos auxiliar – o que
nosso colega Abrão faz tão bem nas reuniões do sindicato – percepção dos fatos,
temas e problemas que nos interessam na criação da Mocinha e elaboração de discursos
que recuperem sentidos que fortaleçam a Mocinha e seus atores, para nos confrontarmos
com seus interlocutores.
Assim,
cantarei, como Simone, a universidade feminina que brota em flor, com seus
espinhos.
Que
venha essa nova mulher de dentro de mim
Com
olhos felinos e mão de cetim
E
venha sem medo das sombras, que rondavam o meu coração
E
ponha nos sonhos dos homens
A
sede voraz, da paixão
Que
venha de dentro de mim, ou de onde vier
Com
toda malícia e segredos que eu não souber
Que
tenha o cio das corsas e lute com todas as forças.
Conquista
o direito de ser uma nova mulher
Livre,
livre para o amor... Quero ser assim, quero ser assim.
Joselito da Nair, do Zé, do
Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
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