O mais recente crime ambiental ocorrido em
Minas Gerais é a expressão mais clara de como o capital submete a natureza e a
vida aos seus propósitos desenfreados de acumulação, fazendo cada vez mais
ricos os ricos americanos, europeus, sejam lá quem forem seus investidores
principais. O capital, ao contrário do que pensei anteriormente, administra
muito bem a sua enorme onda de lama. Aqui, e em todo lugar do mundo. Aonde ele
chega produz fome, exclusão, guerras e mortes! Mata anciãos, crianças,
mulheres, indígenas, negros, pobres e demais indesejáveis. Mas, paga muito bem
para que seus efeitos maléficos sejam ocultados embaixo do mar de lama que ele
mesmo produz.
· O
Capital compra e paga a mídia muito bem para ela dar a notícia errada. O que é
crime, transforma-se em “desastre”, “fatalidade”; A mídia sabe muito bem
produzir silenciamentos com outras “distrações”, tais como campeonatos com seus
golaços, novelas e seus embaraços, escândalos pessoais, guerras internacionais,
propagandas geniais que ela cria para que a sociedade esqueça o crime doloso, e
volte, como os pássaros, os gnus, os búfalos africanos, a continuar sobrevivendo
como se a ordem natural da lama encobrisse todas as dores que continuam a latejar-se
em gritos e clamores por justiça.
·
O
Capital compra e paga juízes, promotores públicos, policiais, funcionários
públicos, para que as investigações parem em determinado ponto do rio e nunca desaguem
no mar que os implicaria definitivamente com o crime da acumulação sem freios,
sem ética, sem dó.
·
O Capital
compra e paga seus/suas deputados/as no Congresso Nacional e na Assembleia
Legislativa de Minas e de todos os estados aonde têm interesse, para que esses/as
deputados/as defendam esses interesses. Esses/as deputados/as são tão
assassinos quanto os demais.
Para além de ser uma quadrilha, as
grandes mineradoras constituem uma rede criminosa que tem na lama seu mais
forte símbolo de extermínio. Há “rejeitos” por toda parte: rejeitos no sistema
judiciário; rejeitos na Câmara e no Senado Federal; rejeitos na Rede Globo, na
Record, no SBT e na Bandeirantes; rejeitos nos principais jornais escritos do
país e nas emissoras de rádio; rejeitos na internet que jogam ainda mais lama
sobre a verdade que afundou sob tantos “rejeitos”, do Capital sem jeito.
A Guerra do Vietnã foi um desses
rejeitos. A divisão da Coréia em Norte e Sul; de Berlim em Ocidental e Oriental;
a bomba de Hiroshima; a situação deprimente da Venezuela; a imensa
miserabilidade na Nicarágua, Honduras, Congo, Etiópia, entre outros, são
rejeitos produzidos pelo Capital. A riqueza da Inglaterra, dos Estados Unidos,
da França, e de outros países considerados bem sucedidos sob a égide do Capital,
nada mais é que resultado da exploração do ouro, pedras preciosas, petróleo e
demais riquezas naturais dos países explorados. A escravidão foi um desses
mecanismos de acumulação de um capital maldito, que deveria devolver aos descendentes
dos holocaustos e dos mares de lama, o trabalho não pago, o ouro e as demais riquezas
minerais surrupiadas pelo colonialismo perverso que naturalizou a morte como
efeito colateral esperado do acúmulo ganancioso de riquezas que não lhes pertencem.
Disse [o patrão], e fitou o operário
que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
o patrão nunca veria.
O operário via as casas
e dentro das estruturas
via coisas, objetos
produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
o lucro do seu patrão
e em cada coisa que via
misteriosamente havia
a marca de sua mão.
E o operário disse: Não!
- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.
(Vinícius de Morares)
Enquanto o operário não perceber que o
que ele produz é dele e é de todos/as, jamais saberá o valor do seu trabalho.
Quem sabe muito bem o valor do trabalho é o Capital. É este último que acumula
riquezas com o trabalho alheio, e o abandona sob a lama de uma aposentadoria
duvidosa, de um sistema de saúde precário, de sistema de segurança que protege
o capital e trata o cidadão como suspeito permanente que, submetido ao peso de
tantos escombros, sucumbe antes mesmo de receber sua aposentadoria de fome.
Mas o verdadeiro criminoso é o Capital,
que transforma o roubo – mais-valia – em transação legal aprovada por um Estado,
igualmente criminoso, que chancela e legaliza o mar de lama que nos sufoca a
existência, nos submetendo a residir por toda a história, nesse “vale de lágrimas”
e, sobretudo, de lama.
E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.
Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
(Vinícius de Moraes)
Joselito Manoel de Jesus, professor