Disse um mestre do Espírito: «Se eu falto ao
amor ou se falto à justiça, afasto-me infalívelmente de Vós, ó meu Deus, e o
meu culto não é mais que idolatria. Para crer em vós, preciso crer no amor e
crer na justiça e vale muito mais crer nesta coisas que pronunciar o Vosso
Nome. Fora do amor e da justiça é impossível que eu alguma vez Vos possa
encontrar. Mas aqueles que tomam o amor e a justiça por guia estão no caminho
verdadeiro que os conduzirá até vós».
Acabei de assistir Elysium, com
Matt Damon, Alice Braga, Jodie Foster e Wagner Moura. Neste filme a morte do
herói é o grande tema da narrativa. A morte do herói. Por que o herói sempre tem
de morrer? Por que? Não que deseje o mesmo happy
end de sempre, mas a questão da morte do herói me leva a pensar. Essa morte
especial vem de longe. Suas façanhas são contadas por outros (as), não por ele
mesmo, ou ela mesma, o herói, a heroína. Talvez esse fim seja o sentido da
salvação humana. O herói dá a vida pela salvação de muitos, senão de todos (as).
Talvez para que os que foram salvos possam saber que suas vidas pequenas e
medíocres possam ser justificadas por um ato tão sublime, tornando-se
importantes em sua continuidade.
Se um herói, ou uma heroína, deu
a vida por nós, essa vida deve valer alguma coisa, no mínimo. Coletivamente ou
individualmente. Talvez por isso muitos de nós nos achemos “especiais”. E, por
assim nos achar, procuramos, egoístas e mesquinhos, “usufruir” da vida que nos
foi permitida. E aí Jesus entra em meu
discurso. Este "Herói" não morreu pela nossa vida mesquinha de poucos anos no
planeta. Não foi para que a gente simplesmente tivesse um carro (onde colocamos
adesivos idiotas do tipo: “Rastreado por Jesus”, “Blindado por Deus”, Etc.),
plano de saúde, emprego, “futuro”, uma vida de conforto e prazer. No plano
escatológico isso é muito pouco para justificar a sua morte. Ele morreu e
ressuscitou pela nossa existência! Esta é maior que nossa vida curta nesses
dias na terra. Nossa existência é um plano mais amplo que ultrapassa a
mesquinhez de nossa vida medíocre, cercada de medos e ameaças de todo tipo, com
a morte espreitando-nos em cada esquina, a cada dia.
A morte do herói significa que
todos nós podemos nos sacrificar para que a vida continue. E esse gesto é que
salva a nossa existência, para além dessa vida curta e temerosa que temos. A
luta pela vida inclui o respeito às diferentes formas da gente se relacionar
com Deus. Deus é um. Mas se revela de muitas formas. Deus é negro também. Mas o
racismo que dispara a bala da arma do policial nas periferias de Salvador, mata
a Deus também, junto com aqueles que morrem. Deus é feminino também. Mas a
violência contra a mulher mata essa dimensão humana de Deus em nome do domínio do
macho. Deus é, como Seu Filho mesmo falou, criança. Mas a pedofilia e a
agressão física contra os pequenos matam o sorriso infantil de Deus que ainda
habita entre nós.
Mas a pior morte, é a morte de
nossos valores e convicções. Parece que, a nível social, estamos perdendo-as.
Não desistimos de roubar porque nossa consciência moral nos acusa. Matamos
nossa consciência moral para, nessa vida mesquinha, viver nababescamente em
detrimento da pobreza e da desconfiança que produzimos com nosso ato vil. Nossos
políticos são assim, porque nós somos assim também. Não desistimos de mentir,
de trair, de matar, de enganar, de violentar em nome de nossa fé e de nosso
amor, que nos leva a comprometer-nos com o outro. Quando encontramos um celular
perdido, retiramos rapidamente o chip e instalamos o nosso. Esquecemos nossos
valores e nossos compromissos e enveredamos em nome de nossa ganância, da
satisfação de nosso prazer imediato. Não temos convicções. Pouco lutamos pelo
que acreditamos. Quando as coisas começam a ficar difíceis, desistimos
facilmente, nos recolhendo ao conforto da nossa ignorância presumida. Somos um
povo fraco, sem convicções. Nossos líderes atuais: Lula, Aécio, Dilma, Eduardo
Cunha, Renan Calheiros, representam o povo que ainda insistimos em ser. Líderes
pequenos, que enriquecem às nossas custas, desprovidos de um Projeto Brasil de
Nação.
Muito embora haja um crescimento
no número de “fiéis”, eu, sendo Deus, abriria mão desses fiéis sem convicção. Fiéis
frágeis, que temem os desafios do mundo e se escondem embaixo da saia de suas
crenças. Fiéis que não lutam pela vida esperando outra eterna de presente,
simplesmente porque foram a alguma igreja e fizeram suas orações de domingo a
domingo. Esses, não serão dignos da continuidade de sua existência do Reino de
Deus. Fiéis lutam pela vida. Fiéis se comprometem com a justiça! Fiéis combatem
a hipocrisia! Fiéis lutam por vida digna para todos, por hospitais públicos com
atendimento digno, por um sistema de ensino público funcionando com qualidade
para todos (as), por rede de esgoto, moradia, equilíbrio ecológico.
Não. Eu não quero mostrar para os
outros, de Bíblia na mão, que sou mais “fiel” do que o outro. Não quero
mensagens de fé para “salvar os outros”. Quero que minha vida, como diria o
sábio Ghandy, seja uma mensagem com outras vidas em nome da justiça e do amor,
porque a verdade, bom, a verdade, viva em si mesmo (a). Pregar o Evangelho é
viver o Evangelho em si mesmo. É deixar os outros em paz com suas crenças e
convicções e, antes de tudo fazer uma profunda avaliação autocrítica de nossa própria
fé e convicção. Chega de tanta hipocrisia!!! Pois assim mata-se a Deus apontado
o diabo nos outros. Temos nossos próprios demônios que precisamos exorcizá-los.
Perder tempo com a crença dos outros termina fortalecendo nossos próprios demônios.
Joselito da Nair, do Zé, do
Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel