quinta-feira, 18 de junho de 2015

MATA-SE DEUS

Disse um mestre do Espírito: «Se eu falto ao amor ou se falto à justiça, afasto-me infalívelmente de Vós, ó meu Deus, e o meu culto não é mais que idolatria. Para crer em vós, preciso crer no amor e crer na justiça e vale muito mais crer nesta coisas que pronunciar o Vosso Nome. Fora do amor e da justiça é impossível que eu alguma vez Vos possa encontrar. Mas aqueles que tomam o amor e a justiça por guia estão no caminho verdadeiro que os conduzirá até vós».

Acabei de assistir Elysium, com Matt Damon, Alice Braga, Jodie Foster e Wagner Moura. Neste filme a morte do herói é o grande tema da narrativa. A morte do herói. Por que o herói sempre tem de morrer? Por que? Não que deseje o mesmo happy end de sempre, mas a questão da morte do herói me leva a pensar. Essa morte especial vem de longe. Suas façanhas são contadas por outros (as), não por ele mesmo, ou ela mesma, o herói, a heroína. Talvez esse fim seja o sentido da salvação humana. O herói dá a vida pela salvação de muitos, senão de todos (as). Talvez para que os que foram salvos possam saber que suas vidas pequenas e medíocres possam ser justificadas por um ato tão sublime, tornando-se importantes em sua continuidade.

Se um herói, ou uma heroína, deu a vida por nós, essa vida deve valer alguma coisa, no mínimo. Coletivamente ou individualmente. Talvez por isso muitos de nós nos achemos “especiais”. E, por assim nos achar, procuramos, egoístas e mesquinhos, “usufruir” da vida que nos foi permitida. E aí Jesus entra em meu discurso. Este "Herói" não morreu pela nossa vida mesquinha de poucos anos no planeta. Não foi para que a gente simplesmente tivesse um carro (onde colocamos adesivos idiotas do tipo: “Rastreado por Jesus”, “Blindado por Deus”, Etc.), plano de saúde, emprego, “futuro”, uma vida de conforto e prazer. No plano escatológico isso é muito pouco para justificar a sua morte. Ele morreu e ressuscitou pela nossa existência! Esta é maior que nossa vida curta nesses dias na terra. Nossa existência é um plano mais amplo que ultrapassa a mesquinhez de nossa vida medíocre, cercada de medos e ameaças de todo tipo, com a morte espreitando-nos em cada esquina, a cada dia.

A morte do herói significa que todos nós podemos nos sacrificar para que a vida continue. E esse gesto é que salva a nossa existência, para além dessa vida curta e temerosa que temos. A luta pela vida inclui o respeito às diferentes formas da gente se relacionar com Deus. Deus é um. Mas se revela de muitas formas. Deus é negro também. Mas o racismo que dispara a bala da arma do policial nas periferias de Salvador, mata a Deus também, junto com aqueles que morrem. Deus é feminino também. Mas a violência contra a mulher mata essa dimensão humana de Deus em nome do domínio do macho. Deus é, como Seu Filho mesmo falou, criança. Mas a pedofilia e a agressão física contra os pequenos matam o sorriso infantil de Deus que ainda habita entre nós.

Mas a pior morte, é a morte de nossos valores e convicções. Parece que, a nível social, estamos perdendo-as. Não desistimos de roubar porque nossa consciência moral nos acusa. Matamos nossa consciência moral para, nessa vida mesquinha, viver nababescamente em detrimento da pobreza e da desconfiança que produzimos com nosso ato vil. Nossos políticos são assim, porque nós somos assim também. Não desistimos de mentir, de trair, de matar, de enganar, de violentar em nome de nossa fé e de nosso amor, que nos leva a comprometer-nos com o outro. Quando encontramos um celular perdido, retiramos rapidamente o chip e instalamos o nosso. Esquecemos nossos valores e nossos compromissos e enveredamos em nome de nossa ganância, da satisfação de nosso prazer imediato. Não temos convicções. Pouco lutamos pelo que acreditamos. Quando as coisas começam a ficar difíceis, desistimos facilmente, nos recolhendo ao conforto da nossa ignorância presumida. Somos um povo fraco, sem convicções. Nossos líderes atuais: Lula, Aécio, Dilma, Eduardo Cunha, Renan Calheiros, representam o povo que ainda insistimos em ser. Líderes pequenos, que enriquecem às nossas custas, desprovidos de um Projeto Brasil de Nação.

Muito embora haja um crescimento no número de “fiéis”, eu, sendo Deus, abriria mão desses fiéis sem convicção. Fiéis frágeis, que temem os desafios do mundo e se escondem embaixo da saia de suas crenças. Fiéis que não lutam pela vida esperando outra eterna de presente, simplesmente porque foram a alguma igreja e fizeram suas orações de domingo a domingo. Esses, não serão dignos da continuidade de sua existência do Reino de Deus. Fiéis lutam pela vida. Fiéis se comprometem com a justiça! Fiéis combatem a hipocrisia! Fiéis lutam por vida digna para todos, por hospitais públicos com atendimento digno, por um sistema de ensino público funcionando com qualidade para todos (as), por rede de esgoto, moradia, equilíbrio ecológico.

Não. Eu não quero mostrar para os outros, de Bíblia na mão, que sou mais “fiel” do que o outro. Não quero mensagens de fé para “salvar os outros”. Quero que minha vida, como diria o sábio Ghandy, seja uma mensagem com outras vidas em nome da justiça e do amor, porque a verdade, bom, a verdade, viva em si mesmo (a). Pregar o Evangelho é viver o Evangelho em si mesmo. É deixar os outros em paz com suas crenças e convicções e, antes de tudo fazer uma profunda avaliação autocrítica de nossa própria fé e convicção. Chega de tanta hipocrisia!!! Pois assim mata-se a Deus apontado o diabo nos outros. Temos nossos próprios demônios que precisamos exorcizá-los. Perder tempo com a crença dos outros termina fortalecendo nossos próprios demônios.


Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel 

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