Dizem por aí que a copa é do
mundo, mas tenho minhas dúvidas. A copa, a grana, os recursos naturais, os bens
produzidos coletivamente, são de uma pequena parte do mundo, uma ínfima parte.
Milhões de pessoas no mundo veem, é verdade, mas pouquíssimas usufruem do espetáculo
e do circo montado a cada quatro anos em diferentes países. A copa não é do
mundo, é da FIFA. E a FIFA cobra um preço muito alto pelo evento que ela vende,
e, por isso mesmo, a copa, que seria do mundo, é do mundinho, um mundinho
mesquinho, pra poucos, distante do povo. É como o Carnaval de Salvador, Bahia,
que a cada ano vai ficando mais estreito, mais sufocado, empurrando o povo para
os cantos, os becos, as margens.
Para entrar nesse mundo da copa
tem de pagar ingresso caro, bem acima do padrão da população mundial. Ao entrar
na arena esportiva, tem de beber água, no mínimo. Mas o padrão FIFA de água é
muito caro, muito mais que a gasolina importada. Para estacionar também será
muito caro, pois a vaga da FIFA terá seu padrão de extorsão internacional. E,
como é de costume, haverá um padrão de discriminação capital que irá empurrando
a maioria das pessoas para os cantos, para os becos, para as margens do Dique
do Tororó, literalmente. O “público pagante” será outra "seleção brasileira" pelo valor do
ingresso, da água, do estacionamento e de outros produtos e serviços que virão
com o “selo FIFA” de “Qualidade”. E, em nosso Território, o espaço FIFA será
recortado, delimitado, vigiado, proibido, cercado e sacralizado pelo critério
de mercado.
A imprefeitura de Salvador
está veiculando, em horário nobre de TV, padrão Globo de valor, uma propaganda
a respeito da Copa "do Mundinho", tentando capitalizar eleitoralmente tal evento.
Mostra supostos sujeitos do povo comemorando "felizes" um evento mundial como a copa e a
construção de uma arena de padrão internacional, conforme impõe a FIFA. Mas
tanto a imprefeitura, quanto o Desgoverno do estado, quanto o Governo Federal entregaram
nossa soberania territorial para que o capital privado cerceie a entrada, vigie,
controle e puna os barrados da copa, utilizando nossas polícias em parceria com
seus soldados privados para garantir que a copa seja mesmo de um pequeno pedaço
de mundo, um mundinho. E tanto é um mundinho particular, feito apenas para os
poucos privilegiados que poderão nele adentrar, que as demais obras que
beneficiariam a população da cidade de Salvador, nem saíram do papel.
O metrô, que ligaria o
aeroporto às ruínas abandonadas não ficará pronto; o engarrafamento aparece na
cena exibindo nosso péssimo modelo de desenvolvimento insustentável; as praças
estão abandonadas, os jardins sucubiram ao desleixo; a violência, apesar de
toda a maquiagem propagandista, é crescente e o medo já nos violenta antes
mesmo dele nos sangrar; as praias estão abandonadas, mal cheirosas, ornadas com
o lixo que nossa falta de educação exibe; as rodovias baianas foram
privatizadas; os portos são insuficientes para o volume de cargas que necessita;
as obras de ampliação do aeroporto foram paralisadas, embora não vá suportar o volume das pessoas que
poderão passar por aqui; a Ferrovia Leste-Oeste, nem saiu do Leste ainda, e não
se sabe quando será ligada ao Oeste, ou se seus pontos cardeais jamais se encontrarão.
Portanto, a maioria da
população baiana, apesar de toda propaganda e de todo discurso legitimando o
evento da copa do mundo, não será beneficiada, porque a copa não será do mundo,
nem do Brasil, nem da Bahia, nem de Salvador. Tanto faz a copa do mundinho ser aqui quanto acolá. A distância operada pela discriminação social e pelo privilégio econômico será ainda maior do que se fosse no Afeganistão ou na Cochinchina. O poder político estará sendo exercido de forma eficiente e eficaz para garantir essa distância. A copa será de um mundinho restrito,
cercado, vigiado, controlado. Nós, através do nosso governo servil e
deslumbrado com o mundo internacional do poder, emprestamos nosso território
para que a FIFA o utilizasse para ganhar muito dinheiro, transformando-o num
mundinho elitista, onde poucos privilegiados terão acesso, afastando as
populações locais com ingressos exorbitantes, preços acima da média e produtos
que valem mais por uma marca de corporação internacional, do que pelo seu valor
de uso. Tudo isso controlado por pelotões de meganhas, armas de choque
elétrico e milícias armadas que vão garantir o lugar do privilégio e o lugar da
margem. Pra frente Brasil: salve a "seleção"!!!!
Joselito da Nair, do Zé, do
Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes, do Mundo, e de Jesus, O Emanuel