Passaram-se 56 dias de greve dos
professores da rede pública estadual da Bahia e um silêncio funesto toma conta
da situação, revelando um abandono criminoso da educação básica do Estado da
Bahia, tanto por parte da sociedade política quanto da sociedade civil. Este
abandono é um forte sinal de que a educação em nosso estado não interessa a
ninguém. Não é percebida como valor social e cultural, como direito fundamental
do ser humano ao acesso aos saberes, conhecimentos, técnicas e tecnologias
necessárias ao desenvolvimento sustentável que se espera de um estado
importante como o estado da Bahia. Milhões de crianças pobres, cujo único
acesso ao saber sistematizado se dá através da escola pública, estão impedidas
de estudar pela negligência geral que caracteriza o dilema posto nesta greve. E
quando penso que uma quantidade significativa dessas crianças são negras; e
quando sei que a totalidade dessas crianças são pobres, começo a questionar
alguns movimentos importantes da sociedade civil que estão em silêncio diante
desse quadro de negação do acesso ao direito dessas crianças ao saber
sistematizado que compõe a função social da escola.
As ações afirmativas que compõem
a política de ação do movimento negro estão sendo negadas por um Governo
negligente, “descansado”, como diria Malu Fontes, cuja preocupação primordial
não é com o futuro das crianças pobres e negras de Salvador e da Bahia, mas com
uma Copa do Mundo mal traçada numa cidade cuja única obra em estado avançado de
desenvolvimento é o estádio privatizado da Fonte Nova, Novíssima. Não há, nem
no horizonte dos nossos olhos incrédulos, outra obra que beneficie, de fato, a
população baiana e soteropolitana. A Ferrovia Oeste Leste tem apenas 5% das
obras em nosso estado concluídas. Tomara que não siga a mesma direção sem
sentido do metrô de Salvador e não ligue nem Oeste com Leste, nem Isto com
Aquilo, nem nada com coisa alguma. Nada para escolas, nem para professores;
nada para hospitais, médicos e enfermeiros e auxiliares de enfermagem; nada
para segurança, para policiais e agentes de segurança; nada a mais para o que a
população realmente precisa. A maioria das pessoas que precisam de hospitais,
de postos de saúde e de médicos e enfermeiros satisfeitos são pobres e negras;
a maioria das pessoas que precisam de transporte coletivo de qualidade são
pessoas pobres e negras; A maioria esmagadora das pessoas que precisam de
escolas públicas de qualidade são pobres e negras. Mas a minoria de nosso país
finge que não vê e ainda faz propaganda de uma cidade e de um estado que não
existe para a maioria dessas pessoas pobres e negras que sofrem em filas de
postos de saúde, que patinam nas calçadas esburacadas da cidade de Salvador,
que são espremidas em ônibus lotados, mal higienizados, atrasados. Maioria
perdida no engarrafamento de políticos cínicos, fingidos, corruptos.
É por essas que eu não entendo o
movimento negro. Sua luta é restrita a um aspecto do momento histórico? Tem
periodicidade como a eleição? Para diante de negligências da sociedade política
que atingem em cheio a população negra como esta greve aparentemente insolúvel?
Quando Rui Oliveira está à frente da greve, qual identidade domina o seu
discurso e a sua ação: a de homem negro ou a de puro sindicalista? E qual a
identidade do governador? Carioca, baiano, petista, ditador? Eu prefiro o
ditador ao petista, porque o ditador permite que a sociedade civil reaja
convicta contra seu despotismo. O petista ainda não é devidamente reconhecido
como inimigo, como o foi o outrora PFL. Tem um discurso da responsabilidade
administrativa que esconde o ansiado controle supremo do poder que começou a
ser engendrado por Lula. Poder, apenas poder a serviço do PT, de uma parte do
PT, mesmo que para isso esmague os descontentes com seu autoritarismo
revanchista. Voltando ao movimento negro, este pode ter um papel importante
nesse momento, levantando-se contra uma situação que despreza tudo o que
beneficia a população, sem um projeto que torne a vida das pessoas mais pobres
e negras menos sofrida no acesso ao transporte, à saúde pública, à educação
pública, ao lazer, ao esporte, à segurança, resguardando sua dignidade e seu trajeto
neste mundo perverso, insensível e cínico.
Joselito M. de Jesus
Eu, Aqui da Alemanha tenho acompanhado esses movimentos grevista na Bahia e em Salvador... o que posso comentar? Eu vivi isso e vejo que continua sempre a mesma coisa... Greve de Profissionais de Ensino Publico nào da resultado por que nào mexe com ECONOMIAS! Ainda que um pequeno grupo fosse atingido nas suas FINANCAS a greve ja teria sido resolvida como a dos Metroviarios ou a dos Policias. Mas a Manifestacào dos Profissionais de Ensino Publico atingem a quem? E precisamente por esse motivo ja dura mais de 56 dias!!!
ResponderExcluirÉ verdade. Malu Fontes refere-se a isso também. O poder político só se mobiliza pelas necessidades e aspirações do poder econômico. O que está fora desse horizonte não existe como política pública.
ExcluirUm abraço e continue participando e tecendo comigo.
Joselito