quarta-feira, 6 de junho de 2012

A GREVE DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO DA BAHIA E MOVIMENTO NEGRO DE SALVADOR


Passaram-se 56 dias de greve dos professores da rede pública estadual da Bahia e um silêncio funesto toma conta da situação, revelando um abandono criminoso da educação básica do Estado da Bahia, tanto por parte da sociedade política quanto da sociedade civil. Este abandono é um forte sinal de que a educação em nosso estado não interessa a ninguém. Não é percebida como valor social e cultural, como direito fundamental do ser humano ao acesso aos saberes, conhecimentos, técnicas e tecnologias necessárias ao desenvolvimento sustentável que se espera de um estado importante como o estado da Bahia. Milhões de crianças pobres, cujo único acesso ao saber sistematizado se dá através da escola pública, estão impedidas de estudar pela negligência geral que caracteriza o dilema posto nesta greve. E quando penso que uma quantidade significativa dessas crianças são negras; e quando sei que a totalidade dessas crianças são pobres, começo a questionar alguns movimentos importantes da sociedade civil que estão em silêncio diante desse quadro de negação do acesso ao direito dessas crianças ao saber sistematizado que compõe a função social da escola.

As ações afirmativas que compõem a política de ação do movimento negro estão sendo negadas por um Governo negligente, “descansado”, como diria Malu Fontes, cuja preocupação primordial não é com o futuro das crianças pobres e negras de Salvador e da Bahia, mas com uma Copa do Mundo mal traçada numa cidade cuja única obra em estado avançado de desenvolvimento é o estádio privatizado da Fonte Nova, Novíssima. Não há, nem no horizonte dos nossos olhos incrédulos, outra obra que beneficie, de fato, a população baiana e soteropolitana. A Ferrovia Oeste Leste tem apenas 5% das obras em nosso estado concluídas. Tomara que não siga a mesma direção sem sentido do metrô de Salvador e não ligue nem Oeste com Leste, nem Isto com Aquilo, nem nada com coisa alguma. Nada para escolas, nem para professores; nada para hospitais, médicos e enfermeiros e auxiliares de enfermagem; nada para segurança, para policiais e agentes de segurança; nada a mais para o que a população realmente precisa. A maioria das pessoas que precisam de hospitais, de postos de saúde e de médicos e enfermeiros satisfeitos são pobres e negras; a maioria das pessoas que precisam de transporte coletivo de qualidade são pessoas pobres e negras; A maioria esmagadora das pessoas que precisam de escolas públicas de qualidade são pobres e negras. Mas a minoria de nosso país finge que não vê e ainda faz propaganda de uma cidade e de um estado que não existe para a maioria dessas pessoas pobres e negras que sofrem em filas de postos de saúde, que patinam nas calçadas esburacadas da cidade de Salvador, que são espremidas em ônibus lotados, mal higienizados, atrasados. Maioria perdida no engarrafamento de políticos cínicos, fingidos, corruptos.

É por essas que eu não entendo o movimento negro. Sua luta é restrita a um aspecto do momento histórico? Tem periodicidade como a eleição? Para diante de negligências da sociedade política que atingem em cheio a população negra como esta greve aparentemente insolúvel? Quando Rui Oliveira está à frente da greve, qual identidade domina o seu discurso e a sua ação: a de homem negro ou a de puro sindicalista? E qual a identidade do governador? Carioca, baiano, petista, ditador? Eu prefiro o ditador ao petista, porque o ditador permite que a sociedade civil reaja convicta contra seu despotismo. O petista ainda não é devidamente reconhecido como inimigo, como o foi o outrora PFL. Tem um discurso da responsabilidade administrativa que esconde o ansiado controle supremo do poder que começou a ser engendrado por Lula. Poder, apenas poder a serviço do PT, de uma parte do PT, mesmo que para isso esmague os descontentes com seu autoritarismo revanchista. Voltando ao movimento negro, este pode ter um papel importante nesse momento, levantando-se contra uma situação que despreza tudo o que beneficia a população, sem um projeto que torne a vida das pessoas mais pobres e negras menos sofrida no acesso ao transporte, à saúde pública, à educação pública, ao lazer, ao esporte, à segurança, resguardando sua dignidade e seu trajeto neste mundo perverso, insensível e cínico.    

Joselito M. de Jesus

2 comentários:

  1. Eu, Aqui da Alemanha tenho acompanhado esses movimentos grevista na Bahia e em Salvador... o que posso comentar? Eu vivi isso e vejo que continua sempre a mesma coisa... Greve de Profissionais de Ensino Publico nào da resultado por que nào mexe com ECONOMIAS! Ainda que um pequeno grupo fosse atingido nas suas FINANCAS a greve ja teria sido resolvida como a dos Metroviarios ou a dos Policias. Mas a Manifestacào dos Profissionais de Ensino Publico atingem a quem? E precisamente por esse motivo ja dura mais de 56 dias!!!

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    1. É verdade. Malu Fontes refere-se a isso também. O poder político só se mobiliza pelas necessidades e aspirações do poder econômico. O que está fora desse horizonte não existe como política pública.
      Um abraço e continue participando e tecendo comigo.
      Joselito

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joselitojoze@gmail.com