A
série Game of Thrones que passa num
desses canais de assinatura prendeu minha atenção desde o início por uma série
de fatores, entre os quais a imprevisibilidade dos desfechos, a inteligência
dos diálogos entre os personagens, a pouca concessão ao romantismo idealizado de
outros filmes, novelas e seriados, a negação ao maniqueísmo fácil, que caracteriza os "maus" apenas de um lado e os "bonzinhos" apenas do outro lado. A morte, a traição, a falta de piedade e
misericórdia, o interesse pelo poder e a guerra, estão entremeadas com a
solidariedade, a honra, a paixão, a compaixão, o amor, a redenção e a coragem. Não há o
idealismo de uma humanidade que encontra a redenção e o bem vence o mal,
definitivamente, embora torçamos para isso. Bem e mal estão, como diria o saudoso Raul Seixas, "de braços e abraços num romance astral". A humanidade como ela é, aparece
desnudada de seus traços angelicais e a guerra se faz presente num momento
histórico convulsivo, entre diferentes povos daquele mundo, com mortes e
sofrimentos à fartura de todos os lados.
Não
é, em nada, diferente do nosso mundo brasileiro. Lá, na guerra dos tronos, o “Banco
de Ferro” avalia a possibilidade de financiar o inimigo do “Trono de Ferro”, de
onde emana o poder político de fato. E assim o faz: financia os dois lados, a
fim de ter garantido o seu lucro, seja por um lado, seja por outro. Lendo o
jornal Correio de hoje, sexta-feira, 08 de agosto de 2014, percebo que a
realidade, nesse caso, imita a ficção. Afirma o Correio que:
Na largada da campanha
eleitoral, o tucano Aécio Neves arrecadou pelo menos R$$ 11 milhões em doações
de empresas e pessoas físicas, mais do que a presidente Dilma Rousseff (PT),
cuja prestação parcial de contas registrou entradas de R$$ 10,125 milhões.
Eduardo Campos, do PSB, não ficou muito atrás, com R$$ 8,2 milhões. Aécio recebeu, nas contas de candidato e do
comitê financeiro, doações de 11 empresas. [...] Seu maior financiador foi o
grupo JBS, do setor de processamento de carnes, com uma contribuição de R$$ 5
milhões – o mesmo valor repassado à campanha de Dilma.
Pelo
visto acima, o grupo econômico JBS FRIBOI agiu da mesma forma que o “Banco de Ferro”
da ficção. Vencendo Dilma perdendo Aécio, ele, o grupo JBS FRIBOI, ganha. Perdendo
Dilma, vencendo Aécio, ele também ganha. E quem perde? A democracia e nós, da ponta
aqui de baixo, denominado genericamente de “povo”, cuja influência se resume ao
voto e aos protestos indignados. Por isso que o financiamento público de
campanhas, e a proibição de “contribuições econômicas generosas” para as
campanhas eleitorais, desse (a) ou daquele (a) candidato (a) deve ser proibida.
Um estudo recente, que não recordo especificamente agora, demonstrou que essas
empresas financiadoras de campanhas políticas, lucram dez vezes mais, ganhando
licitações e obras e serviços “emergenciais” do estado brasileiro.
Oito empreiteiras
doaram, juntas, R$$ 4,6 milhões ao candidato do PSDB. [...] No caso de Dilma,
houve doações de apenas quatro empresas. As contribuições de empreiteiras foram
minguadas. Apenas a Andrade Gutierrez compareceu, com R$$ 1 milhão. Depois do
JBS, o principal doador foi a AMBEV com 4 milhões – o grupo também doou R$$ 3,25
milhões ao PSDB [...]
Empreiteiras,
bancos, poderosos grupos comerciais, empresas de transportes interestadual e
intermunicipal, entre outros, fazem suas apostas, com poucos riscos de perda,
já que apostam nos candidatos que estão liderando as pesquisas. Esse fenômeno corroi
a democracia, na medida em que fortalece ainda mais quem já está com todo o
apoio estrutural, impedindo que os (as) demais candidatos tenham a chance de
colocar suas propostas de forma clara e de participar do debate com as mesmas
condições que os (as) demais. Termina acontecendo a miragem do
pluripartidarismo, na medida em que a exposição de ideias e projetos, de fato, se
reduz a dois ou, no máximo, três partidos.
E
o que isso tem a ver com a gente, o povo brasileiro? Tudo. A democracia, embora
como dizia um velho político, não seja a melhor forma de governo, é a melhor de
todas que o ser humano inventou até agora. As eleições e os votos são a forma
que os seres humanos, em grupos e comunidades dentro de um mesmo território,
inventaram para substituir as guerras e suas consequentes mortes em busca pelo
controle hegemônico do “trono de ferro”. Ao invés da Faixa de Gaza, a zona
eleitoral. As trincheiras são construídas em fronts discursivos e milhares de mortes são evitadas, mesmo porque,
depois que a guerra de fato se inicia, é muito difícil para-la. E o maior
número de mortes é de inocentes, seja como refugiados sem pátria, seja como
vítimas diretas das bombas e armas que movimentam a lucrativa indústria da
guerra.
Então,
viva a democracia! Viva as eleições! Pelo voto, pela participação popular e contra a guerra! Portanto,
apesar de não ser um sistema político perfeito, a democracia é a melhor forma
de governo. Por isso mesmo, ao invés de desistirmos dela, deveremos lutar pelo
seu aperfeiçoamento a cada eleição, a cada evento que exija a participação do
povo brasileiro na definição dos rumos que esse país tomará. Nossa democracia é
muito jovem. Ainda há muitos broncos que nos governam, mas, à medida que formos
aperfeiçoando esse sistema, como no financiamento público de campanhas, na Lei
da Ficha Limpa, entre outras iniciativas importantes do nosso povo, vamos
expulsando as possibilidades de corrupção e aumentando as chances de nosso
país, um dia, tornar-se uma nação.
Joselito
da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O
Emanuel.
Com
o apoio de
CORREIO.
Tucano arrecada mais na largada. Salvador, sexta-feira,8/8/2014, p.16.
SIMANCA.
A Tarde, Salvador, sexta-feira, 8/8/2014, página A3.
http://letras.mus.br/raul-seixas/48335/
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