domingo, 2 de novembro de 2014

A HISTÓRIA NA COZINHA AQUI DE CASA

Hoje, estava auxiliando Rafael nos estudos de História e de Matemática, pois ele estava encontrando dificuldades para entender a dinâmica da história e suas ressonâncias na economia, na política e na cultura. Nos estudos de História fomos analisando O reinado de D. Pedro II: modernização e imigração. Nesta análise fomos percebendo que o Brasil não foi dividido pelo PT, como alguns ideólogos querem nos fazer crer.

O Brasil não saiu dividido das urnas. Na verdade, ele sempre esteve dividido e qualquer um que tenha estudado a nossa história deveria saber que nunca existiu um “povo brasileiro” em abstrato, mas senhores e escravos, brancos e negros e trabalhadores e patrões, e isso não é uma genial invenção do PT. O que acontece hoje em dia, ou melhor, o que vem acontecendo desde que o PT assumiu o governo, e que se acirrou ainda mais a partir das jornadas de junho de 2013, foi que os setores subalternos se deram conta de que o país nunca foi de todos e então partiram para cobrar sua parte no butim. (SENA JÚNIOR, 2014, p.A2)

Fui orientando Rafinha a perceber a formação histórica de nossa divisão entre sudestinos e nordestinos, norte/sul, negros, índios e brancos, trabalhadores e patrões, etc, como o historiador Sena Júnior apresenta acima. E, lendo, fomos percebendo os indícios históricos dessa divisão:

Durante o longo reinado de D. Pedro II (1840-1889), o Liberal e o Conservador eram os partidos políticos com maior poder no Brasil. Seus líderes eram fazendeiros, comerciantes, funcionários públicos ou militares; pertenciam às elites e tinham interesse em manter a maioria da população excluída da vida política nacional. (BOULOS JÚNIOR, 2012, p.221)

Assim fui mostrando as raízes do Brasil e de sua divisão nascida do modo como nossas relações étnico-raciais, econômicas, políticas e culturais foram sendo delineadas, atravessadas pelos inúmeros preconceitos, pela escravidão e pela exclusão da maioria da população do acesso à riqueza nacional, produzida por todos. “O Brasil é o café e o café é o negro”. – Frase que circulava no Império pelos idos de 1875.

Aproximava-se o horário do almoço e a fome foi nos convocando para a cozinha. Ana preparou um delicioso almoço. Concluímos o primeiro tempo do estudo e almoçamos. Bom, depois do almoço, fui lavar os pratos e as panelas e solicitei que Rafinha fizesse o mesmo com o seu prato. Ao que ele retrucou: – Mas meu pai, porque a gente não deixa aí na pia se a moça – a senhora que vem duas vezes na semana, segunda e quinta-feira nos ajudar na limpeza da casa – vem amanhã? Eu lhe respondi: – Meu filho, você não entendeu a história que a gente acabou de estudar? Você quer continuar num passado em que as elites deixavam ao povo o trabalho pesado e ainda usufruíam da produção dessa riqueza? Você quer que, nesta cozinha, do dia 02 de novembro de 2014, a história de negação do povo brasileiro se repita, colocando-se no lugar do privilegio e da negação do trabalho e do trabalhador? Como você se vê na história brasileira? Como um "filhinho de papai" a ser servido em seus mesquinhos desejos?

Então, fomos refletindo sobre a história como processo permanente de luta, de posicionamento ideológico baseado em convicções firmes que nos exigem coerência, e não em estudos abstratos descomprometidos com as mudanças e transformações históricas, essas sim, que exigem comportamentos diferentes em todos os âmbitos e situações, desde a cozinha de nossa casa e da qualidade das relações que estabelecemos com o outro até a gestão nacional dos recursos de nosso território.

Joselito do Zé, da Nair, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel. Com o auxílio de:

BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania, 8.º ano. 2. ed. São Paulo: FTD, 2012.

SENA JÚNIOR, Carlos Zacarias. Os anéis e os dedos. Salvador. A Tarde do sábado, 1/11/2014.

2 comentários:

  1. Parabéns, professor. Belo exemplo dado ao seu filho. Tenho certeza que ele entendeu bem mais nesse ato doméstico do que nas teorias dos livros de História. E homens na cozinha lavando a louça é revolucionário.rsrs

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  2. Tô tentando Mayre. Tentando ser educador dentro e fora da sala de aula, entendendo que o fora influencia muito mais o dentro. Gracias pelo comentário.

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joselitojoze@gmail.com