Hoje,
estava auxiliando Rafael nos estudos de História e de Matemática, pois ele
estava encontrando dificuldades para entender a dinâmica da história e suas
ressonâncias na economia, na política e na cultura. Nos estudos de História
fomos analisando O reinado de D. Pedro
II: modernização e imigração. Nesta análise fomos percebendo que o Brasil
não foi dividido pelo PT, como alguns ideólogos querem nos fazer crer.
O Brasil não saiu dividido das urnas.
Na verdade, ele sempre esteve dividido e qualquer um que tenha estudado a nossa
história deveria saber que nunca existiu um “povo brasileiro” em abstrato, mas
senhores e escravos, brancos e negros e trabalhadores e patrões, e isso não é
uma genial invenção do PT. O que acontece hoje em dia, ou melhor, o que vem
acontecendo desde que o PT assumiu o governo, e que se acirrou ainda mais a
partir das jornadas de junho de 2013, foi que os setores subalternos se deram
conta de que o país nunca foi de todos e então partiram para cobrar sua parte
no butim. (SENA JÚNIOR, 2014, p.A2)
Fui
orientando Rafinha a perceber a formação histórica de nossa divisão entre
sudestinos e nordestinos, norte/sul, negros, índios e brancos, trabalhadores e
patrões, etc, como o historiador Sena Júnior apresenta acima. E, lendo, fomos
percebendo os indícios históricos dessa divisão:
Durante o longo reinado de D. Pedro II
(1840-1889), o Liberal e o Conservador eram os partidos políticos com maior
poder no Brasil. Seus líderes eram fazendeiros, comerciantes, funcionários
públicos ou militares; pertenciam às elites e tinham interesse em manter a
maioria da população excluída da vida política nacional. (BOULOS JÚNIOR, 2012, p.221)
Assim
fui mostrando as raízes do Brasil e de sua divisão nascida do modo como nossas
relações étnico-raciais, econômicas, políticas e culturais foram sendo
delineadas, atravessadas pelos inúmeros preconceitos, pela escravidão e pela
exclusão da maioria da população do acesso à riqueza nacional, produzida por
todos. “O Brasil é o café e o café é o negro”. – Frase que circulava no Império
pelos idos de 1875.
Aproximava-se
o horário do almoço e a fome foi nos convocando para a cozinha. Ana preparou um
delicioso almoço. Concluímos o primeiro tempo do estudo e almoçamos. Bom,
depois do almoço, fui lavar os pratos e as panelas e solicitei que Rafinha
fizesse o mesmo com o seu prato. Ao que ele retrucou: – Mas meu pai, porque a
gente não deixa aí na pia se a moça – a senhora que vem duas vezes na semana,
segunda e quinta-feira nos ajudar na limpeza da casa – vem amanhã? Eu lhe
respondi: – Meu filho, você não entendeu a história que a gente acabou de
estudar? Você quer continuar num passado em que as elites deixavam ao povo o
trabalho pesado e ainda usufruíam da produção dessa riqueza? Você quer que,
nesta cozinha, do dia 02 de novembro de 2014, a história de negação do povo
brasileiro se repita, colocando-se no lugar do privilegio e da negação do
trabalho e do trabalhador? Como você se vê na história brasileira? Como um "filhinho de papai" a ser servido em seus mesquinhos desejos?
Então,
fomos refletindo sobre a história como processo permanente de luta, de posicionamento
ideológico baseado em convicções firmes que nos exigem coerência, e não em estudos abstratos descomprometidos com as mudanças e transformações históricas, essas sim, que exigem comportamentos diferentes em
todos os âmbitos e situações, desde a cozinha de nossa casa e da qualidade das
relações que estabelecemos com o outro até a gestão nacional dos recursos de
nosso território.
Joselito
do Zé, da Nair, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O
Emanuel. Com o auxílio de:
BOULOS JÚNIOR, Alfredo. História sociedade & cidadania, 8.º
ano. 2. ed. São Paulo: FTD, 2012.
SENA JÚNIOR, Carlos
Zacarias. Os anéis e os dedos. Salvador.
A Tarde do sábado, 1/11/2014.
Parabéns, professor. Belo exemplo dado ao seu filho. Tenho certeza que ele entendeu bem mais nesse ato doméstico do que nas teorias dos livros de História. E homens na cozinha lavando a louça é revolucionário.rsrs
ResponderExcluirTô tentando Mayre. Tentando ser educador dentro e fora da sala de aula, entendendo que o fora influencia muito mais o dentro. Gracias pelo comentário.
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