quinta-feira, 12 de novembro de 2015

BREVE VISÃO SOBRE OS GOVERNOS DO PT

O Governo Dilma se segura. Abalado pela corrupção, pela crise econômica e política, recolhe-se ao silêncio e espera a definição dos contornos da atual conjuntura política que se esboça, pela reação virulenta das classes hegemônicas, conservadoras, contra os avanços que tiveram as classes populares. Embora haja críticas sérias ao desenvolvimento reformista, nos quadros de um capitalismo submisso, preconceituoso e violento, a ascensão de milhões de brasileiros a melhores condições de existência, força a necessária tensão do conflito de classes que estava “apaziguado”, melhor, ocultado na submissão cômoda que atendia aos interesses das classes dominantes brasileiras.

Essa tensão social força o renascimento da política no século XXI fora dos quadros das determinações anteriores, em que somente os representantes das classes sociais e econômicas privilegiadas lutavam pela hegemonia, pelo comando dos rumos de nosso país, seja no PSDB, seja no antigo PFL, hoje DEM, seja no PMDB, seja nos traidores de nossa classe popular representados nos partidos nanicos, tendo como um exemplo o “Paulinho da Força”, no partido “Solidariedade”, solidariedade com os privilegiados. Ao entrarem em cena, os integrantes das classes populares começaram a ocupar um lugar institucional – nas universidades, nos hospitais, nas secretarias de justiça, saúde, ação social, e educação – alô Ana Lúcia Gomes, Amélia Maraux, Érica Capinan, José Carlos e tantos (as) outros (as) –, lugares antes reservados aos obedientes agentes públicos “de confiança”.

Essa ocupação produziu, sem dúvida, distorções, nas quais muitos afoitos se apegaram e se apegam, com um discurso tecnocrático e tecnicista, na tentativa de destruir toda a política pública dos governos do PT. Muitos (as) sujeitos indicados pelos governos Lula e Dilma estavam, de fato, despreparados tecnicamente e emocionalmente para assumir tais posições no quadro do estado brasileiro – cargos sempre ocupados por tecnocratas fiéis aos ditames das classes privilegiadas – tendo de aprender a lidar com os desafios lançados pelas demandas exigidas da sociedade em mudança e de apreender os meandros da burocracia estatal, criada para dificultar mudanças que atendam aos interesses das classes populares.

Contudo, tal ocupação também reproduziu, no interior dos aparelhos do estado brasileiro e baiano, os conflitos que estão na constituição da conjuntura política, econômica, cultural e social que ora podemos perceber nas principais manchetes dos jornais televisivos e impressos. As tensões raciais, de gênero, de sexo, de etnia e, entre outras, de classe, são expressas nas lutas cotidianas, nos avanços e recuos das políticas públicas do Governo Dilma, nas reações moralistas de indivíduos, grupos e instituições que desejam a sociedade como era: só deles (as), tão somente a serviço deles (as). Índios sendo queimados vivos; sem-terra sendo executados; homossexuais agredidos e assassinados; mulheres espancadas e mortas todos os dias; negros e negras sendo ofendidos (as) pelo seu cabelo, pela ocupação de um espaço que apenas era reservado para brancos (as); nordestinos (as) sendo acusados (as) e ameaçados (as) pela eleição de uma presidente mulher, entre tantas outras violências produzidas nos últimos anos, são indícios concretos de como as tensões, ficando mais e mais violentas, estão escancarando uma realidade social que estava oculta sob o “equilíbrio” que governos anteriores mantinham através de suas políticas de exclusão.  

Portanto, antes de começar a atirar no Governo Dilma – que produziu, não deixo de afirmar, seus erros e permitiu o empoderamento do PMDB em seu governo – pense de forma abrangente a realidade brasileira. Não deixe que uma parte da verdade oculte a verdade mais ampla que produz os fenômenos que não conseguimos articular numa racionalidade do movimento constante da história, porque não adotamos uma perspectiva metodológica que permitirá a apreensão desse movimento produzido por um deslocamento social, político, econômico e cultural que as últimas políticas públicas dos governos do PT ensejam e produzem.


Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes, das classes populares e de Jesus, O Emanuel.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

FELICIDADE QUANDO A GENTE QUER AMAR

“Felicidade é uma cidade pequenina, é uma casinha, uma colina, qualquer lugar que se ilumina, quando a gente quer amar.”

Gosto dessa música, desse poema musicalizado. Seu título é “Pão e Poesia”, do grande, grande Moraes Moreira, que deveria ganhar um Nobel da música apenas por esta. Eu não consigo... Nem que esse meu texto “vá pras cucuias” da sua paciência, pois vou fazer uma relação outra, tenho de colocar a letra toda desse homem inteligentíssimo e profundamente sensível!
Felicidade é uma cidade pequenina
é uma casinha é uma colina
qualquer lugar que se ilumina
quando a gente quer amar

Se a vida fosse trabalhar nessa oficina
fazer menino ou menina, edifício e maracá
virtude e vício, liberdade e precipício
fazer pão, fazer comício, fazer gol e namorar

Se a vida fosse o meu desejo
dar um beijo em teu sorriso, sem cansaço
e o portão do paraíso é teu abraço
quando a fábrica apitar

Felicidade é uma cidade pequenina
é uma casinha é uma colina
qualquer lugar que se ilumina
quando a gente quer amar

Numa paisagem entre o pão e a poesia
entre o quero e o não queria
entre a terra e o luar
não é na guerra, nem saudade nem futuro
é o amor no pé do muro sem ninguém policiar

É a faculdade de sonhar é uma poesia
que principia quando eu paro de pensar
pensar na luta desigual, na força bruta, meu amor
que te maltrata entre o almoço e o jantar

Felicidade é uma cidade pequenina
é uma casinha é uma colina
qualquer lugar que se ilumina
quando a gente quer amar

O lindo espaço entre a fruta e o caroço
quando explode é um alvoroço
que distrai o teu olhar
é a natureza onde eu pareço metade
da tua mesma vontade
escondida em outro olhar

E como o doce não esconde a tamarinda
essa beleza só finda
quando a outra começar
vai ser bem feito nosso amor daquele jeito
nesse dia é feriado não precisa trabalhar

Pra não dizer que eu não falei da fantasia
que acaricia o pensamento popular
o amor que fica entre a fala e a tua boca
nem a palavra mais louca, consegue significar: felicidade

Felicidade é uma cidade pequenina
é uma casinha é uma colina
qualquer lugar que se ilumina
quando a gente quer amar

A felicidade, muita gente busca, e muita gente diz que é para poucos. Não concordo com essa medíocre ideia. A felicidade, meu/minha nobre, não é fruto da sorte. A gente, segundo Moraes Moreira, tem uma grande participação nela. “Quando a gente quer amar”, meu/minha camarada, qualquer lugar se ilumina. Felicidade não depende só de dinheiro, felicidade não depende só de boniteza, dessa fabricada por tv’s para idiotas. Felicidade, muitas vezes, é uma rapidinha ofegante encostada num muro, como eu já fiz em minha alegria e ousadia juvenil. Fui e sou feliz muitas vezes, pequenas e fugazes/eternas felicidades.

Se você estuda a felicidade aumenta! Sabe porque? Porque você pode começar a ficar mais sensível com a literatura, com a poesia, com a inteligência alheia. Eu fico muito! Quando você perdoa sua felicidade aumenta! Quando você age corretamente sua felicidade aumenta! Quando você tem coragem de defender quem é injustiçado sua felicidade aumenta! Quando você grita que "o rei está nú", sua felicidade aumenta! Muita coisa de felicidade mora em seu interior na relação que você estabelece com seu exterior. E você pensa que a felicidade está no improvável acontecimento que um dia vai te encontrar numa loteria? 

Não se pode pensar na “grande e definitiva felicidade”. Ela não existe neste planeta. Final de novela e de filme de cinema é coisa de bobos, que, claro, eu também dou uma de bobo as vezes. E ainda choro. Mas sei que aquilo é um exercício de loucura. Como diria Rubem Alves, é preciso acreditar, naquelas duas horas do filme, que seu final é “verdadeiro”, para poder se divertir. Mas, sabemos, não há um final feliz com todas as cenas cronometradas para dar certo com casamentos, gravidezes, perdões, reencontros, etc. Huuummmm. Pode existir felicidade na morte? Creio que sim. Quero morrer na maior felicidade, inclusive dando umas bananas pra uns sacanas que vierem me visitar para se certificarem que morri mesmo, inclusive para fazerem cena pra “sociedade”. Mesmo não sabendo pra onde vou, vou sorrir feito menino mandando-os (as) “pros quintos do inferno”. Réréré. (E não me venham demover de minhas más intenções)!

A grande felicidade não vem meu/minha bom/boa amigo (a)! Desculpe lhe decepcionar. Em compensação lhe direi que pequenas felicidades cotidianas estão aí pra você. Mas se você não perceber que pequenas felicidades estão ao redor do seu dia a dia, vou utilizar jocosamente de um enunciado dos filósofos do “É o Tchan”: –“Toma distraído (a)!” e ainda vou acrescentar: – “Sabe de nada inocente!” Caso você seja mesquinho e esteja esperando a “grande felicidade” porque você é especial, mais especial que todo mundo, porque seus “inimigos” irão ficar embasbacados com a sua “vitória”. Eu posso lhe assegurar: você é um (a) tolo (a). E assim permanecerá enquanto não perceber que poderá amar as pessoas à sua volta, todos os dias e, assim, de felicidade em felicidade, iluminar sua existência na iluminação da existência alheia.

Joselito da Nair Dórea, do José Manoel, do Rafael Araújo, da Ana Lúcia Gomes, de Você, que me lê, de Tanta Gente Boa, e de Jesus, o Emanuel, Senhor Maior que me guia.