O Governo Dilma se segura. Abalado pela corrupção, pela
crise econômica e política, recolhe-se ao silêncio e espera a definição dos
contornos da atual conjuntura política que se esboça, pela reação virulenta das
classes hegemônicas, conservadoras, contra os avanços que tiveram as classes
populares. Embora haja críticas sérias ao desenvolvimento reformista, nos
quadros de um capitalismo submisso, preconceituoso e violento, a ascensão de
milhões de brasileiros a melhores condições de existência, força a necessária
tensão do conflito de classes que estava “apaziguado”, melhor, ocultado na
submissão cômoda que atendia aos interesses das classes dominantes brasileiras.
Essa tensão social força o renascimento da política no
século XXI fora dos quadros das determinações anteriores, em que somente os
representantes das classes sociais e econômicas privilegiadas lutavam pela
hegemonia, pelo comando dos rumos de nosso país, seja no PSDB, seja no antigo
PFL, hoje DEM, seja no PMDB, seja nos traidores de nossa classe popular
representados nos partidos nanicos, tendo como um exemplo o “Paulinho da Força”,
no partido “Solidariedade”, solidariedade com os privilegiados. Ao entrarem em
cena, os integrantes das classes populares começaram a ocupar um lugar
institucional – nas universidades, nos hospitais, nas secretarias de justiça,
saúde, ação social, e educação – alô Ana Lúcia Gomes, Amélia Maraux, Érica Capinan,
José Carlos e tantos (as) outros (as) –, lugares antes reservados aos
obedientes agentes públicos “de confiança”.
Essa ocupação produziu, sem dúvida, distorções, nas quais
muitos afoitos se apegaram e se apegam, com um discurso tecnocrático e tecnicista,
na tentativa de destruir toda a política pública dos governos do PT.
Muitos (as) sujeitos indicados pelos governos Lula e Dilma estavam, de fato,
despreparados tecnicamente e emocionalmente para assumir tais posições no
quadro do estado brasileiro – cargos sempre ocupados por tecnocratas fiéis aos
ditames das classes privilegiadas – tendo de aprender a lidar com os desafios
lançados pelas demandas exigidas da sociedade em mudança e de apreender os
meandros da burocracia estatal, criada para dificultar mudanças que atendam aos
interesses das classes populares.
Contudo, tal ocupação também reproduziu, no interior dos
aparelhos do estado brasileiro e baiano, os conflitos que estão na constituição
da conjuntura política, econômica, cultural e social que ora podemos perceber
nas principais manchetes dos jornais televisivos e impressos. As tensões
raciais, de gênero, de sexo, de etnia e, entre outras, de classe, são expressas
nas lutas cotidianas, nos avanços e recuos das políticas públicas do Governo
Dilma, nas reações moralistas de indivíduos, grupos e instituições que desejam
a sociedade como era: só deles (as), tão somente a serviço deles (as). Índios
sendo queimados vivos; sem-terra sendo executados; homossexuais agredidos e
assassinados; mulheres espancadas e mortas todos os dias; negros e negras sendo
ofendidos (as) pelo seu cabelo, pela ocupação de um espaço que apenas era
reservado para brancos (as); nordestinos (as) sendo acusados (as) e ameaçados
(as) pela eleição de uma presidente mulher, entre tantas outras violências
produzidas nos últimos anos, são indícios concretos de como as tensões, ficando mais e mais violentas, estão escancarando
uma realidade social que estava oculta sob o “equilíbrio” que governos anteriores
mantinham através de suas políticas de exclusão.
Portanto, antes de começar a atirar no Governo Dilma –
que produziu, não deixo de afirmar, seus erros e permitiu o empoderamento do
PMDB em seu governo – pense de forma abrangente a realidade brasileira. Não
deixe que uma parte da verdade oculte a verdade mais ampla que produz os
fenômenos que não conseguimos articular numa racionalidade do movimento
constante da história, porque não adotamos uma perspectiva metodológica que permitirá a
apreensão desse movimento produzido por um deslocamento social, político,
econômico e cultural que as últimas políticas públicas dos governos do PT ensejam e produzem.
Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de
Tantas Gentes, das classes populares e de Jesus, O Emanuel.
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