Uma
parte de mim está morrendo. E é sempre triste e difícil morrer,
mesmo uma parte que deve me deixar para sempre, porque tudo quer continuar vivendo, mesmo nossas partes psíquicas.
Essa parte foi um sonho que cresceu em mim.
Mesmo sem aquela educação que essa parte precisava ter para sonhar como ser
integral. E, como cresceu em mim, alimentada pelos meus próprios sonhos, não
percebi que meus pesadelos também estavam ali, nutrindo-a. Como um/a ingênuo/a
pai/mãe, só quis ver nessa parte a parte
bela dos meus sonhos. Ignorei o lado sombrio da minha acalentada parte que
crescia sem a disciplina necessária do meu aparelho psíquico.
E então, quando senti as dores dessa parte que emanava do meu ser, passei um longo tempo sofrendo sem saber o que fazer. Talvez porque me
recusava a identificar sua origem e reconhecer os assombros que essa parte
revelava. Até que, enfim, fui forçado a olhar no Espelho Meu que dizia para
mim: - Tem uma parte necrosada no seu eu. Uma parte que precisa ser retirada,
para que você não seja por ela inteiramente tomado.
Que revelação dolorosa! Saber que uma parte de
mim, que eu sonhara como projeto emancipatório da minha singularidade, se
corrompera, tal como os representantes políticos do meu país. Tal como eles, mas
não como eles. Não como ninguém. E ter de se despedir dessa parte está sendo a
parte mais dolorosa de meu trajeto neste momento. Mas, como em toda dor há sempre um ensinamento e uma possibilidade de aprendizagem, estou acalentando também a
esperança de poder sonhar novamente sobre outras bases humanas. Está sendo a
abertura de um caminho ainda não percorrido que pode me levar ao Espelho Meu
sem o temor de sua avaliação rigorosa e impiedosa.
A partir de agora, quem sabe eu não me olhe por
dentro de outra história? O que sonhei e que estou abandonando, não foi de todo mal.
Foi aquela esperança que se tornou ingênua diante de avaliações errôneas dos
contextos em que me inseria. Foi aquela ingenuidade que se tornou vaidosa e
aquela vaidade que se tornou raivosa e pirracenta.
A partir de agora, que descansem em paz os
mortos dentro de mim. Mortos de uma parte do meu sentir, do meu saber, da minha ignorância, enfim, do meu viver. Vou enterrá-los
nesta solenidade de palavras encadeadas com seu propósito. E vou deixá-los
partir, para que, assim, possam me deixar ficar, para que nasçam inteirezas que me componham a subjetividade historicamente concebida.
Joselito Manoel de Jesus
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