No filme "Planeta dos Macacos: a guerra", César e o Coronel [poderia ser um “capitão”] travam uma dura batalha pela vida. O Capitão, digo, Coronel, líder de uma sociedade militarizada e miliciana, apresenta traços
de insanidade, fomentando a violência e a crueldade contra todos/as aqueles/as
considerados inimigos/as, principalmente os macacos, cuja existência ameaça sua
ideia de “civilização”. Os macacos precisam se unir para sobreviver na base do “ninguém
solta a mão de ninguém”. Liderados/as por César, os macacos desenvolvem
estratégias de sobrevivência, num mundo que os ameaça por toda parte.
Num Brasil no qual vozes das catacumbas, divulgadas
por uma mídia a serviço dos “poderosos”, defendem a “família”, a propriedade
privada e a “ordem” dos homens brancos, que idolatram os Estados Unidos da
América, ditos machos, homens grosseiros, violentos, imbecis e pouco afeitos às
letras, às mulheres empoderadas, aos poemas, à arte cinematográfica e à cultura
de modo geral, liderados por um suposto “capitão”, nós, as minorias –
nordestinos, nortistas, negros, mulheres, mulheres negras, lésbicas, gays,
travestis, indígenas, intelectuais de modo geral, entre outros e outras - somos
os macacos de sempre, cuja simples existência ameaça o mundo ideal dos homens
brancos que apontam sua alma armada para nosso desassossego.
Em Bacurau, o prefeito corrupto Tony Júnior – personagem
que bem representa os mentirosos, cínicos e caricatos prefeitos que se
reproduzem nos currais eleitorais afora, feitos jumentos batizados (perdão aos jumentos) – que tem ambições políticas, mas
enfrenta a resistência do povoado de Bacurau (que bem poderia ser classificado
pelo Conselho Nacional de Informação dos homens brancos como “perigoso núcleo comunista”)
– que seria qualquer distrito de qualquer cidade nordestina, tal como Junco,
Paraíso, Ibó etc. –, se associa aos supremacistas brancos americanos que desfrutam
do prazer de matar pessoas consideradas inferiores, chegando ao
orgasmo com tal ato de crueldade gratuita, compartilhada com os interesses eleitoreiros
nefastos do prefeito. As pessoas de Bacurau são os macacos, tanto para o prefeito,
que apagaria toda cidadania crítica do lugar, quanto para os supremacistas
brancos americanos que destituem de humanidade quem está para além de suas
fronteiras raciais, especialistas em tiro ao "não-alvo".
E a polícia, principalmente a do Rio de
Janeiro, sob a liderança de um homem nem tão branco assim, mas “terrivelmente
evangélico” e possivelmente demente e copiador de dissertações e teses, está
matando os “macacos” e seus filhos, atirando em todas as direções com aquele
gosto nazista de limpeza étnico-racial, para que o Rio de Janeiro volte a ser “lindo” ou "limpo", sabe-se lá.
O feminicídio cresceu bastante sob a égide do “capitão-queima-mato", num desdobramento
político social de homens, como ele, que odeiam mulheres que não se submetem
aos seus caprichos e, desse modo, se tornam “macacas”, ameaçando o paraíso
machista no qual esses homens desumanos dominam, silenciam e, quando não podem obter
obediência, matam.
Nós, os macacos da vida real, estamos sendo
perseguidos nas universidades públicas, nos hospitais, nas escolas públicas, nas
instituições de pesquisa, fiscalização, monitoramento e controle do meio ambiente, de investigação e
vigilância, nas favelas, nas ruas e mesmo nas residências, onde a masculinidade
tóxica é incentivada, sob essa “ordem bélica”, a violentar e matar, a fim de
manter a família e a propriedade privada sobre o pensamento e a liberdade
humana sob os desígnios de um deus imposto e impostor, criado por pastores espertalhões,
mentes doentias e uma mídia manipuladora. Essa ameaça cotidiana do Estado,
através de um governo violento e débil à nossa vida, precisa ser enfrentada. E,
embora haja medo, o medo não pode nos paralisar, como diria o mestre Paulo
Freire. O medo deve ser encarado de frente, porque como canta “O Rappa”:
A minha alma 'tá armada
E apontada para a cara do sossego
Pois paz sem voz paz sem voz
Não é paz é medo
As vezes eu falo com a vida
As vezes é ela quem diz
Qual a paz que eu não quero
Conservar para tentar ser feliz
Quem sabe não somos quase todos e todas de “Bacurau” e precisemos lutar para que todo o planeta seja, pela primeira vez, o planeta dos macacos?
Joselito da Nair, do Zé, de Ana Lúcia, de
Joelmo Dórea, de José Jorge Dórea, de Itajacira Dórea, de Tantas Gentes e de
Jesus, O Emanuel.
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