terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

A POBREZA POLÍTICA DO GOVERNO RUI COSTA NA BAHIA


A qualidade política do Partido do Trabalhadores (PT) na Bahia com a ascensão de Jaques Wagner ao governo do Estado, e, depois, com a consolidação de Rui Costa, foi ferida mortalmente com práticas autoritárias e alianças que fortaleceram um novo coronelismo na Bahia com velhas raposas carlistas como Otto Alencar e seu filhinho Otto Alencar Filho; João Leão e seu filhinho de papai, Cacá Leão; Mário Montenegro, que foi colocado no tabuleiro desse jogo de xadrez no governo de Jacques Wagner, e seu filhinho Mário Montenegro Júnior, e, Ângelo Coronel, com sua esposa, que foi alçado ao senado, com o processo de retirada da candidatura de Lídice da Mata ao mesmo cargo. Rui Costa demonstra com isso como a manutenção do controle do Estado permaneceu simbolicamente sob o domínio do partido, afastando-se dos partidos de esquerda da Bahia, mas na prática João Leão e Otto Alencar ampliaram seus domínios sob a decadência do carlismo e sob as bençãos do PT com cargos e recursos do Estado oferecidos para eles. Um governo assim só sobrevive da pobreza política daqueles e daquelas que o ajudaram a eleger, como a maioria das funcionárias públicas e dos funcionários públicos.
Pedro Demo, pesquisador e professor de Sociologia cunhou dois conceitos importantes para compreendermos determinadas realidades na dimensão política: pobreza política e qualidade política. A pobreza política é a pobreza mais intensa, porque ela nos torna escravos de nossos próprios pensamentos. Pobreza política não é apenas não ter, mas também não ser, nem querer ser. Começamos a admirar os ricos e seus privilégios, seus espaços “vip”. Não desejamos ser como os nossos e as nossas, da periferia, mas como eles e elas, das classes privilegiadas. Começamos a pensar como eles e elas, e começamos a nos culpar pela nossa própria pobreza, pois pensamos que nossa falta de "empreendedorismo" e falta de esforço é que foram responsáveis pela nossa condição de pobreza, pois nossa pouca educação nos faz ficar cegos para as verdadeiras estruturas de impedimento de nossa melhoria de vida e de exclusão de nossa gente, que se consolidaram ao longo da história. Demo afirma que
A democracia, a rigor, só pode frutificar em ambientes de relativa qualidade política, ou seja, onde predomina a condição de sujeito, não de objeto. Não se pode negar que cresce o descrédito sobre as atuais democracias representativas, porque os representantes do povo representam tudo, menos o povo, mas esse abuso não retira o argumento. (DEMO, 2006, p. 40)
E o que temos de menos é qualidade política na Bahia. O que temos de menos é qualidade democrática. Até mesmo porque tal qualidade está diretamente associada à educação, e a educação de nosso Estado baiano de coisas está sendo atacada, através do ataque às suas professoras e aos seus professores, funcionários públicos na saúde, educação, segurança, considerados inimigos do Estado pelas lentes de um neoliberalismo que se implantou em sua administração desde o governo Wagner, mas implementado de modo mais eficaz e autoritário pelo Governo Rui Costa. Nem nos governos de direita da Bahia, com exceção de Antônio Carlos Magalhães, sofremos uma repressão tão forte sobre nossos direitos de trabalhadoras e trabalhadores de reivindicação através da luta organizada. São seis anos penando, sem uma mínima correção salarial, enquanto somos comparados a juízes e desembargadores que chegam a ganhar mais de cem mil por mês com uma produtividade que não corresponde à necessidade social de nossa gente. 

Pobreza Política e Qualidade Política

Ser pobre não é apenas não ter, mas ser impedido de ter. A pobreza então, não é culpa do pobre, como muitas pessoas da classe média e das elites querem nos fazer crer. A pobreza só existe porque existe a riqueza. Ou seja: toda riqueza é fruto de um roubo formalizado e legalizado pelo sistema político e econômico que nos retira a riqueza produzida pelo nosso trabalho em cada aula que damos, em cada pesquisa que fazemos nas universidades públicas; em cada semeio de terra; em cada alevino de tilápia reproduzido e distribuído; produzimos a riqueza do burguês quando vigiamos restaurantes, bares, hotéis, bancos, estradas, ruas, vilas e cidades, arriscando nossas vidas para defender a vida dos clientes que consomem seus prazeres; produzimos a riqueza alheia quando atendemos pacientes em ambulâncias que circulam desesperadas em busca de tempo suficiente para salvar mais uma vida; produzimos a riqueza alheia quando jogamos nossa prancha no mar para salvar mais uma vítima de afogamento; produzimos a riqueza do abastado quando defendemos sua família arriscando nossas vidas em patrulhas pela noite, enquanto nossas famílias estão em constante perigo nos bairros da periferia; fazemos a riqueza alheia quando aceitamos nossa pobreza econômica numa pobreza política servil ao patrão que só enriquece, enquanto definhamos nossa vida na pobreza.
Nossos salários congelados pagam os privilégios dos juízes que pouco trabalham; nossos salários reduzidos com a inflação verdadeira, que nos abate mês a mês nos supermercados, nas taxas e impostos que só aumentam, abastecem a copa nababesca de Rui Costa com suas cervejas selecionadas, seus whisky’s importados, seus alimentos de primeira, seu helicóptero e sua mansão paga com nosso suor. Nossas vidas miseráveis pagam caro para manter esse sistema nojento funcionando, com esses novos senhores do poder, com suas cabeças brancas e seus chicotes nas mãos em forma de caneta, decretando cortes nos setores mais pobres, como a educação e perseguindo os trabalhadores e as trabalhadoras que não aceitam submissão.
Qualidade Política, segundo Demo (2006, p.39) “[...] é a habilidade humana de constituir-se sujeito relativamente autônomo, participar ativamente na democracia, efetivar cidadania individual e coletiva, ser capaz de conviver na igualdade e na diferença.” Se temos habilidade humana de constituir com autonomia para participarmos ativamente na democracia, o governo Rui impediu com a falta de negociação, com o congelamento há mais de 6 anos e o corte de salários durante nossa greve, com o autoritarismo absoluto, com o silêncio conveniente de vereadores/as, deputados/as e senadores/as que outro dia estavam ao nosso lado pedindo voto e disfarçando suas humildes parcerias com nossos sindicatos, inclusive segurando faixas, quando o governo era de Paulo Souto, tais como Nelson Pelegrino, Olívia Santana, Lídice da Mata, Alice Portugal, Osni, entre outros e outras que agora se afastam de nós como o diabo foge da cruz.
O Governo Rui sequer fala em povo e em investimento na educação ou na educação como investimento. A não ser na condição de pobreza política, pois destinatários de políticas assistencialistas que somente alimentam o poder do Novo Sinhozinho da Casa Grande, que fica no alto de Ondina. O construtor de obras não deseja construir um povo, pois a educação do seu Estado se encontra em estado lastimável se comparado a estados como Ceará e Pernambuco. Pedro Demo (2006, p.39) nos avisa que “a qualidade política depende crucialmente do desenvolvimento da aprendizagem e do conhecimento, razão pela qual é uso valorizarmos educação como investimento fundamental na cidadania individual e coletiva.” O que vemos é uma repressão salarial, política e uma tendência privatista do Governo Rui, neoliberal e autoritário, mas já desde o Governo Wagner, em cima das professoras e dos professores da Educação Básica, além da repressão ao conhecimento produzido no Estado através das universidades públicas estaduais da Bahia que, ano a ano, penam com restrições orçamentárias. Que pena um partido que veio trazendo esperança para mudar o coronelismo na Bahia, agora reproduz as mesmas práticas autoritárias com as funcionárias e os funcionários públicos, além de oferecem para a população pão e circo, para consumo periódico.

Joselito da Nair e do Zé. Não sei se sou de Tantas Gentes assim. Sempre sou sozinho mas sempre tenho alguém.    
Com o auxílio de

DEMO, Pedro. Pobreza política: a pobreza mais intensa da pobreza brasileira. Campinas, SP: Armazém do Ipê (Autores Associados), 2006.

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