Eu tentei andar direito, conforme minhas crenças e, por aí, vigiei e orei para não cair em tentação. Vigiei mais os outros que a mim mesmo, com olhos atentos, perseguindo cada passo e medindo cada gesto do incauto, do infiel, e apontando o meu dedo de magistral imperador.
Fui à missa e escutei todos os padres e me curvei aos seus sagrados poderes da fala institucionalizada, que me deixavam politicamente e culturalmente abaixo deles, embora sempre houvesse exceções mais que honrosas. Mas um dia eu comecei a perceber que o maior pecado era o meu. Um pecado antigo, colonial, que traz a mania de só medir cada ação e comportamento pelo meu umbigo sacramental, de só querer o meu pedaço celestial e ainda atazanar os outros com minhas obsessões. Agora eu entendo como nascemos muitas vezes, de nós mesmos e dos outros. Dificilmente nascemos da rebeldia. Nascemos quase sempre pela procura do mais fácil e do mais confortável. Depois do frio que experimentamos ao sair do ventre, choramos atrás do conforto perdido, atrás do materno aconchego. Nascemos do medo e nos adequamos ao discurso hegemônico para não sofrermos as consequências dos ex-amigos e das autoridades “competentes” em cuidar da grande ordem social.
Eu acordei de um pesadelo cristão. De uma promessa vã de felicidade conforme uma ordem bem montada de poder, que se diz atemporal, mas destila bem no tempo a sua poderosa influência, muito pouco cristã. Acordei. Deus agora é Deus mesmo. Deus nú, despido de igrejas, de papas, de pastores e de padres. Deus que se completa na relação conosco. Deus dos outros, mais que de mim ou de qualquer grupinho de poder. Deus de todos os seres, mais que de nós, os humanos. Abandonei, assim, o pecado alheio para poder ser perdoado desse pecado. Saí da janela, saí da candinha e olhei para meu ambiente interno. Meus olhos se abriram para um “admirável mundo novo”, mundo-povo, povoado de plurais que desde muito habitam este pedaço de país.
Eu deixei de olhar o outro com o ódio de quem estava no caminho da verdade e da vida. Eu olhei e percebi o quanto estava deprimente. E o quanto estava ausente deste mundo. Estava constituído de ideias arcaicas e, assim, dirigia meus propósitos e orientava minhas ações. Meu caminho certo estava errado. Eu fui enredado nesse chão desde o dia em que nasci e como um burro me alimentei desse capim. Eu pensei ser um burro por causa do capim que sempre me deram como bom alimento. E fui comendo a gororoba social e cultural que me fizeram uma gogoroba de ser humano. Indigesto, e ainda com a pretensão de saboroso.
Eu acordei. E, sonolento, fui sedento atrás de Deus, atrás do tempo perdido na catequese que me fizeram um credor de concepções tidas como únicas e verdadeiras. Eu acordei!!! E agora vejo o que a formação humana pode ser: Formação de tolos.
Joselito da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
É...Um dia ou outro quase todos acordam, saem das trevas. Que haja mais luz em nossos caminhos!
ResponderExcluirAbraço...
Verdade Mayre. Verdade. É como se eu ainda estivesse drogado por uma poção ideológica braba.
ResponderExcluirUm abraço: Joselito
Ótima reflexão,
ResponderExcluirTalvez outro passo possível seja perceber que o que se chama de “Deus” é mais uma ilusão - um delírio, pra ser mais direto. Provavelmente sentirás repulsa ao ler isso, mas é o esperado: estamos tão apegados ao que nos foi ensinado na infância pelos nossos pais que não percebemos quão falsos são esses pressupostos...
Abraço.