domingo, 23 de outubro de 2011

Pai, Filho e Corrupção no Brasil

Um dia qualquer, numa manhã chuvosa, pai e filho estão em casa, em frente à televisão, sentado no sofá da sala. Durante o comercial, esse tempo indefinido onde ficamos sem saber o que fazer com a nossa vida, um diálogo entre pai e filho começa a preencher o longo vazio...

- Meu filho, o que você vai ser quando crescer?

- Ah, meu pai, isso eu sei...

- E o que é? Pergunta curioso o pai.

- Político. 

- Político? Pergunta o pai surpreso, pois essa é uma atuação humana que criança geralmente nem tem interesse.

- É pai. Pois como político, eu vou poder fazer o que quiser nesse país que não vou nunca pra cadeia.

 O pai, preocupado, retruca: - Mas meu filho, o que é isso?

- É pai. Não é errado cometer crimes quando se é político em nosso país. Aqui no Brasil isso é normal e a Lei está do nosso lado. Falava o filho já se sentindo um verdadeiro parlamentar. E continuou. Aqui todo mundo que tem prestígio político é sempre inocente. Aqui rouba-se merenda de criança, produtos higiênicos, donativos humanitários, verbas de emergência para socorrer famílias atingidas por calamidades. Aqui desvia-se dinheiro público destinado aos esportes, ao lazer, à educação, à formação profissional de crianças. Aqui também as obras se tornam ruínas antes de serem concluídas e o que seria destinado para irrigação de lavradores pobres produzirem com dignidade sua existência, é invadido pelos ricos e poderosos que constroem mansões imensas.

- Mas meu filho, o que é isso? E o que você aprendeu na catequese? Atônico o pai tenta, atabalhoadamente, demover o filho de sua argumentação, recorrendo ao campo do sagrado. Mas o garoto, refletindo as convicções da nova geração a partir de sua observação pertinente do mundo, continua. 

- Olha pai, eu descobri que a religião e a fé aqui em nosso país, assim como a maioria das coisas, entre elas a educação, é só figuração. O político não vai à igreja porque tem fé. Ele vai em tempos que antecedem eleições para angariar o máximo possível de votos dos fiéis. Ou ele aparece de vez em quando para tratar com os líderes dessas religiões para explicar algo que esteja em votação e que contraria os interesses dessas religiões, como foi o caso da lei do aborto. O senhor não se lembra que os políticos lá em Brasília, ao receberem a propina do esquema montado por Arruda deram-se as mãos e ainda rezaram agradecendo a Deus pela sagrada propina que o “pai” os concedeu? Os corruptos também têm o deus lá deles, que abençoa a corrupção bem sucedida. Na verdade, meu pai, eu tô descobrindo que cada grupo inventa um deus pra si. Eu vejo escrito em adesivos em alguns carros: “Deus é fiel”. Aí eu fico pensando. Deus é fiel por causa do carro? O carro é o símbolo do Deus Vivo que abençoa um ser humano dando-lhe como sinal um carro e prestações durante cinco anos para pagar? Por que a fidelidade de Deus está ligada a um bem simbólico de sucesso como um carro ou uma casa? Por que precisamos repetir repetidamente que Deus é fiel? Ou porque Deus seria fiel apenas para quem conquistou um bem material como um carro? E as outras pessoas que andam de ônibus? Deus não seria tão fiel assim para elas? Pense bem meu pai. Deus é só uma invenção particular e conveniente, principalmente para os políticos. Quer um exemplo: como a maioria dos habitantes desse país são cristãos, por causa do processo histórico de  colonização, dividindo-se em evangélicos e católicos, os políticos comportam-se de acordo com isso. Vão, comungam, oram, cantam músicas evangélicas, e até pregam. Mas se fôssemos um país onde imperasse o candomblé, eles, os políticos, estariam nos Terreiros, recebendo até as Entidades e os Orixás, trazendo nas mãos as oferendas à Iemanjá e os presentinhos de Exú para que o Orixá brincalhão e irreverente não atrapalhasse a sessão. Ô pai, político não se preocupa com Deus ou com outras Entidades Divinas. Ele se preocupa consigo, apenas. Sarney se preocupa com Sarney, Calheiros com Calheiros, Da Silva com Da Silva, Nascimento com Nascimento, o diabo com o diabo. Só Deus, o Deus verdadeiro, é que se preocupa com coisas como justiça, verdade, amor, solidariedade.  


- Hum. Graças a Deus, meu filho acredita em Deus. Exulta o pai. E continua. - Nunca havia pensando por esse ângulo. Responde o pai, pensando em como aquele filho de 15 anos era tão perspicaz. Seria a escola? Não. A escola parecia tão formal e destituída de vida. Ele aprendera nas interações com o mundo, apesar da escola, e com sua personalidade. A escola não trata de corrupção e do mundo atual. Trata de conteúdos que não se articulam ao mundo.

- Pai, deixe de ruminar e vamos ao que interessa, que é ser político no Brasil. Fosse para fazer justiça todos os ladrões, estelionatários e assassinos deveriam estar soltos. O Congresso Nacional é um presídio a céu aberto, com raras exceções, pois isso ainda sempre tem. Um presídio que funciona terça, quarta e quinta e, depois, solta seus inúmeros “inocentes até se provar o contrário” na sociedade. Os Ministérios então. Cada um é uma capitania hereditária, digo, partidária (vi isso em algum jornal). O PC do B - cheio de comunistas de araque, doidos pelos bens da burguesia - que sempre foi fiel ao PT, por exemplo, já levou, num esquema montado a partir de ONG's, o seu bocado de milhões, pagos regiamente pelos cidadãos de nossa “pátria mãe gentil” através dos impostos, incluindo o de Renda, senão irão presos, sem direito à fiança, é claro. Aliás, essa pátria é gentilíssima para os políticos que compõem a base do des-governo. Eu pensei que foi FHC que deixou uma “herança maldita” para Lula. Mas, a herança que Lula deixou para Dilma administrar, é mais que maldita. É um câncer maligno!!!

- Mas filho...
E essa conversa continua. A novela recomeçou depois do comercial.

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