sexta-feira, 29 de março de 2013

CONHECIMENTO? QUEM SABE MAIS?


A forma de conceber o trajeto até o conhecimento e do próprio conhecimento, é crucial, seja para processos emancipatórios, seja para processos regulatórios da formação humana na escola. Sendo dado, como algo pronto a ser apreendido passivamente pelos educandos, o conhecimento distancia-se da emancipação dos mesmos. A centralidade do livro didático, tanto no ensino, quanto na aprendizagem, vem como um sintoma claro desse movimento regulatório e coibidor do exercício da criticidade no processo educativo, que torna-se contra educativo. Na educação do campo, segundo relatos dos próprios professores da mesma, o livro didático é relativizado no processo.

Nesse caso, o ponto de partida para o conhecimento é o local, e ainda mais, sua interpretação pelos indivíduos que aí convivem. É no local onde se articula a experiência do educando, os saberes da comunidade e as festas, os encontros, os acontecimentos locais, ou globais, que adquiriram um significado próprio. No local o ser humano pode encontrar elementos de transcendência de si próprio e fazer do mundo o ventre dinâmico do seu nascimento/renascimento permanente. A escola se torna, nessa perspectiva, uma instituição educativa viva, plural, construída cotidianamente pelos sujeitos singulares. Desse ponto de vista, a escola tem que deixar de ser do diretor “fulano” ou da diretora “sicrana”, deixar de ter um dono, uma dona, e passar a ser de todos e todas, ou seja: de sujeitos singulares convergindo na pluralidade, criando a necessidade concreta de reconfiguração das relações interpessoais autoritárias, preconceituosas e discriminatórias, obrigando os (as) educadores (as) a se reeducarem, ou seja, a também renascerem de si, juntos aos educandos, num processo educativo emancipatório que pode ser desencadeado por uma nova/velha Pedagogia que começou faz muito tempo, mas ainda não pode ser concretizada em espaços institucionais e políticos mais amplos.

E aqui, neste ponto do texto, a necessidade de discutir a educação escolar e sua concepção de conhecimento e seu significado se faz imprescindível. O que é conhecimento? Conhecimento pode ter o significado de emancipação? Sim! Conhecemos porque somos curiosos e queremos saber. Tal como Gilberto Gil...

Queremos saber,
o que vão fazer
com as novas invenções.
Queremos notícia mais séria
sobre a descoberta da antimatéria
e suas implicações
na emancipação do homem,
das grandes populações,
homens pobres das cidades
das estepes dos sertões
Queremos saber,
Quando vamos ter
raio laser mais barato.
Queremos, de fato, um relato
retrato mais sério do mistério da luz
luz do disco voador
pra iluminação do homem
tão carente, sofredor
tão perdido na distância
da morada do senhor.
Queremos saber,
queremos viver
confiantes no futuro
por isso se faz necessário prever
Qual o itinerário da ilusão?
A ilusão do poder
pois se foi permitido ao homem
tantas coisas conhecer
é melhor que todos saibam
o que pode acontecer
Queremos saber, queremos saber
Queremos saber, todos queremos saber.

Pois é: “todos queremos saber.” E do que sabemos, não queremos deixar de saber para saber um saber que nada sabe sobre o nosso viver. Portanto, conhecimento pode ser desconhecimento na alienação que produz em seu processo de conhecer. Esse saber eu não quero. Porque eu sou e porque penso. Mas não como Descartes brilhantemente e genialmente pensou. Eu penso porque vivo a minha existência encarnada num local específico do mundo. Penso porque sem o outro eu não sou nada. Sem o outro eu não consigo ser eu. Sem minha terra, sem o sofrimento e sem a esperança eu não sigo o meu destino, e não consigo escrever um palmo do meu caminho. E, assim como eu, meu educando também pensa. E quer pensar seus pensamentos, sem ser negado por uma ordem escolar ou universitária que lhe nega seu direito mais legítimo de pensar.

Para que tanto saber? Para que essa vontade avassaladora de saber tudo e a tudo controlar? Perguntava Nietzsche e, depois, Foucault. Esse saber que me nega, que me cega, que relega o meu jeito, o meu leito, o meu peito, o meu sabor e a minha ira? Prefiro, pode pensar certamente assim o educando, a minha sina que não me recrimina. E essa escola prepotente esvazia, porque sua função enfastia o educando curioso. Essa escola que quer regular, transformar em objeto o sujeito curioso, desejoso de conhecer o conhecimento de sua gente, que lhe traga emancipação, júbilo, felicidade. É da mamona que o educando de Val aciona o seu saber e é daí que elege o seu conhecer. E assim, como da mamona, vem saber do abacaxi, vem saber da Feira de Cariri, vem saber da Feira de São Joaquim, vem saber da maré e da maresia, vem saber em forma de medo, de desejo, de segredo e de poesia. E esse saber, não controla, ele apenas desenrola e sistematiza a vida que segue sua lida na alegria e na tristeza, na feiura e na beleza. 

quarta-feira, 27 de março de 2013

A SECA NA ELEITORADA BAIANA


"Considera-se que a seca que assola o Nordeste, em especial o semiárido baiano, é a maior dos últimos 60 anos." Começa Samuel Celestino (2013) a referir-se ao problema. E, mais à frente chega aonde eu penso.

O passivo que está no colo de Jaques Wagner para ele embalar não vem de agora, mas de outros governos. Seria necessário que se elaborassem projetos estruturantes para a perenização dos rios e construção de barragens que minorassem situações como a que no momento se observa. O Ceará cuidou desta equação preventivamente. Daí não estar a sofrer como acontece na Bahia. É pena, mas a verdade é esta. (CELESTINO, A TARDE, Salvador, domingo, 24/03/2013, p.B1)

A seca é um fenômeno natural, mas seus efeitos perversos é um fenômeno político e social. Sim. Desde que me entendo por gente – quer dizer, desde que fui humanizado pela cultura em que estava inserido – ouço falar da seca e de seus efeitos nocivos. Através do grande mestre Luiz Gonzaga, de Guimarães Rosa, de Graciliano Ramos, dos parentes que por lá viviam entre tantas outras e tantos outros parentes e conhecidos que traziam informações e pareceres entremeados de lamentações e esperanças. A gente conhece esse fenômeno de uma região que seca. Mas não seca porque Deus ordenou a São Pedro que fechasse a “torneira do céu”, como crê, ingenuamente, alguns e algumas, mas porque a distribuição nacional, regional e estadual da riqueza é desigual, e, por isso mesmo, injusta. E justifico com o exemplo dado por Pedro Demo em seu livro “Pobreza Política”.

Quando uma comunidade tem sua colheita destruída pela seca, enchente, praga, segue a fome. Não é porém, pobreza propriamente, porque é condição natural. Falta de chuva, em si, não é problema social. A pobreza começa a aparecer em outro horizonte, por exemplo, se apenas certos grupos passam fome, enquanto algumas minorias já não passam, ou pior ainda, lucram com a carestia. A seca não faz o pobre; faz o pobre a “indústria da seca”. (DEMO, 2013, p.07)

Portanto, o fenômeno da seca e da pobreza que dela advém no Nordeste é mais político que econômico, é mais social que natural. O estado do Ceará se preveniu, porque deve entender que os cearenses que vivem nas regiões semiáridas devem ser cuidados pelo estado, porque contribuem com denodo para a agricultura, a pecuária, enfim, a economia da região, desempenhando papel significativo nesse processo. Outra coisa seria olhar essas pessoas e percebê-las apenas como habitantes de uma região atrasada, que sobrevive às custas do estado, pedindo esmolas e favores. Talvez – e aqui, claro, estou especulando, mas com base nos efeitos perversos que identifico – os governos do estado da Bahia percebam os moradores de seu semiárido assim: como eternos esmolés, maltrapilhos atrasados e analfabetos, e, por isso mesmo, os abandone à própria sorte, melhor, ao próprio azar numa região esquecida pelo estado. Fico especulando outra coisa, menos perversa, mas, nem por isso menos prejudicial, pois produz a mesma nocividade. Talvez o Governo não queira ou não saiba governar. Assim sendo, penso que elaborar projetos estruturantes dê muito trabalho, além de ter de formar equipes de trabalho, articular técnicos competentes, dar-lhes autonomia, coibir a influência da politicagem nas secretarias de estado, colocando o espírito público acima dos interesses privados, principalmente dos interesses eleitoreiros. Mas, pelo que ouço, não é isso que acontece. A Secretaria de Educação do Estado da Bahia, por exemplo, é feita para não funcionar, porque quem sabe fazer alguma coisa útil e tem competência para agir, é submetido aos mandachuvas incompetentes indicados por partidos diversos que compõem a barra pesada, digo, a base, do governo. Sobre isso, Antonio Lins, poeta e jornalista, escreveu um texto interessantíssimo no jornal A Tarde da segunda-feira, 25/03/2013, página A3 sobre isso. Destaca ele que:

Do bom governante espera-se a coragem de fazer o que precisa ser feito em benefício do bem comum, o que eventualmente, em situações de crise, implica adotar medidas que contrariem os interesses eleitoreiros imediatos dos grupos políticos que o sustentam. Governar, portanto, significa envolver a sociedade no processo inevitavelmente difícil de construir o futuro. A alternativa é o populismo, que reduz o cidadão à condição de eleitor manipulado por uma máquina de fabricar ilusões. (LINS, Espírito Público, A Tarde, Salvador, 25/03/2013, p.A3)

E Lins continua, na tentativa de prevenir os seus leitores sobre o desencadeamento do ano eleitoral muito cedo.

O que parece bastante provável é que, nos próximos meses, a relação entre o governo e o principal partido que o apoia adquira certa tensão. Está claro que, a partir de agora, o PT não está interessado em governar o País, mas em vencer as próximas eleições. É a inversão do princípio de que os partidos políticos querem ganhar eleições para chegar ao poder. O PT quer usar o poder para ganhar eleições e para tanto não hesitará em fazer rigorosamente tudo o que for necessário. Essa é sua visão muito peculiar de espírito público. (LINS, Espírito Público, A Tarde, Salvador, 25/03/2013, p.A3)


Logo, minha desconfiança vai ganhando contornos mais verossímeis e vou passando da especulação para a constatação provisória. O governo já acabou em 2013. Agora é fazer mais alianças, seja em Brasília, seja na Bahia, para ampliar a “base de governo” a fim de acolher os infelicianos que infestam os palácios com suas imundícies mal cheirosas, seja os que se encontram na Alvorada, seja os que estão no Alto de Ondina.

A seca, portanto, é resultado dessa desordem, ou melhor, dessa ordem estabelecida contra o povo, contra o interesse público, o bem comum. A pobreza não é um dado natural, é um fenômeno político e social assegurado por desgovernos que representam interesses privados e mesquinhos, que, por uma eleição futura, botam a perder o bem comum presente. Viva o Ceará!!!!

Joselito Manoel de Jesus, Com o apoio de
CELESTINO, Samuel. A seca e o jogo político. A Tarde, Salvador, domingo, 24/03/2013. P. B1
DEMO, Pedro. Pobreza política: A pobreza mais intensa da pobreza brasileira. Campinas, SP: Armazém do Ipê (Autores Associados), 2006.
LINS, Antonio. Espírito público. A Tarde, Salvador, Salvador, segunda-feira, 25/03/2013. P. A3.

sábado, 23 de março de 2013

Infeliciano: por um movimento evangélico

O atual presidente da Comissão de Direitos Desumanos e “minorias” da Câmara de Deputados do Congresso dito “Nacional”, deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), representa, de fato, esse congresso – em minúsculo mesmo – que aí se encontra. Esse congresso está repleto de gente sem escrúpulos, que assalta o patrimônio público em busca de enriquecimento ilícito a qualquer preço. Muitos estão envolvidos em formação de quadrilha, peculato, fraude em licitações e outros tantos sinistros ligados ao crime, tal como o líder do governo no senado, Eduardo Braga.

Um líder do governo. Líder do governo, repito. Líder de um governo desse país. “Que país é esse?” Repito a pergunta do outrora e inquisitivo Legião Urbana. Marco Feliciano é só a ponta do iceberg. Um iceberg que o titanic brasil finge não ver, porque nossa república é quase uma quadrilha só. Aqui a máfia italiana não teria chance. Só se ela formasse um partido e fizesse acordos de exploração de áreas exclusivas do crime organizado. Assim como as áreas de exploração do petróleo estão sendo “licitadas”. A gente mira Feliciano, mas deveríamos mirar mais acima. Deveríamos fazer uma greve geral contra a corrupção, contra a impunidade e contra o cinismo. Os mensaleiros, os anões do orçamento, os ladrões de todos os tempos estão soltos história afora, reelegendo-se Brasil adentro. A nossa lei sempre beneficiou o capital e os crimes financiados sempre foram afiançáveis. Tem algum (a) mensaleiro (a) preso? Não. As cadeias aqui são desconfortáveis para eles e elas.

Creio que, antes de qualquer coisa, nós, denominados genericamente de povo brasileiro, devemos reconhecer esse país de merda. Esse país que finge ter uma educação de qualidade, que finge oferecer serviços públicos educacionais, de saúde, de segurança e de infraestrutura de qualidade, que finge, esfinge que não pergunta, porque já sabe a resposta e que, portanto, não devora. Contudo, entretanto, todavia, Feliciano devora suas presas ávidas por milagres. Mulheres e homens que pensam que compram deus e seu pacote de bondades em cheques, cartões de crédito – que sem senha não chega a deus – dinheiro em espécie, numa espécie de negociata celestial e, paradoxalmente, bestial. De bestas e de besteiras os pastores fajutos desembestam suas contas e aumentam seus privilégios. E um monte de tolos, com uma capacidade crítica próxima a zero, alimentam suas contas dia a dia.

É preciso que os evangélicos que se respeitam manifestem o seu desagrado com tanto estelionato, cinismo e fingimento de falsos pastores que conduzem suas "ovelhas" para o mundo da alienação e da miserabilidade humana. É passada a hora da criação de um movimento evangélico que separe o joio do trigo, posicionando-se a favor da verdade, da justiça e do amor. Um movimento evangélico e cristão que retire o dinheiro da mediação com Deus e reafirme e enalteça os valores cristãos, retomando a fé baseada nestes valores. O que não se pode é, em nome de uma falsa e deturpada “unidade evangélica”, como se todos os gatos fossem pardos, imperar o silêncio conivente. Ou será que os evangélicos podem julgar o “mundo” e o “mundo” não pode avaliar a conduta evangélica? É preciso que pastores e fiéis reafirmem a sua fé num momento crítico, em que os evangélicos de verdade, que não vivem do “dízimo” alheio, devem pronunciar a sua indignação. É preciso que levantem a voz na tribuna para combaterem os canalhas que se aproveitam da inocência e da loucura alheia. Alguém precisa falar!!  

Na verdade, tudo é mundo. Não existe um mundo lá fora, da tentação. Mundo é tudo aquilo que foi criado pelo ser humano em sociedade. Portanto, evangélicos e suas inúmeras agremiações, budistas, católicos, candomblezeiros, etc., são mundo, não podendo escapar dele e de seus efeitos, nem podendo escapar dos efeitos que produzem na grande rede interativa que é o mundo. Estão inevitavelmente entrelaçados pela história, não podendo fingir que não há nada de grave acontecendo e que não os envolve. E, sendo mundo, não devem emudecer diante de tanta canalhice de falsos evangélicos como o "pastor alemão" (que reflete o projeto nazista) disfarçado de ovelha, Feliciano não sei das quantas, um racista, homofóbico e charlatão – quando eu vejo homofobia começo a desconfiar que o pitbul que vocifera no público tem outro comportamento no privado –. O  diabo avança Congresso adentro.

Joselito Manoel de Jesus  

terça-feira, 19 de março de 2013

O Papa é Argentino. Mas Deus não é brasileiro

Por causa da recente eleição do Papa, um argentino, alguns brasileiros, famosos ou não, utilizam da velha máxima de que Deus é brasileiro, desdenhando jocosamente da nacionalidade do novo Papa. Acredito que essa afirmação de que Deus tem uma preferência especial por nós talvez venha do reconhecimento de que nosso país não tem os problemas naturais que outros países têm, como terremotos, furacões, vulcões nem tornados, capazes de aniquilar milhares de seres humanos em tempo bastante curto. Nosso país é cheio de riquezas naturais, minerais, com um clima apropriado para o desenvolvimento agrícola, para a pecuária, com grandes reservas e a maior floresta do mundo, entrecortada por rios e mais rios, sendo a maior reserva de água doce na superfície do mundo, senão me engano. Assim, Deus, por abençoar estas paragens, estaria oferecendo um indício claro de sua predileção pelo nosso país e pelo seu povo. Logo, para nosso júbilo – para utilizar uma palavra bem religiosa – Deus é brasileiro.

Contudo, desconfio que Deus não tem predileção por povo algum na face da terra, apesar de alguns acharem isso. Deus tem predileção pelo ser humano. Pensa na humanidade, em qualquer lugar do mundo onde a mesma esteja. E, segundo se conta e reconta, faz um esforço tremendo para se aproximar dela. Porque a ama. Quando a gente ama é assim. Queremos estar perto, queremos abraçar e partilhar as maravilhas de todas as coisas e acontecimentos. Teve um na Índia, que construiu até um famoso palácio para homenagear sua saudosa esposa amada. O amor produz forças insuspeitas.


Nesse território do mundo denominado de Brasil, tem muitas riquezas e belezas naturais e minerais, também tem muita coisa ruim. Melhor: tem muito “coisa ruim”. Este país tem sucessivos governos que mentem, que compram propagandas para divulgar sobre o que não existe, sobre o que não fizeram. A maioria das obras está “em andamento”. Exceto obras como aqui na Bahia, a Nova Fonte Nova ou o Maracanã, no Rio de Janeiro. Que não trarão benefício significativo para a população, só circo, porque o pão está garantido pelo “bolsa família”. Deus não pode ser brasileiro. Sendo amoroso e onipotente Ele não aceitaria crianças soterradas no Rio de Janeiro e crianças esfomeadas no Nordeste, porque nossos governantes alegam não ter recursos para cuidar de seu povo, ou pior: ao invés de socorrerem sua gente, fazem propaganda afirmando que estão socorrendo, liberando verbas tardiamente – porque não liberaram antes? –, mobilizando a Defesa Civil, os Bombeiros, o diabo a quatro. Ou seja: mentindo.


Sérgio Cabral mente tanto quanto Jacques Wagner, tanto quanto Geraldo Alckmin. São todos uns mentirosos. E Dilma também aprendeu essa principal, usual e fundamental ferramenta política: a mentira oficial. A tão debatida, discutida e imposta transposição do Rio São Francisco, está virando ruína, bem como o metrô – metrinho, quase centímetro – de Salvador; e tantas e tantas obras que enferrujam e apodrecem a céu aberto, esperando mais dinheiro para irrigar a ganância de empreiteiros, políticos e banqueiros. As imagens e as fotografias mostram a morte, o abandono, o desespero, a violência – Bahia está em 4.º lugar no ranking de homicídios (Fonte: Instituto Sangari e Ministério da Justiça, levando em consideração estatísticas de 2010 – o desmatamento, a poluição, o cinismo, a corrupção, a impunidade, a falência das instituições, entre outras tantas mazelas, mas a propaganda oficial afirma que vai tudo bem. Quem é esquizofrênico? Caso tudo fosse bem, como se propagandeia, o governo poderia retirar o Bolsa Família e,voilá! Muitos brasileiros poderiam andar com as próprias pernas.


Deus passa bem longe disto tudo, de toda essa mentirada oficial, de todo esse cinismo político. O que temos aqui é muita farsa. Farsa na saúde pública. Quem precisa de hospitais, médicos e emergências que o diga. No Rio de Janeiro, segundo a reportagem de uma emissora televisiva, crianças estão morrendo porque o único hospital do Estado que fazia transplantes de rins não mais o faz, por causa do pedido de demissão de médicos especializados, com certeza insatisfeitos com as condições de trabalho e de piso salarial; farsa na educação, porque o analfabetismo funcional avança universidade adentro; farsa na segurança pública, porque a Secretaria de Segurança Pública da Bahia já admitiu seu fracasso em combater o crime ao sugerir que levemos o “bolsa ladrão” para que não sejamos espancados ou mortos. Aliás, os dados falam por si. Nosso IDH, no ranking do Programa das Nações Unidas, não alcança a média da América Latina, ficando abaixo de países como o Chile, o México e o país do Papa. Farsa, ilusionismo, enfim, mentira mesmo, mentira em todas as emissoras de rádios, de tv e também nos jornais.


Como é que Deus pode ser brasileiro num mundo onde as enchentes, enxurradas, secas, violências de todos os tipos produzem um grande sofrimento com a produção de corpos e mais corpos de anciãos, jovens, crianças e adultos que sucumbem diante das forças satânicas dos nossos governantes? Nunca vi um governante nosso pedir desculpas pelo sofrimento do seu povo. Quanta gente não morreu e quantas não estão morrendo e, ano que vem, vão morrer pelas chuvas que cairão e que não cairão? A morte virá. Depois as verbas serão liberadas e os governa dores irão, de helicópteros, sobrevoar a área atingida. E Deus, acima deles, não tem nada a ver com isso. Ele não é brasileiro, nós não o elegemos e não é Sua vontade a morte prematura – ou o assassinato por negligência mesmo! – de inocentes. A maior catástrofe de nosso país não vem da natureza, nem da seca, nem da chuva.

Joselito Manoel