"Considera-se que a
seca que assola o Nordeste, em especial o semiárido baiano, é a maior dos
últimos 60 anos." Começa Samuel Celestino (2013) a referir-se ao problema.
E, mais à frente chega aonde eu penso.
O passivo que está no
colo de Jaques Wagner para ele embalar não vem de agora, mas de outros
governos. Seria necessário que se elaborassem projetos estruturantes para a
perenização dos rios e construção de barragens que minorassem situações como a
que no momento se observa. O Ceará
cuidou desta equação preventivamente. Daí não estar a sofrer como acontece na
Bahia. É pena, mas a verdade é esta. (CELESTINO, A TARDE, Salvador,
domingo, 24/03/2013, p.B1)
A seca é um fenômeno natural,
mas seus efeitos perversos é um fenômeno político e social. Sim. Desde que me
entendo por gente – quer dizer, desde que fui humanizado pela cultura em que
estava inserido – ouço falar da seca e de seus efeitos nocivos. Através do
grande mestre Luiz Gonzaga, de Guimarães Rosa, de Graciliano Ramos, dos
parentes que por lá viviam entre tantas outras e tantos outros parentes e
conhecidos que traziam informações e pareceres entremeados de lamentações e
esperanças. A gente conhece esse fenômeno de uma região que seca. Mas não seca
porque Deus ordenou a São Pedro que fechasse a “torneira do céu”, como crê,
ingenuamente, alguns e algumas, mas porque a distribuição nacional, regional e estadual da riqueza é
desigual, e, por isso mesmo, injusta. E justifico com o exemplo dado por Pedro
Demo em seu livro “Pobreza Política”.
Quando uma comunidade tem sua colheita
destruída pela seca, enchente, praga, segue a fome. Não é porém, pobreza
propriamente, porque é condição natural. Falta de chuva, em si, não é problema
social. A pobreza começa a aparecer em outro horizonte, por exemplo, se apenas
certos grupos passam fome, enquanto algumas minorias já não passam, ou pior
ainda, lucram com a carestia. A seca não faz o pobre; faz o pobre a “indústria
da seca”. (DEMO, 2013, p.07)
Portanto, o fenômeno da seca
e da pobreza que dela advém no Nordeste é mais político que econômico, é mais
social que natural. O estado do Ceará se preveniu, porque deve entender que os
cearenses que vivem nas regiões semiáridas devem ser cuidados pelo estado,
porque contribuem com denodo para a agricultura, a pecuária, enfim, a economia da
região, desempenhando papel significativo nesse processo. Outra coisa seria
olhar essas pessoas e percebê-las apenas como habitantes de uma região
atrasada, que sobrevive às custas do estado, pedindo esmolas e favores. Talvez –
e aqui, claro, estou especulando, mas com base nos efeitos perversos que
identifico – os governos do estado da Bahia percebam os moradores de seu
semiárido assim: como eternos esmolés, maltrapilhos atrasados e analfabetos, e,
por isso mesmo, os abandone à própria sorte, melhor, ao próprio azar numa
região esquecida pelo estado. Fico especulando outra coisa, menos perversa,
mas, nem por isso menos prejudicial, pois produz a mesma nocividade. Talvez o
Governo não queira ou não saiba governar. Assim sendo, penso que elaborar
projetos estruturantes dê muito trabalho, além de ter de formar equipes de
trabalho, articular técnicos competentes, dar-lhes autonomia, coibir a
influência da politicagem nas secretarias de estado, colocando o espírito
público acima dos interesses privados, principalmente dos interesses
eleitoreiros. Mas, pelo que ouço, não é isso que acontece. A Secretaria de
Educação do Estado da Bahia, por exemplo, é feita para não funcionar, porque
quem sabe fazer alguma coisa útil e tem competência para agir, é submetido aos
mandachuvas incompetentes indicados por partidos diversos que compõem a barra
pesada, digo, a base, do governo. Sobre isso, Antonio Lins, poeta e jornalista,
escreveu um texto interessantíssimo no jornal A Tarde da segunda-feira,
25/03/2013, página A3 sobre isso. Destaca ele que:
Do bom governante espera-se a coragem
de fazer o que precisa ser feito em benefício do bem comum, o que
eventualmente, em situações de crise, implica adotar medidas que contrariem os
interesses eleitoreiros imediatos dos grupos políticos que o sustentam. Governar, portanto, significa envolver a
sociedade no processo inevitavelmente difícil de construir o futuro. A
alternativa é o populismo, que reduz o
cidadão à condição de eleitor manipulado por uma máquina de fabricar ilusões. (LINS,
Espírito Público, A Tarde, Salvador, 25/03/2013, p.A3)
E
Lins continua, na tentativa de prevenir os seus leitores sobre o
desencadeamento do ano eleitoral muito cedo.
O que parece bastante provável é que,
nos próximos meses, a relação entre o governo e o principal partido que o apoia
adquira certa tensão. Está claro que, a partir de agora, o PT não está
interessado em governar o País, mas em vencer as próximas eleições. É a
inversão do princípio de que os partidos políticos querem ganhar eleições para
chegar ao poder. O PT quer usar o poder para ganhar eleições e para tanto não
hesitará em fazer rigorosamente tudo o que for necessário. Essa é sua visão
muito peculiar de espírito público. (LINS, Espírito Público, A Tarde, Salvador,
25/03/2013, p.A3)
Logo,
minha desconfiança vai ganhando contornos mais verossímeis e vou passando da
especulação para a constatação provisória. O governo já acabou em 2013. Agora é
fazer mais alianças, seja em Brasília, seja na Bahia, para ampliar a “base de
governo” a fim de acolher os infelicianos que infestam os palácios com suas imundícies mal cheirosas, seja os que se encontram na Alvorada, seja os que estão
no Alto de Ondina.
A
seca, portanto, é resultado dessa desordem, ou melhor, dessa ordem estabelecida
contra o povo, contra o interesse público, o bem comum. A pobreza não é um dado
natural, é um fenômeno político e social assegurado por desgovernos que
representam interesses privados e mesquinhos, que, por uma eleição futura,
botam a perder o bem comum presente. Viva o Ceará!!!!
Joselito
Manoel de Jesus, Com o apoio de
CELESTINO,
Samuel. A seca e o jogo político. A
Tarde, Salvador, domingo,
24/03/2013. P. B1
DEMO,
Pedro. Pobreza política: A pobreza
mais intensa da pobreza brasileira. Campinas, SP: Armazém do Ipê (Autores
Associados), 2006.
LINS,
Antonio. Espírito público. A Tarde,
Salvador, Salvador, segunda-feira, 25/03/2013. P. A3.
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