quarta-feira, 27 de março de 2013

A SECA NA ELEITORADA BAIANA


"Considera-se que a seca que assola o Nordeste, em especial o semiárido baiano, é a maior dos últimos 60 anos." Começa Samuel Celestino (2013) a referir-se ao problema. E, mais à frente chega aonde eu penso.

O passivo que está no colo de Jaques Wagner para ele embalar não vem de agora, mas de outros governos. Seria necessário que se elaborassem projetos estruturantes para a perenização dos rios e construção de barragens que minorassem situações como a que no momento se observa. O Ceará cuidou desta equação preventivamente. Daí não estar a sofrer como acontece na Bahia. É pena, mas a verdade é esta. (CELESTINO, A TARDE, Salvador, domingo, 24/03/2013, p.B1)

A seca é um fenômeno natural, mas seus efeitos perversos é um fenômeno político e social. Sim. Desde que me entendo por gente – quer dizer, desde que fui humanizado pela cultura em que estava inserido – ouço falar da seca e de seus efeitos nocivos. Através do grande mestre Luiz Gonzaga, de Guimarães Rosa, de Graciliano Ramos, dos parentes que por lá viviam entre tantas outras e tantos outros parentes e conhecidos que traziam informações e pareceres entremeados de lamentações e esperanças. A gente conhece esse fenômeno de uma região que seca. Mas não seca porque Deus ordenou a São Pedro que fechasse a “torneira do céu”, como crê, ingenuamente, alguns e algumas, mas porque a distribuição nacional, regional e estadual da riqueza é desigual, e, por isso mesmo, injusta. E justifico com o exemplo dado por Pedro Demo em seu livro “Pobreza Política”.

Quando uma comunidade tem sua colheita destruída pela seca, enchente, praga, segue a fome. Não é porém, pobreza propriamente, porque é condição natural. Falta de chuva, em si, não é problema social. A pobreza começa a aparecer em outro horizonte, por exemplo, se apenas certos grupos passam fome, enquanto algumas minorias já não passam, ou pior ainda, lucram com a carestia. A seca não faz o pobre; faz o pobre a “indústria da seca”. (DEMO, 2013, p.07)

Portanto, o fenômeno da seca e da pobreza que dela advém no Nordeste é mais político que econômico, é mais social que natural. O estado do Ceará se preveniu, porque deve entender que os cearenses que vivem nas regiões semiáridas devem ser cuidados pelo estado, porque contribuem com denodo para a agricultura, a pecuária, enfim, a economia da região, desempenhando papel significativo nesse processo. Outra coisa seria olhar essas pessoas e percebê-las apenas como habitantes de uma região atrasada, que sobrevive às custas do estado, pedindo esmolas e favores. Talvez – e aqui, claro, estou especulando, mas com base nos efeitos perversos que identifico – os governos do estado da Bahia percebam os moradores de seu semiárido assim: como eternos esmolés, maltrapilhos atrasados e analfabetos, e, por isso mesmo, os abandone à própria sorte, melhor, ao próprio azar numa região esquecida pelo estado. Fico especulando outra coisa, menos perversa, mas, nem por isso menos prejudicial, pois produz a mesma nocividade. Talvez o Governo não queira ou não saiba governar. Assim sendo, penso que elaborar projetos estruturantes dê muito trabalho, além de ter de formar equipes de trabalho, articular técnicos competentes, dar-lhes autonomia, coibir a influência da politicagem nas secretarias de estado, colocando o espírito público acima dos interesses privados, principalmente dos interesses eleitoreiros. Mas, pelo que ouço, não é isso que acontece. A Secretaria de Educação do Estado da Bahia, por exemplo, é feita para não funcionar, porque quem sabe fazer alguma coisa útil e tem competência para agir, é submetido aos mandachuvas incompetentes indicados por partidos diversos que compõem a barra pesada, digo, a base, do governo. Sobre isso, Antonio Lins, poeta e jornalista, escreveu um texto interessantíssimo no jornal A Tarde da segunda-feira, 25/03/2013, página A3 sobre isso. Destaca ele que:

Do bom governante espera-se a coragem de fazer o que precisa ser feito em benefício do bem comum, o que eventualmente, em situações de crise, implica adotar medidas que contrariem os interesses eleitoreiros imediatos dos grupos políticos que o sustentam. Governar, portanto, significa envolver a sociedade no processo inevitavelmente difícil de construir o futuro. A alternativa é o populismo, que reduz o cidadão à condição de eleitor manipulado por uma máquina de fabricar ilusões. (LINS, Espírito Público, A Tarde, Salvador, 25/03/2013, p.A3)

E Lins continua, na tentativa de prevenir os seus leitores sobre o desencadeamento do ano eleitoral muito cedo.

O que parece bastante provável é que, nos próximos meses, a relação entre o governo e o principal partido que o apoia adquira certa tensão. Está claro que, a partir de agora, o PT não está interessado em governar o País, mas em vencer as próximas eleições. É a inversão do princípio de que os partidos políticos querem ganhar eleições para chegar ao poder. O PT quer usar o poder para ganhar eleições e para tanto não hesitará em fazer rigorosamente tudo o que for necessário. Essa é sua visão muito peculiar de espírito público. (LINS, Espírito Público, A Tarde, Salvador, 25/03/2013, p.A3)


Logo, minha desconfiança vai ganhando contornos mais verossímeis e vou passando da especulação para a constatação provisória. O governo já acabou em 2013. Agora é fazer mais alianças, seja em Brasília, seja na Bahia, para ampliar a “base de governo” a fim de acolher os infelicianos que infestam os palácios com suas imundícies mal cheirosas, seja os que se encontram na Alvorada, seja os que estão no Alto de Ondina.

A seca, portanto, é resultado dessa desordem, ou melhor, dessa ordem estabelecida contra o povo, contra o interesse público, o bem comum. A pobreza não é um dado natural, é um fenômeno político e social assegurado por desgovernos que representam interesses privados e mesquinhos, que, por uma eleição futura, botam a perder o bem comum presente. Viva o Ceará!!!!

Joselito Manoel de Jesus, Com o apoio de
CELESTINO, Samuel. A seca e o jogo político. A Tarde, Salvador, domingo, 24/03/2013. P. B1
DEMO, Pedro. Pobreza política: A pobreza mais intensa da pobreza brasileira. Campinas, SP: Armazém do Ipê (Autores Associados), 2006.
LINS, Antonio. Espírito público. A Tarde, Salvador, Salvador, segunda-feira, 25/03/2013. P. A3.

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