Neste ano eleitoral,
em que decidimos quem vai governar nosso país, precisamos pensar criticamente a
propaganda eleitoral que decorre desse importante processo. Percebo que alguns
grupos defendem com veemência a reeleição de Dilma e os grupos antagônicos endemonizam
a mesma e o PT, colocando o Aécio como o candidato da “mudança”, num falso jogo
maniqueísta que em nada esclarece a situação real em que nos encontramos. O
velho jogo do (a) santo (a) e do (a) demônio (a) está instaurado, silenciando
sobre projetos, ações, avaliações, atitudes e comportamentos que serão tomados
baseados em princípios gerais de governo. Os debates e a propaganda política
pensam que engana a população brasileira, que chegou, graças ao próprio PT, a
um maior e melhor nível de acesso à informação e à formação, mas que,
dialeticamente, reflete sobre os rumos que o Brasil deve tomar para que suas
conquistas sejam preservadas e para que nos tornemos uma nação de fato.
A crítica que faço é a respeito de posicionamentos ideológicos rasteiros, que vão na esteira
desse maniqueísmo instaurado em quase todas as eleições, mas potencializado
nesta. Um desses sentidos é baseado na ideia da negação da dialética, na medida
em que, indivíduos que eram pobres, tornaram-se classe média graças, segundo
essa ideia, tão somente ao PT e ao “Pai Lula”, a quem devem ser eternamente
gratos, só votando nos candidatos que ele apóia. Nesse sentido, eu melhorei
minha condição econômica porque Lula leu bastante – coisa difícil de acreditar –
pagou a inscrição em 2002, fez o concurso público por mim e colocou-me na
universidade pública baiana na função de professor, como um bom companheiro de
partido. Não. Eu lutei e minha vontade e um pouco de sorte, me fez chegar até
aqui. Depois, eu e minha esposa, fizemos um planejamento, economizamos em
função deste planejamento e, em alguns anos conseguimos juntos, melhorar nossa
condição humana. Sou um intelectual e me recuso a votar obedientemente, como um
ser medíocre que não tem capacidade de selecionar, sistematizar e interpretar
informação. Recuso-me a abandonar minha capacidade de pensar criticamente. Não
é o PT que paga minhas mensalidades. Não posso, de forma alguma, afirmar que o
PT não cometeu erros grosseiros e não se envolveu no “toma lá dá cá” que
caracteriza quase todos os partidos brasileiros, incluindo o PSDB.
Contudo, essa mesma
capacidade crítica não pode deixar de reconhecer que foi o PT que criou as
possibilidades concretas para que eu e tantos outros pudéssemos avançar nas
conquistas que permitiram nossa chegada até aqui nas condições que temos
atualmente. Sem a ampliação do financiamento da Caixa Econômica Federal não
seria possível conseguir morar onde moramos atualmente. Sobre automóvel eu não
considero uma boa política, prefiro a melhoria do transporte público. Mas sobre
moradia, educação superior e a contratação dos médicos cubanos, entre outros,
não há como negar. Essa mesma capacidade crítica não pode deixar de perceber
que no Governo Fernando Henrique Cardoso, embora tivesse o mérito de combater
de forma criativa e competente a inflação, nossa mudança foi conservadora.
Nela, pobres, negros e nordestinos não tiveram vez. As políticas para a
Educação Básica do PT deixam muito a desejar, embora a questão do piso nacional
do professor e as universidades federais na Bahia e no Nordeste tenham sido iniciativas
salutares e que vão provocar transformações significativas mais à frente.
Os médicos cubanos
foram fundamentais para a saúde das pessoas mais pobres dos lugares onde médicos
brasileiros, branco e homem em sua maioria, não queriam ir, além de ver isso
como um fardo de início da profissão. O Programa “Mais Médicos” combateu, na
prática, a arrogância e o preconceito do suposto “doutor” – sem doutorado – em
cujo plantão, escondia-se em algum cômodo secreto do hospital ou posto de saúde
e mal atendia a população pobre das cidades interioranas e das periferias de Salvador, com poucas exceções. Os
médicos e as médicas cubanas, negros e pardos em sua maioria, vão às
residências das pessoas mais simples. Fazem o diagnóstico enquanto estabelecem
relações de respeito com atenção e cuidado. É uma lição ética e política para
os “nossos” “doutores”. O “Mais Médicos” vem contra toda uma história que
foi inaugurada quando a Faculdade de Medicina da Bahia foi fundada, para servir
à aristocracia que chegava de Portugal e não ao sofrido e abandonado povo da colônia, principalmente negros e pardos, que nem povo era para eles. Nesse sentido, o PT acertou em cheio!
Na questão dos
direitos humanos o PT apresentou avanços em relação à negritude, e à mulher,
embora tivesse titubeado em relação aos homossexuais. Mas, de qualquer forma, é
preciso o enfrentamento aos pastores do apocalipse, entre eles, o Malafaia, a
fim de ver respeitados direitos fundamentais dos seres humanos. Malafaia e
Feliciano apoiando Aécio não vejo com bons olhos. Significa retrocesso dos
brabos. Assim como na Igreja Católica, que teve recentemente aqui em Salvador um de seus religiosos assassinado covardemente, há homossexuais, nas evangélicas também há. A hipocrisia é que
impede que muitos (as) “saiam do armário”. Todos (as) são do mesmo mundo. Mas,
como diria Sartre, “o inferno é o outro”, não é mesmo?
Por essas, e outras, é
que voto na Dilma, contrariado, porque esperava que este governo fosse mais
sério, mais ético, que não vendesse ministérios a preços de banana para os "metralhas de Patópolis",
contradizendo suas políticas sociais positivas. O Brasil não pode voltar ao
regime de capitanias hereditárias e nem à Idade Média. Com Aécio muito menos. O PT poderia
se reeleger com facilidade. Mas, seu modo de governar no campo da ética e da
decência, sem romper com velhos modos de se fazer política nesse país,
demonstra seu cansaço. Boa parte da população rejeita esse jeito de governo, em
que ministérios, secretarias, empresas símbolos do país como o Correios e a Petrobrás e demais órgãos públicos estão à venda.
Joselito da Nair, do Zé, de Rafael, de Ana Lúcia, de tantas Gentes e situações e de Jesus, O Emanuel.
Professor, que haja muito mais educação de qualidade em nosso país para que possamos ter eleitores tão lúcidos, tão conscientes, tão bem (in) formados assim como você!
ResponderExcluirGostaria, se possível, que lesse o texto que escrevi sobre "A política e o pensamento divergente", pois acho que, de alguma forma, complementa as suas reflexões.
http://mayre-reciclandoideias.blogspot.com.br/
Abraço. Mayre
Concordo contigo Mayre. Lerei agora.
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