Rualdo Menegat,
Professor do Instituto de Geociências da UFRGS
As eleições em curso demostram que houve uma radical mudança no Brasil. Os temas em debate dizem respeito às questões sociais, étnicas e culturais. Discute-se com afinco o papel e a importância do programa a bolsa-família, às políticas de educação, habitação e direitos humanos. Também marcam o tom da campanha as questões de gênero, homofobia, e os direitos das minorias. Todos esses temas abafados por décadas fizeram emergir as forças do retrocesso. Depois de campanhas intensivas contra a política e os partidos, buscando surfar na onda das manifestações de massa de 2013, a direita brasileira converge para um mesmo fluxo furioso. Busca transformar a política em uma espécie de religião que opera apenas com base no moralismo. Dessa forma, suprimem-se os interesses de classe por uma ideia simplificada de combate à corrupção.
Essa simplificação que reduz a política a uma mera disputa moral abriu espaço para que em vez de discussões programáticas e estratégicas, o palco fosse ocupado por uma impressionante onda de evangelizadores moralistas. Todavia, os moralistas de plantão atuais não resistem sequer a um bafômetro. Isso quer dizer que são moralistas na medida em que esse discurso serve para demonizar o PT, o governo Dilma e as políticas sociais. Nesse engodo, entrou a evangelizadora Marina, que rapidamente abandonou seu discurso verde para cair no catecismo aecista.
Essa tática não é nada nova na política brasileira. Tem suas raízes no udenismo, nos camisas verdes do integralismo (versão tupiniquim do fascismo), que levou ao suicídio de Getúlio e ao Golpe de 64, que depôs o governo de João Goulart. Contra as políticas sociais e progressistas, as forças do retrocesso atacam com discursos moralistas: “a corrupção está tomando conta”, é o que apregoam por meio de seus jornais marrons. Certamente que para a elite brasileira, políticas públicas a favor dos excluídos devam ser vistas como uma anomalia na trajetória republicana brasileira em que as elites com muito pouco virtuosismo comandaram esse país.
Portanto, é hora de se fazer uma pergunta que Brizola brandia em época eleitoral: que interesses se escondem por trás desse falso moralismo, na verdade, golpista, capitaneado pela mídia monopolista? O que essa nuvem moralista está escondendo?
O pré-sal e o índice de cobiça pelo Brasil
Vamos encontrar a resposta de forma muito evidente: a descoberta do petróleo do pré-sal, cujas reservas ultrapassam 100 bilhões de barris, ou seja, valem entre 5 a 10 trilhões de dólares, elevou sobremaneira o índice de cobiça pelo Brasil por parte do capital internacional. Se há quatro anos o pré-sal ainda era uma promessa, hoje ele já é uma realidade tangível, isto é, já está sendo explorado.
Foi exatamente o governo da Dilma que preparou o Brasil para a exploração do pré-sal, tanto do ponto de vista logístico e industrial (ampliação das refinarias, portos, indústria naval, etc.), quanto político (repartição dos royalties advindos de sua exploração para todos os estados e para políticas sociais definidas). O governo Dilma tem desenvolvido políticas efetivas para que o pré-sal seja inteiramente nosso, da exploração ao refino até a divisão de royalties, o Brasil poderá incrementar como nunca seu desenvolvimento social, sua saúde e educação.
A crise econômica que se abate sobre a Europa e nos EUA fez aumentar sobremaneira o interesse do capital internacional pelos trilhões do pré-sal brasileiro. Desde a eleição de 2010, o índice de cobiça aumentou mais de cem vezes. O Brasil hoje está na mira do capital internacional como nunca esteve em sua história. Injetar nos cofres dos países ricos um montante dessa ordem em curto prazo pode ser estratégico para a política de torniquete imposta pela Alemanha e os Estados Unidos.
Não há dúvidas que políticas oriundas da cartilha neoliberal, como as de Aécio, facilmente vão colocar essa riqueza nas mãos do capital internacional, em vez de colocá-la na mesa e nas escolas dos brasileiros. Até porque essa elite brasileira historicamente sempre se nutriu de seu complexo de dependência colonialista, e agora, está com pressa para entregar o pré-sal ao capital internacional (a título de que não sabemos explorar e que na Petrobras somente há corrupção) e de se alinhar à política de torniquete e exclusão social capitaneada pelos ricos, o que os faz parecerem austeros para combater a inflação. Os interesses por trás dessa eleição são claros e nos resta rechaçar essas forças do retrocesso e do entreguismo – como se dizia antigamente – que estão enevoadas pelo manto evangelizador do falso moralismo golpista, e nada emancipatório, como bem sabemos por meio de bons manuais de história do Brasil.
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