segunda-feira, 28 de novembro de 2016

QUANDO SOMOS ESTUDANTES E PROFESSORES NÃO PODEMOS NOS ESQUECER/ OU/ SOBRE A AVALIAÇÃO

Como falei para vocês em sala de aula, avaliação, para mim, não é um instrumento árido, classificatório, seletivo e excludente. Se assim o fosse eu não estaria educando, mas adestrando, ensinando a subserviência e contribuindo enormemente para a apatia intelectual de vocês, posto que estaria recriando, através da prática avaliativa, as condições que reproduzem os valores capitalistas que hierarquizam pessoas, grupos, comunidades e instituições. Estaria fortalecendo a competitividade darwiniana que o capitalismo selvagem propõe como modelo ideal para pautar as relações humanas, o que é deprimente. Nesse modelo, convencer tem o sentido de vencer o/a outro/a, derrotá-lo/a, fenômeno no qual o/a melhor se estabelece em sua “glória” e “apogeu” e, do/a segundo/a colocado/a em diante, resta o banimento para as periferias da existência.

Contudo, recusando esse modus vivendi competitivo, podemos, mesmo num simples gesto avaliativo, redirecionarmos, revolucionariamente, o sentido de “convencer”, na perspectiva de vencer com o/a outro/a, recuperando, por dentro desse singelo ato educativo que é a avaliação educacional, o gesto político da solidariedade que nos aproxima humildemente uns/umas dos/as outros/as, no reconhecimento de nossa condição de classe, de raça, de gênero e de cultura, afinal, somos pobres, somos negros, indígenas e mestiços, somos aqueles/as que sofrem as consequências perniciosas desse modo de organização e estruturação econômica e social pelos poderes dominantes. E o principal: não podemos nos esquecer disso quando ocupamos a condição de sujeitos institucionais mediados pela escola ou pela universidade. Sendo professores/as e estudantes não podemos nos esquecer de que somos pobres, não podemos esquecer de que somos negros, mestiços e indígenas; não podemos apagar da memória o que a história nos engendrou a partir de nossas lutas, sacrifícios e conquistas em nome da recuperação da humanidade usurpada por transações escusas e violentas das classes dominantes de nosso país.

Através da avaliação educacional podemos combater toda fonte de desigualdade que persiste, também, através de seus efeitos ideológicos nocivos para nós, das classes populares. Não há, desse modo, nem o/a “estudante-dez”, nem o/a “estudante-zero”, nem uma hierarquia que se formaria nesse entremeio, partindo dos/as “mais inteligentes” aos/às “menos inteligentes” identificados/as por uma nota, ou por um conjunto de notas apenas. Há, como diria Shulman (1986, p.4-14)[1], sujeitos aprendentes, aqueles/as que aprendem como autores/as de sua própria aprendizagem, em um trabalho coletivo e participado. Esses/as aprendentes, incluindo-se os/as professores/as, formam, assim, uma comunidade no qual o conhecimento é compartilhado entre si e com outras pessoas, grupos, comunidades e instituições, ampliando a cognição, desenvolvendo raciocínios em múltiplas direções, nas quais os conhecimentos, saberes e ignorâncias, através de raciocínios reconhecidos e legitimados pela comunidade de aprendentes que produz identidades unidas por laços históricos, propiciam o desenvolvimento de inteligências singulares cujas curiosidades vão se epistemologizando progressivamente no processo educativo. 

A avaliação é, portanto, um processo que compõe a aula e que tem sérios desdobramentos políticos e ideológicos, que, por sua vez, podem reforçar um modo de pensar baseado em princípios capitalistas excludentes, ou, por outro lado, pode ser um gesto pedagógico explícito de solidariedade, colaboração e humildade, que cause a ruptura com velhas formas de classificação, selecionamento e hierarquização de estudantes e professores/as em processo de formação humana e profissional.

Joselito da Nair, do Zé, de Ana Lúcia, da Professora Stela Rodrigues, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.    




[1] SHULMAN. Those Who understand: knowledge, growth in teaching. In Educational Reserch. V. 15, nº 2, 1986. 
Traduzindo de modo livre: Aqueles que entendem: conhecimento, crescimento no ensino. In Pesquisa Educacional

Nenhum comentário:

Postar um comentário

joselitojoze@gmail.com