Ao nascer de forma muito simples, Jesus nos deu o exemplo
de cuidar desse valor. Jesus não quis a riqueza, pois a riqueza, como nos
ensinou Karl Marx, só existe pela pobreza que ela provoca. A riqueza é expressão
legalizada do seu contrário, a pobreza. Jesus, como filho da cultura judaica,
via abundância, e não a riqueza, como sinal de benção. E como é bom quando a
abundância nos chega! Usufruímos alegremente. Mas não é disso que desejo falar.
Eu sou contra essa institucionalização de Jesus através,
inicialmente durante muito tempo, da igreja católica e, atualmente, desta e
das igrejas neopentecostais. Toda religião que ganha muito poder, no afã de
fazer com que todos e todas sigam suas interpretações particulares de Jesus, termina
se corrompendo, inevitavelmente. Nós, brasileiros e brasileiras, estamos sendo
bombardeados/as pelas cargas nocivas da corrupção alastrada em nosso país. Contudo,
ao se olhar para a Igreja Católica percebemos que não há muita diferença em
relação a isso. A misteriosa e suspeita morte do Papa Paulo I, que estava investigando os
negócios escusos entre o Banco Ambrosiano e o Banco do Vaticano, é apenas um exemplo, além dos casos antigos e recentes de pedofilia.
Papas tinham mulheres e filhos, lutavam para permanecer no poder e viviam no
luxo que aquele poder proporcionava. Como a gente viu nas últimas notícias
relacionadas a isso, cardeais do alto escalão também tinham, ou têm, mansões e nelas
faziam reformas milionárias com o dinheiro da igreja. A chegada do Papa
Francisco tenta colocar um freio nisso, investigando também a corrupção no Banco
do Vaticano.
Da mesma forma, as religiões neopentecostais também estão
envolvidas com corrupção. Ninguém conduz coercitivamente um homem poderoso como
Silas Malafaia sem algum indício sério de seu envolvimento em lavagem de
dinheiro sujo. Da mesma forma, os líderes dessas religiões enriquecem a olhos
vistos com o dinheiro de milhões de tolos/as que pensam que podem pagar Deus
para obter benefícios pessoais. Malafaia, R. R. Soares, Edir Macedo, Valdemiro
Santiago, “Bispa” Sônia, entre outros e outras, são todos/as hipócritas e
envolvidos com dinheiro alheio. Não são “abençoados/as”, são canalhas! Eu
sempre fiquei incomodado quando melhorei minha vida econômica e meus colegas de
infância, agora evangélicos, começaram a me chamar de “abençoado”. Se essa era
a principal associação para assim me denominarem, então essas pessoas pensam
errado. Eu sou “abençoado” como você que lê este texto agora também o é. Não
acredito que Deus me abençoou e deixou de abençoar outra pessoa até melhor que
eu do ponto de vista espiritual.
Acho essa ideia ridícula a de tentar converter o mundo
inteiro para sua religião. Não quero que ninguém venha tentar me converter. Por
trás de quase todo processo de tentativa de conversão há geralmente a imposição
de interpretações que legitimam a injustiça social, o controle político das elites
e a resignação dos pobres diante das injustiças. Ao tentar pregar a verdade
para o outro, na tentativa de aumentar o número de fiéis a serem “salvos”, estamos
apenas contribuindo para o massacre de culturas, o silenciamento da crítica e a
impossibilidade da denúncia de nossos crimes, ou melhor, “pecados”. Malafaia
foi recebido pelos “seus fiéis” como um injustiçado, não como um possível criminoso ralé
que participa de esquemas ilícitos de desvio e lavagem do dinheiro público.
Diante disso tudo, eu vejo o caminho da diversidade
religiosa como princípio fundamental de convivência salutar entre nós. Embora
não seja de nenhuma delas, eu sou do candomblé, sou do espiritismo, sou budista
e sou cristão, não sou e sou de todas as religiões. Não desejo converter nem
salvar a ninguém, senão a mim mesmo, não como uma busca por uma recompensa
pós-morte, mas como uma vivência de fé, resguardando os valores que acredito com convicção, assegurando-me na força divina que a
todos/a acolhe em sua misericórdia. Assim como a riqueza é a consequência da
pobreza e vice-versa, assim também uma religião única é sinal de repressão a outras
formas de crer e de manifestar suas relações com Deus. Uma só religião é a
denúncia de que seus/as líderes massacraram outros povos em nome de Deus,
afinal Josué e Moisés “passaram ao fio da espada” muitos povos que se encontravam
em seu caminho rumo à terra de onde emana “leite e mel”, sem discriminação de mulheres e crianças. Muitos/as sofreram naquela passagem. Hebreus e, principalmente, não-hebreus. Os judeus até hoje ressentem do fato de que Jesus não veio exclusivamente para eles, como esperavam. Jesus não veio numa carruagem ornada a ouro, acompanhado de um imenso exército que destruiria os "infiéis" e daria a "salvação" somente para eles. Veio pobre no meio dos pobres, simples, humilde e amoroso. O perdão e a misericórdia em Jesus, valem mais que a vingança e o castigo. E por isso é Natal para todos e todas!
A fé que não se pensa gera o fundamentalismo que produz a
corrupção, o sofrimento e a morte.
Joselito (Zé Pequeno) Manoel de Jesus
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