Comprei
um senador outro dia. E não é que o desgraçado valeu a pena? Apesar de ter
cobrado um preço alto, em euro depositado em contas nas ilhas fiscais no exterior,
ele cumpriu o contrato e defendeu meu interesse criminoso. No início fiquei
desconfiado. Ele aparentava decência e lisura em suas breves palavras na Casa
Senatorial. Mas isso faz parte do teatrinho lá deles. O senador me fez favores
até acima do que imaginei. Fiz pequena fortuna, ganhei vantajosas concorrências,
intimidei concorrentes honestos e atingi meus objetivos escusos. Como essa primeira
negociação ocorreu bem resolvi, com parte do lucro, comprar dois deputados na
Câmara Federal. Antes fiz uma pesquisa de mercado e identifiquei os mais
influentes naquela “Casa”. Eram mais caros que o senador, cada um. Foi difícil poder
pagá-los, mas vi que também valeria a pena, afinal, os parceiros do contrato têm
de sair ganhando para a roda da fortuna fácil com o dinheiro público continuar
girando na Câmara e no Senado.
Com
esses dois deputados obtive algumas leis que beneficiaram bastante minhas
empresas. Ganhei dinheiro que jamais imaginaria com trabalho honesto. Aliás,
nunca ganharia, pois quanto mais eu trabalhasse mais o estado levaria a maior
parte dos meus lucros. Comprei lanchas, mansões, terras privilegiadas com rios
e florestas prontas para serem desmatadas em nome de um suposto “crescimento
econômico” e “geração de empregos”. Tal como os deputados, comprei prostitutas
de luxo, noites nababescas em iates também de luxo, jantares regados a vinhos
finos e caríssimos, com risos e pantomimas expressando aquela patética
celebração que a corrupção tanto me ofereceu. Comprei também uma jornalista
gostosa de uma rede nacional de TV. Vi que nesse campo também tinha um mercado.
As da rede mais lucrativa só para ex-presidentes. Resolvi, tal como um senador
espertíssimo que jamais foi preso, comprar uma de uma rede nacional mais em
conta, pois esta não exigia tantas jóias caríssimas para ostentar em noites
frívolas para amigas igualmente frívolas.
Quando
tudo “estourou” na imprensa, essa maldita, tive que fazer muitas manobras para
esconder toda a riqueza obtida de modo ilícito. Começaram as ameaças vindas de
antigos colaboradores na Câmara e no Senado. A euforia de outrora
transformou-se em medo. O país começou a afundar pois há furos por todos os
lados e a água começa a afogar muita gente. Os pobres, desde cedo aprenderam a
viver à míngua. Para meu desgosto, eles sobreviverão. Apesar de serem os
primeiros a receberem os impactos da situação desesperadora. Esses apreenderam
o Brasil desde a colônia e não morrerão. Também, comem qualquer coisa. Fazem
feijoada e mocotó e vão sobrevivendo em suas senzalas contemporâneas. Eu, aqui
preso, sei que sairei em breve, pois nossos aliados no legislativo nacional
estão modificando as leis ao nosso favor. Eu quero tanto o meu Brasil de volta
à farra!
Joselito
da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel
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