sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

MERCADO BRASILEIRO DE SERES POLÍTICOS

Comprei um senador outro dia. E não é que o desgraçado valeu a pena? Apesar de ter cobrado um preço alto, em euro depositado em contas nas ilhas fiscais no exterior, ele cumpriu o contrato e defendeu meu interesse criminoso. No início fiquei desconfiado. Ele aparentava decência e lisura em suas breves palavras na Casa Senatorial. Mas isso faz parte do teatrinho lá deles. O senador me fez favores até acima do que imaginei. Fiz pequena fortuna, ganhei vantajosas concorrências, intimidei concorrentes honestos e atingi meus objetivos escusos. Como essa primeira negociação ocorreu bem resolvi, com parte do lucro, comprar dois deputados na Câmara Federal. Antes fiz uma pesquisa de mercado e identifiquei os mais influentes naquela “Casa”. Eram mais caros que o senador, cada um. Foi difícil poder pagá-los, mas vi que também valeria a pena, afinal, os parceiros do contrato têm de sair ganhando para a roda da fortuna fácil com o dinheiro público continuar girando na Câmara e no Senado.
Com esses dois deputados obtive algumas leis que beneficiaram bastante minhas empresas. Ganhei dinheiro que jamais imaginaria com trabalho honesto. Aliás, nunca ganharia, pois quanto mais eu trabalhasse mais o estado levaria a maior parte dos meus lucros. Comprei lanchas, mansões, terras privilegiadas com rios e florestas prontas para serem desmatadas em nome de um suposto “crescimento econômico” e “geração de empregos”. Tal como os deputados, comprei prostitutas de luxo, noites nababescas em iates também de luxo, jantares regados a vinhos finos e caríssimos, com risos e pantomimas expressando aquela patética celebração que a corrupção tanto me ofereceu. Comprei também uma jornalista gostosa de uma rede nacional de TV. Vi que nesse campo também tinha um mercado. As da rede mais lucrativa só para ex-presidentes. Resolvi, tal como um senador espertíssimo que jamais foi preso, comprar uma de uma rede nacional mais em conta, pois esta não exigia tantas jóias caríssimas para ostentar em noites frívolas para amigas igualmente frívolas.
Quando tudo “estourou” na imprensa, essa maldita, tive que fazer muitas manobras para esconder toda a riqueza obtida de modo ilícito. Começaram as ameaças vindas de antigos colaboradores na Câmara e no Senado. A euforia de outrora transformou-se em medo. O país começou a afundar pois há furos por todos os lados e a água começa a afogar muita gente. Os pobres, desde cedo aprenderam a viver à míngua. Para meu desgosto, eles sobreviverão. Apesar de serem os primeiros a receberem os impactos da situação desesperadora. Esses apreenderam o Brasil desde a colônia e não morrerão. Também, comem qualquer coisa. Fazem feijoada e mocotó e vão sobrevivendo em suas senzalas contemporâneas. Eu, aqui preso, sei que sairei em breve, pois nossos aliados no legislativo nacional estão modificando as leis ao nosso favor. Eu quero tanto o meu Brasil de volta à farra!


Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

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