Aonde
está a fé? Está ali, num templo erguido num terreno adquirido pelo dinheiro dos fiéis?
De que lado fica a fé? Do lado de lá, naquela margem que nos divide? A fé está em cima de uma árvore? A fé está no fundo do mar? Essas são perguntas retóricas, para chamar a atenção sobre a importância de refletirmos sobre os critérios que escolhemos para geografizar nossos valores, sentimentos e crenças, geralmente colocando do nosso lado Deus e a virtude e, do outro lado da margem, o diabo, o vício, a imperfeição. E assim caminha a humanidade, encontrando indícios de divisão e empurrando-os para o outro lado da margem, lado de lá.
Algumas pessoas dizem que elas têm e "guardam" a fé. Contra o "mundo". E criam uma linha divisória entre "nós", que estamos do lado de cá - o lado certo - e "eles", que estão do lado de lá, o lado errado. Observem: não havia lados. Algum espertinho traçou uma linha, com ideias toscas, e criou o contexto para a guerra. Os europeus cristãos, assim o fizeram: traçaram uma linha imaginária entre eles e os povos do Oriente e instauraram a "guerra santa", matando milhares de inocentes do "lado de lá". E aqui no Brasil essa linha está cada vez mais acentuada, fomentando a guerra que em breve pode ser desencadeada, afinal, matar pessoas que não seguem os ditames cristãos proclamados pelos meus líderes religiosos (que professam a "verdade"), é um serviço que presto para o bem da humanidade. Alguns/mas pensam assim. E os ateus; e aqueles e aquelas que professam a fé através das religiões afrobrasileiras; e aquelas e aqueles que se recusam a serem fiéis, mas resolvem pensar em sua autonomia intelectual, estão todos e todas do lado de lá. É simples! O lado de cá vai vencer, porque Deus, está do nosso lado. E assim se justifica a guerra com o simplismo de discursos fáceis e perigosos, que coloca irmãos de lados distintos, através de uma linha imaginária que as palavras traçaram no mesmo campo de território de sobrevivência: a cidade.
Quando há uma guerra, Deus não está do lado de cá, nem do lado de lá. Deus não mais está. Porque Deus está por todo lado e Ele é o Deus da Vida em abundância para todas e todos. Mesmo que a gente queira que Ele só esteja do nosso lado, como uma criança egocêntrica, uma "bananinha". Ele é Alá! Ele é Olodum! Ele é Jesus Cristo! Ele é Buda! Ele é Krishna! Ele é Deus! Nos filmes e seriados estadunidenses existem os walking dead's. Nós somos os walking dead's, que caminham pelo mundo em busca de sobrevivência. Só que walking dead's podem ser mortos sem culpa, pelas pessoas que despejam suas perversidades em tiros legitimados pela benção de "deus".
E assim se multiplicaram os padres e pastores, os missionários, e outros líderes religiosos, que se aproveitam da pouca formação educativa das pessoas e da fragilidade psicológica delas para criar cada vez mais divisões, retroalimentando sua liderança através de justificativas de que cumprem uma "missão" dada por Deus. A missão de "salvar" você do mal. E você, sem apoio psicológico, sem ter adquirido hábitos intelectuais que o/a leve a desconfiar das palavras fáceis, ditas em contextos nos quais não há debate - pois se foi Deus quem mandou dizer aquilo, quem é corajoso o suficiente para debater com o próprio Deus? Só Jó, é claro -, com reduzido acesso à leitura ou, quando o tem, pouca vontade de ler, acredita piamente nas palavras do seu líder religioso, porque, se existem dois lados, e o lado de lá é o lado do mal, você quer estar do lado do bem. Não é assim? É fácil! O que é difícil é desconfiar dessas palavras fáceis que brotam rapidamente desses homens que te trazem a "salvação", arregimentando-o/a como um soldado armado de ideias fáceis e perigosas "do lado de cá".
Assim o é o Silas Malafaia e outros/as similares. São homens e mulheres de palavras fáceis de escutar, porque dizem falar em nome de Deus. E ele se institui desse poder de mediador do divino, do sagrado, agindo sem contestação. Ele está do lado de cá. O lado de "deus". Ele se institui como agente de salvação, enviado de "deus" [ou será do diabo?]. E ninguém pode detê-lo! Nem a justiça humana. porque acredita-se que ele está com a "justiça divina". Mas... Será?
Silas Malafaia, neste contexto de pandemia do Corona Vírus (COVID-19), no qual milhares de pessoas morrem no mundo inteiro, utiliza desse artifício da fé para colocar-se acima da realidade, desafiando as orientações médicas e recomendações do Estado brasileiro e colocando seus/suas próprios/as fiéis, além de seus parentes, amigos/as e vizinhos/as em risco de contágio. Sua fonte de renda principal são seus cultos, onde dezenas de pessoas se juntam para ouvir as palavras fáceis desse espertalhão da fé. Ele cria as condições para que o vírus se espalhe entre mais pessoas, colaborando com o avanço da pandemia e confundindo intencionalmente fé com ciência.
Silas Malafaia não vive entre os pobres, como Jesus. Silas Malafaia não divide sua riqueza entre os pobres, como Jesus recomendou. Silas Malafaia enriquece a olhos vistos, retirando dinheiro da sua capacidade de discursar para um público ingênuo, facilmente manipulável. Sua fonte de renda não é o trabalho duro, que a maioria das pessoas fazem. São seus cultos! E por isso ele ficou indignado com a possibilidade de suspensão de aglomerações de fiéis em seus templos, onde, supostamente, a fé está. O dinheiro míngua para ele também, que já tem tantos dinheiros! Mas ele quer mais! Ele não está nem aí para Deus! Nem para a segurança de seus/suas fieis. Sua fé é tão pequena que o impede de oferecer seus templos para acomodação dos futuros contaminados com o vírus. Ao contrário de clubes de futebol, como o Bahia, ele usa os templos como espaços de propagação do vírus. Por causa da fé? Não. Por causa do dinheiro que ele vai ganhar com a boa fé dos seus fiéis, que estão ao lado dele, na pandemia e na morte.
Joselito Manoel de Jesus, que quer estar em todos os lados, com Deus.
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