A 1.ª é a desordem da homogeneidade. Na ditadura o silenciamento emudece
todas as vozes que não vêm ao encontro da “voz única” do general. Há indivíduos
que ocupam o lugar de pastores, de padres, de empresários, de lideranças e que
não admitem a voz dissonante. Suas autoridades são sustentadas pelo exercício da
violência, na potência assassina da arma, no banimento daquele/a que discorda.
A imaturidade psíquica dessas pessoas é evidente. Elas se acham únicas, mais
especiais que todas as pessoas, fonte de sabedoria e poder. Elas se acham deuses/as,
embora usem o nome de Deus para dizerem que servem a Ele. A diversidade é
negada e perseguida em nome de uma homogeneidade homicida. Homossexuais, pretas
e pretos, trabalhadores/as, travestis, pessoas com deficiência, intelectuais, pastores, padres e
freiras críticos etc., são banidos/as ou assassinados/as.
A 2.ª desordem é a ordem do racismo de classe social. As classes altas e médias
ressentem de compartilhar os espaços públicos com os pobres e pretos/as. E a
explicação é muito clara: são herdeiros/as da escravidão. Um preto, uma preta alcançar uma
posição de destaque é uma afronta à Casa Grande que agora se encastela em
condomínios fechados. Odeiam quando alguém de uma classe social não
privilegiada alcança postos de comando. "- Como ousa um 'inferior' ocupar
um espaço reservado para nossos filhos e nossas filhas?" Perguntam eles e
elas. "- Que ousadia vencer o racismo e o machismo estrutural que nós
montamos ao longo da história no aparelho do Estado para afastar essa
'gentinha' de nosso convívio!" Insistem. Logo, utilizar o aparato militar
do Estado para fazer o que eles e elas não têm coragem, eliminando os indesejáveis do
convívio social, intitulados de "comunistas", é perfeito.
A 3ª desordem é a ordem do Estado como patrimônio particular de um grupo
social. Bernardo Sorj já ensinava que não dá para compreender o capitalismo no
Brasil sem considerar os efeitos do patrimonialismo em seu processo. O Estado
sempre foi, ao longo da história, um patrimônio exclusivo das elites
brasileiras. Nem sei se ainda tivemos, de fato, uma res pública neste país.
Tanto é que o aparato militar do Estado brasileiro está a serviço das elites. As
polícias matam milhares de jovens pretos ao ano, mais que o Corona Vírus. A última
guerra que o Brasil participou foi no final da 2.ª Guerra. O primeiro grupo de militares
só chegou à frente de combate em julho de 1944, atendendo interesses nortes
americanos. De lá pra cá sustentamos esse aparato militar que está mais em
guerra com seu próprio povo, servindo aos interesses das elites e servindo de
ameaça constante à nossa própria soberania, quando entrega, de mão beijada,
parte estratégica do nosso território ao inimigo norte americano. Se o fizesse
com os chineses, ou qualquer outro país, eu diria o mesmo. Quem vai para as
frentes de batalhas, claro, não são generais, mas soldados recrutados no seio
da população, jovens despreparados para uma guerra perdida são os primeiros mortos. A ordem que as forças armadas mantêm
é a ordem da dominação perversa das elites brasileiras, coronelistas, racistas,
escravocratas, agora lideradas por um capitão sociopata, nada inteligente e que
desmerece o pouco de brilho que ainda sustenta as forças armadas brasileiras. O
Estado brasileiro tem dono. É dos militares, dos empresários e das elites do
mercado financeiro. O povo é o mesmo escravo de sempre, cuja escravidão está institucionalizada
na Reforma da Previdência, na Reforma Trabalhista e, em breve, na Reforma
Administrativa do Estado.
A 4.ª desordem é a ordem do privilégio da classe média. Antes, a classe
média tinha acesso privilegiado aos cargos, aos postos no aparelho do Estado.
Mas agora, com a ascensão educacional, econômica e social dos pobres, feitas
pelos governos do PT que, mesmo com corrupção, confrontaram antigas ordens e
afirmaram o povo brasileiro na cidadania impedida de alcançarem ao longo de nossa história, desde a
colonização deste país. A classe média se viu ameaçada pelo avanço de pobres
talentosos e focados em abandonar a pobreza, do ponto de vista econômico, sem esquecer
quem são e de onde vieram. Então, a classe média, se vestiu de verde e amarelo,
retomou para si um discursos vazio de uma ordem e um progresso construído sobre a exclusão do povo brasileiro
e foi para as ruas clamar pela restauração dessa ordem perdida. Agora com o
apelo à violência de Estado, sob a denominação de AI 5. Alguns/mas colegas e
amigos/as dizem que a classe merda não tem ideia do que foi a ditadura. Eu discordo
completamente. A classe merda sabe bem o que foi a ditadura! Por isso mesmo
pedem a sua volta.
A 5.ª ordem é a dos religiosos
que vendem a palavra de Deus nas bodegas que eles e elas chama de “igrejas”.
Para lá se dirige uma população sofrida, com um nível de instrução e de
educação formal precário, que não lhes permite a consciência crítica para
perceberem o quanto são manipulados/as e explorados/as por esses mercadores da
fé. Um bando de cínicos que exploram as fragilidades psíquicas das pessoas, advindas de seus sofrimentos cotidianos provocados pelas ordens desordeiras
do Estado autoritário, racista, patrimonialista e preconceituoso, que os excluem
de uma existência digna. Eu chamei de bodegas porque essas igrejas instaladas em muitos bairros pobres das cidades brasileiras, funcionam como bodegas mesmo. Vendem esperanças alucinógenas para serem consumidas por aqueles que embebidos dela, começam a falar suas verdades para o "mundo cruel".
Na ditadura os perversos se tornam autores da agonia alheia. Os
psicopatas que trabalham nas polícias e nas forças armadas assumem as funções
de tortura como algo natural, pois que não sentem remorso. São demônios num
inferno em vida que vai se tornando pior que a morte para os/as torturados/as e seus/suas
familiares. Para esses que estão pedindo ditadura, deveria haver uma
experiência bem próxima na carne deles, para sentirem no corpo o peso de suas
palavras. Sabem do mais: pelo nível educacional dessa turma, creio que eles e
elas ressentem de não passarem em concursos, de sua pouca inteligência, de sua reduzida capacidade de sentir o mundo. A crueldade é feita pelas mãos
legitimadas de um militarismo brasileiro que trava uma guerra permanente contra seu
próprio povo, enquanto a classe média e alta usufruem de uma civilidade que não
possuem, pois conquistada com o apelo à ignorância, com o sangue dos inocentes, que nem armas têm, nem
querem ter, para se defender. Eu, por exemplo, seria acusado de “traidor da pátria”, classificado
como “comunista” e assassinado em alguma cela, pelas mãos de um torturador, que
faria as maiores perversidades comigo para realizar o seu prazer psicopata e garantir
o conforto e o privilégio das classes e grupos sociais que são donas do Estado brasileiro.
Joselito Manoel de Jesus.
Professor
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