segunda-feira, 30 de novembro de 2009

MULATA EXPORTAÇÃO

Mas que nêga linda
e de olho verde ainda
olho de veneno e açúcar!
Vem nêga, vem ser minha desculpa.

Vem que aqui dentro ainda te cabe
vem ser meu álibi, minha bela conduta
vem, nêga exportação, vem meu pão de açúcar!
(monto casa procê mas ninguém deve saber, entendeu
meu dendê?)
Minha tonteira, minha história contundida
minha memória confundida, meu futebol, entendeu
meu gelol?
Rebola bem meu bem querer, sou seu improviso, seu
Karaoquê;
Vem nêga, sem eu ter que fazer nada, vem sem ter
que me mexer
em mim tu esqueces tarefas, favelas, sensalas, nada
mais vai doer
sinto cheiro docê, meu maculelê, vem nêga, me ama,
me colore
vem ser meu folclore, vem ser minha tese sobre nêgo
malê
vem, nêga, vem me arrasar, depois te levo para gente sambar.

Imaginem: ouvi tudo isso sem calma e sem dor.
Já preso esse ex-feitor, eu disse: seu delegado...
E o delegado piscou.
Falei com o juiz, o juiz se insinuou e decretou
pequena pena com cela especial
por ser esse branco intelectual...
Eu disse: seu juiz, não adianta! Opressão,
barbaridade, genocídio
nada disso se cura trepando com uma “escura”!
Ó máxima lei, deixai de asneira
Não vai ser um branco mal resolvido
Que vai libertar uma negra:
Esse branco ardido está fadado
porque não é com lábia de pseudo oprimido
que vai aliviar seu passado:
Olha aqui meu senhor:
eu me lembro da senzala
e tu te lembras da casa grande
e vamos juntos escrever sinceramente outra história?
Digo, repito e não minto:
porque não é dançando samba
que eu te redimo ou te acredito:
Vê se te afasta, não invista, não insista!
Meu nojo!
meu engodo cultural!
minha lavagem de lata!
Porque deixa
r de ser racista, meu amor,
Não é comer uma mulata!

                                                                     Elisa Lucinda

2 comentários:

  1. Grande Joselito.

    Parabéns pelo blog, meu amigo. Visitarei o mesmo assiduamente. Aliás, já sou um seguidor do mesmo.

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  2. Sou apaixonado por Elisa. Ela é uma mulher inteira, que transborda de tanto talento e comprometimento com sua negritude. Ela deve ser mais conhecida e amada pelo povo, pois ela nos fala de justiça, de ira, de indignação contra a hipocrisia generalizada que toma conta de nosso tempo horrível dos seres humanos. Um tempo sem honra, sem glória. Um tempo de luto.

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joselitojoze@gmail.com