domingo, 25 de abril de 2010

Juventude Animal: Até o Chão

Quinta-feira alguns alunos pediram para não dar aula por causa da Micareta. Micareta é mais importante que aula. Quebrar a cintura é mais importante que raciocinar. Micaretar é a prioridade em Jacobina e no Brasil. País onde a juventude lê pouco. Onde a leitura é algo cansativo, desagradável e, infelizmente, penoso. Nosso país ainda está muito distante de construir um futuro decente para sua população. Pessoas que serão profissionais da educação colocam a micareta em primeiro plano. Nada contra curtir sua juventude, nada contra. Porém, a micareta começa às 22:00 horas e a aula termina às 22:00 horas. Talvez por isso os índices divulgados recentemente pelo MEC sejam tão ruins. A evasão aumentou, o que é um bom sinal, pois o indivíduo inteligente, percebendo empiricamente que essa escola pública não vai melhorar sua condição humana, termina dando uma bonita banana e ocupando seu tempo com coisas mais úteis que fingir de educando em escola pública falida. Micarete! realize a sua festa. Beba, fume, cheire, regue, goze, mele, "quebre até o chão", suje, sue e realize plenamente sua juventude ôca.

A juventude mostra a sua cara. Tá na bunda. Na bunda que mexe, que pede o olho, a boca babando do tolo. E nas micaretas não faltam bundas pedindo olhares famintos, gulosos, dispostos ao gozo louco que mete todo o instinto animal na associação entre o pênis, a bunda, a boca e a vagina, não necessariamente nessa ordem. A energia juvenil brasileira concentra-se no quadril e isso é nossa cultura que puxa o trio e mostra a cor e a condição de quem arrasta a corda para os brancos bonitos, nutridos e sadios pularem, "quebrarem", beijarem, amarem a noite "festiva". Educação passa longe disso. Educação é monotonia, concentração, paciência, disciplina, tempo. Exige sacrifício saber, investigar, descobrir sistematicamente os segredos do mundo.

O ser humano precisa de gozo, de festa, de alegria, de descontração, de algo que o afaste momentanea e salutarmente da barbárie e do caos que é este país, com seus impostos, seus desmandos e suas corrupções já institucionalizadas. Mas não creio que a própria festa seja um convite ao aprofundamento ainda maior dessa barbárie e desse caos que nos afasta de todo processo civilizatório. Festa é estar entre amigos, dividir alegrias, celebrar conquistas e eventos, ao som de uma boa música num ambiente agradável. Agora recordo de uma poesia que fiz para participar do Festival de Música e Poesia da PJMP - Pastoral da Juventude do Meio Popular.   

A medida exata da juventude
também não vi
no carnaval ao frenesi
Na multidão que ia e vinha
não sei pra onde não percebi

Naqueles idos dos anos 90 eu procurava uma "medida exata" para a juventude. Coisa de tolo. Mas no frenesi do carnaval industrializado e midiático, é  quase impossível achar humanos e humanidade. Achamos uns restos de gente, tentando sobreviver ali no chão, vendendo o possível, catando latinhas, levando empurrões. Uma multidão sem cabeça, vagueia na noite em busca de si mesma, tentando comemorar a vida, curiosa como um animal em torno das luzes piscantes que a noite carnavalesca ativa.

O bloco concentra antes do "desfile" de tolos. Prepara e disciplina os gritos, os gestos bobos do frenesi. E vão todos! Gastando energia juvenil! É festa! É festa! "Levanta a mãozinha !" Que música e cantor de verdade não tem, seus idiotas!!! Gente vazia de raciocínio, de reflexão. Gente que é menos gente a cada carnaval, micareta e "os cambaus". Gente que é cada vez mais parente de leão, de macaco, de jumento, de cadela, de perua, de cavalo. Gente que só come, só suja, só goza, mija a cidade toda e não dá a sua pequena contribuição para esse mundo humano, cada vez mais desumano. "Tira o pé do chão" e "levanta a mãozinha" são, sem sombra de dúvida, as frases mais pronunciadas dessas micaretas baianas. Os macacos amestrados obedecerão alegremente o comando do(a) idiota metido(a) a cantor(a) no palco ambulante do trio elétrico e realizarão, felizes como zumbis, seus desejos mais mesquinhos. É para tirar o pé do chão mesmo! Ficar sem gravidade. É a juventude que vive esquizofrênica numa realidade reluzente celebrando o que existe. Na levada do trio, os seguidores fanáticos acompanham uma trajetória curta do ser humano no pequeno trecho da avenida onde o trio os conduz. Vão! Vão até o chão. E fiquem por lá mesmo, afinal, andar ereto é uma conquista da humanidade.
Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.     

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