Segundo Aristóteles o ser humano é um animal político. Por isso este filósofo, que tem mais de 2000 mil anos, é denominado “jusnaturalista”. Significa que não há uma ruptura entre a natureza e a sociedade civil, pois é da natureza humana ser político. E ele afirma isso baseado no seguinte princípio basilar: Sem política não há humanidade. A ontologia humana é política, pois a gestação do ser humano, após o seu nascimento, é feita num ambiente político, social e cultural, não podendo ser de outro modo.
De modo muito claro entende-se a razão de ser o homem um animal sociável em grau mais alto do que as abelhas e os outros animais todos que vivem reunidos. A natureza, afirmamos, nenhuma coisa realiza em vão. Somente o homem, entre todos os animais, possui o dom da palavra; a voz indica dor e o prazer, e por essa razão que ela foi outorgada aos outros animais. Eles chegam a sentir sensações de dor e de prazer, e fazerem-se entender entre si. A palavra, contudo, tem a finalidade de fazer entender o que é útil ou prejudicial e, consequentemente, o que é justo e o injusto. O que, especificamente, diferencia o homem é que ele sabe distinguir o bem do mal, o justo do que não o é, e assim todos os sentimentos dessa ordem cuja comunicação forma exatamente a família do Estado. (ARISTÓTELES, 2002, Livro primeiro, Capítulo I, § 10, p. 14).
O poder é inerente ao ser humano. Está, como afirma Aristóteles, em sua relativa capacidade de decisão. É nesta capacidade de escolha, de opção e de posicionamento perante o mundo, que o ser humano, por ser humano, torna-se um ser político. Toda relação social é uma relação de poder. Relação pais/filhos, patrão/empregado, homem/mulher, marido/esposa, heterossexual/homossexual, negros/indígenas/brancos, padres/freiras/fiéis, evangélicos/candomblezeiros/católicos/ateus, professores/alunos, e todas as demais relações estabelecidas entre dois ou mais seres humanos. O convívio social obriga-nos a decidir sobre o modo como se dará esse convívio. Quem fica aqui, quem fica lá? Quem dorme em cima e quem dorme embaixo do beliche? Quem ganha isto, quem ganha aquilo? Quem perde tudo? Quem tem acesso a isto quem tem acesso àquilo, são decisões que têm de ser pautadas em critérios mas, nem por isso, deixa todos satisfeitos. Um dos critérios de arrumar o convívio social baseia-se no modo de produção econômica da sociedade contemporânea e é denominado de “Capitalismo”. Outro critério se chama socialismo, outro comunismo; outro, preconceito. E assim cada grupo social, cada sociedade organiza o espaço e o tempo e distribui o trabalho, a renda, o lazer, a educação e os bens culturais, a tecnologia e o acesso à saúde, de acordo com critérios diferentes, sendo critérios hegemônicos na atual sociedade brasileira, o do capitalismo e o do preconceito.
Algumas pessoas, erroneamente, veem o poder e a política como algo ruim e terrível, de caráter apenas maquiavélico, caracterizando um maniqueísmo pretensiosamente inocente, como se dissessem a si mesmas: "- Nós, “os puros”, que não fazemos política e abrimos mão do poder, estamos a salvo desse “pecado grave” da humanidade e podemos discutir livremente nossas trivialidades cotidianas." Entretanto, o poder existe e precisa existir entre os seres humanos, como uma necessidade do próprio convívio social e cultural. Ser político e exercer poder é decidir. Não apenas o voto, mas toda a nossa vida. Decidir para onde ir, o que comer, o que falar, o que escrever, a que horas dormir, a que horas acordar, o momento do silêncio, etc. Decidir posicionar-se a favor ou contra algo; argumentar, defender os nossos interesses pessoais e coletivos.
A forma como criamos nossos filhos e nossas filhas é uma questão de poder e um posicionamento político e ideológico; o modo como tratamos nossas mulheres constitui uma relação de poder, muitas vezes perversa; a forma como lidamos com nossos amigos exige posicionamentos ideológicos e de poder. O currículo escolar é uma decisão de poder, pois alguém decide sobre o que os educandos vão aprender e deixar de aprender. Quem conhece a história da China aí? Quem conhece a história de libertação da América do Sul dos espanhóis e o papel do General San Martin e do seu Ejército de Los Andes nesse processo? Quem, da minha idade, 41 anos, conhece a história da África e dos Africanos e dos indígenas? Pois é: precisou haver luta política de grupos organizados da sociedade civil para que tal conhecimento se tornasse conteúdo escolar, expresso na Lei N.º 10.639/03, regulamentada pela Lei N.º 11.645, de 2008 que exige a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Toda Lei é uma decisão política, um exercício de poder. O Futebol é uma política no Brasil. Há decisões, cartolagens, muitas relações de poder, inclusive de jogadores de futebol que se acham o “rei da cocada preta” e decidem ofender a quem quer que contrarie as suas vaidades em detrimento da coletividade.
A forma como criamos nossos filhos e nossas filhas é uma questão de poder e um posicionamento político e ideológico; o modo como tratamos nossas mulheres constitui uma relação de poder, muitas vezes perversa; a forma como lidamos com nossos amigos exige posicionamentos ideológicos e de poder. O currículo escolar é uma decisão de poder, pois alguém decide sobre o que os educandos vão aprender e deixar de aprender. Quem conhece a história da China aí? Quem conhece a história de libertação da América do Sul dos espanhóis e o papel do General San Martin e do seu Ejército de Los Andes nesse processo? Quem, da minha idade, 41 anos, conhece a história da África e dos Africanos e dos indígenas? Pois é: precisou haver luta política de grupos organizados da sociedade civil para que tal conhecimento se tornasse conteúdo escolar, expresso na Lei N.º 10.639/03, regulamentada pela Lei N.º 11.645, de 2008 que exige a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Toda Lei é uma decisão política, um exercício de poder. O Futebol é uma política no Brasil. Há decisões, cartolagens, muitas relações de poder, inclusive de jogadores de futebol que se acham o “rei da cocada preta” e decidem ofender a quem quer que contrarie as suas vaidades em detrimento da coletividade.
A cultura, a razão e sua ciência também estão terrivelmente implicadas em relações de poder, produzindo fenômenos políticos que levam a tomadas de decisões perigosas e maléficas para as populações rejeitadas pelo discurso da razão antropocêntrica. É, como afirma Fontanella:
A educação e a cultura nos dividem desde o nosso nascimento. Somos educados na duplicidade da realidade – eu e o mundo; na duplicidade da convivência – eu e os outros; na duplicidade da pessoa – eu e o meu corpo. Desde que o homem se dividiu foi preciso justificar a divisão. Então, a razão concluiu que uma parte tinha que dominar a outra. Assim, concluiu que o espírito tinha que dominar o corpo; a razão tinha que dominar os sentidos; os brancos tinham que dominar os outros; os letrados tinham que dominar os iletrados; os cultos tinham que dominar os incultos; os detentores do conhecimento têm que dominar os ignorantes; os civilizados têm que dominar os primitivos; os desenvolvidos têm que dominar os não desenvolvidos. (FONTANELLA, 1995, p. 129-130)
Entretanto, o poder pode e deve ser calibrado, com organização e luta, para servir aos interesses de todos, assim como pode ser usado para o interesse de poucos. Podemos fazer uma simples mas útil ilustração para explicar isso:
AUTORITARISMO_______________________________ LICENCIOSIDADE
(PODE NADA) ________________________________ (PODE TUDO)
DITA DURA _________________________________ DITA MOLE
DEMOCRACIA
DIÁLOGO
Nem o “pode nada” do autoritarismo, nem o “pode tudo” da licenciosidade, afirma o Mestre Paulo Freire. Ah, quem dera sempre tivéssemos esta compreensão permanente para podermos criar nossos filhos e nossas filhas com certo equilíbrio! O poder, exercido democraticamente, deve servir a todos, embora não seja do agrado de todos. Cada vez mais percebo a maturidade política de um povo, incluo-me nele, que vai aprendendo que, se quisermos fortalecer nossa democracia, o voto é um passo, importantíssimo, embora não seja suficiente. Quando eu voto, sinto que decidi sobre algo e que, embora minha pequena decisão possa ser, do ponto de vista individual, irrelevante, do ponto de vista coletivo tem uma extrema importância nos rumos que meu país vai tomar nos próximos anos, tanto na área de educação, quanto na área de saúde, habitação, energia, segurança, lazer, futebol, arte, artesanato, culinária, cama, mesa e banho, pois a gestão pública dos recursos hídricos, por exemplo, tem conseqüências diretas no chuveiro da minha casa e de sua casa também.
Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel. Com o auxílio de:
FONTANELLA, Francisco Cock. O corpo no limiar da subjetividade.
Piracicaba, SP: edit. Unimep, 1995.