segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Riqueza de Zé’s à Beira-Esgoto

Foi neste sábado passado, dia 09 de outubro. Como de costume, todas as manhãs de sexta, sábado e domingo, quando estou em Jacobina, vou à barraca de Flávio ler jornal, tomar água de côco – pois a cerveja está me provocando uma dor de cabeça recorrente – e bater papo com amigos. Encontrei Zé e Zé Popô. Conversamos naturalmente sobre as eleições, sobre o destacado papel do Nordeste nesse processo, os possíveis desdobramentos para cada um de nós do resultado temeroso do dia 31 entre outras coisas de extrema importância, como a subida do Bahia para a série A e a possível descida do Vitória para a série B. Neste assunto eu melindro. Caso meu Vitorinha caia e o Bahêa suba, sei que será festa em Salvador e serei obrigado a mudar de endereço, refugiando-me na terrinha jacobinense, que acolhe os desamparados e oprimidos.

O vento soprava forte naquela manhã, tornando a leitura do jornal uma verdadeira arte de equilíbrio de páginas. De repente surgiu, não sei como, pois uma conversa puxa a outra, de Zé Popô e de Zé, o assunto pobreza e riqueza. A conversa era exclusiva de Zé’s. Eu, Joselito (Zé Pequeno), Zé (que em relação a mulheres de bom gosto trabalha com lista de espera) e Zé Popô. Só faltou Zé Mané, que sempre chega atrasado, pois sua presença na barraquinha de Flávio depende da autorização da senhora sua esposa. Bem, o fato é que concluímos que, naquele exato momento, naquele instante precioso de ventania à beira-esgoto – gostaria tanto de dizer Beira-Rio – éramos ricos! Sim. Tínhamos tudo que muita gente gostaria de ter, inclusive os endinheirados. Tínhamos paz, vento, jornal do dia, cadeira, sombra e água de coco. A paisagem de montanhas nos cercando, com o Cruzeiro nos abençoando, formava o cenário perfeito daquela manhã azulada. Éramos ricos!!! E assim sorrimos a cumplicidade daquele momento que Deus nos ofereceu gratuitamente, apesar dos pecados de cada Zé que ali se encontrava.

E é bem verdade isso. Somos ricos, cada um de nós, sendo Zé ou não. Em outro texto publicado neste espaço, reafirmei essa verdade com um trecho de uma música que assim ensina: “Felicidade é uma cidade pequenina, é uma casinha, uma colina, qualquer lugar que se ilumina quando a gente quer amar.” Gosto de sentar naquela cadeira à beira-esgoto e, compartilhando do odor leve que dele exala, ler meu jornal, encontrar ex-alunos, fazer novas amizades, olhar a paisagem enquanto sorvo uma cerveja gelada ou uma água de coco gentilmente trazida por Flávio. Encontro os parceiros de galhofa e exercemos a palavra encantada que nos aproxima dos dilemas contemporâneos do jeito que a nossa cultura nos ensina. Nós brasileiros aprendemos a enfrentar nossos problemas sorrindo para eles. E é assim que fazemos. Sorrimos das desgracenças do mundo enquanto vivemos nossas pequenas e fugazes felicidades que dão sentido, como diria Zé, "à nossa insubstituível e prestigiosa presença".

Concluímos que, naquele exato momento, não precisávamos de nada material. Não queríamos ficar ricos, pois já éramos de fato. Aquela manhã soprando ventos, cercada de montanhas ensolaradas afirmava isso de forma cabal, segredando mistérios em nosso sentir habitado de significados que só o silêncio acolhe. É possível afirmar que a riqueza do ser humano são seus dias bem vividos, independente do seu poder de compra. Creio mesmo que é a vontade de ter o que não podemos que constitui a raiz de muitas infelicidades e verdadeiras pobrezas d'alma.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

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