terça-feira, 6 de setembro de 2011

Corrida e existência

O vício começa assim. Depois toda distância chama, convida gentilmente a ânsia para disparar em busca. Aí a gente não corre mais para disputar com ninguém, mas com a gente mesmo, se é que assim o é. Chegaremos sempre e nunca. Até que a grande corrida se cumpra em cada um de nós, cada qual a seu tempo. O corredor de rua luta consigo todos os treinos. Eu vi isso bem em Lucas, em Michel, em Dina, em Lucília, entre outros e outras, corredores e corredoras de rua. E ainda ficam felizes com todo o esforço em busca de algo que não sabem bem explicar, ou talvez o saibam muito bem, tão bem, que nem precisem falar. Algo dado em suas subjetividades, que acolhem os desafios e procuram traçar suas metas, algumas vezes não muito claras, outras vezes ofuscantes de tão claras. 

Queremos chegar a cada tempo e participar da festa onde todos os diferentes parecem iguais, dirigidos pelo sentido de cada prova que, a cada prova, vai deixando de ser competição e transformando-se em participação. Ninguém corre contra mim, nem contra nós. Correm conosco tentando chegar ao mesmo destino. Correm sentido o frisson inexplicável de correr e alcançar a si mesmo, a si mesma, ou até de ultrapassar-se, num trajeto traçado para sempre, todos os anos, todos os treinos, todas as horas que se seguem antes e depois de todas as corridas, onde o corredor, nesse processo, vai descobrindo boas novas a respeito de si mesmo em comunhão com os demais.

Vou pegando essa experiência do correr e expandindo-a, quem sabe, para o todo o mais viver, pra ir vivendo melhor e lutando comigo a fim de alcançar objetivos outros. Procurando traçar outros destinos para chegar a tempo da comemoração, de completar mais uma etapa no processo da minha existência. Muitas vezes sinto que posso chegar mais cedo e fazer um pouco mais. Enfrentar os meus demônios, os meus cansaços, os meus desânimos e “baixar meu tempo” na prova da vida. As vezes sinto que possuo um potencial ainda maior que fica sabotado pela minha preguiça, e por outros sentimentos mesquinhos que vão corroendo todo o esplendor do meu ser. E paro. Paro, sentindo um cansaço confortável, um cansaço que procura explicar o porquê de não ter chegado, de não cumprido, de ter desistido num trecho do caminho. EU NÃO ACEITO MAIS ISSO! EU QUERO TERMINAR A PROVA! COMPLETAR O PERCURSO TRAÇADO! E sei que POSSO. Sei que posso e vou convicto alcançar o meu prêmio, o meu lugar entre eles e elas, mas sobretudo, o lugar que sempre deixei alguém ocupar, por ser indolente e preguiçoso, permitindo o rebaixamento do nível, ao abrir mão da luta, do suor, do sacrifício sadio e recompensador de cumprir o objetivo traçado.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

Um comentário:

  1. Poxa...quanta emoção nas palavras. Talvez, um desabafo? Ou uma análise crítica? Gostei. Realmente, é um vício maravilhoso e uma disputa com nós mesmos.

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