domingo, 28 de agosto de 2011

POR QUE NÃO NOS INDIGNAMOS?

Quando eu era bem mais jovem havia uma atmosfera política e ideológica em torno da grande contraposição capitalismo/socialismo, de onde decorriam outras contraposições, tais como: burguesia/proletariado; ricos/pobres; direita/esquerda; conservadores/progressistas, entre outras. Tais contraposições nos faziam pensar, tomar posições, associar-se a grupos que nos davam identidade política e moral. Pensávamos, quer dizer, eu pensava, que devíamos lutar contra nossos opositores para garantir a hegemonia do Estado e, assim, instaurar a tão sonhada utopia socialista. Foi um tempo bom. Tínhamos alguns partidos que asseguravam forças e energias para se pensar um país diferente, melhor para todos, com distribuição de renda e um sistema de saúde, educação, cultura, infraestrutura, saneamento, transportes, lazer, esportes, que oferecessem condições básicas de acesso aos bens públicos, principalmente pelas classes populares.

Infelizmente, quando um desses partidos chegou ao poder do estado, percebemos que os homens e as mulheres que determinam os encaminhamentos desse partido não estavam interessados em corrigir as “maracutaias”, a concentração de renda, a escorcha dos impostos, principalmente para os mais pobres e para a classe média. Alguns trechos do texto de Malu Fontes, “Bang bang, cinismo e mortes”, publicado na página 09 da Revista da TV do jornal A Tarde de hoje, 28/08/2011, apresenta, mais uma vez, a face contemporânea desse estado lastimavelmente governado por corruptos de primeira grandeza. Vamos a alguns trechos:

(...) Um outro argumento sempre usado pelo ajuntamento desumano de gente doente em porta de hospital é o de que as pessoas, se doentes e sem possibilidades de atendimento, jamais devem vir para a capital em busca de atendimento. O discurso é belo e aparentemente funcional: devem procurar as prefeituras locais, cadastrar-se e esperar que estas providenciem o agendamento do atendimento em Salvador, via centrais de regulação. Quem acreditar na eficiência desse sistema ganha um doce e quiçá um vale funeral.  

A realidade da saúde pública no país é lastimável, enquanto isso o governo Wagner tenta economizar dinheiro público com a redução de direitos do PLANSERV. Ninguém pensa em reduzir o vale combustível dos carros utilizados pelos deputados da Assembleia Legislativa, por exemplo. As ambulâncias que vêm das cidades de toda a Bahia – salvo aquelas cidades fronteiriças que preferem utilizar os serviços públicos de saúde de outro estado – vão de hospital em hospital de Salvador em busca de atendimento e internação para os doentes e seus familiares que viajam horas em busca de uma esperança mesquinha, de um favorzinho do estado e de seus médicos, que pode custar a diferença entre a vida e a morte.

O impostômetro instalado em São Paulo corre voraz todos os dias anunciando quantos milhões, bilhões, os brasileiros estão deixando nos cofres públicos a cada bala que compram e a cada salário que recebem. O sistema que faz faltar dinheiro para maternidades ampliarem vagas, instalar leitos, contratar médicos ou para a construção de novos hospitais é o mesmo que sempre dá um jeito de reservar uma dinheirão para os mensalinhos e para o combustível dos helicópteros da polícia militar  do Maranhão que conduzem o mais prestigiado dono de capitania hereditária do Brasil, José Sarney, em sobrevoos para ver as belezas de sua ilha de estimação no estado.

Nunca faltará dinheiro para esse país, porque nós, escravos públicos do estado, pagadores de impostos em cascata, mantemos as mordomias dos corruptos, desde o paletó até a viagem com a família num jatinho de um empresário bem sucedido. Precisamos de uma primavera política, ideológica e moral, para tirar esse país das mãos desses malandros bem sucedidos e devolver à população o direito efetivo aos seus direitos constitucionais. Precisamos reinaugurar a República!!! E não é pelo voto que vamos conseguir isso. Não é votando no DEM ou no diabo que os carregue, pois quando eles estiveram no poder fizeram a mesma coisa e, quando voltarem, farão novamente, pois eu acredito até em recuperação de presidiário, mas não em recuperação de político corrupto. Quem acredita nisso, vá proteger Chapeuzinho Vermelho contra o Lobo Mau. E Malu Fontes continua...

Autoridades do sistema de saúde e jurídico diziam ter havido falta de solidariedade no caso da grávida. Todos têm razão sob seu ponto de vista, enquanto o mais elementar fica desfocado: os homens públicos, que deveriam empreender todos os esforços para reduzir o sofrimento humano no país, estão mesmo é exercendo o cinismo, as ameaças, as chantagens à companheirada e interessados tão somente na briga por poder, cargos e desvios de dinheiro. Pacientes em desespero e médicos incapazes de dar conta da demanda que se entendam e se acusem entre si por negligências e mortes. Esse é o recado que boa parte de ministros, deputados e senadores mandam de Brasília. Justo Veríssimo é a tendência no Planalto Central.

Caso você não queira se explodir, como o bem deseja o espírito público dos nossos representantes políticos, é melhor cuidar antes de sua saúde política, melhorar sua capacidade de organização e indignação, transformar essa indignação em clamor popular, indicar líderes confiáveis e supervisionar as atividades que se dão no âmbito do estado. Não sabemos mais como posicionar a nossa subjetividade e rebelá-la diante disso tudo. A "esquerda" tornou-se uma direita pragmática, pior que a direita. A "direita" perdeu identidade, nunca soubre fazer oposição, nem saberá, pois não poderá se opor ao que acredita piamente ser o correto. Os progressistas, por sua vez, tornaram-se "conservadores" e esqueceram os movimentos sociais, a organização da sociedade civil, as classes populares, adquirindo postura populista e minando a força desestabilizadora que renova o poder e direciona sua ação, inspirada nas utopias.

Está mais do que provado historicamente que, sem saúde civil e política, as classes populares irão sucumbir cada vez mais nas mãos da violência que o estado imprime ao povo, seja sob a forma de ação, violência dos policiais contra a população, seja em forma de inação, negligência dos nossos representantes políticos diante das necessidades imediatas de brasileiros tratados como estrangeiros, como ninguém, como um nada que merece desaparecer mortalmente para não incomodar aqueles que desejam apenas uma ilha, uma lancha, uma fazenda, um coleção de carros de luxo, ou “miudezas”, como diria nosso ancestral antigo. E os simplórios que “se explodam!”, porque não querem saber as causas de sua dor, porque não se movimentam politicamente, a não ser, claro, apadrinhados por um aspirante político que deseja ingressos (votos) para participar do espetáculo do crescimento, pessoal com dinheiro público, em Brasília.

 Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

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