segunda-feira, 6 de maio de 2013

NÃO FAZ PESO À MÃE TERRA


Desde que sou garoto ouço falar em fim de mundo. Minha mãe, por sua vez, falava-me que sua avó já falava de fim de mundo. Antônio Conselheiro e os rebeldes de Canudos trouxeram o fim do mundo bem nítido para o imaginário do Nordeste brasileiro. O sertão iria virar mar e o mar iria virar sertão. E, pelo menos uma parte do sertão virou, de certa forma, mar. E, desde que o mundo é mundo, acredito que sempre teve alguém pensando em seu final. Uns sonham com um final de mundo como ponto de mutação para um mundo melhor, dirigido por seres humanos reconciliados consigo, com a natureza e com seu mundo. Outros sonham com o retorno de Deus. Um momento em que aqueles que atrapalharam premeditadamente o caminho da vida, da verdade, da justiça e do amor, serão atirados nos quintos dos infernos. Os demais, que se encontraram no perdão e na conversão, irão para a boa vida eterna.

Na contemporaneidade muitos filmes mostram o fim do mundo por extraterrestres mais inteligentes e sofisticados em tecnologia que nós, enquanto outros mostram um vírus eliminando o resto de humanidade que ainda persiste em nós. Outros mostram asteroides grandes o suficiente para causar impactos muito profundos enquanto outras películas mostram velhas profecias catastróficas se cumprindo. Tudo pode acontecer, inclusive nada, como diria Flávio José, forrozeiro bom.

Mas acredito que já está acontecendo. No plano macro e no micro também. No macro a natureza está sendo devastada. No micro e no varejo João Ubaldo nos fala coisas que todos vemos, mas fingimos que não, pois nos sentimos impotentes, sem forças para parar o processo de degradação geral, principalmente no Brasil que, se algum dia foi descoberto, já passou da hora de ser encoberto. Encoberto de vergonha. João Ubaldo afirma que:

Nosso atraso é muito mais que econômico ou social, antes é um estado de alma, uma segunda natureza, uma maneira de ver o mundo, um jeito de ser, uma cultura. Temos pouco ou nenhum espírito cívico, somos individualistas, emporcalhamos as cidades, votamos levianamente, urinamos nas ruas e defecamos nas praias, fazemos a barulheira que nos convém a qualquer hora do dia ou da noite, matamos e morremos no trânsito, queixamo-nos da falta de educação alheia e não notamos a nossa, soltamos assassinos a torto e a direito, falsificamos carteiras, atestados e diplomas, furamos filas e, quase todo dia, para realçar esse panorama, assistimos a mais um espetáculo ignóbil, arquitetado e protagonizado por governantes.

Que coisa mais desgraciosa e primitiva, este festival de fanfarronadas e bravatas, essa demonstração de ignorância mesclada com inconsequência, essa insolência despudorada, autoritária, prepotente e pretensiosa. (RIBEIRO, João Ubaldo. Governantes e governados. A Tarde, Salvador, 5 maio. 2013, caderno 2, p.2)

Posso fazer uma relação direta entre a destruição do planeta, com grande destruição inicial no Brasil. Posso ver cada um de nós como um pequeno meteoro batendo em território nacional e destruindo o espaço. Jogando lixo no chão, desmatando, pichando tudo, poluindo rios, fazendo queimadas, enfim, provocando pequenas feridas individuais que, somando-se, produzem um câncer avançado sobre a crosta terrestre, espalhando-se para as demais camadas. No plano da cultura, todos os sonhos, todas as utopias, todas as esperanças num mundo novo parecem ruir. São também atingidas pela doença maligna. Por causa das “bravatas e fanfarronadas” matam as divindades e erguem um deus agressivo e desrespeitoso para com outros modos de crer e de rezar. E nossas hipocrisias nos cegam e todos nós vamos afundando na merda, pensando num futuro individualista e, portanto mesquinho. O MEU futuro com o MEU deus e com a MINHA felicidade.

De outro ponto de vista percebo-nos como um vírus agressivo que se multiplica em bilhões devorando a vida do planeta. Gaia sente as dores do nosso avanço. Seus órgãos estão sendo atingidos pela virulência humana, provocando febres, suores, tremores e declínio. Aquele planeta outrora exuberante, cheio de verde e vida multicor, está doente, frágil, enfermo, ferido gravemente pela nossa arrogância. Talvez o que mais tememos, um meteoro veloz e indiferente, possa, de forma surpreendente, salvar o planeta da nossa presença triste, que o destrói todos os dias de nossa medíocre existência virulenta. Clamo em socorro da Mãe Terra o poeta Eduardo Monteiro, jovem que trabalhava na feira em Porto Alegre. Assim que aprendeu a escrever e ler, escreveu essa beleza abaixo.

Deixe os ventos puros soprarem os seus cabelos,
Deixe as águas claras correrem,
deixe o verde nascer e crescer.
Ponha seu peso de consciência na balança
Para ver se estás no equilíbrio ecológico
Se não estiver,
voa do planeta!
Não faz peso à Mãe Terra.

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, da Mãe Terra, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel

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