Desde
que sou garoto ouço falar em fim de mundo. Minha mãe, por sua vez, falava-me
que sua avó já falava de fim de mundo. Antônio Conselheiro e os rebeldes de
Canudos trouxeram o fim do mundo bem nítido para o imaginário do Nordeste
brasileiro. O sertão iria virar mar e o mar iria virar sertão. E, pelo menos
uma parte do sertão virou, de certa forma, mar. E, desde que o mundo é mundo, acredito
que sempre teve alguém pensando em seu final. Uns sonham com um final de mundo
como ponto de mutação para um mundo melhor, dirigido por seres humanos
reconciliados consigo, com a natureza e com seu mundo. Outros sonham com o
retorno de Deus. Um momento em que aqueles que atrapalharam premeditadamente o
caminho da vida, da verdade, da justiça e do amor, serão atirados nos quintos
dos infernos. Os demais, que se encontraram no perdão e na conversão, irão para
a boa vida eterna.
Na
contemporaneidade muitos filmes mostram o fim do mundo por extraterrestres mais
inteligentes e sofisticados em tecnologia que nós, enquanto outros mostram um vírus
eliminando o resto de humanidade que ainda persiste em nós. Outros mostram asteroides
grandes o suficiente para causar impactos muito profundos enquanto outras películas mostram velhas profecias catastróficas se cumprindo. Tudo pode acontecer, inclusive
nada, como diria Flávio José, forrozeiro bom.
Mas
acredito que já está acontecendo. No plano macro e no micro também. No macro a
natureza está sendo devastada. No micro e no varejo João Ubaldo nos fala coisas
que todos vemos, mas fingimos que não, pois nos sentimos impotentes, sem forças para parar o
processo de degradação geral, principalmente no Brasil que, se algum dia foi
descoberto, já passou da hora de ser encoberto. Encoberto de vergonha. João Ubaldo afirma que:
Nosso atraso é muito mais
que econômico ou social, antes é um estado de alma, uma segunda natureza, uma
maneira de ver o mundo, um jeito de ser, uma cultura. Temos pouco ou nenhum
espírito cívico, somos individualistas, emporcalhamos as cidades, votamos
levianamente, urinamos nas ruas e defecamos nas praias, fazemos a barulheira
que nos convém a qualquer hora do dia ou da noite, matamos e morremos no
trânsito, queixamo-nos da falta de educação alheia e não notamos a nossa,
soltamos assassinos a torto e a direito, falsificamos carteiras, atestados e
diplomas, furamos filas e, quase todo dia, para realçar esse panorama,
assistimos a mais um espetáculo ignóbil, arquitetado e protagonizado por
governantes.
Que coisa mais desgraciosa
e primitiva, este festival de fanfarronadas e bravatas, essa demonstração de
ignorância mesclada com inconsequência, essa insolência despudorada,
autoritária, prepotente e pretensiosa. (RIBEIRO, João Ubaldo. Governantes e
governados. A Tarde, Salvador, 5 maio. 2013, caderno 2, p.2)
Posso
fazer uma relação direta entre a destruição do planeta, com grande destruição
inicial no Brasil. Posso ver cada um de nós como um pequeno meteoro batendo em
território nacional e destruindo o espaço. Jogando lixo no chão, desmatando,
pichando tudo, poluindo rios, fazendo queimadas, enfim, provocando pequenas
feridas individuais que, somando-se, produzem um câncer avançado sobre a crosta
terrestre, espalhando-se para as demais camadas. No plano da cultura, todos os
sonhos, todas as utopias, todas as esperanças num mundo novo parecem ruir. São
também atingidas pela doença maligna. Por causa das “bravatas e fanfarronadas” matam
as divindades e erguem um deus agressivo e desrespeitoso para com outros modos
de crer e de rezar. E nossas hipocrisias nos cegam e todos nós vamos afundando na
merda, pensando num futuro individualista e, portanto mesquinho. O MEU futuro
com o MEU deus e com a MINHA felicidade.
De
outro ponto de vista percebo-nos como um vírus agressivo que se multiplica em
bilhões devorando a vida do planeta. Gaia sente as dores do nosso avanço. Seus órgãos
estão sendo atingidos pela virulência humana, provocando febres, suores,
tremores e declínio. Aquele planeta outrora exuberante, cheio de verde e vida
multicor, está doente, frágil, enfermo, ferido gravemente pela nossa arrogância.
Talvez o que mais tememos, um meteoro veloz e indiferente, possa, de forma surpreendente, salvar o
planeta da nossa presença triste, que o destrói todos os dias de nossa medíocre existência virulenta. Clamo em socorro da Mãe Terra o poeta Eduardo Monteiro, jovem que
trabalhava na feira em Porto Alegre. Assim que aprendeu a escrever e ler,
escreveu essa beleza abaixo.
Deixe os ventos puros soprarem os seus
cabelos,
Deixe as águas claras correrem,
deixe o verde nascer e crescer.
Ponha seu peso de consciência na balança
Para ver se estás no equilíbrio
ecológico
Se não estiver,
voa do planeta!
Não faz peso à Mãe Terra.
Joselito
da Nair, do Zé, do Rafael, da Mãe Terra, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de
Jesus, O Emanuel
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