segunda-feira, 20 de maio de 2013

O DESPERTAR DOS ESTUDANTES PARA UMA DEMOCRACIA NA UNEB


A Universidade do Estado da Bahia, tem um papel destacado e pioneiro na interiorização do ensino superior em nosso estado. Enquanto só havia uma universidade federal na Bahia, situada quase que exclusivamente em Salvador, atendendo aos jovens das classes média e alta da capital, a UNEB atendeu e atende milhares de jovens e adultos que necessitavam do ensino superior mas não tinham condições de deslocar-se para Salvador a fim de que suas necessidades fossem atendidas. A maioria dos jovens e adultos que foram e são atendidos pela instituição de educação superior citada são pessoas mais pobres, muitos das zonas rurais de cidades próximas aonde a instituição supracitada está instalada, e que, portanto, sem esta universidade, estariam relegados a estacionar no ensino médio sem perspectivas de aperfeiçoar seus estudos através de um curso superior.

A UNEB, nesse contexto, desempenha uma função social, política e cultural importantíssima: propicia, de certa forma, a um contingente de jovens e adultos, para os quais a sociedade baiana não reconhece o direito, o acesso ao ensino superior.

Sob a luz desses fatos e números, o que podem fazer as instituições de educação superior para contribuir para a redução da desigualdade radical da sociedade brasileira? [...] A resposta mais óbvia é que as instituições de educação superior, ao ampliar a base social e econômica da sua população estudantil, podem tornar lugares extremamente escassos nas altas camadas da sociedade brasileira disponíveis em uma base mais equitativa para os rapazes e moças com idade de estar numa universidade. Esta é certamente uma meta compensadora, e num país do tamanho do Brasil, a distribuição mais justa de oportunidades de vida existentes pode significar muito para milhões de pessoas. (WOLFF, 1993, p.16)

A Universidade do Estado da Bahia, UNEB, de fato, significa muito para milhares de pessoas que moram no interior desse estado. Significa, sobretudo, deslocar a geografia e a história do ensino superior na Bahia para lugares e pessoas que, a se crer nas elites econômicas do estado, deveriam sempre ficar em seus devidos lugares culturais, políticos e intelectuais: os jovens e adultos pobres do interior da Bahia. A UNEB, inevitavelmente, é um fato político inusitado neste estado lamentável de coisas denominado Bahia.

Através de seus estudantes o aboio, o curral, a fazenda, o cavalo, a vaca, o cachorro e o boi, o latido, o canto do galo e o mugido, entram na UNEB; através do sabor entram o doce, a rapadura, o queijo e a manteiga de garrafa, entra a pinga, a mandioca e a farinha; através da memória – interditada por processos didáticos e metodológicos definidos por uma epistemologia politicamente preconceituosa e autoritária – entram o sisal, a organização política, social e econômica daqueles que resistem a processos econômicos usurpadores do jeito comunitário de viver a vida no interior da Bahia. Na UNEB entra o forró, entra o xaxado que levanta poeira no salão de barro batido. Mas não entra de mãos vazias. Traz a vida significada pela mediação do objeto que revela e oculta os segredos da vida no interior baiano.

Mas na UNEB entra também o latifúndio, o absurdo, e os resquícios do coronelismo. Entra o preconceito e o conflito; entra o poder e a cultura de decidir, entra o perigo, entra o abrigo, e se instaura a contradição no coração da educação superior. Na UNEB entra também o privilégio sem mérito, entra o estudante semianalfabeto, entra o descaso com a formação, entra professor sem compromisso e tudo isso compõe a UNEB que se conhece e se desconhece em seu processo de construção. Entram processos de privatização do espaço público e publicização do que foi privatizado por mecanismos escusos, patrimonialistas.

E é por causa desses processos contraditórios que é preciso, cada vez mais, democratizar a Universidade do Estado da Bahia, lançando luz nos corredores por onde transitam desejos de mudança e de conservação, ampliando a participação nas salas onde reuniões decidem o seu futuro e direcionam o seu presente, modificando os modos de decisão, as instituições e representantes que decidem, além de monitorar a efetividade social que a universidade produz. É por reconhecer a importância da UNEB para cada um e todos nós que devemos lutar por ela, como se luta por um bem precioso, como se luta pela escassa água no deserto abundante de areia e aridez. E os estudantes dessa instituição têm um importante papel nesse processo.

Na arena pública não se ouve um discurso que se manifeste contra mudanças na UNEB. Entretanto, tudo parece morno e frio, perdido nas rotinas de aulas e notas, de reuniões de Colegiado, de Departamento e de área que pouco mexem com o modus operandi da instituição de educação superior existir. Mesmo em períodos de greve não conseguimos discutir com tenacidade questões importantes sobre democracia, participação, compromisso. Do ponto de vista político professores e estudantes se encontram em estado vegetativo, respirando por aparelhos, cujo oxigênio o governo baiano reduz a cada semestre, a cada ano, na tentativa de asfixiar a instituição que considera um peso para o estado.

No entanto, atualmente começo a vislumbrar uma reação dos estudantes, insatisfeitos com o Diretório Central dos estudantes, com o CONSU, com pagamento de bolsistas, com uma pesquisa mal financiada, com a estrutura física dos campi no interior do estado, enfim, com o estado em que se encontra a UNEB neste momento do nosso tempo histórico. Há sujeitos políticos acordando de um sono letárgico aqui no Campus IV e no Campus XI. Ouço bocejos, ouço vozes querendo “buscar o dia”, como diria o saudoso avô do colega Edvaldo Hilário, Seu José Hilário. Ouço um amanhecer ainda nesta noite desta instituição de educação superior, desejando livrar-se de um esquema montado para uma “maioria” fingir decidir a favor da decisão já tomada por uns poucos. Ouço discursos que se rebelam contra a estruturação político cultural da UNEB como uma “capitania hereditária”, eivada de patrimonialismos que caracterizam o espaço público baiano e brasileiro e contamina todo o tecido social.

Nós temos de estar atentos para isso, porque quanto mais luz e claridade é jogada num processo de decisão e ação, mais avançaremos na publicização do privado, reduzindo ou eliminando oportunidades de corrupção e privatização do público de forma nociva, principalmente na UNEB. Não é algo fácil, que dependa apenas da vontade deste ou daquele indivíduo. É preciso a criação de movimentos e grupos oriundos fora das instituições já criadas, tais como DCE, CA’s (Centros Acadêmicos) e DA’s (Diretórios Acadêmicos), para fugir dos vícios e de “lideranças” que mais representam interesses ideológicos de partidos que ainda pensam estar no século XIX do que os interesses e necessidades dos estudantes.

É preciso reivindicar uma avaliação institucional séria, aberta, verdadeiramente democrática, onde o conflito necessário seja encaminhado produtivamente para a efetividade social da UNEB, para a desconstrução das velhas formas de decidir, encaminhar, implementar e acompanhar os seus processos, a fim de que a Instituição supracitada se fortaleça cada vez mais na função social que vai se delineando com o contexto que não cessa de exigir decifração.

É preciso que olhos atentos, estejam bem abertos e vigilantes sobre os processos institucionais. Ressalto, mais uma vez, a importância da participação nesse processo de luta entre a privatização do público e a publicização do privado. Participar, segundo Habermas, “significa que todos podem contribuir, com igualdade de oportunidades, nos processos de formação discursiva da vontade.” interpretando-o, Gutierrez e Catani (1998) nos diz que “participar consiste em ajudar a construir comunicativamente o consenso quanto a um plano de ação coletivo.” A participação, portanto, é fundamental para que a publicização do privado, a continuar com estudantes acordando de um sono letárgico desde a última ditadura, adquira robustez política, ou seja, avance na arena de poder contra a privatização do público na Universidade do estado da Bahia.

Joselito da Nair, Zé, do Rafael, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel 

Com o auxílio de 


GUTIERREZ, Gustavo Luiz & CATANI, Afrânio Mendes. Participação e gestão escolar: conceitos e potencialidades. In: FERREIRA, Naura S. Carapeto (org.). Gestão democrática da Educação: Atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 1998.

WOLFF, Robert Paul. O ideal de universidade. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulita, 1993.

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