Os brancos
roubam o mundo. Eles são os
grandes ladrões. Foram os brancos que roubaram a África, a Ásia, a América.
Para roubar, eles ameaçam, prendem, matam centenas, milhares, milhões de seres
humanos que habitam os territórios em que vivem. Além de ladrões, também são
assassinos e, além disso, os brancos elegem elites que fazem o seu serviço
sujo de prender, arrebentar e assassinar todos/as aqueles/as que se colocam
contra a dominação colonialista. O que se chama de colonização é o projeto genocida
dos brancos. É o grande assalto à humanidade alheia: indígenas, asiáticos/as, ciganos/as,
negros/as, judeus, pessoas com deficiência, homossexuais, mulheres, transexuais
etc. E, no entanto, os brancos se acham no direito de nos acusar pelo atraso na
economia e por tudo de ruim que há no mundo.
Por algum tempo
os maiores traficantes do mundo foram os brancos da Inglaterra e da
França, o que levou à Guerra do Ópio.
Na
verdade, não foi uma guerra, mas duas – ambas travadas no século 19 na China.
Nesses conflitos, Grã-Bretanha e França se aliaram para obrigar a China a
permitir em seu território a venda de ópio, uma droga anestésica extraída da
papoula. Para britânicos e franceses, exportar ópio para a China era uma forma
de compensar o prejuízo nas relações comerciais com os chineses, que vendiam
aos ocidentais mercadorias muito mais valorizadas, como chá, porcelanas e
sedas. Mas o governo de Pequim não via o troca-troca com bons olhos: a partir
do século 18, o consumo da droga explodiu no país, causando graves problemas
sociais – nem um decreto imperial de 1796 conseguiu deter a expansão do
problema.
A coisa pegou fogo de vez em 1839, quando o governo chinês
destruiu uma quantidade de ópio que estava na mão de mercadores britânicos
equivalente ao consumo de um ano. O governo da Grã-Bretanha reagiu enviando ao
Oriente navios de guerra e soldados, dando origem à primeira Guerra do Ópio.
Mais bem equipada, a tropa britânica venceu os chineses em 1842, obrigando-os a
assinar um tratado de abertura dos portos e de indenização
pelo ópio
destruído – mas o comércio da droga continuava proibido.
O negócio complicou de novo em 1856, quando autoridades chinesas
revistaram um barco britânico à procura de ópio contrabandeado. Era a desculpa
que a Grã-Bretanha precisava para declarar a Segunda Guerra do Ópio, vencida
novamente pelos ocidentais em 1857. Como preço pela derrota, a China teve de
engolir a legalização da importação de ópio para o país por muito tempo: o uso
e o comércio da droga em território chinês só foram banidos de vez após a
tomada do poder pelos comunistas, em 1949.
Então,
para você que tem nojo do tráfico de drogas, mas que personifica o traficante no
jovem negro segurando um metralhadora portátil, saiba que dois Estados europeus
lucraram fortunas com o tráfico de drogas na China, levando a duas guerras. E
digo ainda mais: o narcotráfico sustenta e é sustentado por interesses que se
cruzam entre altos dirigentes dos Estados e grandes narcotraficantes, todos
brancos. Todos eles morando em mansões, bairros de alto luxo, considerados “nobres”.
Os brancos
roubam milhões, bilhões. Na casa de Geddel, num "bairro nobre", mais um político branco, tinham
milhões recheando malas de corrupção. Quanto se juntam a esses nomes tantos outros
brancos que ocupam, ocuparam e ocuparão lugares de destaque no aparelho do
Estado, reservados especialmente para eles e elas através do racismo estrutural:
desembargadores/as, juízes/as, procuradores/as, empresários, coronéis, capitães, tenentes,
deputados/as, prefeitos/as, vereadores/as, pastores/as, bispos/as, etc., percebemos
que os maiores bandidos do Brasil e do mundo são brancos.
Um exemplo,
entre tantos outros, é o da compra, no Rio de Janeiro, de equipamentos hospitalares.
Houve superfaturamento, as empresas que ganharam a licitação pública não tinham
condições alguma sequer para participar da licitação. O resultado foram
equipamentos que não prestavam, devolução, atraso na inauguração dos hospitais de
campanha e, por conta disto, dezenas e centenas de mortes que não serão
associadas pela maioria da população a tal crime hediondo praticado por homens brancos.
Mas a sociedade
insiste em matar o negro que rouba um ou outro e que vende
droga para um ou
para outro branco.
Os milicianos que dominam as
favelas cariocas são brancos. Foram brancos que se beneficiaram da morte de
Marielle Franco. São os brancos que destroem a natureza. São os brancos que, através de suas empresas, criam porcarias para nos vender como se fossem necessárias e saudáveis. São eles que têm os
dinheiros para pagar milicianos, pistoleiros que matam freiras, lideranças
indígenas, Chicos Mendes, Chicos Bentos, Chicas da Silva. São os brancos os
donos dos bancos, os que decidem os financiamentos da destruição da Mata
Atlântica, da Amazônia. São os brancos que poluem os rios, que bebem todo o
líquido precioso do planeta, que mastigam os animais e cospem fora seus ossos. São
os brancos que desmatam as cidades para construir edifícios e rodovias.
E agora mesmo um branco vocifera ditaduras,
opressões e anuncia torturas. Foi um branco ex-juiz que elaborou um plano que
continha uma lei para livrar policiais de assassinarem as pessoas, sob a
denominação de “excludente de ilicitude”. Agora mesmo brancos cruéis, reapresentando
suas antigas perversidades, desfilam de verde e amarelo pedindo o sangue dos
seus oponentes sob o manto da ditadura. E eles e elas nos provocam. E nos
incitam e nos convidam para a guerra. Ninguém sabe o que ocorrerá doravante,
porque não dá para saber como a organização vai parir este conflito. A entropia
é crescente e a energia não vai se dissipar através do controle que os brancos
dominantes desejam. Talvez o pior esteja ainda por vir neste semeio dos brancos
em nossa contemporânea paisagem política e econômica.
Joselito
da Nair, do Zé, da Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel