quarta-feira, 6 de maio de 2020

E DAÍ: É A MINHA OPINIÃO!?


Está na moda. Todo mundo tem opinião e muita gente acha que sua opinião é a mais verdadeira, mesmo quando contraria a lógica e o bom senso. Muita gente ignorante “está se achando” neste contexto de pandemia. E falam besteiras, e postam fake news, e seguem líderes inescrupulosos, tudo pelo seu “direito” de expressão, garantido pela Constituição Federal de 1988 que eles e elas querem rasgar. É o pandemônio da pandemia!
Para começar a responder a isso, temos de seguir as orientações deixadas há mais de 2020 anos atrás, por Platão. Ele diferencia a doxa, da episteme e da sofia. A primeira seria a opinião mais próxima ao senso comum, ao saber imediato da prática, da experiência. A segunda corresponderia a um tipo de saber atualmente relativo ao conhecimento científico, tendo uma sistematização teórica e um rigor metodológico. E a terceira, é o saber adquirido ao longo de toda uma vida, um saber da sabedoria, geralmente atribuída aos mais velhos. Todas as três formas de saberes são válidas. Há uma doxa que coincide com as verdades científicas, bem como com a sabedoria. Mas a opinião expressa sem o cuidado da sabedoria e sem a devida orientação da ciência termina causando inúmeros problemas para sociedade. E é isto que ocorre neste momento no Brasil.
Os/As ignorantes têm ódio mortal pelas pessoas que leem, que conseguem alguma ascensão intelectual e cultural. Cultivam a doxa na superficialidade de seus pensamentos rasteiros. Elas então se comprazem com a destruição que as universidades públicas estão sofrendo neste governo ignorante. Inventam um tal de comunismo, como se estivéssemos nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado. Elas associam o rock, surgido a partir do canto da alma dos negros norte-americanos, com satanismo. Associam histórias infantis com incitação a abusos sexuais; tentam intimidar ensaiando uma peça esdrúxula de inspiração nazista. E quando esses/essas ignorantes se associam a pastores milionários, espertalhões da fé, e milicianos bem armados, aí o anúncio de um califado evangélico neopentecostal ditatorial começa a se desenhar em nosso horizonte político. Na Idade Média isso levou centenas de mulheres acusadas injustamente de "bruxaria") e “hereges” à “fogueira”. Agora, será ao paredão do fuzilamento, pela traição a deus, à pátria e à família. Professores e professoras certamente não escapariam. A não ser que assumissem o proselitismo e se tornassem “catequistas” e “obreiros”.
Quando o fanatismo religioso e político são os principais assessores da doxa, a sofia, pobre coitada, começa a ser ofendida nas praças onde protesta, agredida nos espaços aonde registra os fatos e produz as notícias. A episteme, por sua vez, é asfixiada pelo governo facista, que admira torturadores e que persegue professores, médicos, enfermeiros e jornalistas entre outros e outras. O pseudo-problema impera, orientando a compreensão sofrível de 30% da população como uma boiada em sua vida de gado, marcada com o símbolo da arminha de mão, tendo consequências nefastas em suas próprias vidas.
O fanatismo religioso confunde fé com magia, como se Deus fosse proteger alguém que não se protege, se jogando de cabeça do alto de sua falta de juízo e de humildade. Um sujeito de 57 anos morreu porque acreditou no pastor de sua religião, que lhe falou que Jesus iria curá-lo. Não procurou o hospital e terminou falecendo, conforme reportagem da Revista Veja: https://veja.abril.com.br/blog/veja-gente/homem-morre-coronavirus-postar-disse-deus-cura/. É sempre bom lembrar que, Jesus, quando tentado no deserto por Bolsonaro, digo, pelo satanás, não se atirou do alto, pois “também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.” Se Jesus se jogasse do alto, seria mais pela sua vaidade do que pela sua fé. Ele trairia a própria divindade que há em Si, porque tentaria Deus num pseudoproblema, surgido de sua vaidade, por ser Filho. Por falar em filho, os zeros à esquerda são um exemplo perfeito de como a vaidade, a arrogância e a ignorância associadas geram pseudosproblemas que acabam com o país.
É bom saber que:
·         A sua opinião, sem o bom senso da sabedoria e o amparo da ciência é irrelevante. Então fique calado;
·         você não tem nada de especial. Deus não cuida primeiro de você, nem te acha o homem, ou a mulher, mais fiel e mais legal do Brasil, com um lugarzinho especial, de frente para mansão Dele no Céu;
·         fé não é artigo de exibição masculina. A COVID 19 não veio para que você prove sua fé, revelando sua virilidade fajuta de varão ungido pelo pastor, ao qual você paga para propagar barbaridades da fé;
·         não pense que teremos no Brasil um califado evangélico, que terá milicianos matando todos/as aqueles/as que não rezarem por suas cartilhas esdrúxulas;
·         Ah. Deus é um Deus de amor, de justiça, de partilha, de solidariedade, de perdão, de acolhimento de verdade e de vida. Se você quer guerra, siga o conselho do grande Riachão e “já morar com o diabo que é imortal!”

Ao expressar sua doxa o faça movido pela sabedoria, com o apoio da ciência, para não transformar a pandemia em pandemônio e, nesse redemoinho, ir com o demônio para o Hades, “onde os fracos não têm vez.”

Joselito da Nair, do Zé, do Rafael, de Ana Lúcia, de Tantas Gentes e de Jesus, O Emanuel.

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